O Dr. Vasco Reis, Médico-Veterinário, que tem estudos científicos superiores nas áreas da Biologia, Zoologia, Anatomia, Deontologia e Bioética, Embriologia, Fisiologia, Genética, Reprodução Animal, entre outros saberes, tem autoridade, mais do que suficiente, para dizer o seguinte:
«Os animais humanos e não-humanos são seres dotados de sistema nervoso, mais ou menos desenvolvido, que lhes permitem sentir e tomar consciência do que se passa em seu redor e do que é agradável, perigoso e agressivo e doloroso.»
Os seres não-humanos experimentam sensações, emoções e sentimentos muito semelhantes aos dos humanos. Este facto leva-os a utilizar mecanismos de defesa e de fuga, sem as quais, não poderiam sobreviver. Portanto, medo e dor são condições essenciais de sobrevivência.
Afirmar-se que nalguma situação não medicada, algum animal [não humano] possa não sentir medo e dor se for ameaçado ou ferido, é testemunho da maior ignorância, ou intenção de negar uma verdade vital»
O Homem é um animal.
Biologia, Zoologia, Anatomia, Deontologia, Bioética, Embriologia, Fisiologia, Genética, Reprodução Animal, sinto quase tudo o que estas Ciências descrevem.
Aceito como certo, quase tudo o que aqui nos é transmitido.
Os ditos animais não-humanos, tal como a maioria dos animais humanos, têm medo da morte. Lutam pela vida, e sentem a aproximação da morte, tal como os humanos.
Só quem nunca conviveu com animais, pode dizer que «o animal naturalmente pela sua natureza, enfraquece, extingue-se, acaba». Eles não ACABAM, tal como nós também não acabamos. Eles são feitos da mesma Natureza. Fazem parte da criação do mesmo Deus.
Não acabam, e têm uma alma imortal. Têm um caminho a percorrer, tal como nós.
Eu sei. Sou tão animal como eles. E assim como consigo "ver" a alma de um humano a espreitar pela janela dos olhos, de igual modo vejo a alma dos não-humanos a espreitar nuns olhos semelhantes aos meus. Em tudo.
Estejam atentos a essa Natureza. E saberão do que estou a falar.
Sou um animal que possui cinco sentidos comuns a todos os outros animais; mas em mim, o instinto, que também possuo, não está tão desenvolvido como nos meus outros irmãos planetários.
Sou uma animal com emoções, sentimentos e estados físicos comuns a todos os outros animais: medo, tristeza, alegria, raiva, afecto, sofrimento, dor, cansaço…
Sou um animal com necessidades biológicas ou fisiológicas básicas, comuns a todos os outros animais: comer, beber, respirar, dormir, urinar, defecar, reproduzir, ter segurança, abrigo, viver em grupo…
Sou um animal que pode padecer de um conjunto de sinais e sintomas específicos comuns a todos os seres vivos, alterando o estado normal da saúde, que também é comum a todos os animais.
O vocábulo “doença” vem do latim “dolentia” que significa “dor, padecimento” e eu, como animal, tal como uma infinidade de outros animais, posso padecer de alergia, asma, cancro (em qualquer órgão), catarata, intoxicação, depressão, diabetes, diarreia, gripe, hepatite, pancreatite, hipertensão, HIV (FIV nos gatos), infecção urinária, leucemia, obesidade, osteoporose, hérnias de disco, epilepsia, traumatismos cranianos, tumores cerebrais, fracturas de coluna, entre outras…
Para tratar essas doenças existem a Medicina Humana e a Medicina Veterinária.
E se eu, como animal, sinto dor e padeço com todas essas doenças, logo, todos os outros animais sentirão dor e padecerão também…
Sou um animal biologicamente semelhante a todos os outros animais nos mecanismos pelos quais nos mantemos vivos, com órgãos e sistemas que desempenham funções vitais: cérebro, coração, pulmão, estômago, fígado, pâncreas, bexiga, rins, intestinos e pele; e os sistemas cardiovascular, digestivo, endócrino, genital, imunitário, muscular, nervoso, respiratório, urinário sensorial, tegumentar…
Sou um animal que partilho sequências do meu ADN não só com os meus parentes mais chegados, os símios, mas também com porcos, cães, gatos, bovinos, ratos, e até mesmo com recifes de coral e galinhas.
