Quinta-feira, 8 de Novembro de 2018

Vital Moreira contra Manuel Alegre e a barbárie tauromáquica

 

No Blogue Causa Nossa, Vital Moreira responde à Carta Aberta que o triste Manuel Alegre escreveu a António Costa, defendendo as touradas, considerando que que «não faz nenhum sentido invocar a liberdade do gosto contra uma prática violenta, cruel, sangrenta e degradante, para satisfação sádica de protagonistas e espectadores, à maneira dos espectáculos circenses da antiga Roma”.

 

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 Origem da imagem: Internet

 

Vital Moreira discorda em absoluto da "carta aberta" de Manuel Alegre, em defesa das touradas e da redução do IVA nos respectivos espectáculos, em primeiro lugar, por não fazer sentido misturar as touradas com a caça, como se fosse a mesma a oposição a uma e a outra ou como se fossem as mesmas razões a motivá-la. A razão básica contra as touradas está no facto de elas serem um espectáculo e consistirem em infligir um suplício prolongado a animais para proveito pessoal dos toureiros e para gáudio público, o que se não verifica na caça, refere Vital Moreira, assinalando que não consta que o gosto pelas touradas integre os direitos fundamentais constitucionalmente protegidos...

 

Para o constitucionalista, tampouco cabe invocar a "tradição", de resto cada vez mais acantonada, desde logo porque ao longo dos tempos a história da civilização e do progresso humano foi, em grande medida, uma luta da razão contra as tradições que exploram os sentimentos e instintos menos louváveis dos homens. Há muitos outros gostos e tradições que o desenvolvimento humano e cultural tornou intoleráveis.

 

Para Vital Moreira, parece inteiramente descabido o argumento de que uma eventual proibição nacional das touradas - que, aliás, não está iminente - seja equivalente a uma "ditadura política do gosto" e um sinal de "totalitarismo" emergente.

 

Nada de mais despropositado!, salienta Vital Moreira, acrescentando: «Que eu saiba, entre os muitos países que consideram as touradas como "barbárie" - como os países escandinavos ou anglo-saxónicos - contam-se alguns dos países mais livres e das democracias mais liberais do mundo!

 

Nunca me impressionou o argumento dos escritores e artistas que manifesta(ra)m o seu apreço pelas touradas. Para além de serem uma pequena minoria, a verdade é que ao longo da história as piores práticas da humanidade sempre encontraram quem as defendesse entre a elite intelectual, desde a escravatura aos tratos cruéis, desumanos ou degradantes, até que o Iluminismo as proscreveu ou tornou insustentáveis. Tenho para mim que dentro de poucas décadas, quando as touradas forem uma má memória na história nacional, os intelectuais que hoje as defendem sejam olhados com a mesma estranheza com que hoje olhamos os defensores pretéritos de outras "tradições" execráveis.

 

E Vital Moreira diz não se surpreender ao ver as touradas defendidas pela direita mais tradicional, porque elas fazem parte integrante da cultura "marialva" que ela privilegiadamente encarna, tendo enormes dificuldades em compreender - afastado o diletantismo político ou intelectual - o que leva alguma esquerda a admirar um espectáculo tão violento e tão sangrento, assente no sofrimento causado a seres vivos indefesos, para gozo público.

 

Por último, o constitucionalista acrescenta que não lhe parece que haja motivo para tão grande alarme público dos amantes da indústria da tortura-de-animais-na-arena-para-gáudio-público e do poderoso lobby económico, político e mediático que a suporta e promove. Afinal, trata-se somente de criar uma pequena diferença de IVA em relação a outros espectáculos. Infelizmente, não se trata de um primeiro passo para abolição das touradas. Para isso, os tempos ainda estão para vir...

 

Fonte:

https://causa-nossa.blogspot.com/2018/11/a-barbarie-tauromaquica-7-contra-manuel.html

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:21

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Terça-feira, 22 de Maio de 2018

«Da violência das touradas à educação violenta: uma perspectiva psicológica»

 

Um magnífico texto (longo mas muito elucidativo) que todos os deputados da Nação devem ler, pormenorizadamente, para saberem que, ao apoiar legislativamente as touradas estão a contribuir para a deformação mental das crianças envolvidas neste mundo de crueldade e violência e tortura gratuitas, mas também a alimentar os instintos sádicos dos adultos, e a negligenciar a saúde mental de uma franja da sociedade portuguesa, ainda que minoritária.

E esta não é, de todo, a função dos governantes.

No final, encontram muita bibliografia para se esclarecerem.

Quero lembrar que só é ignorante quem opta por ser ignorante, porque informação não falta.

 

Isabel A. Ferreira

 

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A exposição de crianças a cenas de violência, ao vivo ou através de meios mediáticos, pode até contribuir para fazer-lhes baixar o nível intelectual, a habilidade para a leitura (Delaney-Black et al., 2002), além de todos os inconvenientes para a sua formação ética e emocional…

 

Texto do Professor Dr. Vítor José F. Rodrigues

 

A Tourada como Narrativa

 

«O que é uma tourada vista objectivamente e de fora? Um espectáculo de massas onde se destacam alguns aspectos: (1) estética e ritual. Os trajes dos protagonistas, com a sua cor, brilho e o carácter invulgar, a beleza dos cavalos e dos seus movimentos, os desfiles, a música, têm certo apelo e, para muitas pessoas, são agradáveis de ver; (2) violência. O touro, os touros, são espicaçados para desenvolverem um comportamento agressivo. Os toureiros, forcados e outros, exibem agressividade face ao touro, ora provocando-o, ora ferindo-o, ora agarrando-o. O sangue torna-se evidente, escorrendo da pele do animal; (3) perigo. Não falemos no touro, cujo destino, após ser literalmente torturado em público, é uma morte dolorosa. Os restantes protagonistas das touradas colocam-se a si mesmos em risco para poderem exibir habilidade e coragem e, por vezes, são colhidos e podem ficar feridos ou morrer; (4) ruído, aplausos, entusiasmo. A multidão reage, aplaude, entusiasma-se quando o touro é ferido por bandarilhas seja no toureio a pé ou a cavalo.

