Um texto que subscrevo e aplaudo, pela coragem do colonista ousar dizer a verdade, que ninguém quer ouvir.
Hoje em dia, são poucos os que ousam ousar.
Só lamento que estas ousadias não sejam tidas em conta pelos que querem, podem e mandam, para que Portugal possa avançar no tempo, evoluir e transformar-se num País onde o seu Povo tenha o direito de ter alguma felicidade.
Por enquanto, apenas os turistas e os milionários são plenamente felizes em Portugal.
Isabel A. Ferreira
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(José Pacheco Pereira, in PÚBLICO, 21/01/2023)
Fonte da imagem: https://beira.pt/portal/noticias/debate-imagem-e-memoria-a-face-dos-livros-hoje-com-jose-pacheco-pereira/
Muitos professores já foram “educados” na mesma ecologia que torna os seus alunos impossíveis de educar. O problema complementar é que muitos pais são exactamente iguais.
Apalavra “respeito” tem tido um papel relevante no protesto dos professores, representando um pedido e um protesto que está muito para além das reivindicações salariais e de carreira. É provável que seja essa componente existencial a mais significativa na mobilização destes últimos meses que, em bom rigor, parece ter sido uma surpresa para todos, ministério e mesmo os professores e, certamente, para o sindicalismo tradicionalmente dominante da Fenprof.
Quando me perguntavam a profissão, mesmo quando era deputado, sempre respondi que era professor. Na verdade, fui professor de todos os graus de ensino menos o básico, e conheci muito daquilo que era a instabilidade da vida de professor “provisório”. Dei aulas em Boticas, Espinho, Coimbra, Vila Nova de Gaia, Porto e Lisboa. Em Espinho dei aulas na Escola Preparatória Sá Couto conhecida como “o Triciclo”, porque estava sediada em três edifícios em locais diferentes e era possível ter uma aula às 9h num, às 10h no outro, e às 11h de novo no primeiro, ou seja, não havia intervalos.
Para se chegar a Boticas, quando lá estive, a viagem a partir do Porto demorava cerca de cinco horas e qualquer trajecto era péssimo, difícil e, nalgumas alturas do ano, perigoso, para se atravessar as serras, o Marão, o Alvão ou o Barroso a seguir às barragens. Tenho as melhores recordações de Boticas, mas compreendia muito bem o mal-estar dos meus colegas que não viviam em Chaves, uma das quais vinha de Coimbra e que ansiava por se ir embora logo que podia. Mas à distância, tendo em conta o que é dar aulas hoje, tudo isto era um paraíso.
Estamos obviamente a falar da escola pública, aquela que não pode escolher os seus alunos. Na altura, há poucas décadas, a escola competia com a família na socialização dos alunos e, nalgumas áreas mais pobres, competia com a rua. A droga ainda estava longe de ser o problema que é hoje, e não havia a epidemia do “défice de atenção”, nem dos factores que o explicam. É certo que nos subúrbios de Lisboa e Porto os estudos já revelavam o enfraquecimento da socialização familiar, com crianças de idade pré-escolar a já estarem muito pouco tempo com os pais e, quando estavam com eles, estavam a ver televisão, que acabava por ter um papel crescente na sua socialização.
Havia nas escolas o que sempre houve, uma considerável violência e, também como sempre, não era a mesma coisa viver numa casa com livros, com espaço e razoável conforto, ou num bairro degradado, pobres no meio de pobres. A educação reproduzia as desigualdades sociais, embora fosse ela própria um dos raros mecanismos de elevador social num país muito desigual. Tudo isto era tão antigo e tão denso como era o nosso atraso nacional, e, se a democracia, o fim da guerra e a entrada para a Europa mitigaram esse fundo de atraso, estão longe de o diminuir de forma significativa.
Sobre este fundo veio a “tempestade perfeita” que ameaça seriamente o papel da escola, incapaz de competir com uma ecologia social cada vez mais hostil, que põe em causa a capacidade da escola de ser um factor eficaz de socialização, já para não falar de aprendizagem. A droga, as novas formas de violência a que chamamos “bullying”, a destruição da capacidade de atenção pela rapidez da imagem dos jogos desde a infância, a deseducação do valor do tempo lento, do silêncio, do saber, da leitura, a ignorância agressiva das redes sociais, a substituição da privacidade pela exibição fácil do corpo, quer como chantagem, quer como vingança, quer como vaidade e sedução fácil, a presentificação absoluta no mundo das mensagens, do Instagram, do Facebook, do Tik-Tok, a utilização de devices como os telemóveis como instrumentos de controlo, a construção de uma sexualidade perversa ou imatura, entre a pornografia e a moda das identidades da moda, a obsessão pela explicação psicologista, a completa inadequação de programas de há muito oscilando entre o facilitismo “para não assustar os meninos”, ou um saber abstracto inadequado à realidade actual, tudo isto torna as escolas, principalmente no secundário, um dos sítios de pior viver nas sociedades contemporâneas. Ninguém sabe disso melhor do que os professores.
Por isso, têm razão em pedir “respeito”, se o sentido desse pedido implicar a enorme dificuldade que hoje é ser professor e o reconhecimento que a sociedade lhes deve, permitindo-lhes melhores condições materiais, menos burocracia, estabilidade e uma carreira com regras.
Mas para se ter respeito é preciso “dar-se ao respeito” e muitos professores já foram “educados” na mesma ecologia que torna os seus alunos impossíveis de educar. Já estão demasiado dentro da mesma “tempestade perfeita”, lêem pouco, vivem dependurados nas mesmas redes sociais, com os mesmos maus hábitos de desleixo pela verdade, de facilitismo, de exibição, de opiniões ligeiras para não lhes chamar outras coisas, de superficialidade e por aí adiante.
O problema complementar é que muitos pais são exactamente iguais, ou seja, há muito poucos factores qualitativos a “puxar para cima”, mesmo que fosse pouco, o que já seria uma enorme vantagem.
Este é o retrato de uma crise profunda. Infelizmente, mesmo que este retrato incomode muita gente, pela generalizada cumplicidade, é pura verdade.
O autor é colunista do PÚBLICO
Fonte: https://estatuadesal.com/2023/01/21/entre-o-respeito-e-o-dar-se-ao-respeito/
5 - Trouxe-nos um elevado índice de POBREZA (DOIS milhões de pobres, entre eles crianças a passarem fome, e a viverem em barracas junto com ratazanas e lixo); trouxe-nos pensões de miséria; trouxe-nos muitos sem-abrigo a viverem nas ruas das principais cidades portuguesas; trouxe-nos outras formas de miséria, entre elas, misérias morais, sociais, civilizacionais, culturais e educacionais, nunca antes vistas.
Uma imagem cinzenta da Revolução dos Cravos.
As crianças aguardam ainda que lhes dêem o prometido futuro no paraíso.
Penso que todos os que viveram o 25 de Abril de 1974, como eu vivi, deram saltos de alegria, a pensar numa nova liberdade – digo nova, porque, no meu caso, nunca deixei de ser livre, apesar de estar na mira da PIDE.
O que é que a Revolução dos Cravos me trouxe, a mim, cidadã livre-pensadora, contestatária, habituada a driblar a PIDE, escrevendo nas entrelinhas o que não podia escrever nas linhas?
Bastou uma carta, para me aperceber de que tinha de arranjar uma estratégia para contar o que se passava dentro dos muros de Coimbra, e que os órgãos de informação pré-25 de Abril, não podiam dizer abertamente.
Escrevi uma carta a meu Pai, que se encontrava no Brasil, a dar conta dos motivos que me “obrigaram” a fazer greve aos exames. Eu tinha chegado a Coimbra em Janeiro de 1968, para continuar os meus estudos universitários, iniciados no Brasil.
A carta nunca chegou ao seu destino, porque o meu Pai, escreveu-me a perguntar por que não tinha notícias minhas há tanto tempo. Eu escrevia-lhe semanalmente.
