Texto de Josefina Maller
Como poderemos falar do Futuro às nossas crianças? Ou melhor, poderemos falar do Futuro às nossas crianças? Não? Sim? Talvez, se partirmos a palavra em três. Assim teremos Fu, que é o dono do restaurante Chinês, ali da esquina; o Tu (quem és tu?); e o Ró (que devemos pronunciar com acento) que é o nome da décima sétima letra do alfabeto grego, que corresponde ao nosso R, ou se quisermos ir pouco mais longe, Ró que representa, em física, a grandeza «resistividade».
Mas do que nos interessa falar é do senhor Fu, do Tu, e do Ró. Como é que três coisas tão diferentes podem ter ligação com o Futuro? Não têm. Então, qual o interesse de falar nisto? Não interessa nada, como diz aquela senhora que nós sabemos. Então porque estou para aqui envolvida neste sarilho?
Não estou. Parece que estou, mas não estou. É um truque que aprendi com os políticos. Eles parecem que estão, mas não estão. Parecem que fazem, mas não fazem... Ao contrário, desfazem.. Parece que dizem «sim, meus queridos eleitores», mas o que querem mesmo dizer é «queriam... queriam...!», parafraseando o grande Jô Soares, aquele que fazia rir com graça, aquele que fazia graça com inteligência, aquele que com inteligência fazia humor, sem precisar de recorrer a ordinarices, como muitos que eu cá sei. Só não sei é como ainda há quem ria dessas ordinarices!
Acho que me desviei das minhas intenções primeiras. Mas quais eram as minhas intenções primeiras? Ah! Sim, dissertar sobre o senhor Fu, o Tu, e o grego Ró (entre nós Erre)! E se de repente não me apetecer dissertar? Não disserto. Esta também é uma atitude que aprendi com os políticos. Por exemplo, os políticos prometem tudo durante as campanhas eleitorais, e depois de eleitos se não lhes apetece cumprir as promessas, não cumprem. Tão simples quanto isto. E quem os obriga?
Ninguém tem essa coragem. Ai de quem tiver! Aí vai papel que não é assinado. Aí vai obra que empanca nas gavetas das secretárias dos gabinetes de quem pode, quer e manda. Aí vai perseguição por coisa nenhuma. É o tens coragem de obrigar um político a cumprir o prometido durante as campanhas eleitorais! O que pensam? Um político não é eleito (salvo raras excepções, mas estes não são políticos, são Homens, com H), mas eu dizia que um político não é eleito para resolver os problemas de uma autarquia ou da Nação! Não! Isso é o que diz o papel. E uma coisa é o que diz o papel e outra coisa é o que o político quer. E quem o impede? Nenhum poder é maior do que o Poder!
Bem, quanto ao senhor Fu, é boa pessoa. Tu, dependendo de quem és tu, também és boa pessoa. O erre, coitado! Errar é humano, dizem. Será? Podemos tentar abordar este assunto, numa outra ocasião. Mas e então quanto ao Futuro? Querem saber? Nunca fui ao Futuro. Do Futuro nada sei.
Na entrevista feita pelo acordista Jornal Expresso a Luís Faro Ramos, presidente do “Camões” – Instituto da Cooperação e da Língua (mas qual língua?) li que fazer do Português uma das línguas oficiais da ONU é uma aposta estratégica do Governo (mas qual governo?). E esta foi uma das razões que levaram Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios dos Estrangeiros, a nomear pela primeira vez um diplomata para dirigir o instituto que tutela a língua e a cooperação.
E aqui colocam-se algumas questões: o tal “Camões” que agora é cooperador dos verdugos da Língua Portuguesa, nesta questão, estará a servir os interesses de quem? De Portugal, como Estado soberano e independente de influências estrangeiras, ou do Portugal subserviente aos interesses do Brasil?
É que a Portugal só interessa apresentar na ONU a Língua Materna Portuguesa, na sua versão culta e europeia, para não destoar das restantes Línguas Maternas cultas (algumas europeias) que fazem parte das línguas oficiais da ONU, a saber: o Inglês (de Inglaterra e não das ex-colónias); o Francês (de França e não das ex-colónias); o Chinês (o mandarim e não nenhum dos dialectos chineses); o Espanhol, (de Espanha e não das ex-colónias); o Árabe culto e não nenhuma das suas variantes; e o Russo, Língua Materna da Rússia e de vários outros países da Eurásia, e não nenhuma das suas variantes.
Ora não podemos apresentar na ONU outra língua que não seja a Língua Materna de Portugal, que é a Língua Portuguesa na sua versão falada e escrita, culta e europeia, e não na variante ortográfica brasileira que tem implicações com a oralidade (por exemplo, os que escrevem “direto” terão forçosamente de ler “dirêto”, sob pena de estarem a pronunciar mal o monstrinho ortográfico), e a qual andam a impingir aos Portugueses.
Sabemos que a aposta estratégica do Governo é a de apresentar à ONU a versão brasileira da Língua Portuguesa, no que respeita à ortografia, até porque foram os Brasileiros que tiveram a ideia primeiro, porque acham que eles são milhões, e nós, os outros escreventes e falantes lusófonos, que incluem os Angolanos, Moçambicanos, Timorenses, Cabo-Verdianos, São-Tomenses e Guineenses somos apenas milhares. Por isso, é tão importante para Santos Silva que os portuguesinhos aceitem o AO90 sem barafustar. A negociata passa por este detalhe. Por isso, o nosso ministro dos negócios DOS estrangeiros anda tão empenhadíssimo nesta negociata, e o “Camões” (quanto desprestígio para o Poeta!) ajuda a esta “missa (ão)”.
Portugal não pode impor-se internacionalmente com uma variante da Língua Portuguesa. Seria o desprestígio total. E penso que a ONU descartará essa possibilidade, a exemplo do que já fez o Vaticano: a Língua Portuguesa deixou de ser língua de trabalho na Cúria Romana, por ter perdido o seu cunho de língua culta europeia...
(Ler notícia aqui)
A SANTA SÉ FARTOU-SE DO ACORDO ORTOGRÁFICO DE 1990
http://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/a-santa-se-fartou-se-do-acordo-22657
LUSOFONIA: BISPOS LAMENTAM SUSPENSÃO DO USO DA LÍNGUA PORTUGUESA NOS PROCESSOS DE CANONIZAÇÃO
http://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/lusofonia-bispos-lamentam-suspensao-do-48332
Seria uma vergonha, um país europeu impor-se internacionalmente com um dialecto mutilado, e não com a Língua Materna, como todo os outros.
Isabel A. Ferreira