Quarta-feira, 9 de Março de 2022

O discurso de Volodymyr Zelenski ao Povo Russo, horas antes do ataque de Putin à Ucrânia

 

Um discurso brilhante que só os GRANDES HOMENS (reparem que não disse políticos) conseguem fazer, cheio daquela humanidade que vem da alma de um POVO.



Um discurso que talvez os Russos não tivessem ouvido, mas é um discurso que deve ser partilhado por todo o mundo.



Traduzi, das legendas em Castelhano, todo o discurso de Zelenski, que transcrevo depois do vídeo.


 
Slava Ukraini

Isabel A. Ferreira

 

 

Zelenski.png

 

- Hoje, telefonei ao presidente da Federação Russa.

- E qual foi o resultado? o silêncio.

- Todavia, o silêncio deveria estar em Donbass.

- Por isso, hoje, faço um apelo a todos os cidadãos da Rússia.

- Não como presidente. Mas como cidadão da Ucrânia.

- Partilhamos mais de 2.000 quilómetros de fronteira.

- Nela se encontra o nosso exército. Quase 200 mil soldados. Milhares de unidades.

- E o vosso líder deu luz verde para que avancem até nós.

- Até ao território de outro país.

- Este pode ser o primeiro passo para uma grande guerra na Europa.

- Em todo o mundo fala-se do que pode acontecer a qualquer momento.

- Qualquer provocação, qualquer fagulha que acabe incendiando tudo.

- Disseram-vos que essa chama trará liberdade ao Povo da Ucrânia.

- Mas o Povo da Ucrânia já é livre.

- Recordam o seu passado, estão a construir o seu futuro.

- Constroem-no, não o destroem, como vos dizem através da televisão.

- A Ucrânia que aparece nas vossas notícias e a realidade são diferentes.

- A diferença mais importante é que a nossa é verdadeira.

- Dizem-vos que somos nazis.

- Como podem chamar nazi a uma Nação que sacrificou oito milhões de vidas para acabar com o nazismo?

-Como posso ser um nazi, quando o meu Avô resistiu à guerra como membro da infantaria soviética,

- e morreu como Coronel de uma Ucrânia independente?

- Disseram-vos que odiamos a Cultura da Rússia. Como se odeia a Cultura?

- Os nossos vizinhos enriqueceram-nos culturalmente.

 - Isso não nos converte numa única entidade, tão-pouco nos separa.

- Somos diferentes, mas isso não é razão para sermos inimigos.

- Queremos construir a nossa própria História. pacificamente. Honestamente.

- Dizem-vos que dou ordem de atacar Donbass. Disparar sem perguntar.

 - Há duas perguntas afazer: disparar contra quem? Bombardear a quem?

 - Donetst? Onde já estive dezenas de vezes? Onde vi os seus rostos?

- Artema, onde estive andando com os meus amigos?

- O Estádio de Donbass? Onde apoiei a Selecção durante o Campeonato Europeu?

- O Parque Shcherbakova, onde fomos beber depois da derrota?

- Lugansk? O lar da melhor amiga da minha Mãe?

- Onde o seu Pai está enterrado?
- Estou a falar Russo.

- Ainda que ninguém na Rússia entenda o que estes nomes significam,

- estas ruas, estes acontecimentos.

- Tudo isto é desconhecido para vós. é a nossa terra, , a nossa história.

- Contra o que lutais? Contra quem?

- Muitos de vós, haveis visitado a Ucrânia, muitos têm família na Ucrânia.

- Alguns de vós, haveis estudado nas nossas universidades, feito amizades,

 - conheceis o nosso carácter, o nosso Povo, os nossos princípios.

- Sabeis que é o que mais apreciamos.

- Ouvi o vosso íntimo, o senso comum. Ouvi as nossas vozes.

- O Povo da Ucrânia quem Paz. As autoridades da Ucrânia querem Paz.

- Queremos Paz e fazemos tudo o que podemos.

- Não estamos sós. Muitos países apoiam a Ucrânia. Porquê?

- Porque não falamos na “paz a qualquer preço”.

- Falamos de Paz, Princípios, Justiça. O direito de decidir o nosso futuro, a segurança, e o direito de viver sem ameaças.

- Tudo isto é importante para nós. é importante para a Paz.

- Também é importante para vós.

- Temos a certeza de que não queremos uma guerra. Nem fia, nem quente, nem híbrida.

- Se nos ameaçam, se alguém tenta apoderar-se do nosso país, da nossa liberdade,

- das nossa vidas, das vidas dos nossos filhos… defender-nos-emos.

- Não atacaremos. Defender-nos-emos.

 - Se nos atacais, vereis o nosso rosto, não as nossas costas.

- A guerra implica pagar um enorme preço, em todos os sentidos.

- O Povo perde dinheiro, reputação, qualidade de vida, liberdade e a sua família.

- Perdem-se a si mesmos.

- Na guerra faltam muitas coisas.

- Mas o que há de sobra é dor, sujidade, sangue, morte.

- Milhares, dezenas de milhares de mortes.

- Dizem-vos que a Ucrânia é uma ameaça para a Rússia.

- Não era verdade antes, não é agora, nem será no futuro.

- Quereis garantias de segurança da NATO. Nós também.

- Queremos estar seguros de vós, da Rússia e de outras Nações.

- Não fazemos parte de nenhuma aliança de segurança.

- A segurança da Ucrânia depende da segurança dos nossos vizinhos.

 - Por isso, agora falamos da segurança de toda a Europa.

- Mas o nosso objectivo principal é a Paz na Ucrânia,

- a segurança dos nossos cidadãos, dos Ucranianos.

- Fazemo-lo saber a todos e avós também.

- A guerra acaba com todas as garantias. Ninguém terá segurança.

