Se vos disserem que para votar em branco (ou fazer desenhos), vale mais não perder tempo, em ir às assembleias de voto. Poupam-se 1800 milhões de euros, em combustível (valor gasto, a cada 12 horas, nos fins de semana) e aumenta, o bolo, a dividir, por todos os candidatos, menos do que votar em branco/nulo. É que ao ir votar, o valor de 13,96 euros, fica disponível, para os partidos/candidatos. Se não for, o valor fica nos 8 euros. O governo poupa 40 milhões, com cada eleição. Ir votar branco/nulo, só pune o governo (e todos nós!) e as autarquias (pois 58%, do orçamento eleitoral, é pago pelas autarquias), tenham em conta o seguinte: quantos de nós já não ouvimos esta história do apelo ao não-votar-em-branco, por ser perda de tempo e poupa milhões, e mais tal? Contudo, tudo isto não passa de uma falácia, porque no final a treta tem de dar com a careta, ou seja, se foram a votos 10 milhões de pessoas, os votos contados entre válidos, brancos, nulos e abstenções têm de dar 10 milhões, de outro modo, há marosca.
Então por que não querem que nós, que não consideramos “válidos” nenhum dos candidatos, votemos em branco?
NÃO é pelos gastos ou ganhos destes e daqueles, é simplesmente para que NÃO se conste por aí que o número de descontentes é demasiado elevado. Querem empurrar-nos para a abstenção, que pode NÃO significar um acto de descontentamento ou protesto, mas o voto em BRANCO significa PROTESTO, significa que NENHUM candidato nos serve.
Em Democracia, o voto em branco significa um voto de protesto, que não cabe nas abstenções nem nos votos nulos.

Como é que nós, que temos o DIREITO de votar (está na Constituição) vamos demonstrar o que pensamos sobre os candidatos? Se gostamos deste ou daquele candidato, votamos nele. Correcto? Se não gostamos de nenhum candidato votamos em branco, porque temos o direito de votar.
Os votos nulos podem não significar descontentamento ou protesto. Há sempre quem não se entenda com tantos quadradinhos, e ponha a cruzinha fora do sítio, ou, se desenha bonequinhos, para anular o voto, é simplesmente gente que gosta de brincar com coisas sérias.
Em todos os votos, sejam válidos, brancos ou nulos, há uma leitura clara a fazer.
Portanto, como cidadãos com direito a votar, votamos em branco, se nenhum dos candidatos reúne as competências para ocupar cargos constitucionalmente superiores.
E se a Lei Eleitoral não estivesse tão MINADA, aliás como muitas outras leis estão minadas, para favorecer não os cidadãos, mas os que governam, os votos em BRANCO estariam representados no Parlamento, simbolicamente por cadeiras vazias, porque o voto em branco é um voto válido, não é nulo, nem está no rol das abstenções. Representa apenas a percentagem de cidadãos que protestam: com o sistema ou porque os que se candidatam a seus representantes não lhes servem.
A Lei Eleitoral terá de ser revista.
Veja-se este exemplo: o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, nas presidenciais de 2016, foi eleito apenas por 2. 411. 925 votantes, num universo de 9. 741.377 inscritos, tendo votado apenas 4.740.558 cidadãos, e destes, 58.714 votaram em branco. A abstenção foi de 51,16%, a maior de sempre, para um primeiro mandato.
Portanto, Marcelo Rebelo de Sousa NÃO representa TODOS os Portugueses, foi eleito por uma percentagem mínima: pouco mais de dois milhões de cidadãos. Não tem nada de que se vangloriar.
Os abstencionistas são aqueles que, já cansados de ver triunfar as nulidades, consideram que votar é um exercício que não traz vantagens. Porém, se os 51,16% que se abstiveram tivessem ido votar em branco, e se a esta percentagem se somasse a percentagem dos votos em branco, teríamos um panorama nada satisfatório para os políticos portugueses.
Conclusão: votar em branco é o caminho, quando os candidatos não nos dizem nada. O voto em branco é voto de protesto, isto pode não estar explícito na Lei, mas é um voto de protesto, e é bom que todos os portugueses saibam, através da percentagem desses votos, quantos de nós protestámos.
Isabel A. Ferreira
Marcelo Rebelo de Sousa continuará a ser o Presidente da República Portuguesa, eleito por 23,6% daqueles que foram votar.
As contas são fáceis de fazer.
Com um número recorde de abstenções, 60,51% (o mais elevado de sempre), os 60,7% que Marcelo obteve, nas contas finais, equivalem aos referidos 23,6% dos que se dignaram ir votar.
Para estas eleições estavam inscritos 10.736.096 eleitores, mas apenas 4.261.209 eleitores votaram. Retirando-se as percentagens atribuídas aos restantes candidatos, e aos votos nulos (0.94%) e brancos (1.1%,) o resultado final não é brilhante para Marcelo Rebelo de Sousa, mas foi o bastante para que se mantivesse na Presidência.
Mais vale ganhar por pouco, do que por nenhum.
Estes são os resultados oficiais, assentes no número de eleitores que foram votar: 4.261.209 eleitores:

Imagem: Jornal Público
E estes são os resultados no universo dos 10.736.096 eleitores que estavam inscritos:

Imagem: Jornal Observador
Quem venceu e quem perdeu? O que falhou na campanha eleitoral de cada candidato?
Venceu aquele que 23,6% de Portugueses já conheciam, e quiseram apostar pelo seguro.
As opções não foram suficientemente convincentes. Vejamos:
Ana Gomes e Marisa Matias (a grande derrotada destas eleições, que esteve demasiado colada ao Bloco de Esquerda) eram as representantes de uma esquerda, na qual, quem é de Esquerda, não se revê. Em vez de se focarem no que queriam fazer diferente de Marcelo Rebelo de Sousa se chegassem à presidência, ficaram-se pelos ataques impregnados de uma repulsa por André Ventura, visível até nos semblantes delas, e acabaram por lhe dar demasiado tempo de antena. Um erro crasso. A somar a isto, usaram bastamente, a linguagem pimba do todos e todas, dos portugueses e portuguesas, do eles e las, dos aqueles e aquelas, dos cidadãos e cidadãs, imprópria de alguém que ambiciona representar Portugal. Milhares de Portugueses Pensantes não se revêem neste tipo de linguagem demonstrativa de uma profunda ignorância da Língua Portuguesa, motivo que bastou para que não se votasse nelas. Eu ainda tentei chamá-las à razão, mas deparei-me com cérebros de pedra, e um silêncio tumular.
João Ferreira foi igual a si próprio, numa campanha limpa, coerente, focando-se na mensagem que queria passar, porém, a colagem ao PCP, demasiado evidente, com a cassete do costume, não abonou nada a seu favor.
Tiago Mayan Gonçalves, também fez uma campanha limpa, focada também na mensagem que quis passar, tendo sido um dos vencedores destas eleições.
André Ventura, igual a si próprio, aproveitou o tempo de antena que as duas rivais lhe deram, e foi somando votos, perigosamente, sub-repticiamente… acabando por ser também um dos vencedores destas eleições. Agora, a esquerda que se amanhe! Não é com insultos que se combate a ideologia de extrema-direita. Mas, sim, com ideias, não de extrema-esquerda. Com ideias que conduzam à construção de uma sociedade harmoniosa, equilibrada, onde todos caibam, sem andarem aos murros e pontapés uns aos outros.
Vitorino Silva, com o seu jeito genuíno, contribuiu para lançar ideias, revestidas de interessantes metáforas, mostrando um aparente desprendimento pelo Poder, que não se encontrou em mais nenhum candidato. Contudo, isto não lhe bastou.
Marcelo Rebelo de Sousa fez uma campanha pobre, sem ideias, deixando antever os próximos cinco anos com mais do mesmo, até porque, não sendo desprovido de inteligência, viu logo na aragem, quem ia na carruagem, e soube que não precisava de se esforçar, nem muito, nem pouco, para ter a recandidatura garantida. A disputa estava ganha (quase) desde o início, contudo, à medida que a campanha política foi avançando, mais os Portugueses iam tendo a noção de que não havia outra alternativa. 23,6%, dos que foram exercer um direito e cumprir um dever cívico, votaram nele. 60,51% nem sequer se deram ao trabalho de ir votar (salvaguardando aqui uma percentagem dos que não puderam votar, por impedimento Covid).
Perante tudo isto, devemos chegar à conclusão de que alguma coisa vai mal, nesta República de Portugal do pós-25 de Abril de 1974. O tempo é, pois, de reflectir em tudo isto, porque vamos a caminho daquilo que não queremos, nem em pesadelos.
Isabel A. Ferreira