Sexta-feira, 6 de Julho de 2018

«A tourada vista por um médico veterinário com experiência em espectáculos tauromáquicos»

 

Obrigada Dr. Vasco Reis.

Haja alguém com lucidez!

 

O seu texto é precioso. Mas como em madeira velha só entra caruncho, os deputados da Nação disseram não à racionalidade, porque não entendem nada do que lhes dizemos.

 

VASCO REIS.jpg

 

«Percurso do Touro antes, durante e depois da tourada» 

 

O touro vive uns 4 anos na campina habituado à companhia de outros da mesma espécie em espaço largo e com razoáveis condições. Terá já passado por momentos violentos de ferra, de tentas. É escolhido para a lide numa tourada. Com ou sem sedação, apartam-no violentamente, com muito uso do bastão eléctrico, para uma manga e enfiam-no numa caixa apertada onde mal se pode mexer.

 

A ansiedade provocada pelo aperto cresce em tremenda claustrofobia ao passar da liberdade e tranquilidade da campina para o "caixote" onde fica confinado, violentamente afastado da companhia importante dos outros bovinos a que o ligam laços emotivos. A seguir cresce o pânico do transporte. Depois a espera, com pouco ou nenhum alimento e bebida. Talvez sendo injectado, a ponta dos cornos será cortada, provavelmente, até ao extremo vivo e muito enervado, ficando extrema e dolorosamente sensível ao contacto. Para não sangrar, cauteriza-se a sangue frio. (Há touros que não resistem a esta operação e morrem de acidente cardiovascular provocado pelo sofrimento). Sofre outras acções destinadas a fatigá-lo, debilitá-lo, retirar-lhe capacidade para a lide.

 

Mais tarde, a condução ao curro escuro da praça de touros. É empurrado a seguir para a arena (beco sem saída) suportando logo o enorme alarido da multidão e da música ruidosa (para se sobrepor aos seus berros), o que ainda mais o assusta, a visão ficando ofuscada pela luz do sol. Depois a provocação, o engano, o cravar das bandarilhas/arpões, que o ferem e magoam terrivelmente, através da pele, e não só, pois frequentemente também aponevroses, alguns músculos, tendões, vértebras, espáduas e, por vezes, até pleura e pulmão são atingidos, quando erroneamente cravado entre costelas. Tudo isto o faz sangrar e sofrer, o enfurece, magoa, deprime e esgota. Cavaleiros ou bandarilheiros massacram-no. Depois, exausto, física e psicologicamente, segue-se a (ou as pegas) pelos forcados, A seguir é retirado com as “chocas”. É amarrado e imobilizado por cordas em volta dos cornos. Brutalmente, tal como foram cravados, os ferros são agora retirados sem anestesia, arrancados ou por corte do couro.

 

No final de tudo isto, o animal é metido no transporte, esgotado, ferido e febril, em acidose metabólica horrível que o maldispõe e intoxica, até que a morte, habitualmente só alguns dias mais tarde, o liberte de tanto sofrimento. Frequentemente fica, até esse momento, encerrado em veículos de transporte num espaço exíguo, sabe-se lá com ou sem alimento e água e submetido a elevadas temperaturas.

 

E ninguém, independente, pode controlar isso.

 

Percurso do Cavalo explorado no toureio!

 

O cavalo sofre esgotamento e terrível tensão psicológica ao ser usado como veículo, sendo dominado, incitado e lançado pelo cavaleiro e obrigado a enfrentar o touro, quando a sua atitude natural seria a de fuga e de pôr-se a uma distância segura.

 

À força de treino, de esporas que o magoam e ferem, de ferros na boca e da barbela - corrente de metal à volta da mandíbula, que o magoam e o subjugam, o cavalo arrisca morte por síncope/paragem cardíaca, ferimentos mais ou menos graves e, até, a morte na arena por ser atingido pelo touro.

 

Opinião!

 

É difícil, senão impossível, acreditar que toureiros e cavaleiros tauromáquicos amem touros e cavalos, quando os submetem a violência, risco, sofrimento.

 

O mesmo se aplica aos aficionados, que aceitam isso.

Questiono-me: porque se continua a permitir uma actividade que assenta na violência e no sofrimento público de animais, legalizado e autorizado por lei e até apreciado, aplaudido e glorificado por alguns?

 

Numa verdadeira democracia não deveria ser permitida nem legalizada a tortura de animais.

 

Pergunta fundamental!  

 

E senhoras e senhores Deputad@s da Assembleia da República de Portugal o que acham e como vão votar? Pela abolição ou pela manutenção desta terrível violência contra seres sencientes (como os humanos) e indefesos e inocentes.

 

Recomendação para tomada de conhecimento!  

 

Recomendo aqui uma tomada de conhecimento da científica Declaração de Cambridge Sobre a Consciência em Animais Humanos e Não-Humanos de 7 de Julho de 2012 editada por Philip Low.

 

E mais dados científicos:

 

Os animais humanos e não humanos são seres dotados de sistema nervoso, mais ou menos desenvolvido, que lhes permitem sentir e tomar consciência do que se passa em seu redor e do que é agradável, perigoso e agressivo e doloroso.

 

Estes seres experimentam sensações, emoções e sentimentos muito semelhantes. Este facto leva-os a utilizar mecanismos de defesa e de fuga, sem as quais, não poderiam sobreviver. Portanto, medo e dor são condições essenciais de sobrevivência.

