O Dia de hoje não deveria existir. Também sou contra os "dias" disto e daquilo, porque todos os dias são dias de tudo.
Mas o dia 08 de Março existe, não pelas mulheres que somos, mas pelas mulheres que ainda NÃO são: as dos Afeganistão, as do Irão, as da Síria, as mulheres excisadas, as escravas sexuais, as que ainda sofrem violência doméstica, as que ganham salários inferiores aos salários dos homens, as que não conseguem livrar-se dos grilhões mentais que as prendem ao que não gostam de ser...
Por todas essas mulheres, este dia tem de existir, NÃO para celebrar o que nós somos, mas para LUTAR pelas que ainda não são.
Há ainda muitas mulheres presas a grilhões mentais.
As mulheres têm de ter a força e a coragem de se libertarem desses grilhões, e NÃO permitirem que haja uma PRIMEIRA vez do que quer que seja que as menorize, mas se a houver, a atitude imediata é BLOQUEAR a possibilidade de haver uma SEGUNDA vez, ainda que para isso tenham de virar a vida do avesso.
A mulher existe por si própria. Existe para ser MULHER.
NÃO existe para SERVIR os homens.
NÃO existe para ser a barbie dos homens.
NÃO existe para ser USADA e ABUSADA, pelos "homens", nas mais diversas circunstâncias.
NÃO existe para ser escrava sexual.
Como se sai disto?
Batendo o pé.
Dando murros na mesa.
Tendo confiança em si própria.
Desobedecendo a "ordens", ainda que tenha de usar uma MOCA.
E as outras, as que estão amarradas a grilhões ideológicos, religiosos, culturais?
Estas terão de optar por atitudes mais radicais, como FUGIR, ainda que tenham de se transformar em mulheres-camaleão.
Um País sem mulheres PENSANTES é um país estéril.
A mulher, para viver no mundo comandado por "homens", tem de pagar um preço pela sua liberdade mental, pela sua liberdade de pensamento, pela sua liberdade de ir e de vir.
A mulher tem de se conhecer a si própria, em primeiro lugar.
Bem, existe um obstáculo: nem todas têm acesso à INSTRUÇÃO, a única coisa que liberta a mulher da escravidão mental.
Daí que, a minha mensagem para TODAS as mulheres, hoje, seja a de LUTAREM pelo acesso à INSTRUÇÃO, para poderem valorizar-se, para poderem libertar a mente, e fazerem frente aos "homens" que as querem sob as suas patorras.
Nada mais incomoda um homem do que uma MULHER PENSANTE, mesmo aqueles que lhe dão apreço.
Pensem nisto.
Isabel A. Ferreira
Um magnífico texto assinado por Teresa Botelho, no Blogue «Retalhos de Outono»
Subscrevo inteiramente tudo o que a Teresa escreveu.
in Retalhos de Outono
Por Teresa Botelho
Quarta-feira, 13 de Março de 2019
«Sempre achei que os cravos de uma certa "revolução" serviram de pouco, porque continuou a desigualdade, a injustiça, a corrupção e a propositada cegueira de um Estado que prega valores atraiçoando-os despudoradamente a cada passo...
Por mais triste que seja, esta é a sina que nos resta por sermos obedientes, comodistas, inseguros e nada exigentes, quanto ao efectivo crescimento intelectual e vanguardista que o passar dos tempos continuamente nos exigem.
Em Portugal, a mulher comum, continua a ser o objecto negociável, traída nos seus direitos e dignidade, escrava de trabalho árduo mal pago e mola essencial à construção de uma economia que apesar de anémica, continua enriquecendo alguns, mas passando sucessivamente ao lado de quem dá o seu suor pelo pão de cada dia.
A cultura, a informação, o raciocínio e a acção, são as maiores ameaças para certas sociedades arcaicas que ainda fazem questão de dominar através de falsas retóricas moralistas, ou até religiosas, com a adequada conivência dos média, cuja disfarçada manipulação, é a arma inequívoca e fundamental para tais projectos de controlo e supremacia machistas.
Não é, portanto, de admirar que após a explosão das contestações no dia da Mulher, tivessem surgido logo, certos programas abjectos nos dois canais mais populares da nossa televisão que infestam, desacreditam e violam as mais justas reivindicações exigidas por quem lutou e se manifestou por todo o país, insurgindo-se contra uma justiça bolorenta que não responde, nem protege quem por ela implora.
As palavras e as tímidas presenças dos nossos governantes em certos eventos em prol da igualdade de género, são apenas mais uma das comédias tão politicamente correctas que apenas revelam o estado de abandono a que este povo tem sido votado ao longo dos anos, mas também a ignorância e a falta de interesse que nos torna vítimas e culpadas/os da nossa pacatez e do estado de dormência em que nos deixámos afundar.
Constata-se assim que estes programas indignos e ofensivos à dignidade feminina, não passam de manobras reaccionárias de suja humilhação, propositadamente lançados após o mais aguerrido 8 de Março que recordo em Portugal e que teve como rastilho as declarações homofóbicas de um juiz e a morte de 13 mulheres em pouco mais de dois meses.
Que tipo de gente se presta a estas actuações públicas, divertindo quem, inconscientemente ou por simples ignorância, contribui para os colocar no topo das audiências?
Que tipo de comunicação social e de Entidade Reguladora é esta que permitem que se arraste em praça pública a dignidade de quem não a tem, mas cujo evidente atraso cognitivo é assim explorado e tão engenhosamente exposto?
Quem são estes "machos" bouçais de trazer por casa que escolhem fêmeas como quem apalpa fruta no mercado e que mulheres são estas que se prestam a tão vergonhoso papel?
Acaso as suas vaginas famintas passaram a comandar os seus cérebros ocos, ou acharão que por aparecerem no "boneco", se tornarão heróis e heroínas, cuja fama se perpetuará em revistas de wc?
Nascer mulher, é o privilégio de ser mãe, de educar o mundo com a nossa pegada firme, transpondo os obstáculos com um sorriso, mesmo quando o caminho é árduo e incerto, mas sem nunca baixar a bandeira da dignidade e da força!
Jamais a obediência nos deverá derrubar, nem o pranto servir de desculpa ao enxovalho, apatia e resignação, porque ser mulher, é a determinação e o vigor que irrompem das nossas fragilidades, para que possamos seguir em frente com respeito por nós próprias, a auto estima sem mossa, a consciência limpa e o orgulho de ser quem somos!»