Um pensamento de Agostinho da Silva, para reflectir este tempo revolto que estamos a viver.
«Toda a gente sabe ser o tempo livre o pior presente que um homem pode receber. Suponhamos que se conseguia que todos os meninos tivessem, como agora se diz, sucesso escolar, mas, amanhã, não encontrando emprego, apenas lhe restava o tempo livre. Não possuindo nada para preencher esse tempo livre, fariam toda a espécie de disparates, desde o suicídio até ao assassínio dos outros. (...) O tempo livre, quando não se enche com coisa nenhuma, torna-se absolutamente insuportável, destruindo o indivíduo por completo. É a razão por que morre tanto reformado, já que, deixando de ter o seu emprego, se não encontrar novos objectivos na vida, a morte seguir-se-á rapidamente.
O facto de haver desemprego no mundo é como o fermento que entrou na massa e faz o verdadeiro pão comido hoje por todos nós. A existência de desempregados irá obrigar o mundo a prover os indivíduos das artes e das ciências, de forma a permitir-lhes serem livres e criadores no tempo livre, assumindo na vida uma atitude completamente diferente, seja qual for a especialidade escolhida. As coisas vão mudar nesse sentido.»
- Agostinho da Silva, in Victor Mendanha - "Conversas com Agostinho da Silva" - pgs. 102/103)
Fonte:
https://www.facebook.com/ParaPortuguesLer/photos/a.475358859165889/2929226533779097/?type=3&theater
«Por favor leiam o texto abaixo, após a minha singela introdução, de Mestre Agostinho da Silva! É este o paradigma que temos colectivamente de ultrapassar, o paradigma materialista, produtivista, economicista, antropocêntrico, anti-espiritualista, que vê o mundo e a Natureza apenas como mero armazém de recursos e 'matérias primas' é este o paradigma do capitalismo, e é também este o paradigma de Domínio dos fascismos, e dos que em nome de um (pseudo) 'socialismo' criaram regimes totalitários 'fascizantes' também predadores da Natureza (URSS, RPChina, Coreia do Norte, e outros afins. Ultrapassar o paradigma de Domínio, é, portanto, ultrapassar o capitalismo sim; mas também não se deixar seduzir por ideologias autoritárias e totalitárias que partilham com o capitalismo a mesmíssima epistemologia e estratégia de Domínio material e Poder sobre a Natureza e a essência espiritual do Ser Humano!»
Miguel Santos
Fonte da imagem: petição para assinar:
https://www.change.org/p/ajude-a-fechar-para-sempre-o-festival-da-carne-de-cachorro-em-yulin-na-china?signed=true
“É evidente que a nossa economia actual é a mesma, quer do lado capitalista, quer do lado a que se chama socialista ou comunista. (...) É uma economia do trabalho, da produção, do consumo, é uma economia de uma obrigação e que com a consciência leve toma conta da terra, como se a terra lhe pertencesse, toma conta das plantas, dos animais e dos homens no fim de tudo. São organizações, de um lado e do outro, que tomam conta de tudo o que está vivo e não só – o homem, por exemplo, vai demolir montanhas para tirar o ouro ou a prata, dominando o mundo num império brutal sobre as coisas; é extraordinário o que o homem faz com os animais – toda a gente quer pôr coisas internacionais para os direitos humanos, e os direitos dos bichos? Um dia vão ter... porque o que é isso de dominar cavalos ou cães e todas essas histórias!? Vão ter problemas complicados com isso, não é? Então eu gostaria que toda a gente começasse por ter a ideia de que ela própria é alguma coisa realmente imperial, autocrática e dominadora (...)”
~ Agostinho da Silva (*) (com Henryk Siewierski), Vida Conversável, Sintra, Zéfiro, 2020, pp.14-15.
(*) Agostinho da Silva: filósofo, poeta, ensaísta, professor, filólogo e pedagogo português. O seu pensamento combina elementos de panteísmo, milenarismo e ética da renúncia, afirmando a Liberdade como a mais importante qualidade do ser humano.
Fonte:
https://www.facebook.com/MiguelSantosescritor/photos/a.617760231734790/1481093265401478/?type=3&theater
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No dia do seu aniversário, a minha modesta homenagem, Fernado Dacosta.
Parabéns Fernando Dacosta!
Em 12 de Dezembro de 1945, nasce em Caxito, Angola, completando precisamente hoje, 64 anos.
Não conheço pessoalmente Fernando Dacosta. Só de nome. E que nome! Só da obra. E que obra! Um dia, talvez, me depare com ele, algures, num lugar de livros, e então, se ele não for vedeta (como penso que não será, porque quem é grande não precisa dessas coisas menores, como muitos que eu já tive o desprazer de conhecer), aproximar-me-ei dele e agradecer-lhe-ei a estética das palavras que deixou escritas nos seus livros, para meu deleite.
