(Um texto actualíssimo de André Silva – PAN)
Mais uma vez, as a estatísticas oficiais vêm colocar a indústria tauromáquica numa situação embaraçosa e comprometedora
O Relatório da Actividade Tauromáquica de 2016, da Inspecção Geral das Actividades Culturais (IGAC) vem demonstrar o crescente desinteresse dos portugueses pela tauromaquia, uma prática que é cada vez mais rejeitada pela violência que encerra e que continua em declínio acentuado.
Pan (o) p´ra mangas
André Silva
As touradas atingiram mínimos históricos de corridas e de público no nosso país. O número de touradas realizadas em 2016 foi pela primeira vez inferior a 200 e os 362.057 espectadores contabilizados pela IGAC representam o valor mais baixo de sempre em Portugal desde 1998, ano que começaram a ser publicadas as estatísticas oficiais. Desde 2010 as touradas já perderam mais de 53% do seu público. A tauromaquia tem um peso cada vez mais insignificante no panorama dos espectáculos ao vivo em Portugal, sendo já superada pelos eventos de Folclore que em 2015 contabilizavam 462.081 espectadores, segundo o Instituto Nacional de Estatística.
Fazendo umas contas simples, se aos 362.057 espectadores contabilizados tiver correspondido sempre uma pessoa diferente, conclui-se que, no máximo, apenas 3% dos portugueses assistem a touradas. Mas se admitirmos sensatamente que cada aficionado assistiu a pelo menos duas corridas num ano, pode afirmar-se que, no máximo, apenas cerca de 1,5% de portugueses assistem a touradas em Portugal. Ou que 98,5% dos portugueses não assiste a touradas.
No entanto, e para que esta ínfima minoria continue a divertir-se nestes espectáculos que, nas palavras do Professor Fernando Araújo, consistem "na exibição da mais abjecta cobardia de que a espécie humana é capaz, o gozo alarve com a fragilidade e com a dependência alheias", o Estado tem tido um papel determinante. Com fortes apoios directos e indirectos, através de dinheiros públicos, de apoios institucionais e de isenções fiscais, o Estado tem garantido autênticos balões de oxigénio a esta actividade decadente.
Os portugueses não conseguem entender o papel de um Estado que isenta os artistas tauromáquicos do pagamento de IVA, aqui equiparados a desportistas, médicos ou enfermeiros. Um Estado evoluído e justo deve recompensar, através de isenções fiscais, apenas as actividades económicas e profissionais que acrescentam valor, unificam a sociedade e que passam, necessariamente, pela não-violência. Equiparar a tauromaquia a profissões de cariz humanitário ou de utilidade pública é uma forma de anular o significado das palavras e corromper a razão de ser das isenções. Também não se compreende como é possível, contra o sentimento geral da população portuguesa, inclusivamente contra a opinião do Provedor do Telespectador, que o serviço público de televisão continue a transmitir touradas, financiando assim esta prática com o dinheiro público que, a tanto custo, os cidadãos contribuem.
A própria reacção do sector aos factos vem reforçar o seu desespero pelo envelhecimento natural de uma actividade que as novas gerações claramente repudiam. Então é preciso doutrinar os mais novos para a violência com o nobre objectivo de defender a tradição e os bons costumes. Como? À moda antiga. Quem tem dinheiro, logo "poder", investe em "comunicação" para nos trazer a primeira edição do BullFest já neste mês de Fevereiro, e que a indústria chama de Festival de Cultura Portuguesa.
Mas haverá lá acontecimento mais emblemático da ruralidade, cultura e tradição portuguesas que um evento em Lisboa designado de BullFest, num shopping repleto de boutiques e de cadeias de fast food?
No programa deste evento pode ler-se que "este é um momento perfeito para os mais pequenos terem uma introdução à tauromaquia em família." Esta frase diz tudo sobre as intenções da indústria tauromáquica. Um dia em cheio que começa logo de manhã repleto de animação infantil com muitas actividades, divertidas e aparentemente inofensivas, que têm sempre como pano de fundo o inefável universo tauromáquico. Muita animação e brincadeira, que sob a capa de momentos recreativos e lúdicos, tem como objectivo único o doutrinamento das crianças. O cornetim, a seda e as lantejoulas já não conseguem cativar os mais novos para esta tradição bafienta, por isso cabe ao marketing tentar descobrir outros caminhos.