Nesse entretanto, recebi uma carta da PIDE, muito “amável”, a dizer que, como tinha vindo do Brasil (estava “catalogada” como aluna brasileira) talvez desconhecesse as leis portuguesas, por isso, escreveu o que escreveu, e que não podia dizer o que disse, em hipótese nenhuma, nem em cartas privadas para o Pai [vi logo que a minha carta tinha sido interceptada], e que desta vez estaria desculpada, mas se fosse apanhada novamente teria de sofrer as consequências, de acordo com as leis de Portugal.
Fiquei tão irritada, que rasguei a carta aos pedacinhos, muito pequeninos, com uma fúria incontida, e atirei os pedacinhos daquela carta para o caixote do lixo, onde (pensei) era o lugar de tal folha de papel.
Passada a fúria, arrependi-me. Como me arrependi!!! Como pude destruir uma carta da PIDE, um documento precioso, que testemunhava a opressão que existia naqueles tempos ditatoriais?
O que tínhamos antes de 25 de Abril de 1974?
1 - Tínhamos uma ditadura fascista de direita, e não podíamos votar livremente.
2 - Tínhamos o Tarrafal, para onde iam aqueles que ousavam PENSAR alto. A censura era o pão nosso de cada dia, através do famoso “lápis azul”.
3 - Tínhamos a já referida PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado) responsável pela repressão de todas as formas de oposição ao regime político do Estado Novo.
4 - Tínhamos o ditador António Oliveira Salazar que, ao menos, sabia escrever correCtamente a Língua Portuguesa, algo que se estendia à população portuguesa alfabetizada.
5 - Tínhamos um elevado índice de analfabetismo.
6 - Tínhamos um elevado índice de pobreza.
7 - Tínhamos uns Joões Semanas que garantiam os cuidados de saúde, aos mais pobres.
8 – Tínhamos, na governação, poucos vigaristas, corruptos, ladrões e mentirosos.
9 – Tínhamos um Ensino que, apesar de servir o Regime, NÃO tratava as nossas crianças como idiotas.
10 – Tínhamos um País que estava na cauda da Europa, com salários baixos e uma classe trabalhadora bastante explorada.
11 - Tínhamos carência de ar para respirar.
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Que mudanças trouxe o 25 de Abril para MIM?
1 - O direito e a liberdade de votar.
2 - A liberdade de tornar a escrever nas linhas o que fui obrigada a escrever nas entrelinhas, ou seja a liberdade de expressão. A outra liberdade, a minha liberdade de pensar, de ser e de estar passou incólume, pela ditadura.
3 - Não precisar de andar a correr pelas ruas, à frente de polícias anafados [para as “sensibilidades” modernas, infectadas com o vírus da Estupidez, quero dizer que anafados é igual a gordos, e nada têm a ver com grandes], os quais nunca conseguiam deter-me, durante as manifestações, porque era magrinha, levezinha e voava quando corria, e os polícias que corriam atrás de mim, perdiam o fôlego antes que eu sumisse ao virar de uma esquina. Tive a sorte de nunca ter sido perseguida por polícias que largtavam os cães, e tinha-se de subir às árvores.
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Que mudanças trouxe o 25 de Abril aos Portugueses, estando nós no exacto dia 25 de Abril do ano de 2023?
1 – Por muito que não gostem que se diga, trouxe-nos uma ditadura fascista de esquerda, (aqui e ali eivada de atitudes nazistas), disfarçada de Democracia, onde uma censura camuflada existe em grande escala; onde a PIDE foi substituída por "inteligências artificiais" e big brothers mais modernos; onde Três Mosqueteiros absolutistas , a saber, Marcelo Rebelo de Sousa, Augusto Santos Silva e António Costa, desmandam, e mantém Portugal nas garras de estrangeiros.
2 - Trouxe-nos o direito de votar, isto é, o direito de escolher os nossos governantes, para que governem, NÃO conforme a vontade do Povo, conforme as regras democráticas, mas conforme a vontade deles e da dos grupos de pressão económica, mais conhecidos por lobbies.
3 - Trouxe-nos os já referidos Três Mosqueteiros a escreverem “incurrêtamente” a Língua Oficial de Portugal -- a Língua Portuguesa -- adoptando a mixórdia ortográfica introduzida em Portugal através de um acordo ortográfico criado no Brasil, para destruir a Língua de Portugal, e impondo-a ilegalmente nas escolas e na função pública, e, por extensão, a todos os que se prestaram a ser servilistas. E esta política, é uma política nazista.
4 - Trouxe-nos a continuidade de um elevado índice de analfabetismo, sendo o mais elevado da Europa.
5 - Trouxe-nos um elevado índice de POBREZA (DOIS milhões de pobres, entre eles crianças a passarem fome, e a viverem em barracas junto com ratazanas e lixo); trouxe-nos pensões de miséria; trouxe-nos muitos sem-abrigo a viverem nas ruas das principais cidades portuguesas; trouxe-nos outras formas de miséria, entre elas, misérias morais, sociais, civilizacionais, culturais e educacionais, nunca antes vistas.
6 - Trouxe-nos uma liberdade de expressão que, no entanto, não serve para nada, uma vez que gritada publicamente, a VOZ do POVO NÃO é ouvida, nem considerada, porque os governantes fazem-se de cegos, surdos e mudos aos constantes e inúmeros protestos e apelos de um Povo que se vê espoliado dos seus direitos, e só têm DEVERES.
7- Trouxe-nos uma Constituição da República Portuguesa que o actual presidente da República NÃO cumpre, nem defende, como prometeu fazer, na tomada de posse.
8 - Trouxe-nos o CAOS em todos os sectores públicos, nomeadamente na Educação, na Habitação, nos Serviços Públicos, numa Justiça lenta e cara, havendo uma justiça para pobres e outra para ricos.
9 - Trouxe-nos o CAOS num Serviço Nacional de Saúde, cada vez mais desgastado, sem Joões Semanas, para garantirem os cuidados de saúde ao mais pobres, morrendo-se sentados em cadeiras nas urgências.
10 - Trouxe-nos uma governação cheia de vigarices, corrupção, ladroagem e mentiras. Cheia de taxas, taxinhas e tachões, e uma política cada vez mais degradante, e com ela a degradação das instituições.
11- Trouxe-nos salários dos mais baixos e impostos dos mais elevados da Europa.
12 - Trouxe-nos um Ensino que trata as nossas crianças como idiotas, um Ensino pobre, degradante, onde se ensina os alunos a escreverem “incurrêtâmente” a sua Língua Materna, a que está em vigor, a grafia de 1945.
13 - Trouxe-nos um desinvestimento total na Saúde, na Habitação Social, na Cultura, na Educação, na Defesa do Ambiente e da Fauna e Flora portuguesas; trouxe-nos um desinvestimento total no bem-estar das pessoas, obrigando os nossos jovens a emigrarem em busca de salários condizentes com a sua formação académica, e enriquecerem os países para onde emigram, com a sua prole.
14 - Trouxe-nos um investimento nos imigrantes, nomeadamente brasileiros, que têm todos os privilégios, graças a um “Acordo de Amizade”, realizado num secretismo, a abeirar os de uma seita; porém, nem todos os imigrantes, que o Chefe de Estado português aconselha a vir para Portugal, têm mordomias: vivem nas ruas, mal instalados, mal pagos e, muitas vezes, em situação de escravatura.
Enfim, passados 49 anos sobre aquela madrugada de Abril, o nosso País, por falta de políticas sérias, continua na cauda da Europa, e embora não gostem que se diga, temos o PIOR governo e o PIOR presidente da República desde Dom Afonso Henriques.
Por que avalio deste modo a “governação” portuguesa actual? Porque passados tantos anos, ainda não se conseguiu atingir um nível razoável de bem-estar, em Portugal, apesar de haver condições para tal. E porquê? por causa da corrupção, das vigarices, da ladroagem, das mentiras com que atacam e insultam a dignidade dos Portugueses.
Não vislumbro uma luz ao fundo do túnel, que possa devolver ao MEU País os sonhos que aquela madrugada do dia 25 de Abril de 1974 nos fez sonhar: uma Democracia Plena. O que temos é uma maioria absolutista, que quer, pode e manda, e NÃO ouve o Povo.
