Por muito menos, levou-se gente à fogueira, durante o malfadado tempo da Inquisição.
Hoje, junta-se o profano ao sagrado, a crueldade a uma falsa devoção, e a Igreja assiste, apoia e aplaude.
E o que é a “Vaca das Cordas”?
Simplesmente isto:
Como comentou Manuel Figueiredo (um homem culto, que correu mundo, comandando navios da Marinha Portuguesa), a propósito do ritual da “Tourada à Corda” na Ilha Terceira, que é algo do género da “Vaca das Cordas”: o que vemos é «um bando de animais bêbados contra um animal sóbrio! A irracionalidade mora na Terceira».
E acrescento eu: a irracionalidade mora também em Ponte de Lima.
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A Câmara Municipal de Ponte de Lima “deliberou autorizar” a realização da chamada Corrida da Vaca das Cordas (edição 2013, para a sexta-feira, dia 31 de Maio), e teve necessidade de se explicar, tal é a incerteza de estar a fazer a coisa certa.
Pois este costume rude, que sempre se realizou na véspera do Dia do Corpo de Deus, leva à vila de Ponte de Lima, muita gente inculta, para (atente-se no motivo aludido pelos autarcas) «VER E FUGIR DA “VACA”» que é algo realmente muito cultural, útil e criativo, e também para prolongar pela noite o convívio da juventude, a que eles (os autarcas) chamam um convívio “salutar”, o que é o mesmo que dizer com muito álcool à mistura.
Aliás não há “festejo” onde meta bois, vacas, bezerros ou touros, em que o álcool não role a jorros.
Posto isto, os autarcas limianos, «considerando que a "Vaca das Cordas", é muito mais do que um ritual a mais no ano, e «tendo em conta a opinião geral e unânime de várias instituições que foram ouvidas» (só não disse quais instituições), o executivo municipal aprovou a realização deste festejo insano, para o dia 31 de Maio, permitindo desta forma que a tradição da confecção dos tapetes de flores decorra com a tranquilidade necessária, para a celebração do Corpo de Deus, que ocorrerá no domingo seguinte, a 2 de Junho.
Pois celebrar o Corpo de Deus com a estupidez do ritual da “Vaca das Cordas”, é, na opinião dos que RESPEITAM as coisas sagradas, um INSULTO MAIOR a Deus.
Mas nem todos, em Ponte de Lima, concordam com esta idiotice, pois a deliberação foi aprovada por maioria.
Haverá uma minoria culta. Mas, mais vale poucos do que nenhuns.
E fica esta nota final: os que aprovaram esta deliberação consideraram que «esta proposta não altera os sentidos ou a vivência do ritual, porque o que interessa é “CORRER A VACA DAS CORDAS”». Sabem o que isto é?
Isto, só em Ponte de Lima, onde a irracionalidade criou raízes.
Como se tudo isto já não bastasse para colocar a que se diz a vila mais antiga de Portugal (pois Ponte de Lima parou num tempo já muito antigo e fora de moda), no Livro Negro da Tauromaquia, existe ainda o problema dos ignorantes que teimam em manter vivo este ritual de broncos, e o pior ignorante é aquele que tendo a oportunidade de deixar de ser ignorante, não quer.
Eis uma petição que todos devemos assinar e partilhar.
A ela me referirei no dossier que enviarei ao Papa Francisco, a propósito do despropósito da igreja católica ser cúmplice desta barbárie.
Em Portugal não se celebra um santo católico sem uma tourada, e até o Dia do Corpo de Deus é celebrado, em Ponte de Lima, com a chamada “Vaca das Cordas”, um ritual tão primitivo quanto estúpido.
Tudo isto é um insulto às coisas sagradas.
Pedimos a sua Santidade, o Papa Francisco, que se pronuncie contra as corridas de touros e que as proíba durante as festas dos santos padroeiros uma vez que agridem a dignidade das pessoas e são contrárias aos ensinamentos cristãos, porquanto desvalorizam a vida e atentam contra a Criação Divina.
Porque é importante esta petição?
Em todo o mundo, São Francisco de Assis é celebrado durante a primeira semana do mês de Outubro.
Durante esta semana realiza-se a bênção dos animais, aos quais São Francisco tratava por “irmãos” e “irmãs” menores, uma vez que todos somos filhos do mesmo Pai Criador.
No Perú, em menos de 30 dias, a igreja católica dá uma volta de 180 graus e termina dando a bênção a quem tortura até à morte uma manada de touros, durante a feira taurina, em “homenagem” ao Senhor dos Milagres.
Outro facto insólito é que se premeie o melhor matador com o Escapulário de Ouro do Senhor dos Milagres.
Fazemos esta petição para que se termine com esta angustiante e profunda contradição, uma vez que os ensinamentos propostos no Catecismo da Igreja Católica, no número 2418, indica-nos que o maltrato aos animais é contrário à dignidade humana.
Além disso, no compêndio do Catecismo podemos ler que o modo correcto de tratar os animais é com benevolência.
Reflictamos no seguinte: como é possível que a alguém, no seu juízo perfeito, lhe ocorra que a Deus, a nossa Mãe, a Virgem Maria ou aos Santos lhes agradem estas homenagens sangrentas, onde um homem, mulher ou criança toureiros, arrisquem a vida deles, torturando até à morte um animal, para o prazer de um grupo de pessoas insensíveis, e que a igreja aprove tudo isto, dando-lhe a sua bênção.
Junta-te a esta petição, afastemos a igreja católica das corridas de touros, defendamos a dignidade do homem e a benevolência para com os animais.