A notícia veio da autarquia.
Afinal, era verdade: os impostos dos portugueses também serviam (e noutras autarquias continuarão a servir) para financiar a selvajaria tauromáquica, ao contrário do que dizem os tauricidas.
E pensar que quanto dinheiro do meu bolso saiu (e continua a sair) para financiar algo que abomino do mais fundo das minhas entranhas!
Apesar de os autarcas da Póvoa de Varzim não estarem ainda predispostos para elevar a Póvoa de Varzim a Cidade Anti-Tourada, a exemplo do que fez Defensor Moura, em Viana do Castelo, o primeiro e, até hoje, único autarca português, que teve a coragem e a hombridade de derrubar barreiras e quebrar grilhões e limpar a cidade da qual era presidente da Câmara, do lixo tauromáquico; apesar da falta dessa coragem por parte dos autarcas poveiros, deu-se um passo em frente.
A Câmara Municipal da Póvoa de Varzim vai deixar de apoiar touradas que se realizem na cidade, mas a arena continuará de portas abertas à selvajaria tauromáquica enquanto a lei o permitir, disse o presidente da Câmara, passando a autarquia a cobrar oito mil euros pelo aluguer do recinto.
Aires Pereira, presidente do município poveiro, referiu que era tradição a Câmara Municipal oferecer a praça de Touros às entidades que promovem o que ele chama de “espectáculo”, ficando essas entidades isentas do pagamento do aluguer da arena.
Além dessa isenção, refira-se que toda a despesa que daí resultava era paga com os dinheiros dos poveiros, quer fossem aficionados ou não, dinheiros públicos, oriundos dos nossos impostos.
Assim sendo, todas as touradas que se realizarem na Póvoa de Varzim, a partir de agora, já não contarão com a aposta de dinheiros públicos.
Aires Pereira, embora pudesse ter tomado uma atitude que realmente marcasse firmemente uma nova etapa na forma como a Póvoa de Varzim pretende relacionar-se com os animais não humanos, como referiu, preferiu manter as portas da arena abertas, e não proibir a realização de touradas, enquanto a lei permitir a prática desta selvajaria.
O que acontecerá é que a Câmara Municipal da Póvoa de Varzim “não mais irá investir o dinheiro dos contribuintes poveiros” nesta barbárie.
Do mal, o menos.
Contudo, a grande prova irá ser a realização ou não, da tourada que o clube de caçadores da Estela, que recebe subsídios camarários para as suas actividades predadoras, (caça desportiva e batida à Raposa permitida dentro do Concelho), promove de uns anos a esta parte; e pelas touradas promovidas pela RTP, que utiliza dinheiros públicos para estas iniciativas nada civilizadas, apesar de “legais”.
Os contribuintes continuarão a pagar ou não? Eis a questão.
Oito mil euros, não são oito euros. A ver vamos.
Projectos de Pavilhão Multiusos para a arena tauromáquica da Póvoa
Existem, há bastante tempo, dois excelentes projectos, um apresentado pelo Arquitecto Joaquim Garcia, e outro pelo Comandante Manuel Figueiredo (enquanto deputado municipal), para transformar a arena da tortura de touros da Póvoa de Varzim num pavilhão multiusos, que poderia ser aproveitado para a Cultura Culta: congressos, feiras, exposições, concertos musicais e outros espectáculos, patinagem artística, dança, encontros literários, festas para crianças, feira do livro, exposições, teatro, cinema, conferências, e até competições desportivas, enfim, tudo onde não cabe a tortura de seres vivos, projectos que sempre foram rejeitados pelos sucessivos dirigentes poveiros.
Ainda não foi desta.
No entanto, aqui deixo o meu apreço pela atitude de não se pretender apoiar as touradas com dinheiros dos contribuintes.
Esperemos que não saiam “disfarçados”, como os apoios europeus camuflados em ajudas para a “agricultura”.
É que gato escaldado…
A Póvoa de Varzim deixa também de possuir um canil de abate de animais
Lê-se na notícia que a presença da Nucha no Salão Nobre dos Paços do Concelho marcou uma nova etapa na forma como a Póvoa de Varzim pretende relacionar-se com os animais (não humanos).
A Nucha é uma cadela recolhida pel’A Cerca – Abrigo de Animais Abandonados, com sede na Vila de Rates e, posteriormente, adoptada por uma voluntária.
Diz-se que esta foi a primeira vez que um animal entrou no Salão Nobre.
(Não foi. Porque todos os que já lá entraram são animais, incluindo a minha pessoa, que já lá entrou muitas vezes. Mas isto é apenas um detalhe.)
Aproveitou-se a ocasião, para se assinar um protocolo entre a Câmara Municipal e A Cerca, que irá pôr fim ao abate de animais por parte do Canil da Póvoa de Varzim.
Aires Pereira referiu que esta assinatura não se resume à “atribuição de um subsídio, mas converte-se no “assumir de uma parceria, de um compromisso para a resolução de um problema. Por ano, e em média, eram mortos 80 animais no Canil Municipal por este não ter condições para albergar mais do que 50. A Câmara vai aumentar o seu canil para que o número de animais possa também aumentar mas, uma vez atingido o número limite no Canil, A Cerca irá recolhê-los e tentar arranjar-lhes famílias”.
Mas deixamos aqui um alerta: famílias responsáveis, o que nem sempre acontece.
Touros e cães foram contemplados nesta abertura do município poveiro para a tal nova etapa na forma como a Póvoa de Varzim pretende relacionar-se com os animais não humanos.
Falta acabar com a batida á Raposa e com a caça desportiva no tal clube de caça da Estela; o tiro aos pombos, no Clube de Tiro de Rates; as lutas de cães (clandestinas e ilegais, mas que ainda se fazem); a corrida de galgos, enfim…
Todos somos animais e, desde o momento exacto em que nascemos para o mundo, todos temos o direito a uma vida digna e livre das garras do animal homem-predador.
Isabel A. Ferreira
Uma iniciativa que prestigia a cidade, e com a qual me congratulo.
No entanto, como é desprezível a época taurina e a batida à raposa, na Póvoa de Varzim.
É a nódoa negra da cidade. A vergonha. E isso, os escritores não sabem, e sei de muitos que abominam os maustratos a animais não humanos.
Para quando, senhores autarcas poveiros, a abolição dessa iniquidade? Já era tempo, numa cidade que se diz da “Cultura e do Lazer”, mas de uma “cultura” ainda muito inculta, apesar do Correntes d’Escritas, e de um “lazer” muito lazarento.
Isabel A. Ferreira