Senhores deputados: olhem bem para esta imagem.
É isto que resta de um Touro, ser senciente, tão animal como eu, depois de ser barbaramente torturado por cobardes, nas arenas de Portugal.
Se pretendem fazer desta imagem um símbolo da identidade portuguesa, esqueçam as palavras que escreverei a seguir, e mantenham-se mergulhados nas trevas que vos ofusca a visão da modernidade.
Para amanhã, dia 6 de Julho de 2018, está marcada uma discussão do Projecto de Lei pela Abolição da Tauromaquia em Portugal, proposto pelo Partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN), a qual pode catapultar o nosso País para o rol dos países civilizados, e retirá-lo do número restrito de países terceiro-mundistas (oito, em 193 existentes no mundo) que ainda mantêm esta prática do tempo da monarquia espanhola, que a introduziu em Portugal e na América Latina.
Gostaria de aqui expor o seguinte: aproximam-se eleições legislativas, e o meu voto, e o voto de milhares de Portugueses, dependerá das decisões que os partidos políticos, ao serviço do minoritário lobby tauromáquico, tomarem, amanhã.
À parte de considerar inacreditável e inaceitável que, em pleno século XXI D. C., ainda se esteja a discutir, na Assembleia da República Portuguesa, um projecto de lei que pede o fim da tortura de um animal numa praça pública, mais inconcebível se torna o facto de ser permitida a entrada e participação de menores nesta actividade. A posição da ONU em relação à exposição/participação de crianças em eventos tauromáquicos é muito clara:
“In order to prevent the harmful effects of bullfighting on children, the Committee recommends that the State party prohibit the participation of children under 18 years of age as bullfighters and as spectators in bullfighting events.”
(Espero que todos os Senhores Deputados saibam ler Inglês, porque Português, nem todos sabem, uma vez que por mais informações que lhes damos a este respeito, na nossa Língua, a esmagadora maioria dos senhores não entende nada, e como gostam de estrangeirismos, o Inglês poderá ser mais conveniente).
Para além disso, é absolutamente escabroso o apoio, na forma de subsídios da ordem dos 16 a 20 milhões de euros anuais, a uma actividade que está em franco declínio, é cruel, violenta e desadequada aos tempos modernos, enquanto que nas áreas da Saúde, do Ensino, da Cultura Culta, os apoios andam muito minguados.
Daí que me parece de carácter urgente e mandatório que os senhores deputados da minha Nação tenham a hombridade de votarem a favor do Projecto de Lei do PAN, e, desse modo, contribuírem para a evolução de Portugal.
Mais saliento que, ao votarem contra este projecto, estarão directamente a legislar tanto contra as recomendações da ONU relativamente aos direitos das crianças (não salvaguardando a integridade moral e psicológica das crianças portuguesas), como a permitir que vastas somas de dinheiros públicos, de contribuintes como eu, continuem a sustentar uma obsoleta e medievalesca prática, como a manter Portugal no número restrito de países atrasados civilizacionalmente. Porque basta que 40 municípios, em 308, mantenham esta barbárie, para que Portugal não possa ser considerado um país civilizado.
Anda-se por aí a fazer-de-conta que é. Mas na realidade não é.
Esperando que amanhã, a Assembleia da República seja iluminada pela lucidez, envio os meus cumprimentos, que só serão respeitosos no dia em que eu vir os senhores deputados respeitarem as normas da civilidade para com os Touros e os Cavalos, que também são criaturas de Deus e animais como eu, os quais, em nome da mais hedionda estupidez, são torturados nas arenas portuguesas.
Isabel A. Ferreira