"Ser poeta é ser mais alto"
Um inspirado texto de Teresa Botelho, a propósito da fúria do poeta, em relação ao aumento do IVA das Touradas. Relembrar, para não esquecer.
Sim, ser poeta é ser mais alto, é ser maior do que os homens, infelizmente, existem “poetas” (e como é possível?) que passam a poetas menores, quando elogiam, aplaudem e apoiam a tortura de Touros, achando que tal barbárie é cultura.
Faço minhas todas as palavras da Teresa Botelho.
Isabel A. Ferreira
Texto de Teresa Botelho
«Que dirias tu, Florbela Espanca, se tivesses conseguido respirar a aragem da igualdade e da consciencialização que este novo século nos trouxe?
Que dirias tu, mulher de sensibilidade à flor da pele, se este século tivesse conseguido dar uns passos atrás para te explicar que o amor ao próximo pode ter outros focos que não apenas aquele que tu sentiste e pelo qual morreste?
Que dirias tu amiga, se soubesses que "ser poeta", nem sempre "é ser mais alto" quando se mistura poesia com violência, sadismo, ódio e sangue...
Que dirias tu então de um artista com sensibilidade de fachada que usou a sua habilidade poética para se promover à custa de um povo carente de liberdades, pisado, humilhado e reprimido durante mais de quarenta anos, para se pavonear entre condecorações e honrarias enquanto vai usufruindo subvenções mensais que ultrapassam os cerca de 8 salários mínimos de qualquer trabalhador?
Que dirias tu ainda, se eu te dissesse que a democracia de hoje, é como a de certos poetas, cuja coerência de sentimentos, apenas desacreditam o que um dia escreveram, movidos por outros interesses que lhe alimentam o espírito devasso, doentio e incoerente?
Há fascistas mascarados de democratas, porque precisam adicionar conteúdos de vanguarda às suas personalidades tacanhas, mas cuja noção de democracia, só existe para conforto dos seus egos mesquinhos. É isso que se passa com um certo "poeta alegre", ensandecido pela perspectiva de perder o sádico gozo da caça e o espectáculo macabro de nobres herbívoros sangrados por cobardes "gladiadores" reluzentes, em arenas tristemente legalizadas.
É assim que se atraiçoam os valores culturais e civilizacionais de um povo que ao contrário do que alguns pensam, cresceu, passando a condenar essa violência gratuita, comparticipada e apoiada por um Estado retrógrado e imoral, composto por farsantes e parasitas avessos à evolução ética de um país que tão tristemente manipulam para seu próprio beneficio.
Foi a um "poeta" traidor, a quem a idade aguçou a ambição que assistimos, numa certa campanha eleitoral à presidência da República, feita de verónicas, cavaleiros e pegas de caras que a moral triunfou com uns quantos pares de bandarilhas negras, cravadas sem erro no seu velho lombo flácido!
Como deve ter sido difícil e doloroso perder a pose perante tão cruel derrota e como deve ser difícil dar a mão à palmatória e ter que aceitar que os tempos mudaram e que o "outro", não é apenas um "poeta alegre" presunçoso de copo cheio que vive de mordomias, mas também o é o touro que se esvai em sangue e cuja poesia existia na música ritmada do seu chocalho, enquanto petisca a erva fresca que a Mãe Natureza tão generosamente lhe ofereceu!»
Fonte:
https://www.facebook.com/terezabotelho/posts/2951034341625360