É esta “cultura” que a Assembleia da República Portuguesa quer para Portugal, com a cumplicidade da RTP, uma estação pública de televisão. Chamo a atenção para o desespero deste ser, que não deu o seu consentimento para estar ali, naquele lugar, a servir de divertimento a sádicos e a psicopatas.
Os órgãos de comunicação social portugueses não são lá muito virados para a causa da Abolição das Touradas, o que não admira, por motivos que não vou agora aqui evocar.
Por isso estranhei a publicação do artigo abaixo, no Jornal Público, e que com a devida vénia passo a transcrever, porque embora seja datado de Janeiro, ainda estamos a deglutir o que se passou naquela tarde em que a Assembleia da República decidiu que TORTURAR TOUROS faz parte da Cultura Portuguesa.
Não admira, contudo.
Se torturam o povo com os seus desmandos, porque não hão-de permitir que se torture Touros e Cavalos, apenas para se divertirem? É a política da Cultura da Morte a funcionar em pleno.
«A cultura da morte
Há quem considere que a tourada seja cultura, há quem a encare como tradição. Mas é apenas o que o homem tem de pior
David Andrade, jornalista do jornal PÚBLICO
http://p3.publico.pt/actualidade/sociedade/2065/cultura-da-morte
No final de Julho, o parlamento da Catalunha aprovou a proibição das corridas de touros naquela região de Espanha a partir de 1 de Janeiro de 2012, dando provimento a um requerimento assinado por 180 mil cidadãos. Tal como aconteceu na Catalunha, o assunto chegou este mês ao parlamento português por iniciativa da Campanha Anti-Tourada de Portugal, que lançou uma petição legislativa para a abolir as touradas. O (verdadeiro) debate nunca foi lançado e, sem surpresa, em Portugal, a maioria parlamentar rejeitou a iniciativa popular.
Para justificar a continuidade de uma “arte” na qual os animais são torturados para entretenimento de alguns humanos, Gabriela Canavilhas, deputada do PS, ex-ministra da Cultura e conhecida apoiante das lides tauromáquicas, falou em “manifestação inequivocamente cultural”. Mais à direita, o “aficionado” Duarte Marques, líder da JSD, disse ser “preciso respeitar a tradição” e lamentou o “fanatismo” dos movimentos que lutam pela abolição das corridas de touros.
No entanto, apesar de um poderoso "lobby" amparar a causa em Portugal, os números revelam um acentuado decréscimo da actividade no nosso país: em 2011 realizaram-se pouco mais de 230 touradas, a maioria delas nos distritos de Lisboa e Setúbal.
A culpa, segundo os apoiantes das lides, é da “crise económica” e do “mau tempo”. Desculpas à parte, a verdade é que as últimas sondagens realizadas em Portugal mostram que apenas 10 a 15 por cento dos portugueses apoiam as touradas. E em Espanha não é diferente: 81,7 por cento dos jovens entre os 15 e os 24 anos revelaram não ter qualquer interesse na “manifestação cultural”. Para contornar o desinteresse na “arte”, os promotores têm abdicado de parte dos lucros baixando significativamente os preços dos bilhetes. Para o negócio (no fundo, é apenas disso que se trata), é fundamental manter a aparência de que ainda há “aficionados” e, com isso, continuar a financiar a cultura da morte.
Durante o debate que se levantou na Catalunha, Jesús Mosterín, professor de Filosofia na Universidade de Barcelona, comparou o castigo infligido aos touros com a mutilação genital feminina praticada em alguns países de África e da Ásia. A sua lógica era: se a tourada deve preservar-se por respeito à tradição, também deveríamos aceitar a prática da excisão feminina e do apedrejamento de mulheres. Afinal, em ambos os casos, os defensores dessas práticas justificam-se com o argumento de que essas são tradições seculares.
Sejam lutas de cães na América Latina, sacrifícios de animais em locais públicos do Nepal, combates de galos na Tailândia ou touradas na Península Ibérica, tudo se resume à tortura para diversão de humanos. Há quem considere que isso seja cultura, há quem o encare como tradição. A realidade é que isso é apenas o que o homem tem de pior».
(Um texto com o qual estou inteiramente de acordo, por isso aqui o transcrevo com a devida vénia)
Por Richard Warrell
«Caro Miguel Sousa Tavares,
Tenho um filho com 2 anos que está a começar aos poucos a aprender a fazer chichi no bacio.
No outro dia, a minha mulher sentou-o no bacio, na casa de banho, e ausentou-se por uns segundos enquanto o pequenito esperava que o chichi chegasse.
Eu, que estava na sala, comecei a ouvir um barulho que me era familiar, mas que não reconheci de imediato. Levantei os olhos e lá o vi, todo nú, barriga espetada para a frente, a fazer um enorme chichi para o chão da sala.
