Copyright © Isabel A. Ferreira 2010
A. Monteiro dos Santos, na Caravela «Boa Esperança», atracada em Vila do Conde, recordando o seu tempo de marinheiro, o que deu origem ao seu pseudónimo de poeta - Dário Marujo
Parabéns a você/ Nesta data querida/ Muitas felicidades/ Muitos anos de vida...
Hoje é dia de festa/ Cantam as nossas almas/ Ao Monteiro dos Santos/ Uma salva de palmas!...
Como gostaria, caro amigo, de poder cantar assim, hoje, dia em que completarias 66 anos de vida. Não foi muito o tempo que tiveste para viver, mas foi o suficiente para te tornar imortal, através da tua poesia, do teu saber, da tua obra...
Nenhuma pergunta havia que não deixasses sem resposta. Eras uma espécie de enciclopédia ambulante. Viveste entre os livros, trabalhaste entre os livros. Soubeste utilizar esta circunstância da melhor maneira.
Mas também foste Poeta. Nasceste Poeta.
Lembro-me de que por ocasião do meu aniversário (também em Janeiro, a uns escassos dias do teu dia), quando a nossa amizade estava já consolidada, tu começaste a oferecer-me, a prenda mais bonita que alguém pode receber: um poema.
Se estivesses vivo, hoje, estarias, com certeza, a escrever um poema para me ofereceres daqui a uns dias. Como não estás entre nós fisicamente, e como não podes lançar palavras, daí, onde acredito que vivas, vou homenagear-te, aqui, muito emocionadamente, com o primeiro poema que me dedicaste, já lá vão muitos anos... Um poema que nunca ninguém leu, a não ser eu.
À Isabel A. Ferreira, no dia do seu aniversário natalício
Se te dói o desgosto que tens
Por campear a maldade,
Por reinar a estupidez,
Por vingar a ingratidão;
Se te dói a mudez de outras almas
Que apenas têm cabeça
Para acenar,
Sem pensar;
Se te agride a bajulice,
Ser humano feito bicho,
Sanguessuga, chupa-sangue,
Invertebrado e malvado,
Rastejante, feito cobra,
Todo feito de manobra.
Se o velhaco te dói mais
Que o maior celerado...
(Eu sei o quanto te dói,
Te magoa, te punge,
Te fere e te entristece)
Aceita
A minha receita:
...
Ergue a tua fronte
Acima do NADA.
Sê mais forte que essas doninhas
Que enxameiam ao teu redor.
Fazendo isto, tu serás mulher
E ninguém será mais do que tu
E serás tu mais que qualquer!
A. Monteiro dos Santos/ Janeiro de 1988
*
Ah! meu amigo, apesar de passados todos estes anos, ainda me dói desgostos e continuo rodeada de doninhas. Porém, nunca deixei de seguir a tua receita, sempre de fronte erguida e acima do nada que me rodeia. Só assim tenho sobrevivido.
Vila do Conde, tua terra natal, e minha terra do coração, já não é a mesma sem a tua presença, a presença de um amigo verdadeiro, daqueles que já não se fazem...
Estejas onde estiveres, ofereço-te esta rosa amarela (símbolo do nosso grupo de poetas), a rosa que fotografaste no pequeno jardim, da pequena rotunda, junto à antiga Biblioteca Municipal, hoje o Arquivo, em Vila do Conde.
Até sempre amigo!
Continuarás connosco, porque os Poetas não morrem nunca.
Isabel A. Ferreira