- Quem vai sofrer mais? É o Povo.

- Quem quer que isto pare, mais do que ninguém? É o Povo.

- Quem pode prevenir que isto se passe? O Povo.

- É certo que estas pessoas estão entre vós.

- Músicos, actores, atletas, cientistas, doutores, bloggers, comediantes, tiktokers…  

- Gente normal, gente sensível.

- Homens, mulheres, velhos, jovens, pais, e mais importante, mães,

- tanto quanto o Povo da Ucrânia, por muito que vos digam o contrário.

- Sei que este discurso não sairá na televisão russa,

-mas os cidadãos da Rússia têm que vê-lo. Têm que saber a verdade.

- A verdade é que isto tem de parar, antes que seja demasiado tarde.

- E se as autoridades da Rússia não querem falar connosco… talvez queiram falar convosco.

- O Povo da Rússia quer a guerra?

- Oxalá que pudesse responder a isto.

- A resposta depende de vós,

- cidadãos da Federação Russa.

- Obrigado.

 

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 19:15

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Terça-feira, 8 de Março de 2022

Cores da Ucrânia na Embaixada da Rússia (Lisboa)

 

Uns jovens tiveram a brilhante ideia de projectar as cores da Ucrânia, na fachada da Embaixada da Rússia, em Lisboa.

Uma acção extraordinária, com uma mensagem de um simbolismo político de grande peso: RÚSSIA: acabem com esta guerra insana!

 

Isabel A. Ferreira

 

Cores da Ucrânia na embaixada russa (Lisboa).png

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:56

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Domingo, 27 de Fevereiro de 2022

«Guerra na Ucrânia - Celebridades russas assumem posição contra a guerra na Ucrânia, “um ataque sem justificação”»

 

Influencers, modelos, políticos, cientistas, agentes culturais e outras figuras públicas têm usado as redes sociais para se manifestarem contra uma guerra “desprovida de sentido”.

 

Manifestação na Rússia.png

Manifestação na noite de quinta-feira em São Petersburgo, Rússia, contra a decisão de invadir a Ucrânia

 

Não à guerra! Em todo o mundo! Não à guerra e não à guerra!!!” A última publicação no Instagram da influencer russa Victoria Bonya, onde conta com quase 9,5 milhões de seguidores, é reveladora do estado de espírito de muitas celebridades e figuras públicas do país, dentro e fora de portas, que têm vindo a manifestar o desacordo com as acções do Presidente Vladimir Putin.

 

A supermodelo , embaixadora da Boa Vontade do Fundo de População das Nações Unidas, manifestou a sua tristeza no Instagram: “Como mãe, o meu coração vai para todas as mães que estão a sofrer as consequências dos recentes acontecimentos na Ucrânia e para todas as pessoas afectadas por este conflito.” Já a socialite Ksenia Sobchak, que chegou a apresentar-se como candidata presidencial em 2018, deixou, na quinta-feira, o aviso no Instagram: “Nós, os russos, vamos lidar com as consequências de hoje por muitos mais anos.”

 

Paralelamente, foi lançada uma petição contra a guerra pela jornalista do diário de economia Kommersant Elena Chernenko, que, entre os signatários, conta com jornalistas do grupo de media RBC, do jornal Novaya Gazeta, que tem Mikhail Gorbatchov como co-proprietário, do canal de televisão independente Dozhd, da rádio Ekho Moskvy, dos sites Snob e The Bell, mas também dos meios de comunicação social estatais TASS e RT.

 

O editor-chefe da Novaya Gazeta e Prémio Nobel da Paz de 2021, Dmitry Muratov, denunciou os avisos de Putin contra a interferência externa e fez eco ao apelo do Presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy para que os russos se levantassem contra a guerra. “Só o movimento antiguerra dos russos pode salvar vidas neste planeta”, declarou.

 

Mais de 150 cientistas e jornalistas de ciência russos também assinaram uma carta aberta contra a acção militar russa “injusta e francamente desprovida de sentido” na Ucrânia. “Os nossos pais, avôs e bisavós lutaram juntos contra o nazismo. O desencadear da guerra pelas ambições geopolíticas da liderança russa, impulsionada por fantasias históricas duvidosas, é uma traição cínica à sua memória”, lê-se no documento, publicado no site de notícias de ciência TrV-Nauka. “A Ucrânia era e continua a ser um país próximo de nós. Muitos de nós temos familiares, amigos e colegas na Ucrânia.”

 

No campo da política, já foram mais de 150 os deputados municipais de cidades russas que condenaram formalmente o ataque à Ucrânia. “Esta é uma atrocidade sem precedentes, para a qual não há nem pode haver qualquer justificação.” Na cultura, a directora do Teatro Meyerhold, Yelena Kovalskaya, anunciou a sua demissão através do Facebook: “É impossível trabalhar para um assassino e receber dele o salário.

 

A Rússia iniciou o ataque à Ucrânia na madrugada desta quinta-feira, 24 de Fevereiro. Menos de 48 horas depois, as tropas russas cercam Kiev. A Ucrânia refere que pelo menos 137 pessoas morreram na sequência dos ataques, que acusam de não estarem a ser dirigidos apenas a alvos militares.

 

Fonte: Jornal PÚBLICO

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:38

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Terça-feira, 26 de Janeiro de 2021

Quando a pandemia acabar, não queremos regressar à normalidade, nem a um novo normal, queremos regressar a um Mundo Novo…

 

… como o idealiza e reflecte a escritora e professora universitária Idalete Giga.

Ser emocionalmente racional é a palavra-chave, para o Mundo que aí vem. Esta é a mensagem.