Os meus amigos e companheiros mais recentes, que criei e cuidei com o desvelo com que criei e cuidei dos meus filhos:
O meu Ratolinha (ratinho branco de cauda comprida) nasceu, cresceu, e morreu com insuficiência respiratória.
A minha gatinha Mindinha nasceu, cresceu, e morreu intoxicada pelo pólen de uma flor belíssima: a açucena.
A minha cadelinha Josefina nasceu, cresceu, e morreu com problemas degenerativos do foro neurológico.
A minha gatinha Francisquinha nasceu, cresceu e morreu com FIV (sida dos felinos).
A minha gatinha Nany nasceu, cresceu, e morreu de cancro da mama.
A minha gatinha Zézinha nasceu, cresceu e morreu com problemas cardíacos.
O meu cãozinho Platão nasceu, cresceu, e morreu com falência dos órgãos vitais devido a idade avançada. Era cego.
O meu gatinho Napoleão nasceu, viveu, e morreu de complicações derivadas da Diabetes.
Sou um animal que nasceu, cresceu e morrerá como todas as coisas, como todos os seres viventes, como todos os restantes animais, certamente com uma qualquer doença das que afectaram os meus amiguinhos patudinhos.
Que motivos terei para não os considerar animais como eu?
Isabel A. Ferreira
Reflexão de fim de ano sobre o Touro que os tauricidas chamam de “bravo”…
Um tal João Aranha, que não sei quem é, nem me interessa, escreveu um texto completamente imbecil, desprovido do mais básico conhecimento científico sobre bovinos, no aficionado “jornal” Correio da Manhã, sob o título «Do nascimento à extinção - Reflexão de fim de ano sobre o toiro bravo», onde esparramou uma ignorância que vem do tempo das mais profundas trevas, e que foi passando de geração em geração, como se fosse o saber dos saberes…
Porém (existe um porém) os tempos evoluíram, o mundo saiu das trevas, os conhecimentos avançaram, e hoje apenas os muiiiiito, mas muiiiiiito ignorantes é que não sabem que na Natureza não existem Touros “bravos”, mas simplesmente bovinos, que nascem como todos os bovinos, mas que são manipulados e torturados desde a nascença e ao longo da sua curta vida, para fazerem de conta que são “bravos”, e depois são enfraquecidos através dos mais repugnantes métodos, antes de entrarem na arena, para serem barbaramente torturados e morrerem lentamente, para que aos olhos dos sádicos que assistem à tortura, os cobardes tauricidas possam passar por “heróis”, porque a tauromaquia é a suprema arte da cobardia… desde o nascimento do bovino até à sua extinção na arena…
E esta é a única extinção que existe na tauromaquia: a morte lenta e dolorosa de um dócil e pacífico ser senciente, para satisfazer o prazer mórbido de psicopatas, sádicos e dos afectados por uma deformação mental, e encher os bolsos de criaturas acéfalas.
O que se extinguirá, com a abolição da selvajaria tauromáquica é a crueldade e a violência exercidas sobre seres que são muito superiores a quaisquer dos intervenientes nesta barbárie, e obviamente a extinção do bando de parasitas tauricidas que vivem à custa dos impostos dos portugueses.
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Que haja joões aranhas por aí a destilar um ódio cavernícola por seres sencientes e pacíficos como os bovinos, e a dizer disparates de alto quilate, sobre uma matéria que desconhecem por completo, será (será?) normal, porque a anormalidade, neste nosso país ainda com raízes terceiro-mundistas, está legislada, por mais incrível que isto pareça.
O que é espantoso é existir um “jornal” que tem por função informar, e o que faz? Publica uma enxurrada de imbecilidades, que só contribui para que a ignorância continue a espalhar-se como um vírus nocivo. Por estas e por outras Portugal tem uma franja populacional ainda muito, mas muito atrasadinha…
(Do nascimento… do bovino)
(…à extinção do bovino na arena…)
Esmiucemos o que disse o João Aranha:
«Com mais um ano a findar, eis a ocasião propícia para algumas reflexões. Ao fazê-lo, dei comigo a meditar sobre a ignorância de alguns anti-taurinos e outros fundamentalistas urbano-depressivos que, nunca tendo visto parir uma ovelha ou cobrir uma burra, se permitem criticar quem aponta factos sobre tão importante matéria».
