Na sequência da CARTA ABERTA A GONÇALO REIS, PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA RTP a propósito das lamentáveis declarações públicas que este fez, referentes à intenção de continuar a parceria com o campo pequeno, para transmissão de touradas na estação pública de televisão, recebi do Provedor do Telespectador a seguinte mensagem:
(Nota: os erros ortográficos são da responsabilidade de quem escreveu a mensagem)
| 16:35 (há 1 hora) | |||
|
Exmo(a) Senhor(a) Encarrega-me o Senhor Provedor do Telespetador de lhe transmitir a seguinte resposta: Agradeço a sua mensagem. O Presidente do Conselho de Administração da RTP, Gonçalo Reis, exprimiu a sua opinião favorável às touradas, congratulou-se com a sua transmissão televisiva e sublinhou que a parceria Campo Pequeno-RTP “é para continuar”. Mas também referiu com clareza que a decisão de transmitir touradas é da responsabilidade do Diretor de Programas. Este já exprimiu publicamente que, pessoalmente, é contra as touradas. A intervenção do presidente da RTP não é decisiva, mas vem colocar mais pressão sobre o Diretor de Programas da RTP1 para que continue a transmitir touradas. Darei conhecimento da sua queixa a quem de direito e penso tratar esta questão em próximo programa Voz do Cidadão.
m/ cumprimentos,
Jorge Wemans
Provedor do telespetador”
Susana de Faria
Gabinete de Apoio aos Provedores
***
Eu agradeço a gentileza da resposta.
Contudo quero acrescentar o seguinte: este jogo de pingue-pongue, este empurrar a responsabilidade para o DireCtor de Programas, que já disse ser contra a transmissão de touradas, é algo que não fica bem a um administrador.
Se existe na RTP um DireCtor de Programas, em princípio, ao DireCtor de Programas deveria ser dada a liberdade de seleCcionar os programas de acordo com os interesses dos telespeCtadores, e sabemos como é esmagador o número de telespeCtadores que se indignam com a transmissão se selvajaria tauromáquica na estação pública de televisão, até porque torturar seres vivos e transmitir essa tortura em direCto não é do interesse público, nem no mais remoto e atrasado país do mundo, quanto mais num país integrado numa Europa culta.
Ora se o senhor Gonçalo Reis referiu com clareza que a decisão de transmitir touradas é da responsabilidade do DireCtor de Programas, e se o DireCtor de Programas já exprimiu publicamente que, pessoalmente, é contra as touradas, e se a intervenção do presidente da RTP não é decisiva, qual o motivo desta pressão sobre o DireCtor de Programas da RTP 1 para que continue a transmitir touradas, senão o da subserviência ao lobby tauromáquico instalado no poder?
Sabemos que o anterior Provedor do TelespeCtador, Jaime Fernandes, que era assumidamente contra as touradas, já havia recomendado à RTP a não transmissão de touradas (não é para isso que servem os provedores dos telespeCtadores?) devido ao elevado número de queixas contra a transmissão dessa selvajaria numa televisão pública, paga com os impostos dos portugueses que, maioritariamente (mas muito maioritariamente), abominam a selvática prática de torturar bovinos, para divertir sádicos, algo que nada tem a ver com cultura, nem com arte, nem com tradição, nem com coisa nenhuma que pertença à condição e aos valores humanos.
Um destes dias, estive a ouvir a Voz do Cidadão (suponho que no sábado passado, em “repescagem”, pois não vejo, nem verei a RTP, enquanto esta não evoluir), porque me chamaram a atenção para o assunto da não transmissão dos Mundiais de Atletismo de Londres, nos quais estavam a participar atletas portugueses de alto nível, e seria do interesse público transmiti-los, até porque a lei recomenda, por limitações de carácter financeiro.
Bem sei que transmitir os Mundiais de Atletismo de Londres, que interessava a todo o país, não é a mesma coisa que transmitir a selvajaria do campo pequeno, que só interessa a uma minoria, muito minorca, sádica, inculta e encruada. Não é. Mas será que transmitir touradas para essa minoria sádica, “coisa” que até baixa significativamente as audiências da RTP, dá mais lucro do que os Mundiais de Atletismo?
Senhor Provedor do TelespeCtador, fico a aguardar com bastante curiosidade, a abordagem desta questão num próximo programa Voz do Cidadão.
Com os meus cumprimentos,
Isabel A. Ferreira