Continuo à espera, e penso que muitos dos meus concidadãos também, de governantes que olhem, com olhos de VER, para Portugal e para os Portugueses, e lhes dêem o que eles rogam, para poderem viver com a mínima dignidade, e que deixem de andar a BAJULAR os que nos querem tramar. E só os cegos mentais é que não vêem isto.
Hoje, parece-me que temos pouco para celebrar, mas MUITO para lamentar, porque o espírito do "25 de Abrl" foi desvirtuado.
Isabel A. Ferreira
O que terá a dizer sobre este atentado, o ministro do Ambiente, Pedro Matos Fernandes?
#AltPt Atentado Ambiental em #Coimbra | Projecto de campo de golfe está a destruir margem do Mondego
Assembleia Aberta no Rebolim HOJE às 17h
Os trabalhos em curso na zona do Rebolim, em Coimbra, com vista à construção de um campo de golfe nas margens do Mondego, constituem um verdadeiro crime ambiental e climático e um desrespeito pelas comunidades e pela luta contra as alterações climáticas.
O desmatamento da área em causa, que se pode ver nas fotografias, aconteceu na mesma semana em que a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) aprovou uma proposta de em Coimbra. A maquinaria da autarquia destruiu toda a vegetação ripícola existente, deixando os solos expostos e arrasando a grande maioria das árvores que ali se encontravam há décadas. Esta decisão unilateral da CMC não recorreu a qualquer estudo de impacto ambiental ou consulta pública junto da população; reforçando a falta de respeito pelas comunidades locais a que estes processos nos têm habituado um pouco por todo o território. As tomadas de decisão pública devem envolver a população e devem considerar valores ambientais e climáticos, acima dos económicos.
Os campos de golfe, para além de destruírem os habitats originais e toda a biodiversidade, são conhecidos por exigir a utilização de quantidades massivas de pesticidas e herbicidas para a manutenção de campos de relva imaculados. Estes agro-químicos têm consequências gravíssimas, tanto ao nível ambiental como ao nível da saúde pública, e são cancerígenos. A construção deste campo nas margens do Mondego, e a poucos quilómetros a montante da Estação de Captação de Águas da Boavista (água esta que abastece as nossas torneiras), implicará a contaminação das águas da cidade com os resíduos químicos provenientes da drenagem dos campos de golfe.
Info via
Movimento do Centro pela Justiça Ambiental
Evento: www.fb.com/events/882972118936291/
Imagens de Oficina de Luz (@fernandoantunesamaral)
Fonte: https://www.facebook.com/guilhotina.info/photos/a.440006416115840/3843811045735343/
Esta é a verdadeira CULTURA PORTUGUESA.
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Versão de "À meia-noite ao Luar", desta vez em quarentena, mas com a participação de 140 Estudantinos de 24 países. Dedicado a todos aqueles que trabalham para que a vida continue normal, dentro dos possíveis, tanto profissionais de saúde e fornecedores de bens básicos. Nesta versão contámos também com a honrosa presença de um membro que infelizmente já não pode estar presente da maneira que desejávamos, Paulo Saraiva, a voz de solista original na gravação deste tema no nosso primeiro álbum Estudantina Passa, de 1989.
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Belíssimo!
Obrigada, Estudantina Universitária de Coimbra. Convosco regressei à MINHA Coimbra, ao meu tempo de estudante. Coimbra será sempre Coimbra, enquanto vós existirdes.
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«Um POVO que tem “esta força” no seu âmago e consegue, apesar de todas as vicissitudes, tal encanto, é imorredouro»
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É com este POVO e com esta FORÇA que se faz Portugal...
Isabel A. Ferreira
Os governantes pós-25 de Abril mataram a Revolução dos Cravos. Os sucessivos governos, desde então, sufocaram-na com as cordas da corrupção, das vigarices, da roubalheira, do desgoverno, das falsidades, do desleixo, de condutas terceiro-mundistas, de imposições ditatoriais.
E os cravos de Abril murcharam.
Portugal desconstruiu-se e, hoje, vive num caos (ainda mais acentuado com a invasão vírica), pendurado no abismo, por um fio de teia de aranha. É a chacota do mundo, que lhe finge amizade, por mero interesse, algo que a cegueira mental não permite vislumbrar.
É urgente uma mudança.
É urgente uma nova Revolução, desta vez, a sério. Sem cravos, sem armas, sem ilusões vãs.
É urgente uma Revolução inteligente, que devolva a Portugal a Dignidade e a Identidade perdidas.
Já não somos Portugal.
Em 25 de Abril de 1974, um grupo de ousados Capitães, que já estão na História como os Capitães de Abril, abriram uma porta para um futuro que se esperava promissor, sem correntes, sem pides, sem o regime opressivo do Estado Novo, sem mentiras, sem qualquer vestígio do passado, sem censura. Os Capitães de Abril abriram uma porta para as tão ansiadas Democracia e Liberdade.
Mas o Poder é uma célula cancerígena corrosiva, que ataca quem ambiciona o Poder apenas pelo Poder. E depressa a ilusão da Democracia e da Liberdade foi abafada pela ganância e pela incompetência dos que iam jurando, por uma honra que neles não habitava, cumprir a missão que lhes era confiada.
E Portugal, que se abriu para o futuro, em Abril de 1974, tem vindo a regredir a olhos vistos, e Abril ainda não se cumpriu.
O Povo que, por essa altura, estava unido e pensava que jamais seria vencido, foi sub-repticiamente sendo enganado e alienado pelas manobras de diversão que, entretanto, os governantes foram promovendo, com a ajuda de uma comunicação social servilista, até à alienação total.
Foi-se desenvolvendo a política do pão e circo, uma política que nasceu no Império Romano, e que consistia no modo como os imperadores romanos lidavam com o Povo, para mantê-lo subjugado à ordem estabelecida e conquistar o seu apoio. A designação panem et circenses, no original em Latim, tem origem na Sátira X de Juvenal, humorista e poeta romano que, no seu contexto original, criticava a falta de informação do povo romano, que não tinha qualquer interesse pelos assuntos políticos, e só se preocupava com o pão para a boca (hoje, dinheiro no bolso) e com o divertimento.
Os tempos são outros, mas a política romana mantém-se, e o Povo só sai às ruas por motivos ligados ao vil metal. Os bolsos mais ou menos cheios e o futebol, as novelas, os reality shows de má catadura, mantêm o Povo amansado, alienado, distante do que é essencial, cego aos jogos políticos que se jogam em São Bento, e nos vão afastando da evolução.
E com esta política, acolitada pelo mais poderoso veículo de comunicação social, a televisão, instalou-se de tal modo no País, que o Povo acabou por ser vencido, sem se dar conta, por um Poder fantasiado de uma “democracia”, que esconde uma prepotência pior do que a de Oliveira Salazar, porque esse, ao menos, fazia as coisas às claras, e sabíamos com que contar.
Sim, podemos dizer que muitas coisas mudaram, depois de 25 de Abril de 1974.
Por exemplo, podemos votar livremente e escolher quem queremos que nos desgoverne.
Porém, de que serve o voto livre, se a maioria dos votantes não faz a mínima ideia do que faz, porque não é esclarecida? O padre da freguesia diz na missa: votem naqueles, e eles votam naqueles, sem saberem que aqueles vão para o Governo gerir os interesses dos lobbies e não os interesses do Povo, os interesses do País. Por isso, Portugal é, hoje, o paraíso de povos de várias nacionalidades, que aqui se abancam, podem e mandam e têm mais privilégios do que os Portugueses, e os portuguesinhos aceitam isto passivamente, servilmente, humildemente, parvamente, achando que o que é estrangeiro é que é bom, é que é moderno, é que é bué fixe.
Para complicar ainda mais as coisas, o Zé Povinho é adepto dos partidos políticos, como se os partidos políticos fossem o clube de futebol dele, portanto, vota nas cores dos partidos da sua predilecção, ainda que os candidatos possam ser incompetentes, corruptos, mentirosos e vigaristas. Mas esta parte não interessa ao Povo.