As crianças que desde tenra idade se "educarem" (leia-se condicionarem) para um relacionamento com o outro baseado no utilitarismo, na agressão e na dominação, serão adultos que terão uma visão da violência da tauromaquia como um ritual vulgar. Controlar e condicionar crianças para a banalização da tauromaquia hoje é continuar a garantir a institucionalização da violência amanhã.
Cultura, senhoras e senhores, corresponde a um sentido humanista com um contributo concreto para nos tornar melhores seres humanos e caracteriza a evolução mental e civilizacional das sociedades. Crianças e jovens expostos à violência como uma actividade supostamente cultural e natural serão adultos que organizam os seus próprios sistemas de valores com bases mentais pouco sadias.
E nem as marcas portuguesas no cumprimento dos seus programas de responsabilidade ética e social se querem associar às máquinas do marketing usadas para a manipulação dos "inocentes", pelo que os patrocinadores desta iniciativa são praticamente inexistentes ou desconhecidos. São cada vez mais os agentes económicos que se divorciam e recusam patrocinar uma tradição que já não pertence a este tempo.
Há contingências que são evitáveis com coragem política, que muito tem faltado. As minorias que o Estado deve apoiar e proteger, com "pão, saúde e educação", são outras.
Continuam a destapar-se os véus… cá estaremos até ao derradeiro toque a cabrestos.
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André Silva nasceu a 2 de Abril de 1976, formado em Engenharia Civil e vegetariano, é deputado e porta-voz do PAN, Pessoas - Animais – Natureza
Fonte:
Uma vez mais, os tauricidas deram-se mal. Quiseram esticar, até ao limite, uma corda podre, e estatelaram-se no chão.
O tal BullFest, aquele evento realizado no passado sábado, no campo pequeno, na cidade de Lisboa, com a intenção de mostrar ao povinho a “coltura” tauromáquica, foi o maior fiasco de sempre.
Ficou demonstrado que a selvajaria tauromáquica não passa disso mesmo: de uma “coltura”, que é como quem diz, a incultura tauromáquica, que só interessa a uma insignificante facção da população portuguesa, que tem ainda a ilusão de manter de pé algo que só está de pé, porque, inacreditavelmente, o governo português, utilizando os impostos dos portugueses, injecta dinheiro nessa “incoltura”, em detrimento da Cultura Culta.
Origem da foto:
https://protouro.wordpress.com/2017/02/19/o-festival-da-protoiro-foi-um-fiasco/#jp-carousel-9205
Foi assim, para uma fraca (em quantidade e moralmente) plateia, mais borlas do que bilhetes vendidos, que o BullFiasco se realizou. Quantos mais fiascos terão de acontecer para que o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, e o governo português entendam que a selvajaria tauromáquica está moribunda, e que não vale a pena esbanjar dinheiros públicos numa “coisa” que envergonha a cidade, os Portugueses, Portugal e a Humanidade?
Não foi por acaso que o Porto, cidade limpa da selvajaria tauromáquica, foi eleito como o melhor destino europeu de 2017, sendo distinguido pela terceira vez consecutiva.
Para mim, e para muito votantes, este detalhe contou.
Pensem nisto.
VERGONHA!
Lisboa, uma capital que se diz europeia, e que pretende viver do Turismo Culto, acolhe e promove um evento (BullFest) que não dignifica a Humanidade, ao esmagar a dignidade das crianças. (IAF)
«No seguimento do anúncio público sobre o apoio institucional que a Câmara Municipal de Lisboa (CML) está a atribuir à primeira edição do festival tauromáquico BullFest, já no próximo fim-de-semana, através do Turismo de Lisboa, entidade presidida pelo Presidente Fernando Medina, o PAN contactou hoje a CML para manifestar a sua enorme surpresa e preocupação em relação a esta decisão do executivo municipal.
