E uma das perguntas a fazer é: estarão os Bombeiros Voluntários preparados para enfrentar fogos de tamanha envergadura? Terão formação específica para tal?
Mais vale prevenir do que remediar é um provérbio português que nenhum governante pós-25 de Abril jamais teve a intenção de pôr em prática.
De boas intenções está o inferno cheio.
Ter intenções de... não basta. Não traz de volta à vida quem a perde nos incêndios criminosos.
E o negócio do fogo? Por que não são penalizados os que lucram com os incêndios? Quem são os cúmplices deste crime?
Há muita coisa por explicar, e TUDO por fazer, para que se poupem vidas humanas e não-humanas, em Portugal.
Isabel A. Ferreira
De
zé onofre a 17 de Setembro de 2024 às 20:41
Boa tarde, Isabel
A questão dos incêndios é da responsabilidade do desenvolvimento económico retrógrado, neste caso da agricultura.
Somos um país que, pelo menos, desde o início da sua saga pelos mares tem andado com o passo trocado.
Porém não vou tão lá longe. Vou falar do que aconteceu a partir do Fontismo.
Argumentavam os Fontistas que eram necessárias vias férreas para modernizar e aumentar a riqueza do País, e davam como exemplo a Inglaterra, a França e Os Estados Unidos.
Eu digo que teoricamente estavam correctos. Na prática puseram o carro à frente dos bois.
A via férrea tornou-se necessária, nos países referidos pelo Fontismo, para escoar os produtos da indústria e da Agricultura. Ora Portugal, nesses tempos, não tinha indústria e, segundo Eça de Queirós, o agricultor empobrecia alegremente.
Em vez de industrializar e renovar os métodos agrícolas para justificar a via férrea, equacionou o problema ao contrário. A consequência foi que as vias férreas que foram até o interior do país não levou progresso, apenas começou o despovoamento. E isso é tão verdade que num dos filmes dos anos trinta - Maria Papoila, acho eu - uma camponesa que descia das Beiras para Lisboa cantava "adeus aldeia que eu levo na ideia nunca mais voltar".
Ela ficaria por Lisboa, outros ficariam pelo Porto, mas a maioria dirigia-se aos portos do Porto e Lisboa e embarcavam para "os Brasis".
E a indústria continuava a marcar passo e a agricultura era gerida por contractos medievais. Proprietários absentistas que tinham as suas Propriedades arrendadas a quintos, a quarto e a terços ( 1 para o caseiro, cinco para o senhorio, etc., etc. ).
Depois da Guerra, a 2ª, houve uma ligeira abertura industrial, mas apostou-se prioritariamente na indústria ligeira - vestuário e calçado - para suprir as necessidades internas, e o excedente iria para as Colónias.
Contudo a agricultura ia-se arrastando, na sua maioria, nos moldes medievo/feudais.
Até à guerra colonial foi possível manter as coisas como estavam.
Só que a guerra colonial arrancou os jovens camponeses dos
seus lugarejos e juntamente com isso deram-lhe a conhecer um outro mundo para lá do adro e do campanário da Igreja.
Descobriram que o Mundo era Grande para além das vistas curtas de uma governação que tinha como mote "pobre, mas honrado".
Regressados da guerra as fronteiras ficaram abertas para a emigração legal e ilegal para uma Europa que ainda se reconstruía das ruínas da Segunda Guerra.
Entretanto o Governo começava a investir na indústria pesada, naval e siderúrgica, principalmente.
Os jovens camponeses dirigiram-se para esses polos industriais, que somando-se à emigração sangrou de braços jovens a agricultura.
Nem assim a agricultura se modernizou. Apenas os contratos passaram a ser a meias, mas renovação de meios zero.
Com a adesão à CEE a agricultura é vendida à PAC e os campos ficam definitivamente despovoados. Os proprietários - levados na cantiga que Portugal não é um país florestal e não agrícola - apostam na floresta.
Numa floresta que dê lucros rapidamente e as encostas dos montes e antigos campos de cultivo tornam-se em eucaliptais. Dizia um ciclista Australiano que participou numa Volta a Portugal que para se sentir na Austrália apenas faltavam os coalas.
Campos sem gente, florestas que são "gasolina pura", aliados a pirómanos e a interesses escusos dão como resultado um país a arder.
E voltando ao Fontismo a via férrea vai fechando para o interior do país, sobrando apenas o eixo Faro/Braga e as ligações a Espanha.
Para que o despovoamento fosse total construíram-se autoestradas que tornaram dormitórios das grandes cidades quase todo o interior.
Mais uma vez as vias de comunicação provocaram o inverso do pretendido, ainda não aprendemos que é preciso apostar no desenvolvimento económico do interior.
Sem agricultura, sem indústria, sem uma politica florestal que respeite os solos e o clima, não há gente, não havendo gente não há quem cuide, e aí temos a consequência - um Povo que se acumula junto ao mar e o interior que é um braseiro só.
Não adiantam planos, meios aéreos, multas pesadas para os incendiários.
O essencial é reverter o modelo de desenvolvimento económico que herdamos do Fontismo, que já ele se baseava em premissas invertidas.
Esta a opinião dum leigo.
Zé Onofre
Boa tarde, Zé Onofre.
Agradeço o seu contributo para esta questão, que considero gravíssima, e não posso deixar de concordar com a sua análise.
Portugal saiu dos carris, e não conseguiu pôr-se nas linhas nestes últimos 50 anos, devido às más-políticas ou ausência delas, e o caos foi-se instalando sub-repticiamente, até chegar ao ponto a que chegámos. E não vejo modo de isto entrar nos carris, porque os políticos falam demais e agem de menos, ou nem sequer agem.
Para o ano, aqui estaremos a falar das novas tragédias dos novos incêndios (se sobrar alguma coisa para arder) porque continuar-se-á a não fazer nada, como até aqui, para mudar as coisas.
São muitos anos de promessas que não se cumprem. São muitos anos de desinvestimento no que importa.
Acreditar nas promessas dos governantes é como acreditar em que as galinhas têm dentes.
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