Só este primeiro parágrafo diz da deformação mental dos tauricidas. Eles é que são ignorantes (pois nada sabem de bovinos); eles é que são anti-taurinos (que significa inimigos dos touros) nós somos anti-touradas; eles é que são fundamentalistas, tipo islâmicos (pois sentem prazer em torturar seres vivos); eles é que são urbano-depressivos (tão depressivos que precisam de torturar animais para exorcizar as suas frustrações e a invirilidade de que sofrem); e como são extremamente ignorantes acham que todos são ignorantes também, e medem todos pelo mesmo alqueire.
Todos nós, animalistas, conhecemos bem tudo o que diz respeito aos animais, temos conhecimentos das ciências que se dedicam ao estudo dos animais no que se refere à sua biologia, genética, fisiologia, anatomia, ecologia, geografia e evolução, por isso sabemos do que falamos.
Não queiram vir ensinar o padre nosso ao vigário, quando nem sequer sabem rezar, porque o que vos ensinam nas igrejas que frequentam é apenas odiar os animais. Torturá-los para se divertirem. E isto não é cristão. É diabólico.
O parágrafo que se segue é de uma ignorância crassa. Medieval. Cavernícola. Uma mentira repetida há séculos, para enganar os ignorantes, tornou-se na verdade dos imbecis.
«Igual comportamento provem dos que, à porta do Campo Pequeno, em noite de corrida, ou mesmo na comunicação social, e até na Assembleia da República, continuam a afirmar que o toiro bravo (o toiro de lide destinado à tourada) mais não é do que um bovídeo que não estará condenado à extinção se as touradas acabarem, podendo sobreviver livremente na natureza. Uma tal crença peca por total ignorância de quem, com base num fundamentalismo sem fundamento, desconhece todo o percurso da espécie, desde que se chamava auroque e surgia pintado nas cavernas da pré-História até ao soberbo animal que hoje temos.»
Leia mais, João Aranha. Não enterre essa cabeça oca na areia. Saia das trevas. Ilumine-se.
Vou indicar-lhe aqui informação suficiente para deixar de ser ignorante, e nunca mais se atrever a vir a público dizer tanto disparate.
Fonte:
http://www.cmjornal.pt/opiniao/detalhe/do-nascimento-a-extincao
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Quando falamos de selvajaria tauromáquica falamos disto:
A verdade perversa sobre a tortura de Touros e Cavalos, antes, durante e depois de lide
“A origem científica da "afición" ”
O sofrimento de um touro diagnosticado por um Médico-Veterinário
Em Barrancos, tudo é feito à bruta: a tourada, a morte do Touro e até o modo como se aplaude a morte deste ser senciente, muito mais sensível do que qualquer um destes pré-humanos que o torturam e aplaudem a sua dolorosa morte.
Repare-se na t-shirt do barranquenho.
Em Barrancos, diz-se que a tradição é a cultura de um povo. Mas Albert Einstein considera que a tradição é a personalidade dos imbecis.
Eu acredito mais no saber do Sábio, do que na ignorância dos barranquenhos.
Que vergonha, Doutor Jorge Sampaio, ter o seu nome ligado à barbárie de Barrancos!
Foto: Nuno Veiga
O Médico-Veterinário, Dr. Vasco Reis, deixa-nos esta reflexão, com a qual concordo plenamente, e da minha parte, também tenho o nome do Dr. Jorge Sampaio (entre muitos outros) na lista negra dos que, em Portugal, contribuíram para entravar a evolução do meu País, com actos dignos de trogloditas, e que ficarão perpetuados no «Livro Negro da Tauromaquia» que está a ser escrito, para louvor dos Touros e Cavalos, sacrificados ao longo dos últimos séculos, e para desonra dos tauricidas e aficionados de todas as vertentes da selvajaria tauromáquica, o que envergonhará, com toda a certeza, os seus descendentes.