Muitos lisboetas têm contactado o PAN por não entenderem o porquê deste apoio institucional à indústria tauromáquica que tem comprovadamente um peso cada vez mais insignificante no panorama dos espectáculos ao vivo em Portugal, sendo já superada pelos eventos de Folclore, segundo o Instituto Nacional de Estatística. De acordo com o parecer da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) sobre a discussão das consequências da exposição e participação das crianças em eventos e actividades tauromáquicas, “Quando as crianças assistem a uma tourada podem interpretá-la como uma forma de violência (e uma violência real, embora limitada à arena) que ocorre numa relação explicável como desigual (uma vez que é perpetrada pelos homens em animais coagidos a estarem presentes) e que tendencialmente serve apenas o prazer de uma das partes. O comportamento lido como agressivo que observam nas touradas recebe um aval social forte, podendo ser visto como apropriado e tolerável (e portanto, repetível ou perpetrável noutras circunstâncias).”
Também o Comité dos Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas (ONU), órgão máximo a nível internacional para esta matéria, recomendou ao Governo Português a proibição de participação de crianças em touradas e a adopção das medidas legais e administrativas necessárias para proteger as crianças envolvidas neste tipo de actividades, tanto como participantes como enquanto espectadoras.
Para além disso este não será um apoio às tradições portuguesas, à ruralidade e à cultura realizando-se o designado BullFest, num shopping repleto de boutiques e de cadeias de fast food.
Num email escrito dirigido ao Presidente da CML, o Deputado André Silva explicou que no programa deste evento se pode ler que "este é um momento perfeito para os mais pequenos terem uma introdução à tauromaquia em família." Esta frase diz tudo sobre as intenções de doutrinamento dos mais jovens pela indústria tauromáquica.
Na mesma comunicação, o PAN pede uma nova atitude política e apela a um posicionamento que vá ao encontro da vontade e sentimento geral da maioria dos cidadãos portugueses e dos lisboetas. A longa exposição termina com um pedido de André Silva: “Não posso deixar de lhe pedir que ouse ser diferente e que pondere tomar a única atitude consentânea com os mais altos valores éticos e civilizacionais através dos quais a cidade de Lisboa se deve reger, retirando o seu apoio institucional a esta iniciativa baseada na cultura da violência.”
Fonte:
(AVISO: uma vez que a aplicação do AO/90 é ilegal, não estando oficialmente em vigor em Portugal, e atenta contra a legítima Língua (Oficial) Portuguesa, este texto foi reproduzido para Língua Portuguesa, via corrector automático).
Mais um excelente texto de André Silva
É preciso continuar a desmascarar esta pobreza "cultural", moral e social onde se esbanjam dinheiros públicos, para que uma minoria inculta se divirta à custa do sofrimento de seres vivos.
Mas o pior, o pior é o governo português e as entidades que têm a seu cargo zelar pelo bem-estar das crianças, pela sua saúde mental e educação para a cidadania, permitirem a realização de uma BullFest, com a qual apenas se pretende formar monstrinhos...
Uma iniciativa com a finalidade de formar “monstrinhos” … Onde está a Comissão de Protecção a Menores?
Texto de André Silva (*)
(Porta-voz e deputado do PAN)
«Mais uma vez, as a estatísticas oficiais vêm colocar a indústria tauromáquica numa situação embaraçosa e comprometedora. O Relatório da Actividade Tauromáquica de 2016 da Inspecção Geral das Actividades Culturais (IGAC) vem demonstrar o crescente desinteresse dos portugueses pela tauromaquia, uma prática que é cada vez mais rejeitada pela violência que encerra e que continua em declínio acentuado.
As touradas atingiram mínimos históricos de corridas e de público no nosso país. O número de touradas realizadas em 2016 foi pela primeira vez inferior a 200 e os 362.057 espectadores contabilizados pela IGAC representam o valor mais baixo de sempre em Portugal desde 1998, ano que começaram a ser publicadas as estatísticas oficiais. Desde 2010 as touradas já perderam mais de 53% do seu público. A tauromaquia tem um peso cada vez mais insignificante no panorama dos espectáculos ao vivo em Portugal, sendo já superada pelos eventos de Folclore que em 2015 contabilizavam 462.081 espectadores, segundo o Instituto Nacional de Estatística.
Fazendo umas contas simples, se aos 362.057 espectadores contabilizados tiver correspondido sempre uma pessoa diferente, conclui-se que, no máximo, apenas 3% dos portugueses assistem a touradas. Mas se admitirmos sensatamente que cada aficionado assistiu a pelo menos duas corridas num ano, pode afirmar-se que, no máximo, apenas cerca de 1,5% de portugueses assistem a touradas em Portugal. Ou que 98,5% dos portugueses não assiste a touradas.