 

Qualquer espectador de uma tourada assiste a um evento onde, de certo modo, o touro é o vilão que deve ser derrotado pelo toureiro, que se expõe ao perigo representado por este “vilão”. Muitos aplaudem os momentos em que a pele e carne do touro vão sendo cravadas pelas farpas, que produzem sangramento evidente. Toda a sequência da tourada está fortemente ritualizada e tem momentos específicos antes de depois da “luta com o touro”. De certo modo, a tourada conta uma história. Nessa história, uma grande besta malvada (o touro) confronta-se com heróicos lutadores (os toureiros) que podem e devem atacá-lo com farpas. O touro investe, após ser espicaçado e provocado, de certo modo parecendo “justificar” a violência dos toureiros. Após algum tempo, o touro derrotado é morto ou simplesmente retirado do recinto (o que acontece depois passa-se fora do olhar da multidão). O toureiro bem-sucedido passeia-se pela praça e recebe os aplausos da multidão. Como salienta Murray (1985), nós somos contadores de histórias e gostamos de encontrar sentido na nossa própria história pessoal. Não é por acaso que as crianças gostam tanto de ouvir ou ler histórias. O próprio conceito de identidade, que vamos construindo ao longo da vida, não é estático: implica o conceito de nós mesmos, com a nossa experiência de vida, desenrolando-se através do percurso biográfico. O modo como nos comportamos implica, de resto, conceitos acerca do que é adequado fazer em cada situação sendo que, por sua vez, cada situação é “narrada” para nós mesmos de determinada maneira que passa pela experiência de vida e pelas “histórias” a que vamos sendo sujeitos. Por exemplo, quando vamos a um restaurante, existe uma “história” subjacente. Nessa “história”, temos a expectativa de que iremos encontrar mesa, sentar-nos, ver o menu, talvez dialogar com um empregado, escolher uma refeição, aguardar que a tragam, comer (mesmo aí havendo modos de comer ritualizados) e, no fim, pedir a conta, pagar e sair. Não costumamos, por exemplo, imaginar que iremos dirigir-nos à cozinha, apontar uma arma ao cozinheiro-chefe e exigir-lhe peru estofado. As histórias que vamos aprendendo a contar acerca da nossa vida e das vidas dos outros são extremamente importantes para que o nosso mundo faça sentido.

 

A mais que dúbia intenção pedagógica das Touradas

 

Retomemos o assunto das touradas. É fácil ver, por lá, pessoas de ambos os sexos e das mais variadas idades – incluindo crianças e adolescentes. O impacto pedagógico e psicológico deste último facto merece consideração. Alguns apologistas das touradas (para uma ampla revisão, ver o texto de Paul Hurt, 2012) costumam invocar a seu favor, entre outros argumentos: a) a vantagem de perpetuar uma tradição que tem muitas raízes históricas; b) o facto de estarem a exibir violência, que pode ser útil na preparação das crianças para um mundo violento e c) o carácter “artístico” das touradas. Vamos discutir um pouco cada um destes temas.

 

 a) Tradição e raízes históricas?

 

 

Diz-se que a tradição representa a alma dos povos e que, fazendo as touradas parte da alma de alguns (Português, Espanhol, Mexicano), devem ser perpetuadas e não erradicadas. Contudo, representarão as touradas a alma de algum povo? Por exemplo do povo português? Terá a barbárie de um espectáculo de sangue e violência a ver com a alma de alguma coisa? Supostamente, a “alma” representa o aspecto mais nobre, duradouro, ético e profundo do psiquismo humano. Note-se, entretanto, que os romanos já tinham a tradição dos combates entre seres humanos e bestias: na Roma antiga, era muito frequente o transporte de animais de grande porte para a capital, para serem aí mortos por uma especial classe de gladiadores, os bestiarii. Essa era uma variante dos combates de gladiadores, que fazia as delícias da multidão. Segundo o mesmo autor que nos faz notar este facto (Nell, 2006), uma das raízes para o grande êxito comercial dos espectáculos sanguinários (incluindo filmes violentos, espectáculos como o boxe, “vale tudo”, luta livre, etc.) reside numa herança filogenética (e não só cultural) muito antiga: as origens do prazer que algumas pessoas evidenciam ao infligir dor e/ou ao derramar sangue, bem como o prazer de outras em assistir, teria origem na história remota da espécie humana e no antigo valor adaptativo da violência e mesmo da crueldade. Estaria ligada à predação que, por sua vez, era útil à sobrevivência. Assim, o gozo cultural da crueldade seria uma consequência da “adaptação predatória” do passado – que, por sua vez, visava a sobrevivência dos mais aptos após confrontos inter, e intra, espécies… Os estímulos encorajadores da predação seriam então, justamente, a dor, o sangue e a morte da presa e teriam valor de recompensa evidenciando o sucesso da caçada. Por outro lado, com o desenvolvimento das culturas hominídeas, ter-se-ia desenvolvido a crueldade, que já implica intencionalidade e planificação dos actos agressivos – e que, conforme sublinha o autor, evidencia o poder do perpetrador, tratando-se sobretudo de uma afirmação masculina. Assim, a enfatização da violência e o seu valor para a indústria do espectáculo teriam raiz no seu antigo valor adaptativo e de sobrevivência e teria, pois, uma base instintiva. A crueldade estaria na base de muitos comportamentos agressivos. Seria activada por estímulos visuais, auditivos, olfactivos, gustativos, tácteis e viscerais – podemos ver aí muita da excitação das multidões que consomem violência, sobretudo ao vivo, onde a riqueza de estímulos é maior. Existe um prazer nos predadores ao saborearem a carne, ao cheirarem o sangue, verem vísceras expostas, escutarem os gritos das vítimas feridas. Entre os chimpanzés, a violência surge também facilmente associada à defesa de território e à luta pela afirmação social e sexual – mas, no que toca a comportamento predatório, eles podem perfeitamente começar a comer a vítima enquanto esta está ainda viva. Caçar e matar costumam ser momentos de evidente prazer para os predadores, nomeadamente entre os primatas. Mesmo a proximidade entre sexualidade e agressividade é evidenciada neurofisiologicamente pelo facto de que alguns grupos neuronais no cérebro emocional (e na amígdala) podem ser activados por actividades seja sexuais ou agressivas. As fêmeas, entre os primatas, costumam responder de modo muito positivo aos machos vencedores e, mesmo entre as sociedades primitivas humanas, parece evidente que as caçadas a presas de grande porte são mais perigosas, mas produzem maiores recompensas sexuais pois os que matam grandes presas são altamente valorizados. Retomemos o nosso tema: é este tipo de raiz que aponta para a alma de um povo que ainda consente nas touradas? Ou será antes uma raiz que aponta para o carácter ainda primitivo, bárbaro e desumano de uma tradição que desonra a alma de quem a deixa ser ainda? A tradição ou a antiguidade em si não devem ser argumentos de coisa nenhuma; caso o fossem, poderíamos defender a perpetuação, com base no seu carácter antigo e tradicional, dos combates de gladiadores, dos sacrifícios humanos e de animais (na verdade, na tourada, o touro é mais ou menos sacrificado ritualmente), da caça às bruxas, dos torneios medievais, das bacanais gregas e assim por diante. A “tradição” deve ser temperada com o progresso civilizacional. O deleite com o sangue a tortura representa a humanidade no seu pior, no que tem de selvaticamente agressivo e estreito. Afirmar o contrário dela é afirmar o valor da Solidariedade connosco mesmos e com a Natureza e reconhecer que intrínseca e profundamente humana é a nossa Consciência individual que se alegra ao abrir-se para um Cosmos alargado e ao recusar o consumo de violências. As multidões que urram com as arremetidas sanguinárias dos toureiros unem-se no que têm de mais baixo e animalizado e fecham-se para a Cultura do Humano. Uma catedral ergue-se bem alto na afirmação do que os seres humanos podem realizar onde a tourada mostra quão baixo podem descer; uma sinfonia canta o que os gritos excitados dos aficionados silenciam.

 

b) Preparar as crianças para um mundo violento?

 

 

Alguns adultos que gostam de levar crianças muito jovens a touradas costumam achar que estão a partilhar com elas um espectáculo notável e que elas não somente irão apreciá-lo como ainda receber um bom contributo para a sua formação. Não temos dúvidas de que, na mente de alguns aficionados, as crianças submetidas à violência das touradas estão a aprender a apreciar a violência e os traços de masculinidade predatória dos toureiros, o que as prepara para um mundo agressivo e competitivo. Infelizmente este raciocínio peca por várias vias. Por um lado, acontece que preparar crianças para a violência é prepará-las para serem agentes da conservação de uma sociedade que está à beira da catástrofe global justamente por ser agressiva com a Natureza e consigo mesma. Falamos da mesma Sociedade de consumo que está a produzir níveis de poluição global tão elevados que já estão no limite em que trarão consigo alterações climáticas catastróficas, escassez, provavelmente guerras (Brown, 2006). Falamos da mesma Sociedade que perpetua a desigualdade em que os predadores ricos continuam a guardar para si mesmos o poder e o acesso à maior parte dos melhores recursos. Há, no entanto, outros aspectos a considerar. As crianças que assistem a touradas seja ao vivo (o que é pior) ou por via televisiva, estão a testemunhar violência. Essa violência é publicamente recompensada pelos aplausos da multidão além de que os “heróis” toureiros se apresentam, desde o início, ataviados de maneira faustosa, exibindo essa mesma riqueza que desejam perpetuar (pois, não esqueçamos, as touradas são espectáculos de massas que movem muito dinheiro e interesses). A criança é, pois, desde logo levada a “apreciar” aquilo que os seus ídolos educativos, os encarregados e educação, lhe dizem ser boa coisa: a tourada. Além disso, vêem os toureiros exibir uma dose imensa de violência que é festejada e recompensada de várias maneiras, num ambiente festivo. Como se a violência pudesse ser coisa bonita, louvável, fonte de alegria. A mensagem implícita e explícita é, desde logo, algo como: “é bom ser violento, é bom ser toureiro, dá prestígio, dinheiro, e merece ser aplaudido”. As crianças são muito sensíveis a tudo o que lhes transmite a ideia de que, se fizerem esta ou aquela coisa ou tiverem esta ou aquela ideia serão apreciadas. Desde logo, está-se a transmitir-lhes a ideia de que, se imitarem os modelos adultos dos toureiros, com a sua violência predatória, a sua afirmação sanguinária de virilidade, a sua pomposidade exibicionista, serão apreciadas. Isto é ensinar o que, na verdade, está tremendamente errado.

 

Porque está errado ensinar o que as touradas ensinam? Porque equivale a ensinar que a violência é uma boa coisa e que torturar animais para nosso deleite é outra boa coisa. Não esqueçamos que, além dos touros, também os cavalos são obrigados a passar por níveis de tensão imensa, contrários ao seu normal espírito de herbívoros, e que muitos cavalos são colhidos. Num mundo em que a agressão à Natureza está na origem de uma evidente ameaça contra a própria sobrevivência da espécie humana, quereremos nós ensinar às crianças que elementos da natureza, como os touros, são “bestas malvadas” que podem e devem ser maltratadas? Quereremos nós transmitir-lhes que é bom ser violento, ressuscitar em nós os antigos instintos primitivos do prazer com as vísceras expostas, o sangue, a carne violentada, o cheiro a carnificina? Prepará-las para se aproximarem um pouco na direcção da violência assassina? E estaremos nós a respeitar as crianças e a sua necessidade de afecto e protecção ao levá-las a tais espectáculos? Ou a ensinar-lhes o contrário do amor que, como veremos, é social e individualmente saudável? Iremos discutir tudo isto com mais detalhe na secção sobre o lado psicológico das touradas. Por ora, recordemos que ainda hoje, nos muitos países onde as crianças ainda integram exércitos (Williams, 2004, fala em 300.000 crianças “alistadas”), é costume submetê-las a situações atrozes, a que são forçadas a assistir (como o violento assassínio de familiares à sua frente), como meio de levá-las a sentirem que não têm a quem recorrer fora do exército e que o mundo onde existem é, por natureza, violento e impiedoso e só os violentos impiedosos podem subsistir (op. cit. Pgs. 195-200). Claro, neste caso, as crianças não têm escolha: são submetidas à violência e sofrem os efeitos dela na sua formação precoce. O problema seguinte é que as crianças submetidas às touradas também não têm muita escolha. Resta saber qual o efeito real destes espectáculos na sua formação. Não será que, para começar, estão a prepará-las para repetir o que está mal, adaptando-as a uma sociedade violenta?

 

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A agonia do Touro... 

 

O Impacto Psicológico e Pedagógico Negativo

 

Numa revisão de literatura (Rodrigues, 2008), pudemos demonstrar que o amor é socialmente saudável, promove bons relacionamentos, assim como é preventivo de futuros problemas de saúde física e mental. As crianças criadas em ambientes de amor e cuidado e onde os mesmos são valorizados revelam-se, mais tarde, mais resilientes e mais fortes física e psicologicamente. O contrário é verdade para as que recebem precocemente a influência de serem negligenciadas e maltratadas (e obrigá-las a assistir a espectáculos que as fazem sentir mal pode ser um exemplo). Ora qual é a mensagem subjacente às touradas? A de que se pode e talvez deva ser violento em determinadas circunstâncias e de que maltratar animais pode estar certo se nos der prazer.

 

Salientemos agora um facto: as crianças que assistem a touradas (e mesmo os adultos) não o fazem sem consequências psicológicas e pedagógicas. Consideremos o que a investigação pode dizer-nos acerca disso.

 

Em 2000 (ver Declaração Conjunta na Bibliografia deste artigo), foi emitido um documento conjunto pelas: American Academy of Pediatrics, American Academy of Child & Adolescent Psychiatry, American Psychological Association, American Medical Association, American Academy of Family Physicians e American Psychiatric Association. Neste documento, cujo peso é imenso, os signatários salientam o seguinte (com base em mais de 30 anos de investigação e mais de 1000 estudos):

 

- A globalidade dos estudos evidencia de modo “esmagador” que existe uma relação causal entre a violência nos media (que incluem televisão, rádio, filmes, música e jogos interactivos) e o comportamento agressivo em algumas crianças. Em geral, “ver violência para entretenimento pode levar a aumentos nas atitudes, valores e comportamento agressivos, especialmente nas crianças”.

 

- As crianças que observam muita violência tendem a considerá-la um meio efectivo para resolver conflitos e a pensar que os actos violentos são aceitáveis.

 

- A visualização de violência pode levar a uma dessensibilização emocional em relação à violência na vida real. Isso pode diminuir a probabilidade de alguém tomar a iniciativa para proteger as vítimas de actos violentos.

 

- A violência para entretenimento “alimenta a percepção de que o mundo é um lugar violento e maldoso”, aumentando o medo de as crianças se tornarem vítimas de violência e, consequentemente, a sua desconfiança perante outros e os comportamentos de autoprotecção.

 

- Observar violência pode levar à violência na vida real. As crianças de tenra idade expostas a programas violentos tendem, mais tarde, a exibir maior tendência para comportamento agressivo e violento (quando comparadas com crianças não expostas.)

 

É de notar que em (2009) a American Academy of Pediatrics publicou novas recomendações confirmando a declaração emitida em 2000. Nas mesmas, recomenda uma cuidadosa filtragem dos programas violentos por parte dos responsáveis educativos para prevenir o seu impacto social e educativo maléfico junto das crianças e adolescentes. Os efeitos específicos da exposição a violência em programas televisivos têm sido investigados desde os anos sessenta, com resultados inteiramente coerentes com os dados constantes no relatório referido acima. A Fundação Henry Kaiser, no website “Key Facts” (2003), apresenta um artigo de revisão sobre esta área, mais uma vez documentando o facto de que, de acordo com estudos em laboratório e em ambientes naturais, a violência televisiva aumenta os posteriores comportamentos agressivos nas crianças (seja em termos verbais ou físicos), do mesmo modo que a exposição a programas que enfatizam antes a cooperação e o afecto aumentam a probabilidade de comportamentos pro-sociais. O mesmo artigo refere uma grande meta-análise, incidindo sobre 217 investigações acerca dos efeitos da violência televisiva, entre 1957 e 1990, que concluiu que “o visionamento de violência televisiva estava significativamente ligada a comportamento agressivo e anti-social, sobretudo entre os espectadores mais jovens”. Contudo, ainda segundo o mesmo artigo, vale a pena considerar dois estudos longitudinais: um deles, durante 17 anos com 707 famílias e conduzido por Jeffrey Johnson et al. (2002), concluiu que os adolescentes que tinham visionado mais de uma hora de televisão por dia, em média, evidenciavam posteriormente, enquanto adultos, uma probabilidade quase quatro vezes maior de exibirem comportamentos agressivos (22% face a 6%); o outro, conduzido por L. Rowell Huesmann et al. (1984) durante 20 anos tendo começado com uma amostra de 875 crianças nos anos sessenta (quando a violência na TV era de resto bem menor), concluiu que o visionamento de violência televisiva era um preditor significativo da agressão na idade adulta – e mesmo de comportamentos criminosos, independentemente do quociente intelectual, estatuto social ou estilo parental. Os rapazes que tinham visto programas violentos aos 8 anos de idade eram em média mais agressivos quando adolescentes e tinham mais prisões e condenações na idade adulta por violência familiar, assassínio e assalto. Num estudo posterior, Huesmann et al. (2003) confirmaram as mesmas conclusões.

 

Para Aidman (1997), a investigação em ciências sociais nos últimos 40 anos confirma e evidência que ver conteúdos televisivos violentos tem consequências negativas para as crianças destacando-se: o encorajamento a aprender comportamentos e atitudes agressivos; o desenvolvimento de atitudes amedrontadas ou pessimistas em relação ao mundo exterior; a dessensibilização das crianças em relação à violência no mundo ou às fantasias de violência fantasias e violência (que passam a ser consideradas normais). O problema da aprendizagem da violência agrava-se quando os seus perpetradores são vistos como atraentes, recompensados pela mesma, quando esta é especialmente gráfica, são usadas armas… A autora recomenda aos pais que encorajem e ajudem as crianças a tomar uma distância crítica face à violência que observam – exactamente o contrário do que fazem os apologistas das touradas, sendo que os toureiros se apresentam atraentes, exibem uma violência altamente gráfica, usam armas contra o touro e são visivelmente recompensados.

 

Um artigo recente de Huesmann e Taylor (2006) considera, após uma revisão de literatura, que a violência televisiva deve ser colocada na categoria das ameaças conhecidas à saúde pública. Esta conclusão é baseada no facto de que a violência ficcional na televisão em e filmes contribui para um aumento, a curto e longo prazos, nos comportamentos agressivos e violentos. Inclusivamente, os noticiários televisivos que apresentam violência também aumentam a violência imitativa. Para Huesmann e Taylor (op. cit.), a violência nos media não somente aumenta os comportamentos agressivos a curto termo nos mais jovens, mas ainda aumenta, quando prolongada no tempo, a aquisição de atitudes, crenças, cognições sociais, favoráveis à exibição de comportamentos agressivos e violentos mais tarde. No mesmo sentido vai um artigo de Hassan et al. (2009), os quais verificaram que a exposição à violência apresentada em filmes produziu, em adolescentes, um aumento nas atitudes favoráveis a esta, considerando-a tendencialmente aceitável e até desejável – sobretudo quando eles mesmos optam por ver grande número de filmes violentos. A consequência é uma provável facilitação da conversão de sentimentos agressivos em comportamento violento. Claro, observar violência não é a única causa da exibição da mesma, mas o número de estudos que incluem tal observação entre os factores favoráveis é enorme.

 

Embora a natureza específica dos conteúdos mediáticos envolvidos influencie obviamente os efeitos, é evidente que no geral a violência mediática tem efeitos profundamente anti-sociais nas crianças e jovens. Mas será que isto se confirma para a exposição à violência apresentada nas touradas? Vejamos.

 

As crianças e jovens, para não falar nos adultos, que assistem ao vivo a touradas estão a ser expostos a violência real, que está a acontecer a alguns metros de distância. O que sabemos em geral em relação a situações de exposição ao vivo? Que podem ser ainda mais geradoras de violência que as apresentadas através dos mass media. Huesmann (2011) investigou o efeito da exposição directa, na vida real, à violência em crianças israelitas e palestinianas. Verificou que a exposição directa, por observação, a cenas ou acontecimentos violentos aumenta enormemente a probabilidade de os observadores evidenciarem comportamentos agressivos posteriores – mesmo em relação a amigos ou colegas. De acordo com ele, “sabemos que todo o comportamento social é orientado por guiões codificados (programas para o comportamento) que todos adquirimos ao crescermos. Quando confrontados com um problema social, os jovens começam por fazer atribuições acerca do que está a acontecer na situação e depois recuperam das suas mentes aqueles guiões sociais que sejam mais facilmente recordados e pareçam mais relevantes” (pg 6). Noutros termos, para ele, a violência é contagiosa. Existem inclusivamente mecanismos neurológicos que ajudam a compreender de que modo a violência observada produz violência em nós: no “priming”, acontece que observar violência produz uma excitação neuronal que por sua vez nos leva a activar representações e memórias relacionadas; na imitação, acontece que os seres humanos têm uma tendência natural, herdada nos seus mecanismos cerebrais, para imitarem o que vêem; na transferência de excitação, verifica-se que se já observámos antes cenas violentas, a excitação neuronal relacionada com elas e activada por elas leva-nos mais facilmente a exibir respostas comportamentais violentas. Huesmann refere este facto, no que coincide com uma pesquisa recente, em que investigadores da Universidade de Columbia (2007), recorrendo a ressonâncias magnéticas funcionais, demonstraram que ver programas violentos pode levar as áreas cerebrais que inibem a agressividade a diminuir a sua função. Isto, por sua vez, coincide com o facto, igualmente constatado, de que as pessoas com tendência superior à média para actos agressivos evidenciam menor actividade nas mesmas áreas. Estas mudanças não acontecem quando os mesmos ou outros sujeitos observam filmes em que a acção é equivalente na intensidade cénica, mas não existem cenas violentas.

 

Mesmo os autores que questionam a relação entre a violência televisiva ou, em geral, nos media e o aumento da criminalidade violenta (Savage, 2003) admitem que existe alguma evidência nesse sentido e que a investigação associando agressividade aumentada e violência nos media é esmagadora. Mas será a associação entre assistir ao vivo a cenas violentas ainda maior? Algumas investigações ajudam a encontrar uma resposta e, como vimos, as indicações acima vão nesse sentido. Numa revisão de literatura muito recente, Kirkpatrick (2012) apresenta dados de investigação e toda uma argumentação no sentido da importância do contágio social da violência nomeadamente em áreas urbanas (onde esta alastra de modo analógico com as doenças) onde a exposição ao vivo a actos violentos gera maior violência. No entanto, ela realça a importância da violência perpetrada por instituições contra os seus cidadãos como uma importante fonte de violência e realça que os crimes violentos são mais frequentes em comunidades pobres, segregadas, minoritárias. Um dado importante referido pela autora diz-nos que a probabilidade de cometerem crimes violentos é 74% maior em jovens que foram alvo dela em casa ou na sua vizinhança. Interessa-nos aqui um aspecto realçado por Kirkpatrick: de acordo com a Teoria das Subculturas de Marvin Wolfgang, uma subcultura é "um sistema normativo de algum grupo ou grupos mais pequenos que a sociedade alargada”. Acontece que existem subculturas especialmente favoráveis à violência pois os seus valores e definições são-lhe favoráveis. Não podemos deixar de realçar aqui o facto de que a subcultura das pessoas que praticam e promovem as touradas costuma associar as habilidades e a coragem de confrontar fisicamente adversários, provocá-los e levá-los de vencida como algo que é valioso e sinónimo de masculinidade. O mesmo surge, em diferentes formas, nos mass media na forma de filmes onde a violência é glorificada e solucionar problemas por essa via surge como uma boa ideia. É de notar que, de acordo com autores como Fagan, Wilkinson e Davies (2007), um dos mecanismos do contágio social da violência é a construção de uma identidade social que a favorece e a constatação de que, nos grupos que a promovem, os não violentos são marginalizados. A cultura das touradas apresenta, obviamente, o toureiro como uma figura idealizada, uma espécie de herói, cuja violência é supostamente legitimada por ser exercida contra um animal de grande porte. No entanto, parece evidente que a mesma cultura enaltece as pessoas que partem facilmente para o confronto (infelizmente temos um exemplo recente disso no recente episódio em que o toureiro Marcelo Mendes investiu duas vezes, a cavalo, contra um grupo de pessoas que, no início, estavam sentadas no chão em protesto (facto filmado e apresentado no “Ribeirinhas TV”, em 4 de Setembro de 2012). Ao levar uma criança a ver uma tourada ou ao consentir que a veja em casa, um típico responsável educativo estará implicitamente a conceder-lhe um selo de aprovação.

 

E o que dizer acerca da investigação directamente pertinente às touradas? Grana et al. (2004) investigaram-no recorrendo a um grupo equilibrado de 240 rapazes e raparigas entre os 8 a 12 anos de idade. Alguns resultados merecem especial consideração: 56.3% das crianças que costumavam assistir a touradas revelaram indiferença ao presenciá-las enquanto só 35.1% das crianças que nunca assistiram ao vivo revelaram o mesmo sentimento. Note-se que o que cito vai no sentido da constatação muitas vezes repetida de que assistir a actos de violência vai tornando as crianças indiferentes à mesma, fazendo com que tendam a achá-la normal e legítima. As crianças que viram vídeos de touradas com “explicações festivas ou agressivas” exibiram depois maior pontuação em avaliações de agressividade sendo estes efeitos mais fortes nos rapazes. O mesmo filme foi exibido com e sem justificações agressivas ou festivas sendo que a influência no sentido da agressividade se mostrou maior quando o filme vinha acompanhado de justificações favoráveis. Por outro lado, ver o vídeo com a tourada justificada “festivamente” foi a única situação em que as crianças em geral revelaram maior ansiedade (talvez pela incongruência de se apresentar um ritual de morte como uma festa?). No entanto, a maioria considerou que as crianças podiam assistir a touradas embora um pouco menos de metade lhes atribuíssem um efeito negativo sobre elas e a maioria revelasse que não gostavam de assistir. Também foi observada uma tendência para o impacto negativo das touradas (ansiedade e agressividade) ser maior nas crianças mais novas e quando eram justificadas “festivamente”. Na generalidade, os efeitos eram mais pronunciados nos rapazes – o que os autores identificam à sua maior facilidade, dado o sexo, em identificarem-se com as cenas observadas. Os autores realçam que este estudo vai no sentido de que a interpretação das cenas de violência observadas desempenha um papel relevante nas consequências que poderão ter no comportamento futuro das crianças.

 

E o lado educativo?

 

Lequesne (2011) salienta os inconvenientes educativos e psicológicos das touradas. Para ele, o espectáculo da tourada a que se leva uma criança pode ser traumático, mas também pode confrontar a criança com todo o dilema posto pelo modo como os adultos “douram” um espectáculo de sangue e dor como sendo legítimo e apreciável ou como afirmam, contra a natural empatia da criança face ao animal, que se pode e deve torturá-lo em nome da arte e da tradição. A mensagem a aprender pela criança diz-lhe assim que, em certas circunstâncias, sendo em prol da arte e tradição, se pode e talvez deva torturar seres vivos. No entanto, como demonstram as investigações sobre os neurónios-espelho, é natural e talvez inevitável que muitas crianças sintam uma reacção física e instintiva ao verem o animal ser ferido ostensivamente, como é natural que sintam algum medo ou aprendam a sentir a excitação do toureiro com a dor do touro ou com o comportamento violento. O autor traça mesmo um paralelo entre as touradas e certa “moda” recente em que adolescentes violentam uma vítima, com auxílio de cúmplices, e a filmam a ser vitimada, transmitindo a imagem como uma coisa divertida e justificada. De facto, uma das “justificações” das touradas é que pode ser um espectáculo divertido – transmitindo implicitamente à criança a ideia de que torturar e matar um animal pode ser aceitável e engraçado. Acresce que as crianças que assistem a touradas, seja ao vivo ou em espectáculos televisivos, aprendem coisas interessantes como a terminologia que fala em “castigar” o touro com bandarilhas (sendo que muitos afirmam que elas não infligem dor ao touro, o que é simplesmente mentira). Como salienta ainda Duquesne, o “castigo” com bandarilhas mostra à criança que alguns castigos arbitrários e desumanos contra inocentes podem justificar-se se forem divertidos, espectaculares ou colocarem em evidência a ousadia e coragem dos perpetradores de violência. Neste sentido, as touradas ensinam o contrário da compaixão e até da simples decência humana… Não admira que termos como “matador” surjam glorificados.

 

Num interessante estudo, Paniagua (2008) salienta o modo como as touradas fornecem à multidão uma satisfação para as suas pulsões sádicas inconscientes. O autor salienta que nas touradas do passado muitas vezes a multidão tentava furiosamente ferir o touro a golpes de espada ou levar partes dele como sinal de triunfo assim como era frequente organizar combates entre touros e outros animais, como cães. Também houve, em tempos, o uso de bandarilhas em fogo. Para ele, o público projecta no toureiro medos e desejos, tanto quer vê-lo sofrer como vê-lo salvar-se, tanto quer que o touro morra como também teme ou lastima isso mesmo. O superego da moralidade confronta-se com o Id da bestialidade instintiva. Lembremos, a este respeito, o modo como Nell (2006) atribui o gozo dos espectáculos de violência a antigos instintos predatórios. Além disso, há algo de combate simbólico entre o toureiro representando David e o touro, um Golias a vencer pela esperteza do toureiro e armas apropriadas. Do ponto de vista psicanalítico, a tourada poderia até representar um conflito edipiano, o touro surgindo como figuração do rival paterno a vencer para obter o amor da mãe. Nesse sentido, o risco de castração corrido pelos toureiros corresponderia ao medo de castração por parte do pai que algumas crianças teriam no contexto do complexo de Édipo. Como realça ainda o autor, o espectáculo tauromáquico é racionalizado com justificações como a ilusão de que o toureiro está na verdade a defender-se de uma besta selvagem perigosa. Projectar os medos e a sensação de perigo no exterior também podem ser modos de evitar enfrentar os próprios medos, do mesmo modo que o público em geral costuma secretamente gostar de assistir a dramas em que o mal acontece aos outros. Se há coisa em que os comentários tauromáquicos são férteis é na negação de que esteja ali a passar-se algo de bárbaro e cruento bem como nas racionalizações e projecções infantis, atribuindo ao touro intenções, qualidades humanas. Isso contribui para que, nas touradas, se possa dar “luz verde ao sadismo reprimido” (op. cit., pg. 150). Neste sentido, “castigar” o touro, sentido como uma “besta malvada”, pode ajudar o público a considerar justificado o mal que lhe é feito, identificando-se com os toureiros vingadores – sendo que, ao nível inconsciente, o touro pode estar a representar os impulsos inaceitáveis do espectador, que devem ser punidos e reprimidos (sejam eles sexuais ou agressivos – talvez não seja por acaso que há tanta aura de sensualidade quase boçal nas poses toureiras, que por sua vez parecem corresponder a um modo ritualizado de exprimir o impulso sexual). Talvez também não seja por acaso que o público oscila, por vezes, nas suas identificações, por vezes desejando que o touro vença (caso em que é o toureiro a representar, especulemos, as pulsões reprimidas). Ainda na perspectiva psicanalítica, o toureiro exibe muitas vezes um gozo narcisista e autocentrado em dar nas vistas, ser aplaudido, no que também pode ser alvo das projecções da multidão, que gostaria de estar no seu lugar.

 

Não iremos alongar-nos em possíveis interpretações psicanalíticas para as touradas. Isso sim, queremos realçar que expor as crianças às mesmas é expô-las à violência, justificada de modo pleno de racionalizações que talvez escondam impulsos primários mal consciencializados; é confrontá-la com o conflito entre “alinhar” com os adultos e as suas racionalizações, negando o seu medo e a sua repulsa pela crueldade para com os animais; é fazê-la participar, com escassa escolha, num mundo onde a violência contra um ser vivo inocente é glorificada e justificada como uma ocasião de festa e alegria; é submetê-la a uma situação onde aprende que ser violento pode ser muito bom e compensador, que ser violento como um toureiro pode ser excelente para obter riqueza, fama e o afecto de muitos; que é legítimo torturar e/ou matar animais por prazer; que exercer instintos predatórios, dando-lhes curso a ponto de estripar animais, pode ser uma coisa louvável; ou que a afirmação masculina pode ter, como um dos expoentes máximos, o do toureiro engalanado que se compraz e exibe como matador, torturador de animais que, ao fazê-lo, obtém a admiração e o desejo das fêmeas humanas. O mesmo toureiro constitui um modelo altamente questionável ao colocar a sua vida em risco num tal contexto de crueldade gratuita, como se isso também fosse louvável e ter pouco apreço pela vida humana valesse alguma coisa. Ademais, a exposição de crianças a cenas de violência, ao vivo ou através de meios mediáticos, pode até contribuir para fazer-lhes baixar o nível intelectual, a habilidade para a leitura (Delaney-Black et al., 2002), além de todos os inconvenientes para a sua formação ética e emocional que fomos delineando ao longo deste artigo. Levá-las a touradas ou mesmo deixá-las assistir às mesmas por algum meio constitui, a nosso ver, um acto de irresponsabilidade educativa e mesmo um acto de abuso e desrespeito pelos seus direitos a serem protegidas de tudo o que ameace o seu desenvolvimento saudável e integral. Como afirma Richier (2008), a questão das touradas levanta duas questões importantes: a da protecção dos animais e a da protecção das crianças. Para ele, muitos testemunhos de adultos traumatizados por serem obrigados a assistir a touradas quando crianças levanta uma vez mais a questão da legitimidade em fazê-las assistir a tais espectáculos. Não podemos senão juntar a nossa voz ao coro de vozes que ecoam nesse sentido, a bem da formação de seres humanos mais lúcidos, conscientes, sensíveis e sociáveis.»

 

Prof. Doutor Vítor José F. Rodrigues

 

BIBLIOGRAFIA

- Aidman, Amy (1997): Television Violence: Content, Context, and Consequences. ERIC DIGEST, December.

- American Academy of Pediatrics (2009): Policy Statement — Media Violence www.pediatrics.org/cgi/doi/10.1542/peds.2009-2146 doi:10.1542/peds.2009-2146.

- Brown, Lester (2006): Plano B 2.0. (Edição Portuguesa) Câmara Municipal de Trancoso, Tribunal Europeu do Ambiente, Fundação para as Artes, Ciências e Tecnologias – Observatório.

- Columbia University Medical Center (2007, December 10). This Is Your Brain On Violent Media. ScienceDaily. Obtido em 22 de Julho de 2012 de http://www.sciencedaily.com/releases/2007/12/071206093014.htm

- Declaração Conjunta das grandes Associações relacionadas com a Saúde Mental nos EUA (2000): Joint Statement on the Impact of Entertainment Violence on Children http://www2.aap.org/advocacy/releases/jstmtevc.htm

- Delaney-Back, Virginia; Covington, Chandice; Ondersma, Steven J.; Nordstrom-Klee, Beth; Templin, Thomas; Ager, Joel; Janisse, James e Sokol, Robert J. (2003): Violence Exposure, Trauma, and IQ and/or Reading Deficits Among Urban Children. Arch Pediatr Adolesc, 156: 280-285.

- Fagan,Jeffrey; Wilkinson, Deanna L. e Davies, Garth (2007): Social Contagion of Violence, in The Cambridge Handbook of Violent Behavior. Daniel Flannery, A. Vazsonyi, & I. Waldman (Eds.), Cambridge University Press.

- Funk, Jeanne B.; Baldacci, Heidi Bechtoldt; Pasold, Tracie e Baumgardner, Jennifer (2004): Violence exposure in real-life, video games, television, movies,and the internet: is there desensitization? Journal of Adolescence, 27, 23–39.

- Grana, J.L.; Cruzado, J.A.; Andreu, J.M.; Munoz-Rivas, M.J.; Pena, M.E. e Brain, P.F. (2004): Effects of Viewing Videos of Bullfights on Spanish Children. Aggressive Behavior, Volume 30, pages 16–28.

- Hassan, Md Salleh Bin Hj; Osman, Mohd. Nizam & Azarian, Zoheir Sabaghpour: (2009): Effects of Watching Violence Movies on the Attitudes Concerning Aggression among Middle Schoolboys (13-17 years old) at International Schools in Kuala Lumpur, Malaysia. Journal of Scientific Research, Vol.38, No.1 (2009), pp.141-156.

- Huesmann, L. R., Moise-Titus, J., Podolski, C., & Eron, L. D. (2003). Longitudinal relations between children’s exposure to TV violence and their aggressive and violent behavior in young adulthood: 1977-1992. Developmental Psychology, 39, 201-221.

- Huesmann, L. Rowell, e D. Taylor, Laramie (2006): The Role of Media Violence on Violent Behavior. Annu. Rev. Public Health 2006. 27:393–415.

- Huesmann, L. Rowell (2011): The Contagion of Violence: The extent, the processes, and the outcomes. Address delivered at the National Academies of Sciences’ Institute of Medicine’s Global Forum on Violence, April 29.

- Hurt, Paul (texto recolhido na Internet em 2012): Bullfighting: arguments against and action against. In ttp://www.linkagenet.com/themes/bullfighting.htm

- Kirkpatrick, Kayla (2012): The Social Contagion of Violence; a Theoretical Exploration of the Nature of Violence in Society. California Polytechn State University, Winter. Senior Project at the Sociology Department.