Não pode ser, não é? Peguei nele, ralhei e levei-o de imediato para a casa de banho, enquanto ele esperneava e estrebuchava por todos os lados. Aquele tipo de comportamento infantil que tanto o incomoda quando está num restaurante, onde ainda por cima já não o deixam fumar em paz, está a ver?
Conto-lhe isto a propósito da intervenção que fez na SIC, no Domingo à noite, sobre o fim das touradas na Catalunha. Creio que disse que era "um caminho da estupidez", comparou com a Casa dos Segredos (essa sim, verdadeira barbárie e selvajaria, disse o Miguel), disse que era falta de cultura querer a abolição, citou pintores espanhóis que pintaram touradas (AH!; se Goya pintou touradas, então está tudo bem!), usou aquele argumento típico que a "espécie" acaba quando acabarem as touradas, chamou ignorantes a quem não gosta delas e que não percebem nada da vida no campo...
Deixe-me só esclarecê-lo um pouco, mas nem me vou alongar muito que não tarda nada tenho uma fralda para ir trocar e isso é mais importante: a espécie Bos Taurus já existia muito antes das touradas e vai continuar a existir. Talvez se referisse a raça, mas também não existe uma raça "touros de morte", porque não cumprem as 3 regras básicas de uma raça: características morfológicas próprias, características psicológicas diferenciadores e descrição científica dessas características. O que existe sim, são fundos comunitários. E €2000 por cada touro. Informe-se, não lhe deve ser difícil. E nesse processo, veja quais as raças autóctones portuguesas estão realmente ameaçadas de extinção e ajude também a protegê-las.
Mas talvez tenha razão: torna-se complicado estes animais sobreviverem quando acontece o que aconteceu no outro dia em Idanha-A-Nova, onde a Direcção-Geral de Veterinária pediu a ajuda a elementos especiais da GNR para abaterem a tiro centenas de bovinos que pastavam em liberdade, numa herdade de dezenas de hectares, só porque o proprietário não os deixou verificar in-loco se os ditos animais respeitavam todas as regras de saúde pública que o ser humano acha que os animais "selvagens" têm de cumprir.
E depois vem a velha história da liberdade e do "não gostam, não vejam". Como se alguém tivesse alguma vez perguntado ao touro se ele queria ser retirado do seu habitat, enfiado numa camioneta durante horas (onde perde 10% do seu peso), ficar fechado outras tantas horas na praça de touros, ver as pontas dos seus cornos serem serradas a frio, ser picado, torturado, ficar sem comer nem beber e depois ser lançado numa praça, rodeado de gente aos berros que berra ainda mais de cada vez que um ferro de 4cm lhe perfura a carne. Não senhor, não gosto e não vejo. E assim como não fico de braços cruzados ao ver o meu filho fazer chichi no meio da sala, também não posso ficar perante a barbárie e a tortura gratuita a um animal.
No seu caso, vê-se que fica irritado por lhe limitarem a liberdade. Mas o seu discurso, a mim, faz-me lembrar o meu filho. Até parece que vejo o Miguel Sousa Tavares em pequenino, o Miguelito, de calções e meias até ao joelho, deitado de costas no chão, a espernear e a estrebuchar, porque não deixam o menino ver a tourada.
Mas olhe Miguel, vá-se preparando, porque com birra ou sem birra, esse dia há-de chegar.
PS - é mais que justo que deixe aqui um link para as suas declarações:
http://aeiou.expresso.pt/proibicao-de-touradas-e-o-caminho-da-estupidez=f676502
Até porque a causa anti-taurina precisa de mais momentos destes.»
Aprazível é o pasto que acolhe os animais para se alimentarem tranquilamente...
EM NOME DA CULTURA, DA CIVILIZAÇÃO E DA ÉTICA ANIMAL
Senhor Dom Duarte Pio de Bragança:
Não posso negar que sempre tive uma certa simpatia por SAR, devido aos valores e princípios que põe nos seus discursos. Considero-o um homem culto e interessado pelo que se passa no nosso País e no mundo.
Certo dia, na inauguração da Caixa Agrícola da Póvoa de Varzim, estava eu a fazer a cobertura do acontecimento, para o já extinto jornal «O Comércio do Porto», aconteceu encontrar-nos no Casino local, onde foi dado um almoço volante aos convidados, nesse dia.
Então, já passando das 14 horas, deu-se o acaso de eu, o Senhor Dom Duarte e o Senhor seu irmão, ficarmos a um canto do salão, por não conseguirmos ter acesso à mesa, recheada dos mais variados manjares, por ter-se disposto ao redor dela uma muralha de gente intransponível.
Reparei então, na postura de dois membros da Casa Real Portuguesa, dois Príncipes que, humildemente, encostados a uma coluna da sala, conversavam, naturalmente com tanta vontade de comer, quanto eu. A mesa dos doces estava ali, à mão de semear. Olhei então para o Senhor Dom Duarte e atrevidamente “convidei-o” a comer doces, uma vez que não tínhamos acesso aos manjares, para eu não ficar a comê-los sozinha. Simpaticamente SAR acedeu, e pusemo-nos os três a comer os pastéis de nata que estavam enfileirados num prato.
