Todos os anos, há uns anos a esta parte, o inconcebível acontece.
Mas desta vez, perderam-se demasiadas vidas (humanas e não humanas), para podermos calar a desgraça.
E a culpa foi da trovoada seca?
Desde que o mundo é mundo, a trovoada seca é tão natural como a chuva, a tempestade, o calor, o frio, o fogo, a neve, o vento, os terramotos, as erupções vulcânicas, os tsunamis, enfim, é tão natural como todas as grandiosas manifestações da Mãe Natureza, contra as quais o homem, que se julga o todo poderoso dono do mundo, nada pode.
E quando a Mãe Natureza se manifesta desta forma tão poderosa, é porque alguma coisa vai mal. E o homem chora, mas não aprende nada com estes sinais tão claros, de um Poder maior do que todos os poderes humanos.
Origem da imagem:
Desta vez, perderam-se demasiadas vidas (humanas e não humanas), floresta, habitações, pomares, searas, bens materiais, como se a fauna e a flora portuguesas, e tudo o resto não merecessem o olhar dos governantes.
Culpa-se o clima, as trovoadas secas, o vento, mãos criminosas, a falta de chuva, a falta de bombeiros, a falta de meios (terrestes e aéreos), culpa-se tudo, excepto a falta de uma Política Florestal e Ambiental, apta a minimizar as consequências naturais das Forças da Natureza, que o homem não pode evitar, mas pode atenuar.
Dispensaram-se os Guardas Florestais, os Engenheiros Florestais, os Biólogos Ambientais, como se Portugal não tivesse uma mancha florestal considerável. E dispensaram-se os guardiães das Florestas por causa da inexistência de verbas que são desviadas para o que é completamente dispensável, porque inútil?
Portugal arde. Extingue-se em várias frentes. E não só devido aos fogos florestais. Estamos a perder muito mais do que fauna e flora.
Todos os anos, há uns anos a esta parte, Portugal vai perdendo floresta e fauna autóctone, debaixo das barbas dos irresponsáveis políticos que, mal acaba o perigo, e depois de prometidas medidas, esquecem-se de que as prometeram e tudo volta à estaca zero.
Este ano, a reacção da Mãe Natureza contra a ineficácia humana foi implacável. Este ano, a Mãe Natureza fez lembrar ao homem de que quem manda nestas coisas é uma Força maior do que a força humana, por isso há que abrandar os desmandos dos homens.
E Pedrógão Grande incendiou-se, e demasiadas vidas (humanas e não humanas) foram ceifadas. Esperemos que não inutilmente.
Esperemos que todos, todos, políticos e povo, tivessem lido nas entrelinhas desta tragédia, o grande recado que a Mãe Natureza nos enviou.
O próprio povo, tem-se estado nas tintas para o que deve fazer. Acredita piamente nas falsas promessas que lhe fazem os políticos, e não actua como devia actuar.
A trovoada seca, que dizem estar na origem desta tragédia, poderia ser evitada? Obviamente que não. Os homens não têm poder para tal.
Porém, a tragédia poderia ser minorada? Poderia, se houvesse uma Política Florestal e Ambiental séria e coordenada.
Incêndios florestais sempre existiram desde o início dos tempos. São naturais. São necessários.
O que não é natural, nem necessário é a perda das vidas humanas e não humanas provocadas pelo desleixo a que as nossas florestas estão votadas.
Que esta tragédia possa servir para mudar a política. Para mudar a atitude do povo. Para abrir os olhos dos que se julgam “poderosos”.
Os meus mais sentidos pêsames a todos os que perderam os seus familiares e amigos e vizinhos, nesta tragédia.
E o meu mais veemente apelo aos governantes do meu País: mudem de atitude. Prendam-se ao que é essencial. Dediquem os vossos esforços a políticas de VIDA, não a políticas de MORTE.
Isabel A. Ferreira