Isabel A. Ferreira

 

Paraíso.jpg

 

«O Vírus Justiceiro, como eu lhe chamo, veio acordar o mundo e avisar a Humanidade inteira de que temos urgentemente de mudar de vida, ou seja, os nossos hábitos em todas as áreas do quotidiano. Mas não são só os nossos hábitos que terão de mudar radicalmente. É o paradigma económico, financeiro, educacional, cultural, etc. em todo o planeta que mudará para melhor.

 

Adeus capitalismo selvagem. Adeus reino da quantidade. Adeus exploração desenfreada. Adeus offshores. Adeus fabrico de armas. Adeus tráfico de seres humanos, de droga, de armas (!). Adeus prostituição. Adeus mercados bolsistas que se regulam pelo absurdo, pelo enriquecimento ilícito, pela completa IRRACIONALIDADE. Adeus mundo do ódio, das guerras absurdas que são alimentadas pelo negócio criminoso, altamente repugnante e desumano da venda de armas. Quem as vende aos países em guerra? Os EU, a China, a Rússia, a Alemanha, a Itália, a França, a Espanha, etc. , etc.. Portugal não vende, mas compra. E eu pergunto: para quê?» (Idalete Giga)

 

***

 

brain-vs-heart.jpg

 

Emoção versus banalidade

 

Ser banal

É ser vulgar

E não se emocionar

Quando passa

No caminho da vida

E apenas vê

De fugida

O chão que pisa

 

Ser banal

É ser vulgar

E não se emocionar

Com o assobiar

Do vento

O canto dos pássaros

O canto do mar

O cintilar das estrelas

A lua cheia

A beijar o oceano

Com a sua luz prateada

O sol a nascer

No fim da madrugada

Ser banal

É ser vulgar

E não se emocionar

com os campos em flor

O ouro das árvores

Os poentes de fogo

As lágrimas da chuva

 

Ser banal

É ser vulgar

E não se emocionar

Com a ternura

De um canto de embalar

 

Ser banal

É ser vulgar

 E não se emocionar

Com a profunda tristeza

No olhar

De uma criança abandonada

 

Ser banal ´

É ser vulgar

É não ter compaixão

É ter medo de amar

Tudo o que pulsa

Em constante vibração

Subindo

E convergindo

Para o Infinito. 

      

Idalete Giga

Paço de Arcos, 17/ Dezembro/2020

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:23

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Quinta-feira, 21 de Maio de 2020

… No entanto, mantenho a esperança de que a mudança surja na próxima curva da estrada...

 

Tal como um Dom Quixote há muito que também eu luto contra o Medo, contra a Injustiça e contra a Ignorância… muitas vezes com êxito, outras, nem por isso.

 

Em 2016, escrevi o texto que aqui hoje reproduzo, porque já naquele tempo eu pressentia um mundo a vir, povoado por algo que não podia ainda imaginar.

 

Hoje, que o mundo anda virado do avesso, devido a uma essência invisível, mais poderosa do que o mais poderoso dos homens, repito essas palavras, escritas com desalento, mas mantendo a esperança de que a mudança surja na próxima curva da estrada

 

Foi nessa esperança que Dom Quixote assentou toda a exuberância da sua saga…

 

Dom Quixote.jpg

 

É com profundo descrédito no bom senso, na inteligência e no poder de discernimento dos homens que entro no ano de 2016 [leia-se 2020].

 

… No entanto, mantenho a esperança de que a mudança surja na próxima curva da estrada…

 

Bem gostaria de aqui deixar uma mensagem optimista dos tempos que estão para vir, mas as notícias que nos chegam do mundo não são as mais propícias.

 

Quanto mais a Humanidade avança no tempo, mais retrocede o poder de raciocínio do homem, mais irracional ele se torna e, por este andar, não tarda, regressaremos ao tempo das trevas, ou talvez ao fim de uma era.

 

Até há alguns anos, à partida, para mim, todos os homens eram bons, até demonstrarem o contrário. Hoje, o meu pensamento mudou: tantas foram as decepções, tantos foram os desaires!...

 

Hoje, à partida, para mim, todos os homens são maus, até demonstrarem o contrário. E esta mudança, bastante radical, confesso, começou a operar-se depois que entrei neste mundo imundo que aqui vou denunciando, quando fui penetrando a fundo nos problemas políticos, melhor dizendo, nos desajustes dos políticos que estão na base de todos (ou quase todos) os desequilíbrios sociais, económicos, morais, culturais e até religiosos de toda a sociedade humana.

 

O avanço tecnológico, mal orientado e mal aproveitado, tem levado a Humanidade ao caos. Os valores humanos estão a diluir-se, e o homem está a transformar-se num ser vazio e irracional.

 

Já não há respeito pela vida, não há respeito pelos outros animais, mão há respeito pelo Ambiente, não há respeito por absolutamente nada, porque o homem deixou de se respeitar a si próprio, e este é o pior dos desrespeitos, é o começo da desestruturação do ser, que leva à desintegração de toda a sociedade.

 

E aqueles que, agarrados a um fiozinho da racionalidade que ainda se vislumbra algures, entre as ruínas do mundo, parece que perdem o seu tempo, tentando abrir os olhos e os ouvidos daqueles que há muito deixaram de ver e ouvir, não por motivo de alguma doença súbita, mas levados por um egoísmo desmedido que os lançou na ignorância, ao ponto de se ignorarem a si próprios.

 

Chico Mendes.jpg

(Origem da imagem)

http://semeadoresdadiscordia.blogspot.pt/2008/01/chico-mendes.html

 

Recordo, hoje, aqui e agora, Chico Mendes, um seringueiro, sindicalista, activista político e ecologista brasileiro, assassinado nas vésperas do Natal de 1988, apenas porque compreendia as árvores, acarinhava a água e respeitava as flores, ao ponto de não querer flores no seu enterro, pois sabia que as iam arrancar da floresta…

 

Chico Mendes era um ambientalista, que apenas pretendia defender a Amazónia, pretendia defender a vida do nosso Planeta, e os tais ignorantes assassinaram-no.