«Há muitos responsáveis e cúmplices pela atrocidade pública que acontece em Barrancos, além do Jorge Sampaio e do Durão Barroso e dos deputados da Assembleia da República que em 2001 votaram a lei que legalizou "a excepção de Barrancos". Para o "cocktail" das causas devem contribuir: ignorância; “tribalismo troglodita” do meio onde nascem e crescem os futuros aficionados e que, pelos vistos, "impregna" os cérebros de maneira quase indelével de gentes anónimas e proeminentes e de alguma comunicação social e de alguns membros dos governos e de responsáveis pela educação de crianças e de jovens e de autoridades permissivas e de legislação permitindo a tortura pública de seres sencientes, touros e cavalos, etc. Pessoalmente, cortei publicamente em 2001 o relacionamento amistoso e de companheirismo, que mantinha com o Jorge Sampaio, desde os tempos da nossa luta académica em 1961/62 como membros da RIA, a qual se opôs, apoiada por milhares de jovens, à agressão do governo fascista contra os estudantes no âmbito do "Dia do Estudante"!» (Vasco Reis).
O Dr. Vasco Reis, que já lidou de perto com Touros e Cavalos, tem estudos científicos superiores nas áreas, entre outras, da Biologia, Zoologia, Anatomia, Deontologia e Bioética, Embriologia, Fisiologia, Genética, Reprodução Animal, enfim, uma sucessão de saberes que lhe dá autoridade para dizer que «os animais humanos e não-humanos são seres dotados de sistema nervoso, mais ou menos desenvolvido, que lhes permitem sentir e tomar consciência do que se passa em seu redor e do que é agradável, perigoso e agressivo e doloroso».
Também lhe dá autoridade para dizer que:
«Estes seres experimentam sensações, emoções e sentimentos muito semelhantes. Este facto leva-os a utilizar mecanismos de defesa e de fuga, sem as quais, não poderiam sobreviver. Portanto, medo e dor são condições essenciais de sobrevivência.»
Portanto, «afirmar-se que nalguma situação não medicada, algum animal possa não sentir medo e dor se for ameaçado ou ferido, é testemunho da maior ignorância, ou intenção de negar uma verdade vital» (Dr. Vasco Reis)
O que move os governantes a apoiar estas práticas bárbaras é uma monumental ignorância e interesses obscuros de uma máfiazinha à qual se vergam, vá-se lá saber porquê!
Sujam o nome. Arrastam o nome pela bosta que os bovinos, tomados de um medo que também é humano, deixam pelo chão, mas preferem sujar o nome, do que ouvir a voz da Ciência, do Saber, da Razão.
De acordo com o Dr. Vasco Reis, «a ciência revela que o esquema anatómico, a fisiologia e a neurologia do touro, do cavalo e do homem e de outros mamíferos são extremamente semelhantes. As reacções destas espécies são análogas perante a ameaça, o susto, o ferimento. O senso comum apreende e a ciência confirma-o.»
Augusto Cury, médico, psiquiatra, psicoterapeuta, doutor em psicanálise, professor e escritor brasileiro diz que «a capacidade de se colocar no lugar do outro é uma das funções mais importantes da inteligência. Demonstra o grau de maturidade do ser humano.»
Logo, a incapacidade de os tauricidas e aficionados se colocarem no lugar dos bovinos, que são torturados barbaramente, demonstra não terem qualquer grau de maturidade humana e serem portadores de um QI abaixo de zero.
Diz o Dr. Vasco Reis que «depois desta explicação, imaginem o sofrimento horrível que uma pessoa teria se fosse posta no lugar de um touro capturado e conduzido ao “calvário” de uma tourada».
Pois!
Mas os nossos governantes, e nomeadamente o ex-presidente da República, Jorge Sampaio (que até estudou em Londres) em vez de levar a evolução a Barrancos, fê-la regredir para o tempo cavernícola, se bem que eu considere os homens das cavernas muito mais civilizados do que os actuais barranquenhos, simplesmente porque não deixaram qualquer vestígio de crueldade para com os animais, que matavam exclusivamente para se alimentarem deles, e não para se divertirem com o seu sofrimento.
Isabel A. Ferreira
Um magnífico texto a propósito do programa da RTP «Prós e Contras» sobre touradas, publicado no Blog Anima Sentiens, um lugar onde se respira sensibilidade, bom senso e fina ironia, da autoria de Filomena Marta.
Por Filomena Marta
Uma redução, em termos culinários, é algo que se deixa ferver até que a humidade evapore e fiquem os ingredientes reduzidos e concentrados. Foi precisamente isto que se passou no programa “Prós e Contras” sobre a “Festa Brava”, que passou a 12 de Maio na RTP1. O sofrimento a que um animal é sujeito foi reduzido. Mas ao sê-lo foi também concentrado.