E isto não tem nada a ver com Democracia, mas com cegueira mental, ignorância, alienação, seguidismo.
As Democracias só funcionam plenamente quando o Povo é maioritariamente esclarecido, informado, instruído, pensante, dotado de espírito crítico. E não estou a referir-me aos canudos, porque os canudos só dão conhecimento específico em determinadas matérias. Um analfabeto pode ser muito mais esclarecido e informado e educado e pensante e dotado de espírito crítico do que muitos doutores, que por aí andam de gravata ao peito, sendo a gravata a sua única medalha de mérito.
Em Democracia, os governantes são meros serviçais do Povo, que lhes paga o salário chorudo que ganham, para (des)governarem o País.
Em Democracia, os governantes, sendo nossos serviçais, têm o dever de responder às questões que o Povo lhes coloca, por escrito ou oralmente. Ora acontece que os governantes remetem-se ao silêncio, desprezando os apelos do Povo. Ignorando o Povo. E este desprezo não faz parte da Democracia que, se for verdadeira, o Povo é que é o detentor do Poder.
Daí a pergunta: o 25 de Abril entregou-nos uma Democracia a sério?
Os cravos de Abril murcharam, e Portugal não avançou para o futuro. Está prisioneiro de políticas retrógradas e de políticos (salvo raras excepções) incompetentes, corruptos, vigaristas, sem honra e sem brio, numa vergonhosa subserviência aos estrangeiros.
O Portugal hodierno limita-se a Lisboa, Porto, (e vá lá) Coimbra e ao Algarve, onde quem manda são os estrangeiros. O resto é território terceiro-mundista, nomeadamente o interior do País, onde ainda se vive sem água encanada, sem electricidade, onde ainda se passa fome, na maior miséria. Ao abandono total.
Eis o que temos para celebrar na passagem dos 46 anos (já dos 45 foi mais do mesmo) do 25 de Abril (que os servilistas grafam “25 de abril”):
- Um país, onde ainda se continua a viver em pobreza extrema, com crianças e idosos a passarem fome.
- Um país, que continua a ter a maior taxa de analfabetismo da Europa.
- Um país dos que menos gasta na Saúde, com um Serviço Nacional de Saúde caótico, onde falta quase tudo, e o aumento da Tuberculose diz do subdesenvolvimento, do retrocesso e da miséria que ainda persistem por aí.
- Um país que empurra para o estrangeiro os seus jovens mais habilitados: enfermeiros, médicos, engenheiros, investigadores, artistas.
- Um país com o terceiro pior crescimento económico da Europa.
- Um país com a 3ª maior dívida pública da União Europeia.
- Um país cheio de desigualdades sociais, onde os ricos são cada vez mais ricos, e os pobres, cada vez mais pobres.
- Um país cheio de banqueiros e outros que tais ladrões.
- Um país cheio de berardos a jogar ao gato e ao rato com o dinheiro do Povo.
- Um país onde a Justiça ainda é extremamente cara, desigual, lenta e injusta.
- Um país que promove a violência contra animais não-humanos, o que por sua vez gera a violência contra os seres humanos.
- Um país com um elevado índice de violência doméstica.
- Um país com um elevadíssimo número de crianças e jovens em risco.
- Um país que atira crianças para arenas de tortura de animais, e permite que sejam iniciadas em práticas violentas e cruéis, roubando-lhes um desenvolvimento normal e saudável, o que constitui um crime de lesa-infância.
- Um país cheio de grupos e grupelhos de trabalho, de secretários, de secretários de secretários, de assessores, de secretários de assessores, de comissões, de subcomissões, que não servem absolutamente para nada, a não ser para ganharem salários descondizentes com os serviços que (não) prestam; e com ex-presidentes da República com gabinetes e mordomias.
- Um país que descura a sua Flora e a sua Fauna, mantendo uma e outra ao abandono e à mercê de criminosos impuníveis.
- Um país que mantém as Forças de Segurança instaladas em edifícios a caírem de podres, e com falta de quase tudo.
- Um país onde ainda existem Escolas com instalações terceiro-mundistas, sem as mínimas condições para serem consideradas um lugar de aprendizagem; e com tribunais, como o de Monsanto, que parece um galinheiro ao abandono.
- Um país onde as prisões são lugares de diversão, com direito a vídeos publicáveis no Facebook.
- Um país cheio de leis e leizinhas retrógradas, que não servem para nada, a não ser para servir lobbies dos mais hediondos, e proteger criminosos impuníveis.
- Um país que não promove a Cultura Culta, e para o qual apenas a cultura inculta conta, e é assegurada, contra tudo e contra todos.
- Um país, cujo Sistema de Ensino é dos mais caóticos, desde a implantação da República, com a agravante de se estar a enganar as crianças com a obrigatoriedade da aprendizagem de uma ortografia que não é a portuguesa, a da Língua Materna delas, estando-se a incorrer num crime de lesa-infância.
- Um país, que tinha uma Língua Culta e Europeia, e hoje tem um arremedo de língua, uma inconcebível mixórdia ortográfica, imposta ditatorialmente por políticos pouco ou nada esclarecidos e servilistas, que estão a fabricar, conscientemente, os futuros analfabetos funcionais, e a promover a iliteracia. E já sou poucos os que escrevem correctamente a sua Língua Materna.
- Um país onde, parvamente, se começou a dizer “olá a todos e a todas, amigos e amigas, portugueses e portuguesas”.
- Um país, com um presidente beijoqueiro e viciado em selfies, e um primeiro-ministro que não tem capacidade para ver o visível, muito menos o invisível, que qualquer cego, de nascença, vê à primeira vista.
- Um país, que em 2018/2019 foi marcado por uma constante contestação social, com o número mais elevado de sempre de greves em todos os sectores da sociedade portuguesa, número que continuaria a aumentar no corrente ano não fosse a invasão invisível do coronavírus.
- Enfim, um País que perdeu o rumo, e faz de conta que é um país. E amanhã, contra tudo e contra todos, e violando o Estado de Emergência em que Portugal está mergulhado, os governantes irão dar um mau exemplo ao País, com a ilusão de que estarão a celebrar o 25 de Abril, que ainda não se cumpriu inteiramente.
Enquanto tudo isto (e muito mais, que agora não me ocorre) não sair da lista do que não se quer para um País de Primeiro Mundo, evoluído e civilizado, o que há para comemorar neste 25 de Abril?
Há o facto de eu poder escrever este texto, sem ir parar ao Campo de Concentração do Tarrafal, o campo da morte lenta, para onde os médicos iam assinar certidões de óbito e não curar, criado pelo Estado Novo, na ilha de Santiago, Cabo Verde, num lugar ironicamente chamado de Chão Bom, de muito má memória.
Isabel A. Ferreira
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Para complementar este texto, leia-se este outro, da autoria de Manuel Damas, publicado no Facebook, em 24 de Abril do ano passado, mas que poderia ter sido escrito hoje, e faço minhas todas as palavras que Manuel Damas escreveu.
45 anos depois...
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=2332540223434593&set=a.133659383322699&type=3&theater
Desde sempre me preocupei com as crianças, afinal, são elas o futuro da Humanidade. E foi por elas que escrevi o «(Des)concerto de Ano Novo», no já longínquo fim de ano de 2009.
“Chamo-o” para o dia de hoje, porque passados 10 anos, continuo preocupada, ainda mais, com as crianças, esquecidas neste mundo enlouquecido, sobretudo, com as crianças portuguesas, pois nada mudou, nada avançou, tudo se transformou, para pior, desde 2009, quando o normal seria evoluir-se…
O que se tem feito contra as crianças, em Portugal, constitui um crime de lesa-infância, ao qual nenhuma autoridade dá a mínima importância, talvez porque as crianças não votam, não se manifestam, não têm voz.
Além de não lhes assegurarem um futuro condigno, neste Planeta que se esvai, estão a impingir-lhes uma grafia que não lhes pertence. Estão a enganá-las de um modo vil. O desrespeito que a elas os governantes, os parlamentares, a maioria dos professores e muitos pais consagram é horripilante!
