Manuel de Sousa, o que aqui está em causa é a IMPOSIÇÃO de uma linguagem mutilada que não partiu da EVOLUÇÃO NATURAL DA LÍNGUA, como aconteceu nas reformas ortográficas anteriores a 1990.
Desta linguagem, do tempo de D. Diniz,
«Vós me preguntades polo vosso amigo? E eu ben vos digo que é sano e vivo. Ai, Deus, e u é?»
passou-se NATURALMENTE, para a que hoje utilizamos.
Este ABORTO ORTOGRÁFICO de 1990 vem tão-só na sequência da MUTILAÇÃO IRRACIONAL da Língua, decretada por INTERESSES ECONÓMICOS.
As Línguas evoluem. Não se mutilam. Nem se vendem.
Veja um dos seus exemplos: passou-se de “practica” para “prática”, mas não se passou de direCtor, para dirÉtor.
Aliás, na linguagem nova, já não se escreve “que”, mas Q ou K. Não é mais fácil? Poupa-se tempo e vocábulos.
Dizer: tou indo…é mais a direito do que dizer “estou indo”…
Lá chegaremos… infelizmente.
De Manuel de Sousa a 10 de Junho de 2015 às 17:40
Cara Isabel, acho que confunde as coisas. Confunde a evolução da fonética, da sintaxe e da gramática da língua com a ortografia. A ortografia é o conjunto das regras que definem a escrita das palavras de uma dada língua. Estas regras são estáticas. Não evoluem "naturalmente"... São convenções, tal como o código da estrada. O vermelho é para parar e o verde para avançar apenas porque se convencionou que assim seria.
Indo buscar o exemplo de D. Dinis: seria perfeitamente aceitável que escrevêssemos "ben" em vez de "bem". Mas, na ortografia portuguesa, convencionou-se que as palavras nunca deveriam terminar em "n" mas sim em "m". É uma característica tipicamente portuguesa que, nesse pormenor, nos afasta das ortografias espanhola, francesa, inglesa, etc.
O que a leva a concluir que não foi mutilação o que se fez em 1911? Substituir o "ph" pelo "f" ou acabar com o "y"? Na época, a oposição também foi enorme. Teixeira de Pascoaes escreveu: «Na palavra lagryma, a forma da y é lacrymal; estabelece a harmonia entre a sua expressão graphica ou plastica e a sua expressão psychologica; substituindo-lhe o y pelo i é offender as regras da Esthetica. Na palavra abysmo, é a forma do y que lhe dá profundidade, escuridão, mysterio... Escrevel-a com i latino é fechar a boca do abysmo, é transformal-o numa superficie banal». Fernando Pessoa dizia que a ortografia sem y era um escarro que o enojava, etc. etc.
Como disse, a Isabel vê as alterações anteriores como evoluções perfeitamente naturais e aceitáveis e as novas como mutilações irracionais, abortos, etc. porque contraíam o que se habituou a ter como certo. Mas, muitas das pessoas que passaram por alterações anteriores também as acharam igualmente irracionais, aberrantes, etc.
Ou seja, é tudo uma questão de hábito! :)
De Anónimo a 10 de Junho de 2015 às 18:57
Comentário apagado.
De Manuel de Sousa a 10 de Junho de 2015 às 19:16
Discordo do que diz, mas respeito a sua opinião. Eu tenho 50 anos e adaptei-me sem problemas à nova ortografia. Uso-a diariamente, sem qualquer problema. E não me considero menos português por isso. Acredito que o tempo se encarregará de resolver este diferendo, à medida que a nova geração já escolarizada nesta nova ortografia for crescendo. Cumprimentos.
Caro Manuel de Sousa, claro que é muito mais fácil ACEITAR do que DISCORDAR.
Discordar, dá trabalho.
Não concordo nada consigo.
Espero que a Língua Portuguesa seja reposta, e que se ela tem de evoluir, que EVOLUA NATURALMENTE.
Não por decreto.
Passe bem, Manuel de Sousa.
De Luis não vás a 10 de Junho de 2015 às 22:23
Creio que a senhora terá escrito òbviamente e ràpidamente, caso contrário, dava erros.
Ò...bviamente...
Suponho que sabe o que significa "lapsus scriptae"...
Manuel de Sousa, não, não é uma questão de confundir as coisas, até porque cada coisa é uma coisa, em qualquer Língua: fonética, fonologia, sintaxe, gramática, ortografia, etimologia, léxico, morfologia, semântica, enfim… a Língua é algo complexo, que nós, os menos novos, aprendíamos em profundidade, com a “ajuda” do latim e do grego.
Eu, pessoalmente, apesar de ser portuguesa, aprendi a ler e a escrever no Brasil, porque fui para lá com dois anos. E tinha as “coisas” da Língua como definitivas.
Enganei-me.
Aos oito anos regresso a Portugal e tive de reaprender aquela Língua que ouvia de um modo em casa, e aprendia de outro modo, na escola, e foi então que me apercebi de que havia duas Línguas faladas e escritas de modo diferente.
Aos quinze anos, fui novamente para o Brasil, com uma bagagem da Língua onde já havia a aprendizagem do Latim e do Grego., o que me deu uma outra perspectiva da “minha” Língua.E nada mais foi igual.
Mas no Brasil, novamente, se quis continuar os estudos, tive de desaprender o que havia aprendido em Portugal e regressar àquela outra Língua que, para mim, já era desconhecida e mutilada.Aos vinte anos, depois de já ter frequentado a Universidade, regressei a Portugal definitivamente, e deparei-me outra vez com a “minha” Língua pátria. E voltei ao Latim e ao Grego.
O que aprendi e desaprendi, nestes entretantos, foi que a Língua Portuguesa tinha uma origem, que foi perdida no Brasil, por diversos motivos, e lá, o Latim era “língua” de missa. E o Grego era a Língua dos emigrantes que vieram da Grécia. Não se ia à origem das palavras. Em 1911 não houve mutilação.
Quando iniciei a minha carreira jornalística (quem diria?) escrevia-se “òbviamente”, “ràpidamente”, etc, e tive de aprender a reescrever aquilo que já tinha aprendido e desaprendido várias vezes.
Como vê, em mim, isto não é uma questão de não estar habituada a escrever “assim” ou “assado”.Os que trabalharam no acordo ortográfico de 1911, eram estudiosos da Língua Portuguesa, e não estavam PRESSIONADOS por editores que querem porque querem ganhar dinheiro, e há que colocar a Língua Portuguesa à venda, sem mais, nem porquê, e transformá-la no “simplex” tão socrático que deu cabo disto tudo.
Teixeira de Pacoaes (que muita gente escreve Pascoais erradamente) e Fernando Pessoa, grandes estilistas da nossa Língua, foram críticos das mudanças da época deles, sim, porque estavam “habituados” àquele tipo de escrita que aprenderam na escola. E as mudanças nem sempre são fáceis de aceitar.
Eu não. O meu motivo não é esse, porque aprendi a escrever ATO em vez de ACTO, e depois tive de aprender a escrever ACTO, e quis saber PORQUÊ.E nesse PORQUÊ é que está o âmago da minha CRÍTICA.
Aceitei, sem qualquer peleja, a escrever “obviamente” em vez de “òbviamente”. Mas não aceito escrever ATO (novamente), em vez de ACTO, apenas porque uns tantos senhores que não sabem o que fazem, querem porque querem a unificação de uma Língua, que já não é a Língua Portuguesa.
É apenas isto, caro Manuel de Sousa.
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