 

Por todo o mundo, em pleno século XXI depois de Cristo, ouvimos falar de guerras, de um terrorismo com consequências incalculáveis, porque os governantes endoideceram, e o povo endoideceu com eles, e não há nada nem ninguém que faça parar esta loucura.

 

Na Rússia e nos EUA passa-se fome. Em países da dita civilizada Europa vegeta-se e morre-se. Na África, milhares de pessoas estão condenadas. Nos países ricos esbanjam-se bens, esbanja-se dinheiro e esbanjam-se vidas.

 

Um desequilíbrio cósmico instalou-se no nosso Planeta, e mais perigosamente no íntimo dos homens, e a poluição do meio ambiente aliou-se a uma poluição mental, que está a conduzir o mundo para o abismo.

 

Num destes dias, em conversa com uns amigos, chamaram-me a atenção para a visão pessimista que eu tenho em relação à sociedade, aos políticos, aos governantes…

 

É verdade!

Mas que motivos terei eu para ser optimista?

 

… No entanto, mantenho a esperança de que a mudança surja na próxima curva da estrada…

 

Podem chamar-me de desatinada, quando me vêem sorrir para as flores, mas é que eu entendo a linguagem das flores…

Podem chamar-me de desatinada quando canto ao desafio com os pássaros, mas eu sei de cor todas as canções que os pássaros cantam, sem pauta, sem métrica, mas com muita harmonia…!

 

Podem chamar-me de desatinada, quando me encontram a acarinhar um Lobo, mas eu tenho alma de Lobo, sei das emoções dos meus irmãos animais…

 

Podem chamar-me de desatinada quando me quedo a escutar o silêncio, mas podem crer que o som do silêncio é extasiante, é o mais eloquente som da Natureza.

 

Não me perguntem como, nem por que tenho a percepção deste meu mundo feito de coisas invisíveis, acantoado por detrás desse outro mundo que todos julgam real, mas que, na realidade, não passa de uma miragem no infinito deserto, que é a vida dos que não conseguem ver o invisível…

 

Que razões tenho eu para ser optimista quando os que me rodeiam não conseguem ver o mundo das flores; não conseguem acompanhar o canto harmonioso dos pássaros; não conseguem sentir a respiração da alma dos Lobos; ou ouvir o vibrante som do silêncio?

 

Apenas uma certeza faz com que possa vislumbrar uma luz ao fundo do túnel: é que, tal como Miguel de Cervantes, eu também acredito ferverosamente que «Deus suporta os maus, mas não eternamente» …

 

Por isso, um a um, aqueles homens maus, cujo único objectivo da existência deles é violar a harmonia cósmica, cairão um dia. Sempre assim foi, desde o princípio dos tempos… Todos os tiranos da Humanidade caíram inevitavelmente… E aos maus, jamais nenhum Homem de bem ergueu uma estátua. E se as ergueram, por equívoco, logo as derrubaram.

 

E nesta mensagem de Ano Novo que aqui vos deixo, um tanto ou quanto pessimista, continuo a manter a esperança de que a mudança surja na próxima curva da estrada… 

 

Isabel A. Ferreira

 

Fonte: 

https://arcodealmedina.blogs.sapo.pt/no-entanto-mantenho-a-esperanca-de-608100

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:53

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Quarta-feira, 17 de Janeiro de 2018

QUE PORTUGUÊS PARA A ONU?

 

ONU.jpg

 

Na entrevista feita pelo acordista Jornal Expresso a Luís Faro Ramos, presidente do “Camões” – Instituto da Cooperação e da Língua (mas qual língua?) li que fazer do Português uma das línguas oficiais da ONU é uma aposta estratégica do Governo (mas qual governo?). E esta foi uma das razões que levaram Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios dos Estrangeiros, a nomear pela primeira vez um diplomata para dirigir o instituto que tutela a língua e a cooperação.

 

E aqui colocam-se algumas questões: o tal “Camões” que agora é cooperador dos verdugos da Língua Portuguesa, nesta questão, estará a servir os interesses de quem? De Portugal, como Estado soberano e independente de influências estrangeiras, ou do Portugal subserviente aos interesses do Brasil?

 

É que a Portugal só interessa apresentar na ONU a Língua Materna Portuguesa, na sua versão culta e europeia, para não destoar das restantes Línguas Maternas cultas (algumas europeias) que fazem parte das línguas oficiais da ONU, a saber: o Inglês (de Inglaterra e não das ex-colónias); o Francês (de França e não das ex-colónias); o Chinês (o mandarim e não nenhum dos dialectos chineses); o Espanhol, (de Espanha e não das ex-colónias); o Árabe culto e não nenhuma das suas variantes; e o Russo, Língua Materna da Rússia e de vários outros países da Eurásia, e não nenhuma das suas variantes.

 

Ora não podemos apresentar na ONU outra língua que não seja a Língua Materna de Portugal, que é a Língua Portuguesa na sua versão falada e escrita, culta e europeia, e não na variante ortográfica brasileira que tem implicações com a oralidade (por exemplo, os que escrevem “direto” terão forçosamente de ler “dirêto”, sob pena de estarem a pronunciar mal o monstrinho ortográfico), e a qual andam a impingir aos Portugueses.