É motivada pelas crianças que faço esta reflexão, desejando que o ano de 2020 traga a lucidez e a racionalidade, que tão arredadas andam da sociedade portuguesa e das esferas do Poder.
Um novo ano abre caminho para um lugar velho.
Nestas ocasiões costumo reflectir acerca do que se passa no mundo e ao meu redor: se os homens cresceram ou continuam crianças, eternamente teimosas, brincando aos chefes e aos bandidos, enfim, se renitentes em deixar crescer a mente para se tornarem homens responsáveis e poderem governar os destinos dos outros homens, com a lucidez necessária.
Reflicto igualmente no que eu própria fiz ou fui, e como tudo poderia ter sido diferente SE...
Entretanto, e porque foi época de troca de prendas, chegou-me do Brasil a obra «Amor – Um Livro Maravilhoso Sobre a Maior Experiência da Vida», da autoria de Leo Buscaglia, escritor de origem italiana, que me ensinou muitas coisas e fez-me reflectir sobre outras, nomeadamente a Criança – essa eterna esquecida.
Eu tinha imaginado para este início de ano uma crónica algo idêntica a um belo prelúdio, executado num bosque, com chilreio de pássaros à mistura. Contudo, uma qualquer força misteriosa (sempre presente em mim) conduz os meus pensamentos para a Criança – espécimen em extinção.
Alarmei-me, e desconfio que o meu pretendido prelúdio se transforme num desconcertado concerto de Ano Novo.
No seu livro, Leo Buscaglia fala de uma professora de arte que, um dia, desenhou, no quadro negro, uma árvore que parecia um pirolito (era a árvore dela), e pediu aos alunos que também desenhassem uma, nos seus cadernos.
Um garoto (que conhecia bem as árvores, pois já «subira numa árvore, abraçara-a, caíra de lá, ouvira uma brisa através dos seus galhos...» desenhou uma «linda monstruosidade com os seus lápis roxo, amarelo, laranja e verde». Mostrou-a à professora, e esta comentou: «Que loucura!» Porque o que na realidade pretendia era que o menino desenhasse uma árvore igual ao “pirolito” que ela desenhara no quadro negro.
Esta passagem, fez-me recordar uma outra história, esta verídica, passada numa escola da cidade onde resido, com uma menina, minha amiga, tímida, por natureza (não serão as flores tímidas também, no seu desabrochar?) mas muito perspicaz e observadora.
A professora mandara a turma desenhar e pintar uma árvore. A menina desenhou então a “sua” árvore, semelhante às das outras crianças, com excepção da cor: a sua era avermelhada.
A professora ao ver tal cor na árvore, disse-lhe: «A tua árvore está errada, porque as árvores são verdes e não vermelhas.» A menina, como era tímida, calou-se. Nada explicou à professora. Se esta não tinha entendido a “sua” árvore, de nada valeria explicar-lhe o que quer que fosse.
Nesse dia, a menina chegou triste a casa, e contou à mãe o sucedido: ela havia desenhado uma árvore e pintara-a de uma cor avermelhada, igual à que tinha visto no Jardim Botânico de Coimbra, numa manhã de Outono. Era tão bonita! A professora dissera-lhe que a “sua” árvore estava errada, pois as árvores são verdes. Porém, a menina já tinha visto árvores com folhas amarelas, castanhas, vermelhas, e, além disso, aquela era a “sua” árvore de Outono.
A mãe tranquilizou-a dizendo: «Deixa lá! Talvez a professora nunca tivesse olhado para as árvores, no Outono. Talvez tu pudesses ter-lhe sugerido que observasse melhor as árvores no Outono...»
Mas a menina entendeu que não valia a pena. Se a professora cresceu sem nunca ter observado as árvores no Outono, agora já não fazia diferença nenhuma...
O certo é que essa menina começou, desde então, a rejeitar a escola e a desmotivar-se pelo estudo. Na verdade, o que poderia aprender com alguém que nem sequer uma árvore de Outono conhecia?...
Se, ao contrário daquela frase seca «A tua árvore está errada», a professora tivesse perguntado: «Por que pintaste a árvore de vermelho?», a menina teria tido oportunidade de explicar-se, e que bela aula sobre o Outono e as transformações da Natureza poderia ter acontecido!
Daí para diante, a escola para esta menina foi um lugar de desencanto. E para quantas mais, por idênticos ou outros motivos, a escola não passa de um lugar de tédio?
Embora na prática, e quase inconscientemente, sempre tivesse lutado pela preservação da minha própria individualidade (cada ser humano tem a sua, e existe algo dentro de cada um que o diferencia de todos os outros), o que determinou o modo como estou no mundo, enfrentando os preconceitos dos outros, para poder ser livre (só criamos sendo livres), teoricamente, foi o que aprendi fora da escola, o que significa que o Ensino em Portugal, apesar de todas as reformas e contra-reformas, sempre dificultou o processo de ajudar o aluno a descobrir e a entender a sua própria individualidade, não lhe apontando os caminhos que poderão desenvolver essa particularidade, nem lhe mostrando como a partilhar com os outros. O que temos é um Ensino que tenta fazer com que todas as crianças sejam iguais. E é isso que me assusta.
A propósito, recordo-me que quando frequentava a Faculdade, tive uma discussão académica com o meu professor de Pré-História, na aula em que ele tentava “impingir-nos” a teoria de Darwin, sobre a Origem do Homem. Como eu já havia lido algumas outras opiniões (não entra aqui a de Adão e Eva) sobre a matéria, formulei a minha própria teoria, não menos lógica do que a de Darwin. Mas quem era eu para me atrever a desenvolver teorias que se opusessem ao que estava estabelecido como certo? Uma simples aluna, que devia papaguear o que o professor dizia, sem poder emitir opiniões?
Recordo-me igualmente do meu primeiro e único “chumbo” na minha vida de estudante, quando me atrevi, num exame final, a tecer considerações sobre o «comportamento libertino do clero na Idade Média». Pedi revisão de prova, e verifiquei que em todas as minhas respostas haviam sido retirados alguns pontos (mais nessa do clero) por “irreverências” (ou seja, opinião pessoal) num tempo em que tínhamos de calar o pensamento, o que transformava os alunos em autênticos “papagaios”, o que eu, naturalmente, me recusava a ser (daí a minha nota de curso ter-se ficado por um simples 13,5).
Hoje, no pós-25 de Abril, tudo continua quase na mesma ou pior ainda. Os alunos são tratados como atrasados mentais, não lhes deixando muito campo para a criatividade (serão os professores criativos?). Nem os deficientes mentais devem ser tratados como tais. A normalidade gera a normalidade. E a criatividade gera a criatividade.
O professor deve limitar-se a mostrar as “ferramentas” do saber aos alunos, e deixar que estes criem, soltem o pensamento, sonhem, descubram algo de novo no mundo que têm ao seu alcance.
No tempo em que dei aulas (era ainda bacharel), tentei “fugir” ao programa oficial, dando liberdade às crianças (ensinava História e Língua Portuguesa) de voarem com as suas próprias asas. Cheguei mesmo a recusar-me a dar a matéria tal qual vinha no Compêndio, nomeadamente sobre as Colónias Portuguesas de África, a Guerra no Ultramar e a Acção de Oliveira Salazar, por considerar que estaria a mentir às crianças. Não tive tempo de deixar os alunos comporem o seu próprio juízo, pois nesse ano, o primeiro em que dei aulas (1973/74) aconteceu o 25 de Abril e o ensino da História levou outro rumo: acabarm com ela.
Porém, se eu não podia, por força das circunstâncias, conduzir os meus alunos à descoberta da sua própria individualidade, deixá-los criar o seu próprio universo (nem todos vemos as árvores do mesmo modo) então melhor foi abandonar o ensino (no ano lectivo de 1974/75), e, liberta de todas as amarras, dedicar-me ao jornalismo e essencialmente à criação literária, lugar onde podemos voar até ilimitadas imaginações, com as asas do pensamento.