Um debate triste de tristes figuras. Fugiu-se do tema “sofrimento” como o diabo da cruz e até se vestiu o touro como um super-herói.
Desculpem, é mentira. Estou a faltar à verdade. Falou-se de sofrimento sim, do sofrimento comovente e tocante daquelas pobres famílias, dizem que são umas cinco mil, que quase de lágrima ao canto do olho contam a grande beleza, a estética e a ética que a tourada tem. A ética ninguém nunca lhes explicou o que significa e é usada abusivamente, agora a estética é uma coisa discutível: aqueles riquíssimos e caríssimos fatos são francamente bonitos… o sangue a escorrer nas costas do boi é que já me deixa dúvidas.
A teoria dos toureiros, dos aficionados e de uma coisa vagamente parecida com um veterinário é a de que o touro não sente dor. Ficamos a saber que o touro não faz parte dos mamíferos, classe a que o ser humano também pertence, não tem uma anatomia e morfologia comum a todos os mamíferos e é uma espécie de ser supra-terrestre que tem a capacidade de ter um ferro enterrado no lombo sem sentir dor. Pressupomos também que é um mestre em efeitos especiais e que aquela coisa vermelha que lhe escorre pelo lombo não é sangue, mas uma qualquer espécie de molho de tomate apenas para dar emoção aos aficionados.
Na sequência de afirmações supremamente científicas como estas temos, obrigatoriamente, de ir mais longe. Existe uma outra classe de seres no planeta à margem dos vulgares mamíferos. São seres especiais e também eles não sentem dor. É perfeitamente aceitável que no recinto de brincadeira, festa e confraternização onde se encontram para jantaradas touros e toureiros haja umas picardias mais atrevidas e ora agora te enfio eu um ferro, ora agora te enterro eu um corno. Tudo bons amigos e que ninguém se preocupe nem com uns, nem com outros, porque são ambos seres especiais. Nem o touro sente dor, nem o toureiro sofre com a cornada. É tudo a fingir.
Pois a verdade é que até ontem não se tinha a certeza que há quatro divisões diferentes no reino animal: os Homens, os Animais, os Touros e os Toureiros. Ah, mil perdões, esqueci-me de uma quinta divisão! Aquela divisão referida por uma toureira ao dizer “os meus cavalos divertem-se”.
Óbvio! Mas existem dúvidas que seja divertido ter uma criatura montada no lombo, a bater com esporas na barriga e a fazer avançar contra o perigo?! Nenhumas! É de rir até às lágrimas de tanto prazer e alegria.
Portanto está estabelecido: os touros não sentem dor, os cavalos divertem-se, os toureiros são um ramo paralelo dos humanos com capacidades especiais e os outros todos, gente e bichos, são umas aberrações que por aqui andam neste mundo a sentir dor, medo e a ter sentimentos.
Mas uma coisa é certa, ainda bem que os tauromáquicos não precisam de ajuda para denegrir a sua imagem, porque se os touros dependessem dos “amigos dos animais” estavam francamente “feitos ao bife”. Houve três intervenções com substrato, a de Rita Silva, a de uma veterinária e a de uma jurista. Mas isso nem sequer se tornou importante, porque um rufia sentado no painel encarregou-se de enterrar a Festa Brava com bravura e dar um belo exemplo do que é realmente um aficionado… mas eu, se fosse aficionada, não tinha gostado nada daquela representação. A menos que gostem de ser conotados com expressões pouco simpáticas.
Houve duas alturas muito interessantes no debate:
1. Um toureiro acesamente defendia a sua liberdade. Porque a liberdade dos abolicionistas terminava onde começava a dele… pois é, tal como a dele termina onde começa a dos abolicionistas. Mas ó criaturas!!!! E onde fica a liberdade do touro?!
2. Aquela coisa vagamente parecida com um veterinário, um senhor de ar “grave” e idade suficiente para pensar antes de falar, entre muitas outras pérolas de sabedoria arrancou um “os animais não têm direitos, porque não têm deveres”. Ora bem, como é que se escreve uma gargalhada…? É que já cansa ter de explicar que uma criança de dois anos também não tem deveres e tem direitos… mas como isto tem matéria para uma crónica inteira, passando pelos trabalhos forçados de todos os animais ao “serviço” do Homem, terá de ficar para outra altura.
