«Os que criticam aqueles que lutam por uma causa são os parasitas da sociedade, os inúteis que, além de não fazerem nada por ninguém, andam no mundo só por ver andar os outros… São uns tristes, uns apoucados, uns pobres diabos…»
(Isabel A. Ferreira)
Há uns dias encontrei várias publicações, tanto de indivíduos como de organizações, a criticarem quem defende os animais: segundo eles, quem defende os animais não se interessa pelas pessoas, os animais são inferiores aos seres humanos e não merecem a ajuda que recebem, mas-que-estupidez-vem-a-ser-esta e sou-tão-bom-a-argumentar-que-preciso-de-insultar. Para ratificar ainda mais a indignação, adicionaram à declaração furiosa uma montagem com duas imagens: a de Aylan Kurdi, a criança síria-curda de três anos que morreu afogada, e a de uma baleia encalhada a ser ajudada por dezenas de pessoas.
Primeiramente, preciso de referir como é barbaramente execrável utilizar um registo trágico para criticar uma causa: é uma falta de respeito atroz para com a vítima exposta, visto que estão a aproveitar-se do sucedido para ganhar atenção suficiente e conseguir expor massivamente a sua visão negativa em relação à defesa dos animais. Pelo que eu sei uma causa não prejudica outras, bem como nenhuma causa deve sobrepor-se às outras. As causas não servem para alimentar egos - algo que, infelizmente, não é levado a sério e pode ser perfeitamente visualizado neste tipo de atitudes.
Para além disso, quem está a criticar deve conhecer, e muito bem, todos os defensores dos animais deste planeta: é a conclusão que eu tiro, visto que só desta maneira é que pode regurgitar afirmar, com toda a segurança, o que diz em relação aos supracitados.
O que vale é que ninguém, mas mesmo ninguém, fica satisfeito quando alguém milita por alguma coisa. Encontra sempre defeitos, torce o nariz, a causa não é nobre o suficiente, mas há coisas mais importantes, e por aí fora.
Se luta contra a desflorestação e planta novas árvores é porque não se interessa pelos animais;
Se ajuda animais é porque não se importa com as pessoas;
Se participa na distribuição de alimentos e roupas para os sem-abrigo é porque despreza as mulheres vítimas de violência doméstica;
Se ajuda as mulheres é insensível com as crianças, porque as crianças são mais indefesas do que as mulheres;
Se ajuda as crianças é porque esqueceu-se dos órfãos, e esses sim, é que precisam verdadeiramente de atenção;
Se vai cuidar de crianças que perderam os pais é porque está a lixar-se para as crianças com cancro;
Se visita crianças com cancro é porque deixou a própria família de parte;
Se passa algum tempo com a família é porque não quer saber dos outros;
Se quer saber dos outros, porque não dá o raio de um rim para alguém que precisa de um para sobreviver;
E, francamente, porque diabos deu um rim a um desconhecido quando, sabe-se lá, alguém da sua família poderá futuramente precisar;
Isto assim não pode ser;
E isto assim também não pode ser;
E blá blá blá...
Moral da história: preso por ter cão e preso por não ter.
Segunda moral da história: nenhuma causa é mais importante do que a outra. Isto não é uma competição para ver quem merece mais a nossa solidariedade.
Os animais têm os seus direitos e as suas necessidades, bem como os seres humanos têm os seus direitos e as suas necessidades, e ninguém tem o privilégio divino de dizer o contrário e de menosprezar um, ou outro, ou ambos, só porque possui um determinado juízo de valor.
As causas não se movem por esses juízos: movem-se porque há quem sinta compaixão, quem sinta amor e quem se preocupe genuinamente - e quem não compreende e não aceita isso, pura e simplesmente, não empate. Não concorda com a causa, seja ela pelas pessoas, pela natureza ou pelos animais? Então fique sossegado e não arrelie. Vá ler um livro, jogar ping-pong, lavar a loiça, mas deixe de ser troll nas redes sociais e pare de atacar pessoas que não conhece de lado nenhum.
É que já não há paciência.
Fonte: http://grito-silenciado.blogspot.pt/