O que fundamentalmente pretendo dizer com tudo isto é alertar os agentes da educação e do ensino (um dos grandes podres da nossa sociedade) que eventualmente possam vir a ler estas palavras, para o facto de que há um tempo para a infância, outro tempo para a adolescência, outro, para a juventude, outro, para o estado adulto, e outro ainda para envelhecer.
Se o ser humano não passar por estes estágios adequadamente, virá a ser um autêntico fracasso enquanto indivíduo.
A tendência, hoje, é para “fabricar” adultos precoces, autênticos “robôzinhos” informatizados e estandardizados. Se uma criança cresce pensando e agindo como um adulto, aos vinte anos sentir-se-á velha e desencantada.
Quando entre esses “robôzinhos” aparece uma verdadeira criança, dizem que «é muito infantil para a idade», embora a idade seja para ser infantil. O que é feito de valores como a inocência, a ingenuidade, a candura, tão características das crianças?
Estão a desaparecer. Vão sendo raras aquelas que pintam árvores vermelhas de Outono, uma vez que é proibido ser criativo, ser infantil, ser criança; é proibido sonhar com bolas de sabão, porque os computadores, os tablets, os i-phones, i-pads, as consolas é que são o futuro.
Avançamos no século XXI. Encontramo-nos já na segunda década do século, no ano 2020. Receio que no final deste século já não hajam crianças, por muitos, muitos motivos. Apenas uma humanidade velha e esfarrapada, aquela que sobrará de uma sociedade em decadência, num planeta igualmente a caminho da extinção.
O facto é que não sei se o tempo, ou se os homens e as mulheres do nosso tempo pretendem exterminar aquele encanto, aquela fantasia e até os sonhos cor-de-rosa que constituem uma parte muito essencial de toda a infância.
Hoje, pretende-se que as crianças cresçam depressa, para não ter de se perder tempo com elas. Conheço mães que, para as substituir, oferecem cães aos filhos. E à noite, os filhos ficam sozinhos em casa, aos cuidados do amigo não-humano, e eles (pais e mães) vão à discoteca, aos bares, e nem sonham com o que, entretanto, se passa em casa com os filhos.
Vem depois a droga, como alternativa, e a sociedade revolta-se contra os drogados, porque são uns marginais, uns delinquentes, uns irresponsáveis, mas ninguém procura saber o que, na realidade, está por detrás dessas fugas para o mundo da total alienação. São poucos aqueles que se drogam por caírem em armadilhas ou por simples curiosidade. A grande maioria tem uma história triste para contar. Uma história que tentam esquecer, entrando num mundo que julgam ser eternamente tranquilo e colorido...
O que pretendem os adultos fazer com a infância?
É esta reflexão que proponho para este início de ano, uma vez que não existirá futuro se as crianças de hoje não puderem sorrir e sonhar... Se não puderem ser crianças...
Isabel A. Ferreira
Os governantes pós-25 de Abril mataram a Revolução dos Cravos. Os sucessivos governos, desde então, sufocaram-na com as cordas da corrupção, das vigarices, da roubalheira, do desgoverno, das falsidades, do desleixo, de condutas terceiro-mundistas, de imposições ditatoriais.
E os cravos de Abril murcharam.
Portugal desconstruiu-se e hoje vive num caos, pendurado no abismo, por um fio de teia de aranha. É a chacota do mundo, que lhe finge amizade, por mero interesse, algo que a cegueira mental não permite vislumbrar.
É urgente uma mudança.
É urgente uma nova Revolução, desta vez, a sério. Sem cravos, sem armas, sem ilusões vãs.
É urgente uma Revolução inteligente, que devolva a Portugal a Dignidade e a Identidade perdidas.
Já não somos Portugal.
Em 25 de Abril de 1974, um grupo de ousados Capitães, que já estão na História como os Capitães de Abril, abriram uma porta para um futuro que se esperava promissor, sem correntes, sem pides, sem o regime opressivo do Estado Novo, sem mentiras, sem qualquer vestígio do passado. Os Capitães de Abril abriram uma porta para as tão ansiadas Democracia e Liberdade.
Mas o Poder é uma célula cancerígena corrosiva, que ataca quem ambiciona o Poder apenas pelo Poder. E depressa a ilusão da Democracia e da Liberdade foi abafada pela ganância e pela incompetência dos que iam jurando, por uma honra que neles não habitava, cumprir a missão que lhes era confiada.
E Portugal, que se abriu para o futuro, em Abril de 1974, tem vindo a regredir a olhos vistos, e Abril ainda não se cumpriu.
O Povo que, por essa altura, estava unido e pensava que jamais seria vencido, foi sub-repticiamente sendo enganado e alienado pelas manobras de diversão que, entretanto, os governantes foram promovendo, com a ajuda de uma comunicação social servilista, até à alienação total.
Foi-se desenvolvendo a política do pão e circo, uma política que nasceu no Império Romano, e que consistia no modo como os imperadores romanos lidavam com o Povo, para mantê-lo subjugado à ordem estabelecida e conquistar o seu apoio. A designação panem et circenses, no original em Latim, tem origem na Sátira X de Juvenal, humorista e poeta romano que, no seu contexto original, criticava a falta de informação do povo romano, que não tinha qualquer interesse pelos assuntos políticos, e só se preocupava com o pão para a boca (hoje, dinheiro no bolso) e com o divertimento.
Os tempos são outros, mas a política romana mantém-se, e o Povo só sai às ruas por motivos ligados ao vil metal. Os bolsos mais ou menos cheios e o futebol, as novelas, os reality shows de má catadura, mantêm o Povo amansado, alienado, distante do que é essencial, cego aos jogos políticos que se jogam em São Bento, e nos vão afastando da evolução.
E com esta política, acolitada pelo mais poderoso veículo de comunicação social, a televisão, instalou-se de tal modo no País, que o Povo acabou por ser vencido, sem se dar conta, por um Poder fantasiado de uma “democracia”, que esconde uma prepotência pior do que a de Oliveira Salazar, porque esse, ao menos, fazia as coisas às claras, e sabíamos com que contar.
Sim, podemos dizer que muitas coisas mudaram, depois de 25 de Abril de 1974.
Por exemplo, podemos votar livremente e escolher quem queremos que nos desgoverne.
Porém, de que serve o voto livre, se a maioria dos votantes não faz a mínima ideia do que faz, porque não é esclarecida? O padre da freguesia diz na missa: votem naqueles, e eles votam naqueles, sem saberem que aqueles vão para o Governo gerir os interesses dos lobbies e não os interesses do Povo, os interesses do País. Por isso, Portugal é, hoje, o paraíso de povos de várias nacionalidades, que aqui se abancam, podem e mandam e têm mais privilégios do que os Portugueses, e os portuguesinhos aceitam isto passivamente, servilmente, humildemente, parvamente, achando que o que é estrangeiro é que é bom, é que é moderno, é que é bué fixe.
Para complicar ainda mais as coisas, o Zé Povinho é adepto dos partidos políticos, como se os partidos políticos fossem o clube de futebol dele, portanto, vota nas cores dos partidos da sua predilecção, ainda que os candidatos possam ser incompetentes, corruptos, mentirosos e vigaristas. Esta parte não interessa ao Povo.
E isto não tem nada a ver com Democracia, mas com cegueira mental, ignorância, alienação, seguidismo.
As Democracias só funcionam plenamente quando o Povo é maioritariamente esclarecido, informado, instruído, pensante, dotado de espírito crítico. E não estou a referir-me aos canudos, porque os canudos só dão conhecimento específico em determinadas matérias. Um analfabeto pode ser muito mais esclarecido e informado e instruído e pensante e dotado de espírito crítico do que muitos doutores, que por aí andam de gravata ao peito, sendo a gravata a sua única medalha de mérito.
Em Democracia, os governantes são meros serviçais do Povo, que lhes paga o salário chorudo que ganham, para (des)governarem o País.
Em Democracia, os governantes, sendo nossos serviçais, têm o dever de responder às questões que o Povo lhes coloca, por escrito ou oralmente. Ora acontece que os governantes remetem-se ao silêncio, desprezando os apelos do Povo. Ignorando o Povo. E este desprezo não faz parte da Democracia que, se for verdadeira, o Povo é que é o detentor do Poder.
