Aqui deixo o meu esconjuro a quem faz tanta maldade: mais dia, menos dia, o feitiço virar-se-á contra o feiticeiro. Tão certo como o dia se segue à noite.
Por este Lobinho aqui deixo as minhas lágrimas eo meu afecto .
Isabel A. Ferreira
(A fotografia mostra o cadáver de um lobo envenenado na Serra da Cabreira)
Fotografia © Rui França (Todos os direitos reservados)
Texto de Rui C. Barbosa
«Morreste sozinho no meio da floresta silenciosa que tanto amavas.
Morreste nos trilhos por onde caminhaste quando eras lobito e acompanhavas a tua mãe nos ensinamentos que te seriam úteis para sobreviver num mundo que quase já não é teu. Morreste junto da árvore onde brincaste com os teus irmãos, correndo por entre os esconderijos. Por vezes, olhavas com os teus olhos de mel, para os pássaros que esvoaçavam, para os insectos, para as flores e para as folhas que caiam. Sentias o sabor da água, o cheiro da terra e ao longe sabias que o perigo espreitava.
Morreste naquele dia em que aquela carne ali colocada no chão te parecia a sorte de teres encontrado o que te faria aguentar mais algum tempo. Porém, em pouco tempo sentiste as tuas entranhas a arder, corroídas pelo ódio dos homens maus, pelo ódio da ignorância que ao longo de séculos e séculos foi alimentando a crença de que tu eras mau.
Morreste a olhar para as folhas e para os ramos que foram tua companhia e abrigo em muitas noites frias na serra e que foram a camuflagem perfeita contra o homem que um dia te viu ao longe e te decidiu envenenar.
Morreste de olhos abertos e a tua expressão quase parece um sorriso, demasiado humano. Talvez no teu derradeiro momento tenhas visto o espectro da tua mãe, a sorrir, na companhia da qual, descansas finalmente em paz.
Morreste amigo e por ti choro, pedindo desculpa por nós, aqueles que não te conseguimos proteger...»
Fonte:
http://carris-geres.blogspot.pt/2016/11/morreste-e-eu-peco-desculpa-por-nos.html