 

Sabemos que a aposta estratégica do Governo é a de apresentar à ONU a versão brasileira da Língua Portuguesa, no que respeita à ortografia, até porque foram os Brasileiros que tiveram a ideia primeiro, porque acham que eles são milhões, e nós, os outros escreventes e falantes lusófonos, que incluem os Angolanos, Moçambicanos, Timorenses, Cabo-Verdianos, São-Tomenses e Guineenses somos apenas milhares. Por isso, é tão importante para Santos Silva que os portuguesinhos aceitem o AO90 sem barafustar. A negociata passa por este detalhe. Por isso, o nosso ministro dos negócios DOS estrangeiros anda tão empenhadíssimo nesta negociata, e o “Camões” (quanto desprestígio para o Poeta!) ajuda a esta “missa (ão)”.

 

Portugal não pode impor-se internacionalmente com uma variante da Língua Portuguesa. Seria o desprestígio total. E penso que a ONU descartará essa possibilidade, a exemplo do que já fez o Vaticano: a Língua Portuguesa deixou de ser língua de trabalho na Cúria Romana, por ter perdido o seu cunho de língua culta europeia...

 

(Ler notícia aqui)

A SANTA SÉ FARTOU-SE DO ACORDO ORTOGRÁFICO DE 1990

http://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/a-santa-se-fartou-se-do-acordo-22657

 

LUSOFONIA: BISPOS LAMENTAM SUSPENSÃO DO USO DA LÍNGUA PORTUGUESA NOS PROCESSOS DE CANONIZAÇÃO

http://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/lusofonia-bispos-lamentam-suspensao-do-48332

 

Seria uma vergonha, um país europeu impor-se internacionalmente com um dialecto mutilado, e não com a Língua Materna, como todo os outros.

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 11:54

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Sexta-feira, 1 de Janeiro de 2016

… No entanto, mantenho a esperança de que a mudança surja na próxima curva da estrada...

 

Foi nessa esperança que Dom Quixote assentou toda a exuberância da sua saga…

Tal como Dom Quixote, há muito que também eu luto contra o Medo, contra a Injustiça e contra a Ignorância… Muitas vezes com êxito, outras, nem por isso...

 

2-DSCN8320[1] MIGUEL.jpg

 

É com profundo descrédito no bom senso, na inteligência e no poder de discernimento dos homens que entro no ano de 2016.

 

 

… No entanto, mantenho a esperança de que a mudança surja na próxima curva da estrada…

 

Bem gostaria de aqui deixar uma mensagem optimista dos tempos que estão para vir, mas as notícias que nos chegam do mundo não são as mais propícias.

 

Quanto mais a Humanidade avança no tempo, mais retrocede o poder de raciocínio do homem, mais irracional ele se torna e, por este andar, não tarda, regressaremos ao tempo das trevas, ou talvez ao fim de uma era.

 

Até há alguns anos, à partida, para mim, todos os homens eram bons, até demonstrarem o contrário. Hoje, o meu pensamento mudou: tantas foram as decepções, tantos foram os desaires!...

 

Hoje, à partida, para mim, todos os homens são maus, até demonstrarem o contrário. E esta mudança, bastante radical, confesso, começou a operar-se depois que entrei neste mundo imundo que aqui vou denunciando, quando fui penetrando a fundo nos problemas políticos, melhor dizendo, nos desajustes dos políticos que estão na base de todos (ou quase todos) os desequilíbrios sociais, económicos, morais, culturais e até religiosos de toda a sociedade humana.

 

O avanço tecnológico, mal orientado e mal aproveitado, tem levado a Humanidade ao caos. Os valores humanos estão a diluir-se, e o homem está a transformar-se num ser vazio e irracional.

 

Já não há respeito pela vida, não há respeito pelos outros animais, mão há respeito pelo Ambiente, não há respeito por absolutamente nada, porque o homem deixou de se respeitar a si próprio, e este é o pior dos desrespeitos, é o começo da desestruturação do ser, que leva à desintegração de toda a sociedade.

 

E aqueles que, agarrados a um fiozinho da racionalidade que ainda se vislumbra algures, entre as ruínas do mundo, parece que perdem o seu tempo, tentando abrir os olhos e os ouvidos daqueles que há muito deixaram de ver e ouvir, não por motivo de alguma doença súbita, mas levados por um egoísmo desmedido que os lançou na ignorância, ao ponto de se ignorarem a si próprios.

 

CHICO.jpg

(Origem da imagem)

http://semeadoresdadiscordia.blogspot.pt/2008/01/chico-mendes.html

 

Recordo, hoje, aqui e agora, Chico Mendes, um seringueiro, sindicalista, activista político e ecologista brasileiro, assassinado nas vésperas do Natal de 1988, apenas porque compreendia as árvores, acarinhava a água e respeitava as flores, ao ponto de não querer flores no seu enterro, pois sabia que as iam arrancar da floresta…

 

Chico Mendes era um ambientalista, que apenas pretendia defender a Amazónia, pretendia defender a vida do nosso Planeta, e os tais ignorantes assassinaram-no.

 

Por todo o mundo, em pleno século XXI depois de Cristo, ouvimos falar de guerras, de um terrorismo com consequências incalculáveis, porque os governantes endoideceram, e o povo endoideceu com eles, e não há nada nem ninguém que faça parar esta loucura.

 

Na Rússia e nos EUA passa-se fome. Em países da dita civilizada Europa vegeta-se e morre-se. Na África, milhares de pessoas estão condenadas. Nos países ricos esbanjam-se bens, esbanja-se dinheiro e esbanjam-se vidas.

 

Um desequilíbrio cósmico instalou-se no nosso Planeta, e mais perigosamente no íntimo dos homens, e a poluição do meio ambiente aliou-se a uma poluição mental, que está a conduzir o mundo para o abismo.

 

Num destes dias, em conversa com uns amigos, chamaram-me a atenção para a visão pessimista que eu tenho em relação à sociedade, aos políticos, aos governantes…

 

É verdade!