Sou uma leitora compulsiva. Tenho sempre uma montanha de livros à espera de serem lidos, mas nem sempre as coisas correm conforme o meu desejo. Gostaria de ter mais disponibilidade para a leitura. Mas em mim, existe também o apelo da escrita, e todas as coisas menores de um quotidiano de mulher, em idade activa, confinada à casa, porque o mercado de trabalho para alguém que escreve é absolutamente nulo. Sim, pode escrever, mas de borla (dizem-me). De borla, como se alguém pudesse alimentar-se de “borla”! O que me vale são algumas traduções e revisões tipográficas que dão para o vício: a compra de livros.
Se temos um livro para publicar, há que pagar a edição, com dinheiro que ainda não ganhámos. Talvez sejamos os únicos “obreiros” em Portugal (nos países com gente inteligente dentro, não é assim) que têm de pagar o que produzem, a “patrões”, que só mais tarde, (e é preciso andar a mendigar dois, três anos) nos dão uma migalhinha do produto desse trabalho, que, por vezes, demora anos a executar. E a sensação com que ficamos é a de que pegue lá uma esmolinha, e que seja pelas alminhas do purgatório! Quando for para o Céu, Deus Nosso Senhor a recompensará! O trabalho de criação é nosso, mas temos de pagá-lo, ao contrário das coisas normais. Isto é imoral, mas é a realidade portuguesa dos desapadrinhados da Literatura. No entanto, na primeira, quem quer cai, na segunda cai quem quer. Continuo a aguardar tempos mais inteligentes.
Daí sentir-me também mal-amada!
Mas quem sou eu, comparada com os mal-amados sobre os quais Fernando Dacosta fala no seu belíssimo livro? Não sou ninguém! E isso que importa? Nada, também!
No entanto, não é de mim, nem da minha marginalidade, como autora, que venho aqui tratar. Quero falar de Fernando Dacosta. Deste seu livro, em particular, que me deu um especial prazer a ler, e da sua escrita límpida, irrepreensível, fora da norma actual, que é a má escrita que por aí prolifera. Mas é essa má escrita que vende, e são os próprios agentes da cultura (os editores) que investem e promovem essa mediocridade. Logo ninguém se admire do estado da Nação.
Só agora tive oportunidade de ler «Os Mal-Amados» (que ficou em espera desde 2008), versão recriada do «Nascido no Estado Novo» (2001). Gosto de livros que falem de homens e de mulheres que deixam um rasto luminoso, por onde passam, e são esses, quase sempre os mal-amados.
Fernando Dacosta, jornalista e escritor de grande mérito, também ele um ser luminoso, tem uma escrita escorreita, cristalina, sem falhas, sem erros, sem obscenidades (agora tão na moda). Palavras correctamente dispostas, com grande sensibilidade, para dizer de existências, de pensamentos, de histórias, de sentimentos, de saberes.
Em «Os Mal-Amados», Fernando Dacosta fala-nos de factos da nossa História, de personalidades que a marcaram, e com quem privou e bebeu-lhes a essência da sobrevivência, neste nosso país, que parece ter nascido malfadado, mas riquíssimo em existências, gestas e gestos valorosos, que poderiam colocar-nos nos píncaros, se o povo que aqui nasceu não se tivesse em tão má auto-estima, e deixasse de venerar a inferioridade que vem de além-fronteiras.
No livro de Fernando Dacosta, além de me deleitar com a leitura da Língua Portuguesa utilizada de um modo magnífico, fascinaram-me as confidências de personalidades que, cada uma ao seu jeito peculiar, contribuíram para acrescentar ao nosso já tão rico espólio (não importa qual) algo de muito invulgar, ou não fossem essas personalidades pessoas invulgares.
Algumas delas tive também o prazer de conhecer pessoalmente, como Agostinho da Silva e Mário Viegas, entre outros, e com os quais partilhei pequenos episódios pitorescos, que talvez um dia, me dê para divulgar. Mas antes tenho muito caminho pela frente, para poder chegar aonde chegam os grandes (se é que algum dia chegarei!); ou então como chegam os que têm vidinhas pequeninas e redondinhas para contar.
Dizia então que «Os Mal-Amados» é um livro que os amantes da leitura devem ler, por todos os motivos e mais um. E esse mais “um”, é o que diz Baptista-Bastos (também este um Grande Homem Português, do Jornalismo e das Letras), na badana do livro: «Grande jornalista (o Fernando), porventura o maior repórter da sua geração; trouxe a sensibilidade, o colorido, o lado humano, secreto, porventura quase insondável dos factos quotidianos».
Abriu-nos uma janela para uma paisagem grande do nosso País e de alguns dos protagonistas da nossa história comum.
Obrigada, Fernando Dacosta.
Parabéns pelo livro, e pelo aniversário.
Isabel A. Ferreira