Daí a pergunta: o 25 de Abril entregou-nos uma Democracia a sério?
Os cravos de Abril murcharam, e Portugal não avançou para o futuro. Está prisioneiro de políticas retrógradas e de políticos incompetentes, corruptos, vigaristas, sem honra e sem brio, numa vergonhosa subserviência aos estrangeiros.
O Portugal hodierno limita-se a Lisboa, Porto, (e vá lá) Coimbra e ao Algarve, onde quem manda são os estrangeiros. O resto é território terceiro-mundista, nomeadamente o interior do País, onde ainda se vive sem água encanada, sem electricidade, onde ainda se passa fome, na maior miséria. Ao abandono total.
Eis o que temos para celebrar na passagem dos 45 anos do 25 de Abril (que os servilistas grafam “25 de abril”):
- Um país, onde ainda se continua a viver em pobreza extrema, com crianças e idosos a passarem fome.
- Um país, que continua a ter a maior taxa de analfabetismo da Europa.
- Um país dos que menos gasta na Saúde, com um Serviço Nacional de Saúde caótico, onde falta quase tudo, e o aumento da Tuberculose diz do subdesenvolvimento, do retrocesso e da miséria que ainda persistem por aí.
- Um país que empurra para o estrangeiro os seus jovens mais habilitados: enfermeiros, médicos, engenheiros, investigadores, artistas.
- Um país com o terceiro pior crescimento económico da Europa.
- Um país com a 3ª maior dívida pública da União Europeia.
- Um país cheio de desigualdades sociais, onde os ricos são cada vez mais ricos, e os pobres, cada vez mais pobres.
- Um país cheio de banqueiros e outros que tais ladrões.
- Um país cheio de berardos a jogar ao gato e ao rato com o dinheiro do Povo.
- Um país onde a Justiça ainda é extremamente cara, desigual, lenta e injusta.
- Um país que promove a violência contra animais não-humanos, o que por sua vez gera a violência contra os seres humanos.
- Um país com um elevado índice de violência doméstica.
- Um país com um elevadíssimo número de crianças e jovens em risco.
- Um país que atira crianças para arenas de tortura de animais, e permite que sejam iniciadas em práticas violentas e cruéis, roubando-lhes um desenvolvimento normal e saudável, o que constitui um crime de lesa-infância.
- Um país cheio de grupos e grupelhos de trabalho, de secretários, de secretários de secretários, de assessores, de secretários de assessores, de comissões, de subcomissões, que não servem absolutamente para nada, a não ser para ganharem salários descondizentes com os serviços que (não) prestam.
- Um país que descura a sua Flora e a sua Fauna, mantendo uma e outra ao abandono e à mercê de criminosos impuníveis.
- Um país que mantém as Forças de Segurança instaladas em edifícios a cairem de podres, e com falta de quase tudo.
- Um país onde ainda existem Escolas com instalações terceiro-mundistas, sem as mínimas condições para serem consideradas um lugar de aprendizagem.
- Um país onde as prisões são lugares de diversão, com direito a vídeos publicáveis no Facebook.
- Um país cheio de leis e leizinhas retrógradas, que não servem para nada, a não ser para servir lobbies dos mais hediondos, e proteger criminosos impuníveis.
- Um país que não promove a Cultura Culta, e para o qual apenas a cultura inculta conta, e é assegurada, contra tudo e contra todos.
- Um país, cujo Sistema de Ensino é dos mais caóticos, desde a implantação da República, com a agravante de estar a enganar-se as crianças com a obrigatoriedade da aprendizagem de uma ortografia que não é a portuguesa, a da Língua Materna delas, estando-se a incorrer num crime de lesa-infância.
- Um país, que tinha uma Língua Culta e Europeia, e hoje tem um arremedo de língua, uma inconcebível mixórdia ortográfica, imposta ditatorialmente por políticos ignorantes e servilistas, que estão a fabricar, conscientemente, os futuros analfabetos funcionais, e a promover a iliteracia. E já sou poucos os que escrevem correctamente.
- Um país onde, parvamente, se começou a dizer “olá a todos e a todas”.
- Um país, com um presidente beijoqueiro e viciado em selfies, e um primeiro-ministro que não tem capacidade para ver o visível, muito menos o invisível, que qualquer cego, de nascença, vê à primeira vista.
- Um país, que em 2018 foi marcado por uma constante contestação social, com o número mais elevado de sempre de greves em todos os sectores da sociedade portuguesa, número que continua a aumentar no corrente ano.
- Enfim, um País que perdeu o rumo, e faz de conta que é um país.
Enquanto tudo isto (e muito mais, que agora não me ocorre) não sair da lista do que não se quer para um País de Primeiro Mundo, evoluído e civilizado, o que há para comemorar neste 25 de Abril?
Há o facto de eu poder escrever este texto, sem ir parar ao Campo de Concentração do Tarrafal, o campo da morte lenta, para onde os médicos iam assinar certidões de óbito e não curar, criado pelo Estado Novo, na ilha de Santiago, Cabo Verde, num lugar ironicamente chamado de Chão Bom, de muito má memória.
Isabel A. Ferreira
***
Para complementar este texto, leia-se este outro, da autoria de Manuel Damas, publicado no Facebook:
45 anos depois...
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=2332540223434593&set=a.133659383322699&type=3&theater
A maioria dos homens, jovens ou menos jovens, ainda não está preparada para fazer o caminho ao LADO da mulher, que é o lado certo. Ao lado. Nem à frente, nem atrás.
O índice de violência doméstica em Portugal é elevadíssimo. Será que assim é porque a mulher ainda não se libertou de certas amarras e desconhece que tem o direito à legítima defesa? Ou será que é porque vivemos num país que cultiva a violência, um país onde a violência é legitimada por lei (refiro-me à violência contra animais não-humanos, seres vivos como nós), e essa violência acaba por se estender aos humanos?
O que vou expor não será politicamente correcto, mas também não é politicamente correcto o que não se passa ao redor das queixas que se apresentam às autoridades, e as penas que não se aplicam aos violentadores.
Daí que ouse ser politicamente incorrecta no que vou dizer.
Origem da imagem: Internet
Numa relação, seja ela qual for, ao primeiro levantamento de mão (e nem precisa chegar-se a vias de facto) a reacção da mulher tem de ser imediata, com intolerância absolutamente ZERO. Levantou a mão com a INTENÇÃO de agredir, não serve para namorar nem um calhau com olhos, e muito menos viver uma relação fora ou sob o mesmo tecto. De modo que... RUA! Para todo o sempre, porque quem levanta a mão uma vez, levanta duas ou três. Sem margem para dúvida.
E o segredo do sucesso está na tomada de posição logo na primeira vez.
E se, por distracção, se é apanhada desprevenida, e se leva um estalo, nessas alturas para que servem as pernas, senão para dar chutos e pontapés no "lugar certo"? É remedinho santo. Mas existem ainda outros métodos que neutralizam a cobardia dos do sexo oposto, quando estes se metem a “valentões”, e aos quais nem chamo homens, porque ser HOMEM é outra coisa.
As mulheres têm o direito à autodefesa. E ao reagirem, não estão a exercer violência, mas tão-só a defender-se. E os cobardes violentadores têm de saber isto.
Fina d’Armada, escritora portuguesa que pugnava pelos direitos das mulheres, escreveu certo dia uma crónica, onde contou o que a mãe lhe havia contado sobre uma mulher da sua aldeia, saco de pancada de um marido cavernícola e alcoólico. Um dia, já farta de tanto levar, a senhora, enquanto o marido dormia, atirou-lhe para cima uma panela de água a ferver, que o marcou. A partir de então, o homenzinho nunca mais teve a cobardia de lhe tocar. E até deixou de ir à taberna da aldeia, pela vergonha de ter sido invalidado pela mulher. E continuaram a viver (não muito felizes, obviamente) sob o mesmo tecto.
Mas hoje, os tempos são outros.