No entanto, e para que esta ínfima minoria continue a divertir-se nestes espectáculos que, nas palavras do Professor Fernando Araújo, consistem "na exibição da mais abjecta de cobardia de que a espécie humana é capaz, o gozo alarve com a fragilidade e com a dependência alheias", o Estado tem tido um papel determinante. Com fortes apoios directos e indirectos, através de dinheiros públicos, de apoios institucionais e de isenções fiscais, o Estado tem garantido autênticos balões de oxigénio a esta actividade decadente.
Os portugueses não conseguem entender o papel de um Estado que isenta os artistas tauromáquicos do pagamento de IVA, aqui equiparados a desportistas, médicos ou enfermeiros. Um Estado evoluído e justo deve recompensar, através de isenções fiscais, apenas as actividades económicas e profissionais que acrescentam valor, unificam a sociedade e que passam, necessariamente, pela não-violência. Equiparar a tauromaquia a profissões de cariz humanitário ou de utilidade pública é uma forma de anular o significado das palavras e corromper a razão de ser das isenções. Também não se compreende como é possível, contra o sentimento geral da população portuguesa, inclusivamente contra a opinião do Provedor do Telespectador, que o serviço público de televisão continue a transmitir touradas, financiando assim esta prática com o dinheiro público que, a tanto custo, os cidadãos contribuem.
A própria reacção do sector aos factos vem reforçar o seu desespero pelo envelhecimento natural de uma actividade que as novas gerações claramente repudiam. Então é preciso doutrinar os mais novos para a violência com o nobre objectivo de defender a tradição e os bons costumes. Como? À moda antiga. Quem tem dinheiro, logo "poder", investe em "comunicação" para nos trazer a primeira edição do BullFest já neste mês de Fevereiro, e que a indústria chama de Festival de Cultura Portuguesa.
Mas haverá lá acontecimento mais emblemático da ruralidade, cultura e tradição portuguesas que um evento em Lisboa designado de BullFest, num shopping repleto de boutiques e de cadeias de fast food?
No programa deste evento pode ler-se que "este é um momento perfeito para os mais pequenos terem uma introdução à tauromaquia em família." Esta frase diz tudo sobre as intenções da indústria tauromáquica. Um dia em cheio que começa logo de manhã repleto de animação infantil com muitas actividades, divertidas e aparentemente inofensivas, que têm sempre como pano de fundo o inefável universo tauromáquico. Muita animação e brincadeira, que sob a capa de momentos recreativos e lúdicos, tem como objectivo único o doutrinamento das crianças. O cornetim, a seda e as lantejoulas já não conseguem cativar os mais novos para esta tradição bafienta, por isso cabe ao marketing tentar descobrir outros caminhos.
As crianças que desde tenra idade se "educarem" (leia-se condicionarem) para um relacionamento com o outro baseado no utilitarismo, na agressão e na dominação, serão adultos que terão uma visão da violência da tauromaquia como um ritual vulgar. Controlar e condicionar crianças para a banalização da tauromaquia hoje é continuar a garantir a institucionalização da violência amanhã.
Cultura, senhoras e senhores, corresponde a um sentido humanista com um contributo concreto para nos tornar melhores seres humanos e caracteriza a evolução mental e civilizacional das sociedades. Crianças e jovens expostos à violência como uma actividade supostamente cultural e natural serão adultos que organizam os seus próprios sistemas de valores com bases mentais pouco sadias.
E nem as marcas portuguesas no cumprimento dos seus programas de responsabilidade ética e social se querem associar às máquinas do marketing usadas para a manipulação dos "inocentes", pelo que os patrocinadores desta iniciativa são praticamente inexistentes ou desconhecidos. São cada vez mais os agentes económicos que se divorciam e recusam patrocinar uma tradição que já não pertence a este tempo.
Há contingências que são evitáveis com coragem política, que muito tem faltado. As minorias que o Estado deve apoiar e proteger, com "pão, saúde e educação", são outras.
Continuam a destapar-se os véus… cá estaremos até ao derradeiro toque a cabrestos.»
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(*) André Silva nasceu a 2 de Abril de 1976, formado em Engenharia Civil e vegetariano, é deputado e porta-voz do PAN, Pessoas - Animais - Natureza
Fonte: