Esta imagem é terrível.
Nos olhos do Touro a morte espreita exactamente do mesmo modo que nos olhos do torturador de Touros.
Repare-se bem: a expressão é a mesma. Animal Touro e animal homem morreram na arena, com uma diferença: o Touro, com honra, porque foi barbaramente torturado, até à morte; o tauricida, desonrado, porque morreu aos cornos do Touro, que cobardemente torturou.
Obviamente não aplaudo a morte do Touro. Também não aplaudo a morte do carrasco. Mas não serei hipócrita ao ponto de dizer que a morte do torturador de Touros abala os meus sentimentos.
Não abala. Não consigo sentir nem tristeza, nem alegria. Deveria sentir algo? Poderia sentir compaixão, sim, se o tauricida estivesse ali forçado, a lutar pela vida, como lutavam os gladiadores no Circo Romano: ou matavam ou morriam. Os carrascos de Touros, não. Estão ali porque querem mostrar a uma plateia sádica, uma virilidade que não têm, diante de um animal INDEFESO. E isso é imperdoável.
É terrível quando a morte de uma criatura que se assemelha a um ser humano, mas não se comporta como um ser humano, não nos abala. Como não nos abala a morte de um terrorista, de um violador, de um pedófilo, de um assassino.
Pelo contrário, a expressão dolorida do indefeso Touro esmaga-me.
Esta imagem mostra-nos dois seres que já foram vivos e agora estão mortos e jazem no chão, desfeitos pela mesma morte, que os atacou de modo diferente.
Existe uma diferença brutal no modo como ambos foram mortos.
O Touro, indefeso, que não foi para a arena por sua livre e espontânea vontade, depois de barbaramente torturado, antes e durante a lide, foi morto propositadamente para gáudio de sádicos tauricidas.
O torturador de Touros, que foi para a arena por sua livre e espontânea vontade de torturar e matar um Touro, foi morto porque o Touro, muito legitimamente, reuniu as derradeiras forças para se defender do seu carrasco. E conseguiu.
O Touro morreu com Honra. O torturador morreu sem ela.
E é isto que os sádicos aplaudem e que governantes, com cérebros microscópicos, apoiam.
Isabel A. Ferreira