Comentários:
De Roberto Silva a 30 de Novembro de 2021 às 22:47
Entendo o argumento apresentado, mas ouso discordar dessa posição que entendo como conservadora e desalinhada com os avanços que se verificam na sociedade portuguesa em outras questões. Vários países da Europa e do mundo caminham no sentido de aprovarem a eutanásia, sob determinadas condições, com acompanhamento psicológico e médico, etc... Questões éticas e jurídicas implicam em debate, estudo particularizado dos casos, etc. Muito tentam mas, no final, ninguém freia a marcha civilizatória em curso. Defender o valor absoluto da vida para aquele que a suporta como um fardo não representa minimamente um senso de Justiça e de dignidade humana.
De Isabel A. Ferreira a 1 de Dezembro de 2021 às 12:23
Senhor Roberto Silva, o senhor tem todo o direito a ter uma opinião sobre pôr fim à VIDA de um ser humano, ainda que a pedido desse ser humano.

E eu, e pessoas como eu, para quem a VIDA é inviolável, têm o direito de discordar.

Porquê?
Porque a VIDA e a MORTE não são questões do foro da opinião. E jamais “pôr fim à vida” de uma pessoa (repare que eu não uso a palavra MATAR, que, no entanto, é sinónimo de “pôr fim à vida”) foi ou é um acto de avanço civilizacional, porque a VIDA, ao contrário do que diz, não é um fardo, mas um percurso que se faz, desde o momento em que nascemos. Uns têm mais sorte do que outros, mas isto faz parte de outra discussão, que, no entanto, nada tem a ver com crenças ou religiões.

Um acto de avanço civilizacional é proporcionar a um doente terminal condições para que o seu fim de vida seja conforme a dignidade humana.
MATAR, ou obrigar alguém a MATAR outro ser não é do foro da dignidade humana.

Repare: a pena de morte já foi aceite como o “castigo” adequado para quem cometesse um crime, como, por exemplo, o de matar outra pessoa. E chegou-se à conclusão de que ao matar o assassino estaríamos a pôr-nos ao nível do assassino. Por isso a pena de morte foi abolida (ainda existem, em localidades onde a civilização ainda não bateu à porta).

Ao pedir-se para que se ponha fim à vida de um doente terminal está-se a pedir a outrem que MATE. E isto já não faz parte da “dignidade humana”.
Prestar cuidados paliativos a um doente terminal, os quais amenizem o seu sofrimento, para que ele possa terminar o seu percurso de vida com dignidade, sem a necessidade de pedir a alguém que o mate, é um avanço civilizacional.

Quando doentes, que estão ligados a máquinas, como suporte de vida, e que dali já não há mais nada a fazer, estando apenas vivos através da máquina, mas já cerebralmente mortos, todos nós sabemos que as máquinas são desligadas, não a pedido do doente, mas ou por iniciativa dos médicos, ou por um pedido das famílias. E isto já se faz há bastante tempo, sem precisar de uma lei que diga “mate-se o doente, porque já não há nada a fazer”. Nestes casos será um acto médico desligar as máquinas. Matar, porque o doente quer, não é um acto médico.

Todos temos três tempos: o tempo de NASCER (para o qual não contribuímos); o tempo de VIVER (para o qual fazemos as nossas escolhas); e o tempo de MORRER (a coisa mais certa da nossa existência, e, no entanto, uma incógnita). A morte vem, por vezes, quando menos se espera, em qualquer idade. A morte põe fim ao nosso percurso de vida. Teremos o direito de o interromper? Porque se nascemos, nascemos por algum motivo.

Um assassino interrompe o percurso de vida de uma pessoa, e é condenado por esse acto.

O homicídio ou o suicídio serão actos naturais?

Senhor Roberto Silva, com esta minha reflexão, não pretendi, de modo algum, mudar a sua opinião. Apenas pretendi atirar achas para uma fogueira, onde a morte arde sem se ver…

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