Domingo, 13 de Janeiro de 2013

Direito de resposta a opinião de Daniel Oliveira: «O cão que matou a criança e as comparações grotescas»

 

Um texto de Filomena Marta, que subscrevo inteiramente.

 

 

A tragédia do bebé e do cão de Beja

 

por Filomena Marta

 

«Os ânimos têm estado ao rubro, entre os que além da tragédia humana querem ver a tragédia do animal, e entre os que advogam a superioridade inquestionável e inabalável do Ser Humano sobre todas as criaturas que povoam a Terra.

 

Daniel Oliveira foi até autor de uma frase que me arrepia: “Resumo assim: a vida do humano mais asqueroso vale mais do que a vida do animal doméstico de que mais gostamos.” Ler mais:

http://expresso.sapo.pt/o-cao-que-matou-a-crianca-e-as-comparacoes-grotescas=f778636#ixzz2HfQ7UnkK

 

 

Para mim, "o mais asqueroso ser humano" é precisamente isso e não merece o ar que respira. Qualquer cão ou gato vale mais do que o ser humano mais asqueroso. Não é apenas e só por ser “Ser Humano” que o seu valor se altera. Esta tragédia, infelizmente, não tem retorno, porque uma criança morreu. Mas ao contrário de um Ser Humano, este animal não matou por crueldade, por maldade, por terrorismo. Um trágico desfecho pela soma de negligências, contra a criança e contra o animal.

 

 

 

Até pode muito bem ser que em breve se saiba a verdade sobre o assunto, que o cão tenha realmente ferido mortalmente a criança... sem ignorar a dor dos pais e a tragédia da morte da criança, sem esquecer a negligência de deixar um bebé entrar num quarto escuro onde está um cão a dormir, caindo o bebé em cima do cão, já que nos conseguimos pôr no lugar dos humanos, que tal conseguirmo-nos pôr também no lugar do cão: estamos a dormir num quarto escuro e caem-nos em cima... não se trata de desculparmos ou não desculparmos, não se trata de defendermos ou não defendermos, trata-se de usarmos o raciocínio (que pessoas que acham o ser humano superior a todos os outros animais têm a obrigação de usar!).

 

 

 

A tragédia é só uma, com duas realidades: actos de negligência levaram à morte de uma criança.

Isto é incontornável: a morte da criança.

Também é incontornável a inocência do animal.

 

 

Comentei um comentário no Facebook, sem saber que estava a comentar uma pessoa que eu conhecia. Essa pessoa dizia algo como “pena do cão é a última coisa que tenho”, e confesso que o meu comentário, não sendo ofensivo, não foi agradável. Pouco depois o meu telefone tocava… dizia-me, então, a minha conhecida, que conhecia o médico que tinha atendido a criança que morreu e que o cão tinha atacado a criança, e pedia-me que retirasse o meu comentário de resposta ao dela.

Algumas considerações sobre esta informação.

 

 

Compreendo o radicalismo desta minha conhecida, a morte de uma criança impressiona qualquer um. Compreendo-o, também, porque as posições de maior fanatismo tenho-as encontrado em comentários de pessoas que desejam a morte do cão, tout court.

Nesta sequência, dizia a minha conhecida que estes cães tinham de ser todos abatidos.

 

 

Nesta sequência, sinto-me obrigada a dizer que todos os seres humanos “mais asquerosos” também têm de ser todos abatidos. Os violadores de crianças, muitas delas apenas bebés, os violadores em grupo, os assassinos em série, os seres “asquerosos” que torturam até à morte animais indefesos (como os que se entretêm a fazer os nojentos “crush vídeos”, onde pequenos animais são esmagados pelos pés de mulheres doentias para deleite de pervertidos sexuais). Infelizmente, há muitas perversões entre os seres ditos humanos, nomeadamente as perversões morais.

 

 

Volto a repetir que assistimos a uma tragédia e que a morte de uma criança é muito triste.

Mas é também triste a violência e o assassinato cometido todos os dias contra animais indefesos, e de que ninguém fala, ninguém quer saber, ninguém condena.

 

 

Um animal sem historial de agressividade se ataca fá-lo por medo, por protecção ou por defesa. Não o faz por maldade. Não o faz premeditadamente. Qualquer caniche que seja assustado pelo próprio dono se pode voltar para morder, geralmente detendo-se quando se apercebe que se trata do dono.

 

 

Infelizmente, os danos que podem advir de um ataque por defesa de um cão de grande porte e grande força mandibular são obviamente graves e muito diferentes da mordidela de um Chihuahua. Mas convido todos aqueles que acham que os cães são maus porque nascem maus a ler opiniões de grandes especialistas em comportamento canino, como o veterinário Ian Dunbar.

Só há uma espécie que é má porque nasce má: o Homem. E mesmo esse teve como defensor o Padre Américo, que dizia que “não há rapazes maus”, a sociedade é que os torna maus.

 

Paz a esta criança que, vítima de negligência, encontrou a morte.

Paz a todos os inocentes que são violentados e mortos, sejam humanos ou não-humanos.

 

 

Fotos

São muitos milhares de imagens de crueldade extrema, que acontece todos os dias, todas as horas, em todo o mundo… perante o silêncio, a cegueira e a indiferença dos Seres Humanos justos.

E para que “o mal impere, basta que os bons nada digam”.

 ***

NOTA: Este artigo é acompanhado de importantes fotografias, que seguem em anexo. Para poder aceder às legendas destas fotografias, por favor aceda a www.animasentiens.org -- crónica "A tragédia do bebé e do cão de Beja".

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 14:51

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