Mas ver homens feitos a dizer disparates como “o touro não sente dor” e a queixarem-se de ser coitadinhos porque não os deixam fazer a sua “Festa” e os chamam de “assassinos” seria bastante triste, se não fosse primeiramente ridículo.
Depois há a tradição. Ah… a tradição! Um toureiro, aquele que defendia a sua liberdade, mostrou-se chocado com a comparação feita com a escravatura e a menção ao filme “12 anos escravo”. Um choque incompreensível, de facto, pois tratava-se de tradição. O negro não era considerado sequer um ser humano, não sentia dor como os seres humanos e não tinha alma. E era uma tradição. Tal como era tradição o circo romano, os gladiadores (geralmente escravos) e os cristãos na arena com os leões. Como é ainda hoje tradição a mutilação genital feminina, a lapidação e o casamento infantil.
As outras “tradições” inevitavelmente terminaram e duvido que houvesse alguém naquele programa, tauromáquicos incluídos, que defendesse a tradição da lapidação e da mutilação e do casamento infantil.
O ser humano tem evoluído. Nem sempre no bom sentido, também a maldade tem ganhado requinte, mas sem evolução ainda viveríamos em cavernas. Se calhar… ainda há quem viva, num plano mental e civilizacional. Mas estes são perigosos, pois andam por aí disfarçados de “gente moderna” e muitos até têm “cursos superiores”. O que nunca ninguém lhes disse é que na Faculdade não se ensina nem se aprende carácter, sensibilidade, humanidade ou sensatez.
***
Fadgen era um touro de lide até Christophe Thomas, um activista anti-touradas, o salvar. Fadgen era um touro de lide, até se tornar um animal de estimação. Todos os seres vivos têm direito a uma vida sem tortura e sem sofrimento, o touro não é uma excepção.
Informação científica não falta. Só uma cegueira mental muito acentuada não permite ver o que até um cego de nascença vê.
(Sem palavras)
http://semtouradas.posterous.com/
Touro Ferido (Internet)
Isto é Arte? É Cultura? É Património? É Festa? Tenham vergonha!
(Para Vasco Graça Moura)
Na última revista “Caras”, nº 772, de 29 de Maio de 2010, foi publicado um artigo sob o título «AFICIONADOS DA FESTA BRAVA REUNIDOS – Admiradores das Touradas defendem tradição no Campo Pequeno».
E lá vem algumas fotografias dos aficionados, dos empresários da tortura, enfim... unidos para apoiar a PRÓTOIRO – Federação Portuguesa das Associações Taurinas, que tem como objectivo principal defender e preservar o PATRIMÓNIO da tauromaquia.
Ora nem mais, vamos propô-lo à UNESCO, como PATRIMÓNIO DA DESUMANIDADE, uma vez que a UNESCO, na sua DECLARAÇÃO, em 1980, a este propósito, diz o seguinte: «A tauromaquia é a terrível e venal arte de tourear e matar animais em público, segundo determinadas regras. Traumatiza as crianças e adultos sensíveis. A tourada agrava o estado dos neuróticos atraídos por estes espectáculos. Desnaturaliza a relação entre o homem e o animal, afronta a moral a educação, a ciência e a cultura».
Não inventei nada.
Depois o cavaleiro João Ribeiro Telles, falou da importância que a PRÓTOIRO tem para DIGNIFICAR e divulgar a tauromaquia. Como se a tortura de um ser vivo possa ter alguma dignificação!
E diz mais o cavaleiro Telles: «É uma obrigação nossa, intervenientes da FESTA, ENGRANDECER esta ARTE e dinamizá-la. Não damos muita importância às vozes contra a tourada, NÃO TÊM um peso grande, e isso ultrapassa-nos. O que queremos é preservar a TRADIÇÃO».
Primeiro: a FESTA. Se formos ao dicionário ver o que significa festa, encontramos, por exemplo, “alegria”.