 

Afirmar-se que, nalguma situação não medicada, algum animal possa não sentir medo e dor se for ameaçado ou ferido, é testemunho da maior ignorância, ou intenção de negar uma verdade vital, falácia para tentar ocultar a crueldade da tauromaquia.

 

A ciência revela que o esquema anatómico, a fisiologia e a neurologia do touro, do cavalo e do homem e de outros mamíferos são extremamente semelhantes.

 

As reacções destas espécies são análogas perante a ameaça, o susto, o ferimento. O senso comum apreende isso e a ciência confirma-o.

 

Depois desta explicação, imaginem o sofrimento horrível que uma pessoa teria se fosse posta no lugar de um touro capturado e conduzido ao “calvário” de uma tourada.

 

Conclusão:

 

Seres humanos (tauromáquicos) não devem provocar a outros seres de sensibilidade semelhante (touros e cavalos), sofrimentos a que os próprios agressores (tauromáquicos) não aceitariam ser submetidos.

 

Porque é a desgraçada vítima dos chamados humanos, “corrido” e torturado?

 

Para diversão de aficionados, para o alimentar de egos e vaidades, para negociatas de tauromáquicos e no prosseguimento de uma cruel e obsoleta tradição.

 

É mais do que justo e chegado o tempo da abolição, o que só peca por tardar!!!

 

As importantes verbas que são atribuídas no apoio à tauromaquia e as isenções que lhe são oferecidas, seriam com justiça e utilidade, preferencialmente, utilizadas para mitigar imensas necessidades!

 

A tauromaquia é uma vergonha nacional.

 

Vasco Reis,

Médico veterinário aposentado

Aljezur»

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:18

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Comentários:
De Santos Oliveira a 18 de Julho de 2019 às 10:39
Sublinho e subscrevo: "(...) A tauromaquia é uma vergonha nacional."

Santos Oliveira
De Ricardo a 8 de Julho de 2020 às 00:58
Texto patético. Eu abomino as touradas. Tanto como estes textos nojentos propositadamente manipulados para se querer ter razao. A quantidade de vezes que o autor diz "provavelmente", "talvez até".... ou seja... bitaites para o ar. Depois a habil utilização poética e dramática de algumas passagens..... so falta as imagens em camera lenta. A descrição do sofrimento psicológico é.... patético. tudo com base na suposição. Mas a duvida é... estamos a falar de um veterinário que participa e sabe do que se passa ou e um veterinario que nunca presenciou uma tourada na vida e como tal a sua opiniao vale zero ? Se é para estar a supor visto de fora... podia ser um taberneiro que ia dar ao mesmo
De Isabel A. Ferreira a 8 de Julho de 2020 às 11:29
Patético é o seu comentário. Além de patético demonstra uma profunda ignorância sobre várias matérias, tais como BIOLOGIA, por exemplo.

Demonstra também que é uma criatura desprovida do sentimento mais nobre, mais poderoso do ser humano - a EMPATIA - a capacidade de se colocar no lugar do outro. A falta deste sentimento transforma o humano em desumano. A EMPATIA é o que dá ao homem o estatuto de SER HUMANO.

Nojentos são todos aqueles que, desprovidos de sentimentos e valores humanos, se divertem à custa do sofrimento de um animal, de um ser vivo senciente, tal como todo os seres humanos, não passando de calhaus com olhos, ou seja, criaturas desumanas, que nem gente são.

O autor deste texto: o Dr. Vasco Reis, estudou Medicina veterinária em Tierärztliche Hochschule Hannover e na Escola Superior de Medicina Veterinária de Lisboa.
Trabalhou na Suíça, Alemanha e Portugal, exercendo as suas funções de MÉDICO de animais não-humanos; e luta Pelo Direito à Vida de Todos os Seres Vivos, portanto tem todas as habilitações para saber o que diz quando diz que a tauromaquia é uma vergonha nacional. Um vómito, um escarro.

Patético é quem acha que um Touro NÃO É um animal, nem sofre como o animal humano, tendo ele um ADN semelhante ao dos humanos, sendo dotado de Sistema Nervoso Central. Mas um ignorante como o RICARDO, como vai perceber isto, se é apenas um CALHAU COM OLHOS, desprovido de sentimentos nobres e humanos?

Estamos a falar de um MÉDICO-VETERINÁRIO que já trabalhou nos bastidores das touradas ou não sabe ler? Não leu o título do texto? E foi precisamente por SABER o que é uma tourada e o que SOFRE o Touro, que ele abandonou esse “trabalho de carrasco” e se dedicou à DEFESA dos Touros, como qualquer ser humano RACIONAL o faz.

Só uma criatura IRRACIONAL, mais irracional e desprovida de emoções e sentimentos do que os Touros ou até do que uma pulga, ignorante, pois leu (se é que leu) o texto e não percebeu nada, poderia redigir este comentário.

E não ofenda os taberneiros, que são gente honesta, ganham a vida honestamente, e não a torturar animai, se bem que vendem álcool para os carrascos de Touros se emborracharem, e poderem ir para arena atacar um Touro indefeso, cobardemente.

Um comentário execrável, que veio de uma criatura execrável e ignorante, que não consegue ver um palmo adiante do nariz.

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