«E porque os dois anteriores Governos me devastaram economicamente, confirmo que a geringonça e António Costa - especialistas de propaganda política – mantiveram a mesma conduta: raparam, empobreceram, aumentaram nos preços, anunciaram falsas riquezas, abalroaram a democracia e senti-me enganado. Mas venderam bem.» (Artur Soares)
Normalmente os portugueses, no início do ano programam as férias. Também eu. E como aposentado do Estado – ou como agora se diz, “Técnico de Lazer” – tenho mais tempo para férias e gozar a vida. E por medos e incertezas provocadas por quem nos tem desgovernado, gozei as férias do presente ano neste mês de Março. Mas diferentes: férias de borla e a pilhar.
Assim, iniciei-as sem horários e sem transporte, deixando que o cérebro e o resto do meu cadáver-na-vertical, gozassem férias modernaças, segundo a miséria em que nos colocaram os governantes d’agora, com as troycadas e as geringonças passadas.
Programadas e confirmadas as férias, avancei e recordei a vivência da vida nos meus vinte anos.
Visto o filme, embrenhei-me nele, sem saudade. Ao acordar para a realidade, com ironia sorri, porque corro riscos de não ter os pensamentos de há vinte anos atrás: confiava no futuro, para, com todo o temor agora, pensar que posso regressar há (passada) segunda República ou ao Processo de Revolução em Curso, real ninho de víboras em 1975.
E porque os dois anteriores Governos me devastaram economicamente, confirmo que a geringonça e António Costa - especialistas de propaganda política – mantiveram a mesma conduta: raparam, empobreceram, aumentaram nos preços, anunciaram falsas riquezas, abalroaram a democracia e senti-me enganado. Mas venderam bem.
Desse modo, terei de viver mais pobre: de vender a habitação com piscina e as mulas; o topo de gama de quatro rodas e o barco que me distanciava das praias populares; dispor das pessoas que me prestavam vassalagem; habituar-me à presença e à convivência dos sem-abrigo, dos paupérrimos programas de televisão e do organizado mundo-cão que mostram.
Desse modo, iniciei as férias inéditas neste ameno Marçagão, deslocando-me para as aldeias do Alto Minho.
Pelo que, inspirado no exemplo dos pilhantes do meu país, roubei umas calças seminovas e uma camisa remendada em vários sítios.
Deixei crescer o cabelo e a barba, ensebando-os com nauseabundos aromas; deixei-me queimar pela neblina diurna e arranjei um roto boné. Num entulho “agasalhei” umas botas de trolha, já queimadas pelo tempo e pelo maltrato; adquiri umas meias que embora fossem parecidas, eram ligeiramente diferentes; nos arredores de um acampamento cigano, encontrei um saco de serapilheira que serviu para agasalho e roubei a um agricultor uma vara de marmeleiro, para dar a impressão de necessitar apoiar-me.
Finalmente, esperançado e devidamente andrajoso, atravessei campos, caminhos de terra batida, na mira de encontrar alguém que me oferecesse uma tigela de caldo, mas ninguém adivinhou a minha necessidade.
Roubei fruta e, um dos donos, pontapeou-me, por não lhe ter pedido as maçãs. Destruí aglomerados de formigas, porque não me deixaram dormir e dormi em casas em fase de construção. Enganei lavradores e construtores civis, que me oferecendo o jantar e a dormida, exigiam-me o pagamento em trabalhos no dia seguinte, mas fugi a todos antes de os iniciar. Tive de me esconder de jeeps da guarda republicana, porque sujo e esfarrapado, me podiam "deitar a unha" por causa de umas espigas de milho que ia “engavetando” prá sacola.
Durante esses dias de férias e de pilhante, encontrei gente boa que ao se cruzarem, me davam uns cêntimos para tabaco, quando não podia "cravar" ninguém. Encontrei curiosos que pretendiam saber donde era, quem era e porque vivia andrajoso. Falando sempre pouco, a todos culpei: os governos, por me pilharem na pensão desde 2011 até agora e o terem provocado esta crise: de corrupção e rapaces.
Assim, vivi e passei umas férias que provocou risos a uns e dó a outros. Por alguns adultos, fui alvo de desprezo. Mas expliquei acções e denunciei chefes de serviços sem subordinados; apontei a evidente perda de democracia; as gordurosas reformas dos que se servem do país - por estarem dez anos na política - e falei-lhes daqueles que pilharam milhares de milhões à Banca, de milhares de milhões deitados nas latrinas da TAP e dos milhões sugados aos aposentados do Estado.
De modo geral, todos opinavam a necessidade de outro 25 de Abril. Respondia que na 1ª e 2ª República havia Forças Armadas vivas, competentes e atentas. Mas que nesta 4ª república – provocada e iniciada por António Costa - não.
(Artur Soares) (O autor não segue o acordo ortográfico de 1990)
«Bicadas do meu Aparo»
“A caminho do Alto Minho”
Por Artur Soares
Comprei um Jeep mais barato vinte mil euros, por falta de pagamento do proprietário anterior, porque na sua empresa recambiava-se os dinheiros para a Suíça e abriu falência “por falta de exportação e de vendas locais”.
Como estava um tempo primaveril – muitos até já apontaram prejuízos para o Estado pagar, devido à terra estar imprópria (seca) para semear - convidei a minha Quinhas a estrearmos o Jeep, penetrando nesse mundo rural em busca de passatempo, comendo uma saborosa lampreia e um tacão de boi.
Com esse espírito, metemo-nos ao caminho nesse domingo soalheiro, que nos encantou e cuja beleza paisagística agradecemos ao Criador: por tanta verdura, por ladrões que rebentavam das videiras e por tantas e diversas folhas novas que anunciavam juventude. Nalguns terrenos com boas pastagens, as ovelhas saltitavam contentes e alimentavam-se sem restrições com a ajuda do pastor e do cão que as guardava.
Circulando estrada-fora e encontrado o restaurante que nos trataria da (já) profunda fome, entramos e matamos quem nos queria matar a nós: a fome. Terminado o repasto, tomei um digestivo e pedi a conta.
Tendo de pagar oitenta e um euros pelas duas refeições, ou seja, dezasseis mil e duzentos escudos antigos, reagi, dizendo ao empregado que não tinha sido atendido por pessoal especializado, que as instalações eram de terceira, duma segunda categoria e, portanto, não se justificava pagar tanto.
O empregado sorriu e disse que a culpa era do socratismo, do coelhonismo que nos ossificou e do António Costa que faz das pessoas anjolas, e que eu tinha razão em reclamar. «Mas repare – disse o técnico do turismo activo - é melhor gastar o dinheiro no restaurante do que na farmácia», argumentou.
Assim passei a tarde com o Jeep seminovo e, a minha Quinhas parecia a Mariana Mortágua e o Francisco Louçã: completamente alheia a crises, fossem quais fossem.
Só que, no dia seguinte, senti um mal-estar na vasilha e fui ao médico. Expliquei-lhe o domingo de Jeep, da lampreia e seus afins e vai daí receitou-me exames e análises, pelo que, teve de se rectificar os pólipos no intestino, a próstata, a tiróide, o açúcar, os pulmões devido ao tabaco, o sangue bom e o mau e, no fim, várias receitas de medicamentos com prazos de seis meses.
Prevenido com uma saca de plástico, comprada numa loja dos pingos com muito açúcar, por vinte escudos, (dez cêntimos da troyca), adquiri os medicamentos comparticipados, por cento e noventa e seis euros. E claro, reclamei na farmácia por tão pouca comparticipação do meu ADSE.
O doutor-balconista-farmacêutico, compreensivo foi dizendo: «se quiser deixe os medicamentos mais caros e leve só os baratos. Mas repare: olhe que é melhor gastar o dinheiro na farmácia que gastá-lo na funerária».
Sempre de jeep a resolver estes problemas e permanentemente com gases orais e com brisas que deslisavam pela fralda da camisa, ia pensando nas futuras e possíveis despesas funerárias, pelo que me desloquei a uma agência dessas, na cidade. Entrei e perguntei ao cavalheiro “funerador” - completamente careca, de terno preto, mas ensebado e demasiado gasto - se podia ser atendido, e que funções exercia na funerária. Disse que era “técnico de turismo final” e dono da loja. «À sua disposição», disse.
Então apresentei-me dizendo: eu sou “Técnico Superior de Lazer”. E perguntei-lhe se podia fazer-me um orçamento do meu funeral, olhando às maleitas que transportava.
Sorriu e disse que de facto, ultimamente e devido à crise, à Covid e aos roubos a que o povo está sujeito pelos políticos destes três últimos Governos (Sócrates, Passos Coelho e pelo não pagador de promessas António Costa), que tem havido gente que encomenda o funeral a tempo e horas e segundo as vontades de como querem “partir”. «Então, e o senhor como pretende partir desta pra melhor?» – perguntou-me.
Respondi ao “Técnico de Turismo Final” – que por acaso até estava presente o Técnico de Profundidades (o coveiro) - que queria um ataúde muito simples por fora, bastante cómodo por dentro, de madeira em pau-preto ou jacarandá brasileiro; carro fúnebre devidamente polido, com dois ramos de cravos pretos - que podiam ser adquiridos na Assembleia da República - porque ou são baratos ou de borla. Pretendo também a presença no meu funeral do Sr. Sócrates, do Sr. Passos Coelho, do António Costa, do presidente Marcelo - pelo seu entusiasmo e sociabilidade - porque uma vez que nos abatem com uma certa velocidade, quero que me atirem, já agora, para a tumba. De pleno direito, quero também no funeral o meu Bispo – continuei - uma vez que exerço cargos e funções a nível de Arquidiocese e, à descida para a tumba, quero que se oiça a canção “De Colores”, uma vez que é o hino dos Cursos de Cristandade.
O Técnico de Turismo Final ficou hirto, amarelo, estupefacto!
Saiu de ao pé de mim e regressou quinze minutos depois, acompanhado de uma folha saída da impressora, dizendo que o meu “Turismo Final” ficaria por trinta mil euros, ou seja, por seis mil contos, dos tempos das três anteriores Repúblicas. Sim leitor, das três anteriores Repúblicas!
Fiz um sorriso amarelo e disse-lhe que como continuamos a ser roubados - eu e a Quinhas - pelo Governo em que não votamos, em sete mil euros anuais, que não podia morrer tão depressa, a não ser que o António Costa repusesse as pensões dos servidores do Estado como tem anunciado que fez.
O Técnico de Turismo Final, ao ver que não faria o funeral, acrescentou:
«Mas olhe, vale mais gastar já o dinheiro na funerária que andar a sofrer toda a vida»!
Sorri e admirei o mortífero dom comercial do homem. Ao sair, ouvi o Técnico tossir fortemente. Desequilibrou-se e caiu no chão. Não sei se desmaiou ou se morreu de pasmo. Todavia deixei-o e disse-lhe da porta: «não conte comigo tão cedo.»
Artur Soares
(O autor não segue o Acordo Ortográfico de 1990).
E pensar que isto acontece num país que precisa desesperadamente de ÁRVORES.
«A Câmara de Viana do Castelo começa, nesta segunda-feira, a abater cerca de duas dezenas de plátanos existentes na Avenida do Cabedelo, em Darque, para a construção da nova rotunda que irá permitir um novo acesso ao porto de mar.
A medida está a levantar críticas nas redes sociais por se tratarem de árvores antigas e emblemáticas naquela avenida, que possui 170 plátanos ao longo do curso.
