Sexta-feira, 16 de Março de 2018

Vacadas e garraiadas esmiuçadas pelo médico-veterinário Dr. Vasco Reis

 

Dedicado aos Estudantes de Coimbra que acabaram de dizer NÃO a estas práticas trogloditas

 

Um texto escrito em 2012, pelo médico-veterinário, Dr. Vasco Reis, a propósito da inclusão de uma garraiada na semana de recepção ao caloiro, na Universidade do Algarve, anulada por Macário Correia, um Homem que evoluiu, ao contrário de outros governantes, que andam por aí a andar para trás como o caranguejo…

 

VACADA.jpg

Isto é uma “vacada”. Observe-se que a vaca está manietada com uma corda. Os cornos estão impossibilitados de exercerem a função deles, isto é, DEFENDER a Vaca. A Vaca, que não é animal de água, está a ser torturada dentro de água, por COBARDES BRONCOS...

 

Hoje em dia só é ignorante quem quer ser ignorante

 

«Preocupa-nos profundamente a tauromaquia com o seu cortejo de crueldade exercida sobre animais (touros e cavalos) e os seus impactos sociais e sobre a reputação internacional do nosso país. Preocupa-nos a intenção de ser organizada uma garraiada pela Associação Académica da Universidade do Algarve.

(…)

Junto um texto meu a propósito de vacadas, garraiadas e tauromaquia.

 

Na tauromaquia são várias as modalidades de abuso de bovinos, tanto em âmbitos privados, como em espectáculos organizados para diversão, desde touradas até garraiadas, vacadas, etc.

 

Para quem não saiba do que se trata, pode informar-se por vídeo no YouTube.

 

O sofrimento começa na captura e possível “preparação” do bovino para o “espectáculo” com acções e intervenções para enfraquecer o animal.

 

Prossegue no transporte causador de pânico, claustrofobia, desgaste, até chegar à arena. O sofrimento prossegue aqui com susto, provocação por muita gente, ludíbrio por muita gente, violência física por muita gente, esgotamento anímico e físico, ferimentos (por vezes morte).

 

Prossegue depois com mais violência na recolha, no transporte, etc.

 

Em algumas intituladas garraiadas, acontece o cravar de bandarilhas, farpas.

 

É fundamental argumentar científica, ética, cultural, socialmente, ou seja, civilizadamente, para justificar o ponto de vista dos respeitadores dos animais e opositores da tauromaquia e, assim, contribuir para diminuir o sofrimento provocado pelo Homem sobre os animais não humanos.

 

É muito fácil rebater os argumentos do lobby tauromáquico, que para branquear o “espectáculo” cruel, faz uso de afirmações fantasiosas e não respeita o Senso Comum, a Ciência e a Ética.

 

Plantas são seres sem sistema nervoso, não sencientes e sem consciência.

 

Animais são seres dotados de sistema nervoso mais ou menos desenvolvido, que lhes permitem sentir e tomar consciência do que se passa em seu redor e do que é perigoso e agressivo e doloroso. Este facto leva-os a utilizar mecanismos de defesa, ausentes nas plantas. Portanto, medo e dor são essenciais e condições de sobrevivência.

 

A ciência revela que a constituição anatómica, a fisiologia e a neurologia do touro, do cavalo e do homem e de outros mamíferos são extremamente semelhantes.

As reacções destas espécies são análogas perante a ameaça, o susto, o ferimento.

 

Eles são tanto ou mais sensíveis do que nós ao medo, ao susto, ao prazer e à dor.

 

Descobertas recentes confirmam que animais, muito para além de mamíferos, aves, polvos, são seres inteligentes e conscientes.

 

O Senso Comum apreende isto e a Ciência confirma.

 

É, portanto, nosso dever ético não lhes causar sofrimento desnecessário.

 

«A compaixão universal é o fundamento da Ética» - um pensamento profundo do filósofo alemão Arthur Schopenhauer.

 

Na tourada, o homem faz “espectáculo” e demonstração de arrogância, de poder, de "superioridade", mas também de crueldade, provocando, fintando, ferindo com panóplia de ferros que cortam, cravam, atravessam, esgotam, por vezes matam o touro, em suma, provocam-lhe enorme e prolongado sofrimento, para gozo de uma assistência que se diverte com o sofrimento de um animal nesta aberração designada por “arte”, “desporto”, “espectáculo”, “tradição”.

 

O cavalo sofre enorme ansiedade, que por vezes lhe provoca a morte por paragem cardíaca, é incitado e castigado pelo cavaleiro para que enfrente o touro, sofre frequentemente ferimentos, que até lhe podem provocar a morte.

 

Mas nesta “arte” não são somente touros e cavalos que sofrem.

 

São muitas as pessoas conscientes e compassivas que por esta prática de violência e de crueldade se sentem extremamente preocupadas e indignadas e sofrem solidariamente e a consideram antieducativa, fonte de enorme vergonha para o país, lesivo de reputação internacional, obstáculo que dissuade o turismo de pessoas conscientes, que se negam a visitar um país onde tais práticas, que consideram "bárbaras", acontecem!

 

Muitos turistas aparecem nestes “espectáculos” por engano e por curiosidade.

 

De lá saem impressionados e pensando muito negativamente sobre o que presenciaram e sobre a gente portuguesa que, neste nosso permissivo país, tal coisa apoia.

 

Vacadas e garraiadas contribuem para insensibilizar, habituar e até viciar crianças e adultos no abuso cruel exercido sobre animais, o que pode propiciar mais violência futura sobre animais e pessoas. Por isso, elas não devem sequer realizar-se onde já não são novidade e, muito menos, em sítios onde não existe “tradição”.

 

A utilização de animais juvenis submetidos à violência de multidões, não pode ser branqueada como “espectáculo que não tem sangue e é só para as crianças se divertirem".

 

Mesmo que não tenha sangue, é responsável por muito sofrimento dos animais. Contribui, certamente, para a perda de sensibilidade de pessoas, principalmente de crianças, e para o gosto pela cruel tauromaquia.

 

É indissociável de futilidade, sadismo, covardia.

 

A brincar, a brincar, se viciam pessoas, como sabemos.

 

Até serve a estratégia dos tauromáquicos visando a manutenção e a expansão da tauromaquia.

 

Vasco Reis,

Médico-veterinário

Aljezur

21.08.2012»

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 12:10

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