Mas que motivos terei eu para ser optimista?

 

… No entanto, mantenho a esperança de que a mudança surja na próxima curva da estrada…

 

Podem chamar-me de desatinada, quando me vêem sorrir para as flores, mas é que eu entendo a linguagem das flores…

Podem chamar-me de desatinada quando canto ao desafio com os pássaros, mas eu sei de cor todas as canções que os pássaros cantam, sem pauta, sem métrica, mas com muita harmonia…!

 

Podem chamar-me de desatinada, quando me encontram a acarinhar um Lobo, mas eu tenho alma de Lobo, sei das emoções dos meus irmãos animais…

 

Podem chamar-me de desatinada quando me quedo a escutar o silêncio, mas podem crer que o som do silêncio é extasiante, é o mais eloquente som da Natureza.

 

Não me perguntem como, nem por que tenho a percepção deste meu mundo feito de coisas invisíveis, acantoado por detrás desse outro mundo que todos julgam real, mas que, na realidade, não passa de uma miragem no infinito deserto, que é a vida dos que não conseguem ver o invisível…

 

Que razões tenho eu para ser optimista quando os que me rodeiam não conseguem ver o mundo das flores; não conseguem acompanhar o canto harmonioso dos pássaros; não conseguem sentir a respiração da alma dos Lobos; ou ouvir o vibrante som do silêncio?

 

Apenas uma certeza faz com que possa vislumbrar uma luz ao fundo do túnel: é que, tal como Miguel de Cervantes, eu também acredito ferverosamente que «Deus suporta os maus, mas não eternamente» …

 

Por isso, um a um, aqueles homens maus, cujo único objectivo da existência deles é violar a harmonia cósmica, cairão um dia. Sempre assim foi, desde o princípio dos tempos… Todos os tiranos da Humanidade caíram inevitavelmente… E aos maus, jamais nenhum Homem de bem ergueu uma estátua. E se as ergueram, por equívoco, logo as derrubaram.

 

E nesta mensagem de Ano Novo que aqui vos deixo, um tanto ou quanto pessimista, continuo a manter a esperança de que a mudança surja na próxima curva da estrada… 

 

Isabel A. Ferreira

01 de Janeiro de 2016

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 10:45

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Quinta-feira, 17 de Abril de 2014

Golfinhos reconhecidos como pessoas não-humanas, legalmente na Índia

  

Este é o começo de uma nova consciência  

 

 
 

ÍNDIA, MAIO DE 2013

 

O India's Ministry of Environment and Forests, Ministério do Meio-Ambiente e Florestas da Índia, em uma iniciativa ético-política sem precedentes na História da Humanidade, reconheceu - oficialmente, os golfinhos como "pessoas não-humanas" cujo direito à Vida e Liberdade devem ser respeitados.

 

A decisão abre um novo horizonte na esfera do Universo dos direitos referentes à Vida. Significa a introdução de conceito jurídico de sujeito detentor de direitos sociopolíticos que, finalmente transcende o antropocentrismo das leis que protegem a Vida.

 

O Ministério orientou os governos estaduais a proibir os dolphinariums e outros empreendimentos comerciais, como os de entretenimento cujo "produto" oferecido são shows com baleias e golfinhos mantidos em cativeiro e todos aqueles mais que impliquem captura (caça) e confinamento das espécies.

 

O comunicado do governo declara claramente que considerando que - nos dias actuais, já há algum tempo, as Ciências estabeleceram definitivamente que espécies de cetáceos são - inegavelmente - seres inteligentes, auto-conscientes, dotados de sentimentos (capacidade de sentir emoções) e até identidade individual, estes seres, devem ser vistos como pessoas não humanas - (recusando a ideia de que são animais irracionais)... e - como tal, devem ter seus próprios direitos específicos.

 

Golfinhos tornaram-se, assim, ao menos na Índia, por enquanto - Legalmente Pessoas 'Não Humanas' - considerados como indivíduos animais racionais (sapiens, como os Homens) mamíferos terráqueos aquáticos Não-Humanos titulares de direitos políticos, sujeitos ou objecto, especialmente, de protecção legal em disposição inclusa nos Códigos do Direito à Pessoa (o Direito Civil e Constitucional) vigente nas águas territoriais que estes indivíduos frequentam ou habitam.

 

A nova Lei responde ao clamor popular dos protestos que, durante semanas, denunciou como violação do direito à vida e ao bem estar-animal - a construção de um novo parque aquático (com golfinhos e outros mamíferos marinhos no show) no estado de Kerala.

 

O parque de Kerala não era o único: várias outras instalações semelhantes estavam em construção em diferentes partes do país, como Delhi, Mumbai e Kochi. Agora, as obras desses empreendimentos foram canceladas por proibição governamental.

 

A porta-voz da Federação das Organizações Indianas de Protecção aos Animais - Puja Mitra, comentou: «Isso abre um novo discurso da Ética na política da protecção animal na Índia». Mitra é uma das lideranças do movimento indiano para extinguir a prática de cativeiro de golfinhos.

 

DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DOS CETÁCEOS

 

A militância civil para o reconhecimento de baleias e golfinhos como indivíduos com autoconsciência e um conjunto de direitos começou a actuar significativamente há três anos, em Helsink - Finlândia, quando cientistas da Biologia e especialistas em Ética elaboraram a Declaração dos Direitos dos Cetáceos. Esses sábios escreveram: Nós afirmamos que todos os cetáceos, como pessoas, têm direito à Vida, à Liberdade e Bem-estar.

 

Entre os signatários da Declaração inclui-se o cientista marinho Lori Marino, que apresentou evidências de que os cetáceos têm cérebros grandes e complexos, especialmente as áreas que participam dos processos de comunicação e cognição (capacidade de conhecer, reconhecer e aprender).