Sim, a tourada é uma festa de alegria: chega o magnífico Touro à arena, depois um cavaleiro a picar o cavalo, a tal ponto que lhe fere a abdómen, e o sangue começa a escorrer. Depois vem o espetar das bandarilhas, a abrir buracos no dorso do Touro e a fazer escorrer mais sangue. E entre olés e gritaria histérica o Touro vai lutando, como pode, pela sua vida, arfa, espuma, e vem mais outra farpa, e outro buraco nas carnes já feridas, rasgadas, e mais sangue jorra. É na verdade a FESTA dos sádicos.
Quanto à ARTE querem dizer: arte da TORTURA. Lá isso é!
O que pretendem é preservar a TRADIÇÃO dessa TORTURA.
Que tradição? Uma tradição que nem sequer é portuguesa.
Depois vem um depoimento de um dos membros da Associação Portuguesa de Empresários Tauromáquicos, os tais dos negócios, a puxar a brasa para a sardinha deles. Claro!
E a seguir vem um parágrafo que me deixou estupefacta, e que diz o seguinte:
«Apesar de não ser um dos intervenientes directos no espectáculo tauromáquico, Vasco Graça Moura é uma das muitas figuras públicas que apoiam esta causa».
E Vasco Graça Moura profere então esta pérola discursiva: «Há muito tempo que acho que a festa brava deve ser defendida. Cada pessoa é livre de ter a sua opinião, mas para mim o argumento do sofrimento animal não me parece suficiente, porque assim não comeríamos leitão da Bairrada nem frango de aviário... E há outros interesses em jogo, como a importância antropológica, cultural e económica da festa brava. Acho que é um espectáculo bonito, com a coreografia do perigo entre a inteligência e agilidade do homem com a força bruta do animal».
Banzei-me! Para Vasco Graça Moura o argumento do sofrimento do animal é irrelevante, porque assim não comíamos leitão nem frangos.
Eu não acredito que alguém que é (será?) da CULTURA CULTA pudesse dizer tamanha idiotice. Como se o leitão e as galinhas, que ele come, fossem torturados, massacrados, picados com farpas durante duas ou mais horas, até à sangria total, e passados uns dois ou três dias, são mortos.
Disse bem, senhor Graça Moura, há outros interesses em jogo, mas não a importância antropológica (então e o lobo, e o lince, e outras espécies que estão em extinção em Portugal, incomodam-se com isso?); nem cultural, pois quem tem um pingo de inteligência sabe que TORTURA NÃO É CULTURA, em lugar nenhum do mundo civilizado. Fale-me da questão económica, essa sim, com peso, à custa da tortura do Touro. Uma desonra para um país com gente dentro!
O espectáculo é “lindíssimo”, realmente, com todo aquele sangue a escorrer, com o desespero do animal a sair-lhe pelos olhos, a dor muda que ele sente ao ter as suas carnes rasgadas... Espete uma coisa daquelas nos seus costados, senhor Graça Moura e sinta: a dor é IGUAL, pois o Touro é um mamífero superior... igualzinho a si, por dentro, fisicamente, mas muito superior na dignidade dele, como um animal não humano.
É um espectáculo deveras “lindíssimo”... para os sádicos, para os carniceiros!
Bem... não vale a pena falar nisto, pois só assim se exprime quem não tem a mínima noção básica de Zoologia, de Biologia, de Anatomia... enfim... Não sabe nada dos seres vivos, nem de si próprio.
O senhor Graça Moura gosta da coreografia do perigo, que, aliás, é muito parecida com a coreografia do bailado “Lago dos Cisnes”; gosta também da “inteligência” e “agilidade” do homem contra a força bruta do animal.
Que inteligência? Que agilidade? Com farpas na mão? Com espadas na mão? Contra um animal já torturado no curral, sem qualquer força bruta para se defender na arena?
Isso chama-se COBARDIA, da parte do homem, obviamente.
No meio deste Circo Romano, o BRAVO é o Touro.
O artigo acaba dizendo que os aficionados puderam deixar a sua marca numa tela feita para a ocasião por Júlio Pomar. Júlio Pomar!!!
A marca do sadismo.
Cada um é livre de ser sádico.
Já não é livre de usar o seu sadismo para torturar animais. É por isso, que há gente que GRITA por eles, uma vez que não têm voz para se defenderem dos sádicos.
E finalmente, eu sou livre para retirar das minhas estantes os livros de Vasco Graça Moura, que até este momento tinha como um homem inteligente e de Cultura Culta, e agora sei que não é nada disso.
Que desilusão!
Isabel A. Ferreira