É que os cobardes só são “valentões” diante dos mais frágeis. Mas diante de quem lhes faz frente, tremem dos pés à cabeça, e não se atrevem, sequer a pensar, em agredir a mulher.
E já agora, embora esta não seja propriamente uma história de violência doméstica, posso contar a minha experiência com um “valentão” do meu tempo de escola, o qual, embora com outro nome, naquela altura, praticava bullying com os rapazes e meninas do colégio. Era o terror da escola. Todos o temiam, porque era um rapaz enorme, forte e bruto, e muito, muito cobarde, porque só se armava em “valentão” com os mais novos e com as meninas.
Um dia chegou a minha vez. Mas eu sabia que aos cobardes devemos enfrentá-los de frente, e se levamos uma, damos três. Assim fui ensinada (e assim ensinei a minha filha e a minha neta). E foi o que fiz. Usei as minhas armas: pernas e mãos. Ao primeiro gesto levou um pontapé bem assente no sítio certo que o deixou no chão. Daí em diante foram tantos os chutos e pontapés, que o deixei a tremer debaixo de uma mesa. É que se eu apanho, quem me dá leva em dobro. Ou em triplo.
Escusado será dizer que daí em diante o rapaz nunca mais se meteu com ninguém, e a paz reinou na escola. Acabámos até por ficar amigos. Terminada a escola, a vida levou-nos para lugares diferentes. Um dia mais tarde, já na juventude, soube que ele estava internado no Sobral Cid, hospital psiquiátrico de Coimbra, cidade onde eu frequentava a Universidade. A vida foi-lhe muito madrasta, disseram-me. Não me surpreendi. Decidi ir visitá-lo. Chorou muito, agarrado a mim, quando me viu. Era raro receber visitas. E eu chorei com ele. Viveu alguns anos mais. Mas não muitos mais. Fui ao seu enterro, e o desaguisado da adolescência, tinha há muito sido perdoado. E ele pôde partir em paz.
Este não foi o meu único episódio de leva-e-dá, na escola. Na vida de adulta jamais suportaria ser vítima de violência doméstica, por isso nunca aconteceu. É que ser mulher implica, sobretudo, ousar ser livre, embora eu saiba que nem a todas as mulheres a vida concede esse privilégio, contudo, é algo alcançável quando se ousa querer ser realmente livre.
Isabel A. Ferreira
Um magnífico texto de André Silva, Deputado da Nação, pelo PAN, descomprometido e livre das amarras do lobby tauromáquico instalado na Assembleia da República Portuguesa.
Esperamos que aos deputados, aficionados da selvajaria tauromáquica, que ainda vivem no passado, chegue a lucidez suficiente, para que possam interpretar as palavras do Deputado André Silva, um Homem que pertence à modernidade, e os faça catapultar para o Século XXI D.C.
(Os excertos do texto a negrito são da minha responsabilidade)
Isabel A. Ferreira
Por André Silva
«Conseguimos saber algo importante sobre uma pessoa através da forma como ela trata os que são mais fracos do que ela. Mas conseguimos saber quase tudo sobre uma pessoa através da forma como ela trata os que não têm qualquer poder, os que são impotentes. E os candidatos mais óbvios a este estatuto são os animais. Milan Kundera diz que a verdadeira bondade humana só pode manifestar-se, em toda a sua pureza e liberdade, em relação aos que não têm poder.
O verdadeiro teste moral da humanidade, o mais básico, reside na relação que mantém com os que estão à nossa mercê. E é neste ponto que encontramos a maior derrota da tauromaquia. Sem tibieza, Fernando Araújo dá-nos a mais crua e límpida definição de uma corrida de touros, que consiste na exibição da mais abjecta cobardia de que a espécie humana é capaz, o gozo alarve com a fragilidade e com a dependência alheias.
Na falta de argumentos saudáveis e convincentes, ao estertor tauromáquico nada mais resta do que defender ad nauseam que estas manifestações são parte integrante do património cultural português e da sua identidade. Estagnados no tempo em que a maioria das pessoas não sabia ler nem escrever, tentam fazer-nos acreditar que mutilar e rasgar carne a um animal e fazê-lo cuspir sangue faz parte da nossa herança cultural.
A identidade de um povo cria-se a partir do que é pertença comum e não daquilo que nos divide, pelo que forçar a identidade tauromáquica à população portuguesa é ofensivo e contraproducente para uma desejada unidade nacional.
Aceitando por um lado que devem ser banidas e condenadas as violências contra animais, tentam fazer-nos crer que infligir a morte, o sofrimento cruel e prolongado ou graves lesões a um animal é legítimo, desde que se faça num anfiteatro, que o mal-tratador use fato com lantejoulas e que seja acompanhado ao som de cornetas.
Esta deplorável cena troglodita, em Barrancos, leva-nos a um nome: Jorge Sampaio, ex-presidente da República Portuguesa, que não soube defender a Civilização.
O país pede uma evolução civilizacional e ética em relação a este assunto, sendo que as tradições reflectem o grau de evolução de uma sociedade, pelo que não é mais aceitável que o argumento da tradição continue a servir para perpetuar a cultura da brutalidade e do sangue que se vive nas arenas. Todas as tradições devem ser colocadas em crise quando atentam contra a vida e integridade de terceiros. As pessoas têm muitas formas de satisfazer o seu direito cultural sem que tenha que passar por infligir sofrimento a animais.
Mais de 90% dos portugueses não assiste a touradas e as corridas de touros têm vindo a perder milhares de espectadores todos os anos, tendência confirmada pelos recentes referendos nas universidades de Coimbra e de Évora, onde milhares de estudantes decidiram afastar a violência tauromáquica das suas festas académicas, após várias instituições de ensino superior já o terem feito.
Assim, afirmar que a tourada faz parte da identidade nacional é pretender que uma minoria da população que assiste a corridas de touros seja considerada mais “portuguesa” do que a grande maioria que não se revê neste tipo de espectáculos, o que é, no mínimo, desconcertante.
A identidade de um povo cria-se a partir do que é pertença comum e não daquilo que nos divide, pelo que forçar a identidade tauromáquica à população portuguesa é ofensivo e contraproducente para uma desejada unidade nacional.
Tenha a classe política a coragem para acompanhar o desejo de não-violência da esmagadora maioria dos portugueses.
André Silva»
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Comentário, na página, ao texto de André Silva, o qual subscrevo:
Acontece que a "classe política" é tão cobarde como um toureiro, e a população de certos locais e adepta deste primitivismo é particularmente agressiva. Viu-se na palhaçada de Barrancos onde a população se manifestou mais para ter touradas ilegais do que para ter um centro de saúde decente. E em vez de impor a lei, o Estado rebaixou-se e cedeu perante alguns burgessos ululantes. Uma pena e uma vergonha nacional que se continuem a praticar touradas. (Gustavo Garcia)
Fonte:
Mais um, para somar a todos os outros!
Foi assim, ontem, na Figueira da Foz: um bando de alcoolizados a massacrar um indefeso bezerro assustado… para bancadas vazias…
Fonte ad Foto: Ana Cláudia
Os falsos “estudantes” de Coimbra, quiseram mostrar que a Democracia em Portugal não existe, e lá foram para a Figueira da Foz torturar bezerros, com o aval da autarquia figueirense.
Esta garraiada não constou no programa da Queima das Fitas, tão-só na queima da dignidade estudantil, daqueles que deviam aceitar, democraticamente, o resultado do Referendo, com 70.7% dos estudantes a dizerem NÃO a esta prática medievalesca, e não aceitaram.
Eles bem querem passar a ideia de que são milhares. Mas coitados, quando estão toldados pelo álcool vêem tudo a quadruplicar.
Pobres bezerros, massacrados para uma multidão de assentos vazios.
Tenha vergonha, Senhor presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, por ser conivente com a ditadura e com tortura de bezerros indefesos, para uns poucos trogloditas, a cair de bêbados, exibirem a sua invirilidade, porque só os impotentes se arrastam nesta lama, e descarregarem sobre os indefesos animais as suas frustrações.
Um HOMEM inteiro, evoluído e civilizado, não precisa disto.
Isabel A. Ferreira