 

O trabalho de Marino mostrou que golfinhos têm um nível de autoconsciência semelhante ao dos seres humanos. Os golfinhos reconhecem seu próprio reflexo, usam ferramentas e entendem conceitos abstractos. Possuem silvos que são assinaturas individuais, permitindo à seus familiares e amigos reconhecê-los, tal como os humanos utilizam os nomes próprios.

 

Mitra explica: Eles compartilham intimidades, mantêm estreitos laços com seus grupos familiares, têm sua própria cultura, suas próprias práticas de caça e mesmo variações na forma como se comunicam.

 

PESSOAS, ARTISTAS... JAMAIS, ESCRAVOS

 

Na Índia, a questão dos Direitos dos Cetáceos chamou a atenção à medida que se multiplicaram os shows com esses animais.

 

A renda per capita cresceu no país, ampliando as oportunidades de um mercado de entretenimento onde este tipo de show aquático atrai multidões.

 

Mitra denuncia: «A maioria das baleias e golfinhos em cativeiro foram "obtidos" através de caça selvagem muito violenta, praticada no Japão, em Taji, no Caribe, nas Ilhas Salomão e Rússia. Os animais são acuados de forma tal que são obrigados a entrar em alguma baía rasa onde jovens fêmeas sem marcas são escolhidas e capturadas. Muitas vezes, o resto do grupo é abatido (assassinado).»

 

Mitra revela que a experiência do cativeiro é equivalente à tortura. Baleias como as orcas, preferidas para os shows e golfinhos, em liberdade, navegam pelos mares emitindo e capturando sons que lhes permitem a exercer a faculdade da ecolocalização. Nos tanques, obrigados a perceber o mundo limitados as reverberações de suas próprias vozes, essa faculdade torna-se uma maldição que provoca intenso sofrimento.

 

Existem numerosos casos registrados de muitos golfinhos que batem insistentemente com a cabeça nas paredes e orcas que desgastaram seus dentes mordendo os limites do tanque (evidentemente, o comportamento de um ser neurotizado e desesperado).

 

Fonte:

https://www.facebook.com/249609058435634/photos/a.289251934471346.73099.249609058435634/655082347888301/?type=1&theater

 

***

Falta o respeito pelas mulheres.

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 10:30

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Quinta-feira, 7 de Maio de 2009

«O Tormento de Deus»

 

Copyright © Isabel A. Ferreira 2009
 
 
 
 
 Lá... entre o Bosque e o Riacho, onde Deus vive...
Imagem do Monsterio de Santa María de Oseira (Oseira- Ourense)
 
 
Tudo começou com um convite de Manuel Ferreira Lopes*:

«Não gostaria de visitar o Mosteiro Cisterciense de Oseira, em Ourense, entre a montanha dourada dos carvalhais galegos, onde se respira a espiritualidade dos monges brancos que o habitam?»
 
Não hesitei. Como poderia eu recusar a oportunidade de fugir da selva de cimento e da incivilização que a caracteriza, e embrenhar-me num bosque, algures entre as montanhas, onde os riachos cantam como as aves; onde a vida se renova, em cada madrugada; onde as velhas pedras conservam o segredo dos tempos e a memória dos homens?...
 
A principal razão desta minha primeira visita a Oseira foi a de contactar a comunidade dos monges brancos e dela dar conhecimento, podendo com isso, despertar, porventura, novas vocações entre os jovens portugueses, para que seja possível activar um mosteiro cisterciense, no nosso país, onde existem tantos mosteiros em ruínas, ao contrário (para não ir mais longe) do nosso país irmão: a Espanha.
 
Estávamos em 1992.
Gostaria hoje de reviver o Encontro e a Descoberta, que fiz então, pois em tudo (como sempre) pensou Manuel Lopes, ao dar-me a conhecer a existência do Mosteiro de Oseira, cravado nos montes da Galiza.
 
Falar de Deus ou das coisas de Deus é concebível apenas quando nos abstraímos do mundo materialista tal como ele se nos apresenta hoje: vazio do tão necessário espiritualismo que nos conduz ao Supremo Ser, ao Criador de todas as coisas – visíveis e invisíveis.
 
Quem ainda não se deu conta de que Darwin começou o estudo da sua teoria da evolução, a partir precisamente do ponto em que Deus deu por terminada a Sua intervenção na criação do Universo?
 
Esse espiritualismo não o encontro eu nos templos que por aí abundam, onde o mundanismo, o materialismo e um exacerbado consumismo imperam, esvaziando toda a essência divina do sentimento religioso.
 
Deus, encontrei-O eu em Oseira, no sorriso dos seus monges; na sua simplicidade; na sua bondade; no seu labor de cada dia; nas suas orações; nos seus cânticos gregorianos; nos seus rituais litúrgicos; no seu absoluto despojamento das coisas supérfluas; na vida contemplativa que escolheram viver.
 
Deus, encontrei-O eu entre as velhas pedras do Mosteiro, resgatado das cinzas pelos próprios monges; nas águas cantantes do riacho que o contorna; no bosque dourado que lhe dá a sombra; nos prados verdes, onde tranquilamente o gado pasta; nas montanhas que o protegem dos ventos agrestes; e do silêncio que nos abraça com ternura.
 
Na verdade, estes monges cistercienses, afectos a São Bernardo, um dos reformadores da Ordem de Cister, representam os mais preciosos valores de que este nosso mundo conturbado necessita para sobreviver, segundo as regras humanas.
 
Com eles os crentes fortalecem a sua fé, e os não crentes são seduzidos por uma luz tentadora; pela profunda espiritualidade que deles emana, e por um silêncio que, inevitavelmente, nos catapulta para um mundo que não o terreno.
 