Este episódio bastou para que a minha simpatia pelo Senhor Dom Duarte fermentasse. Afinal, um Príncipe, “aquele” Príncipe particularmente, não era a vedeta que se detesta. Era um ser humano, que tal como eu, sente fome e gosta de pastéis de nata.
Perdoe-me este aparte, que apenas teve a intenção de corroborar a minha simpatia por SAR.
Como Chefe da Casa Real Portuguesa, o Senhor Dom Duarte tem sobre os seus ombros toda uma responsabilidade de postura cívica que se quer exemplar. Aliás gosto de deambular pelo Blog da Família Real e ler o que diz sobre vários assuntos pertinentes, postura com a qual até concordo.
Contudo, por vezes, no melhor pano cai a nódoa.
Existe uma nódoa muito negra na vida de SAR, que não se coaduna nem com a Cultura Culta nem com a Civilização, pondo o estatuto da Família Real Portuguesa muito abaixo da Realeza Europeia.
Naturalmente que me refiro à chamada “Tourada Real” que, exceptuando na nossa vizinha Espanha (que está no bom caminho em direcção à Era da Civilização, tendo já acabado com o massacre de Bovinos na Catalunha), não existe em nenhum outro país onde reina a Monarquia.
Pergunto-me: porquê?
Sabemos que em Portugal as Touradas, introduzidas no tempo dos Reis Filipes espanhóis, foram proibidas no tempo do Marquês de Pombal, não pelo motivo certo, isto é, pelo respeito que devemos a todos os seres vivos, e pela Ética Animal, mas apenas porque alguém chegado a Dom José, morreu numa Tourada. Mas, enfim, foi um passo em frente.
Anos mais tarde essa prática foi retomada, e deu-se um retrocesso.
Uma vez que o “negócio dos Touros” envolve muitos milhares de euros, sacrificam-se e massacram-se animais magníficos, em nome de uma diversão sangrenta, que não traz o mínimo prestígio a quem a promove, nem aos que nela se envolvem, directa ou indirectamente.
Na próxima sexta-feira, dia 30 de Setembro, teremos em Vila Franca de Xira a XIV Tourada Real, uma vergonha não só para Portugal, como também para a Casa Real Portuguesa.
Não será preciso lembrar a SAR o sofrimento dos Touros, para “divertir” umas tantas pessoas que, vai desculpar-me, sofrem de sadismo crónico, uma vez que aplaudem a crueldade, com grande manifestação de alegria. Ora isso não é uma atitude normal. Ninguém aplaude a tortura, a crueldade em pleno gozo das suas faculdades mentais, ainda que seja a tortura de um animal não-humano.
A Educação quer-se para a Ética, para a Cultura Culta, para a Civilização, para a comunhão harmoniosa entre todos os seres vivos. Que valores estará SAR a passar aos jovens príncipes? A ética da crueldade? A cultura do desrespeito por um animal, com um ADN semelhante ao dos humanos? A civilização do sangue derramado inutilmente? Uma comunhão desarmoniosa, contrária aos princípios Cristãos?
Que papel representa a Igreja Católica na “bênção” dos toureiros?
Senhor Dom Duarte, como Chefe da Casa Real Portuguesa, deveria dar o exemplo e abolir definitivamente as Touradas Reais, que só desprestigiam a Casa de Bragança. Não quererá, com certeza, SAR continuar a ser cúmplice destes massacres hediondos, e deixar que o nome dos Bragança fique ligado a esta «terrível e venal arte de torturar e matar animais em público», como considerou a UNESCO.
SAR poderá redimir-se, acabando com esses massacres. Dará um exemplo digno de um Homem de Cultura, e será aplaudido pela realeza europeia, tal como pelos milhares de Portugueses e cidadãos de todo o mundo que lutam pela abolição do Massacre de Touros, na meia dúzia de países, sobre os quais ainda pairam as trevas e os odores bolorentos da Idade Média.
Albert Schweitzer, que SAR saberá quem é, considerava que «uma ética que nos obrigue somente a preocupar-nos com os homens e com a sociedade, não pode ser a verdadeira Ética. Somente aquela que é universal e nos obriga a cuidar de todos os seres nos põe em contacto com o Universo e a vontade nele manifestada».
É este um princípio Cristão, que não vejo ser seguido por aqueles que se dizem cristãos, enveredando pelo caminho da crueldade exercida sobre um outro ser, também criatura de Deus.
Respeitosamente,
Isabel A. Ferreira
(Cidadã portuguesa com direito à indignação)
Consulte-se este link para uma visualização da "arte" taumomáquica
http://arcodealmedina.blogs.sapo.pt/38589.html