Apesar da autarquia assegurar o investimento de 30 mil euros para a plantação de outras 200 árvores autóctones (pinheiro-bravo e sobreiro) em várias áreas do Cabedelo, as redes sociais não perdoam, e até Chico da Tina, músico em ascensão do Alto Minho, veio criticar a medida.»
Luís Campos Ferreira, secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, deslocou-se ao Alto Minho para mais uma “Embaixadoria”, desta vez dedicada ao México, acompanhado pelo Embaixador Alfredo Pérez Bravo, com o objectivo de levar embaixadores acreditados em Lisboa a visitar diversas regiões portuguesas, para realçar a diversidade cultural regional e as potencialidades do tecido empresarial do país.
Desta vez a “Embaixadoria” foi até Viana do Castelo, onde, num discurso aqui proferido, Luís Campos Ferreira referiu o Fado, o Cavalo Lusitano e as touradas como prova da “qualidade” do Alto Minho.
Ora, tal afirmação mostra uma certa ignorância sobre o que é o Alto Minho e as suas qualidades.
O Alto Minho não é Lisboa, que põe o Fado e a selvajaria tauromáquica (vulgo tourada) no mesmo saco “cultural”.
O Fado é Património Cultural Imaterial da Humanidade. É.
Mas a tourada é um costume bárbaro, ainda praticado em Lisboa, mas não tem qualquer tradição no Norte de Portugal, à excepção de Ponte de Lima, que é um autêntico ninho de lixo tauromáquico.
Viana do Castelo, a primeira cidade portuguesa a ousar ser anti-tourada, curiosamente, nos mandatos posteriores ao Dr. Defensor Moura, Presidente do município vianense, que limpou Viana do Castelo do lixo tauromáquico, regressou á selvajaria, tornando-se pró-tourada, devido à ineficácia política dos actuais autarcas. Mas a esmagadora maioria da população vianense é anti-tourada.
O Cavalo Lusitano, esse, é na verdade um Cavalo digno e de excelência, porém, é bastante maltratado em Portugal, pois além de não ser considerado um animal, pela lei portuguesa, é cobardemente utilizado nas bárbaras corridas de touros à antiga portuguesa (coisa de um passado que já passou há muito).
Por incrível que pareça, lê-se na Wikipédia que «existe uma raça de cavalos desenvolvida especialmente para as Corridas de Touros, o cavalo Puro-sangue Lusitano (PSL), que se diferencia pela sua coragem, generosidade e altivez.»
Agora digam-me, colocar o Cavalo Lusitano como prova de qualidade do Alto Minho, quando o torturam barbaramente nessas “corridas” á moda do tempo dos ignorantes… será uma prova de “qualidade”?
Isto é uma falta de discernimento total.
Luís Campos Ferreira continua a “mostrar Portugal” ao mundo, mas de um modo que não dignifica nem Portugal, nem os Portugueses que não se revêem nesta incultura bárbara de touradas e utilização de animais como os dignos Touros e o generoso e altivo Cavalo Lusitano, na festa parva dos que ainda vivem na Idade do Calhau.
E a Rádio Geice, que transmitiu este vergonhoso discurso, não terá um espírito de Cultura Crítica, que possa fazer uma triagem daquilo que é civilizado dizer alto, e daquilo que não é civilizado dizer alto?
Este secretário de estado envergonhou Portugal e desprestigiou o Alto Minho com o um discurso sem nexo. E ninguém diz nada?
Fica-se pela triste, pobre e apodrecida mensagem de alguém que ficou parado na Idade Média, mas representa o governo português, no ano de 2015, da era cristã?
Sim, sabemos, que era o embaixador do México (um país tão retrógrado quanto Portugal, nestas questões de evolução e civilização, pois também ainda alberga a selvajaria tauromáquica, se bem que a caminho da abolição) que acompanhava Luís Campos Ferreira….
Mas ainda assim...
Tinha de haver senso crítico.
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