E foi lá, no seio daqueles monges brancos, entre o bosque e o riacho que, naquele tempo, encontrei Deus, há muito perdido de mim.
 
 
Depois de ter assistido ao Ofício de Completas, à hora em que os monges celebram o cair da noite e o fim de um dia de labor, e, solenemente, entoam a Salvé Cisterciense, numa cerimónia que remonta ao Século XIII, colocando nas mãos da Santíssima Virgem o mérito de uma vida de total consagração a Deus; e antes de me recolher, Manuel Lopes, discretamente, levou-me para um canto do claustro e ofereceu-me um pequeno livro, para ler antes de adormecer, com a seguinte dedicatória: «À Isabel Ferreira, esta leitura elegíaca da tranquilidade espiritual que buscamos neste lugar de criativo e dulcificante silêncio…»
 
Foi então que descobri o poeta Alain Bosquet, no Mosteiro de Oseira, entre o conforto simples, despojado de luxo, da cela n.º 17, envolvida pelo místico silêncio, que aquelas velhas pedras tornam ainda mais misterioso.
 
«O Tormento de Deus» – assim se chamava o livro de poemas, que tinha entre as mãos, numa edição precisamente daquele ano, 1992, da Quetzal Editores.
 
Hoje, posso afirmar com grande lucidez, que nenhuma outra leitura poderia ter sido mais oportuna do que esta, àquela hora e naquele lugar. Tão bem o sabia Manuel Lopes!
 
Deus disse: Se tal vos repugna,
não acrediteis em mim,
mas ficaria feliz
se encontrásseis algum encanto
num ou noutro ser da minha lavra:
o búzio, onde dorme a música,
o plátano, que cresce para lá das estrelas,
o mar, que diz cem vezes: «Eu sou o mar».
Sinto-me muito humilde:
O meu universo não é mais belo
do que um poema perdido.
 
Eu acabara de descobrir um Poeta.
Um poeta que me falava do tormento de Deus – o ser mais solitário entre todos os seres que Ele próprio criou:
 
«Estou triste», disse Deus,
«por ter nascido adulto.
Jamais tive uma infância
nem alguma vez me permitiram
a descoberta de um mundo
já formado.
Não encontrei ninguém
a quem dizer: “Bom dia, meu pai!”
Nem “Minha mãe, como é que tem passado?”
Não me sinto sem culpa.
Todos eles – o sílex, a lava, a peónia,
o mosquito, o homem, o zéfiro,
exigiam que eu fosse activo e responsável.
Estou triste:
Falta-me um passado.»
 
Descobri um Poeta que me falava de um Deus inseguro:
 
Deus disse: «Entre mim mesmo e eu,
sinto que falta 
uma espécie de doçura;
eis porque improviso um colibri,
algum orvalho,
uma ligeiríssima ilha,
um cântico de amor e um sonho intermitente
onde se passeia um outro deus.»
 
Descobri um Poeta, que ao falar do tormento de Deus, me falava do seu próprio tormento:
 
O homem queixa-se:
«Tu deste-me um corpo
mais pequeno que o corpo da montanha.
Deste-me um cérebro
com que não posso compreender-me.
Deste-me um coração
que não serve para me aceitar.
Deste-me palavras,
que são um luxo na minha desordem.
Deste-me um deus
o qual não sei quem é, se eu, se tu.»
 
E foi assim que, num mesmo dia, conheci os monges brancos de Oseira, que me devolveram a crença numa espiritualidade que eu julgava perdida; tive um encontro com Deus, entre aquelas velhas pedras do Mosteiro, rodeadas pelo riacho, o bosque, os prados e a montanha; e descobri um Poeta, no silêncio da cela onde pernoitei.
 
E o mundo pareceu-me então feito à medida da minha compreensão.
 
 
Hoje, «O Tormento de Deus» acompanha-me, para onde quer que eu vá.
É um livro de uma erudição belíssima, independentemente de se crer ou não em Deus. A sua leitura serena as nossas inquietações.
 
O seu tradutor (um excelente tradutor), Jorge Guimarães, diz de Alain Bosquet, na introdução: «A ideia de Deus habita esse espírito tanto no temor, como no ódio, como na indiferença». Bosquet «improvisa, discorre, ironiza, perdoa, comove-se e exalta-se, e tudo na mesma palavra, e tudo no mesmo olhar».
 
As palavras de Bosquet deslizam serenamente pela nossa alma e diz-nos da dimensão do imensurável… E Deus disse ao seu poeta:
 
«Eu escolhi-te para que me informes
sobre a minha identidade».
O poeta é travesso: escreve uma palavra,
depois uma segunda, depois risca-as.
Deus mostra-se apressado:
«Diz aos homens como hão-de venerar-me:
criei-te para isso.»
O poeta sorri, escrevendo rosa,
e azul, e tucano,
e silêncio, e deus.
E diz:
«Todas as palavras são intermutáveis.»
 
Alain Bosquet nasceu na Rússia, antes da Revolução, oriundo de uma família judaica da alta burguesia, imigrado depois em França…
 
 
* Manuel Ferreira Lopes, nascido na Póvoa de Varzim, foi Director da Biblioteca Rocha Peixoto, naquela cidade. Um grande homem do Saber e da Cultura, o qual lá… entre o Bosque e o Riacho, onde Deus vive, tal como eu, encontrou o caminho da espiritualidade cisterciense.
 
 
E entre o Poeta Alain Bosquet e o Homem de Cultura Manuel Lopes sinto-me aquela que crê e nada sabe, e ama as palavras e com elas traça um trilho em areias movediças, ainda desconhecido…

Isabel A. Ferreira

 
 
publicado por Isabel A. Ferreira às 21:17

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