- Lequesne, Joel (2011): El Procedimiento de la Corrida: el Punto de Vista de un Psicologo de la Educación. Retirado de http://www.facebook.com/note.php?note_id=209992965701092

- Murray, Kevin (1985): Life as Fiction. Journal for the Theory of Social Behaviour 15:2 July, 173-88

- Nell, Victor (2006): Cruelty’s rewards: The gratifications of perpetrators and spectators. Behavioral and Brain Sciences, 29, 211–257.

- Paniagua, Cecilio (2008): Psicología de la afición taurina. Ars Medica. Revista de Humanidades; 2:140-157

- Richier, J. P. (2008): Does bullfighting represent a psychological danger for young spectators ? Artigo encontrado em http://www.cas-international.org/fileadmin/protestacties/Documenten/Speech_Bruxelles_english_Richier.pdf

- Rodrigues, Vitor (2008): L’Amour, la Santé et L’Éthique. Synodies, Automne 2008, pgs. 36-45.

- Savage, Joanne (2003): Does viewing violent media really cause criminal violence? A methodological review. Aggression and Violent Behavior, 10 (2004), 99–128

- The Henry J. Kaiser Family Foundation (2003, Spring): TV Violence. Artigo disponível no website da Kaiser Family Foundation (document #3335), em www.kff.org .

- Williams, Jessica (2004): 50 Facts that Should Change the World. Cambridge: Icon Books. Ltd.

 

Fonte:

http://vitorrodriguespsicologo.weebly.com/uploads/3/5/9/1/3591670/touradas-psi.pdf

 

***

 

Consultar aqui mais textos relacionados com a esta problemática:

 

«PSICOLOGIA DA “AFICIÓN” TAURINA: SADISMO, NARCISISMO E EROTISMO»

https://arcodealmedina.blogs.sapo.pt/psicologia-da-aficion-taurina-sadicos-799332

 

A INSANIDADE MORAL DOS AFICIONADOS DE SELVAJARIA TAUROMÁQUICA

https://arcodealmedina.blogs.sapo.pt/a-insanidade-moral-dos-aficionados-da-743075

 

TAUROMAQUIA - DOENÇA DO FORO PSIQUIÁTRICO

https://arcodealmedina.blogs.sapo.pt/tauromaquia-doenca-do-foro-673168

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:00

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Quinta-feira, 10 de Maio de 2018

MORREU O TOURO SUFOCADO NO SEU CAIXÃO…

 

… quando ia a caminho de uma tourada...

 

Isto é o mundo bruto da tauromaquia, onde os Touros, bovinos, herbívoros mansos e sencientes, indefesos e inofensivos,   vão morrendo aos poucos, pelos caminhos que têm de percorrer entre o campo e a arena.

 

E alguns morrem antes de chegar à arena. Sufocados, confinados dentro de camiões.

 

E dizem que isto faz parte da tradição, da arte, da cultura dos países (oito terceiro-mundistas países) onde esta prática grosseira ainda persiste.

 

 

Repare-se na bestialidade desta "gente" grosseira, e em tudo o que envolve o que se vê na imagem. Os Touros são levados para a arena, fechados num cubículo, às escuras, onde mal cabem e respiram, e quando sobrevivem a esta tortura, e são largados nas arenas, ao que se passa imediatamente a seguir  - a reacção à luz, aos berros histéricos dos sádicos, ao lugar estranho, que não é o meio ambiente deles  - os tauricidas chamam "bravo" , e quando são atacados pelos cobardes toureiros, reagem com toda a coragem, num acto de legítima autodefesa, e os tauricidas chamam ao bovino que assim se defende "touro bravo".

Pudera! Qualquer animal humano ou não-humano, ficará bravo depois de passar o que estes desventurados Touros passam no caminho do campo à arena, enfiados e vilipendiados num cubículo, onde por vezes morrem asfixiados.

E há quem se pele todo a defender esta crueldade!

 

E o pior, acham que quem defende os animais não-humanos e a Vida, são doentes e precisam de psiquiatra, não tendo a menor noção de que eles é que são os psicopatas e os sádicos!

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:56

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Terça-feira, 17 de Outubro de 2017

Aficionado diz que cortar os cornos de um Touro é como cortar unhas e cabelos…

 

Recebi um comentário que diz da profunda ignorância em que vivem mergulhados os aficionados de tortura de Touros. E para que o Afonso não morra ignorante, vou tentar elucidá-lo…

 

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«Embolação, que inclui o corte e limagem dos cornos sem anestesia, e os deixa ainda mais stressados e debilitados»

(Origem da imagem)  http://vfxantitouradas.blogspot.pt/2013/10/pega-parte-1.html

 

Afonso Figueiredo comentou o post Verdades sobre as touradas que os tauricidas dizem ser mentiras às 15:17, 15/10/2017 :

 

Eu acho que esta Isabel é uma burra, estúpida e inúil, pois o q disse é MENTIRA. SE DIZ Q OS FORCADOS SÃO COBARDES VÁ VOCE PEGAR UM TOIRO. Os toiros não são torturados quando lhe espetam as bandarilhas pois tem gordura onde espetam as bandarilhas e também não dói quando lhe cortam os cornos, pois, é como cortar as unhas ou o cabelo. AS TOURADAS NÃO INFLUENCIAM A VIOLÊNCIA MAS SIM A BRAVURA DE ENCARAR UM BICHO DE 600 KILOS. QUEM ACHA Q AS TOURADAS DEVIAM SER BANIDAS É UM SOCIALISTA E COMUNISTA DA PIOR ESPÉCIE POIS EM VEZ DE SE PREOCUPAREM COM AS PESSOAS Q ESTÃO A SOFRER MAS IMPORTÃO-SE COM UM ANILMAL. A DICA FICA. FIQUE BEM SUA BURRA DA MERDA

 

***

 

Afonso Figueiredo, em primeiro lugar agradeço-lhe este seu comentário, porque é um contributo precioso para a Causa da Abolição da Tauromaquia em Portugal, e dá-me a oportunidade de reunir aqui alguma coisa, do muito que há a dizer, sobre as verdades que você, devido à cegueira que lhe obscurece a mente, quer acreditar que são mentiras.

 

Eu explico:

 

1 - Você acha que a Isabel é uma burra, estúpida e inútil… E achou muito bem. Você não fez mais do que projectar em mim as suas frustrações e limitações de aficionado de selvajaria tauromáquica, algo que se tiver capacidade para tal, poderá perceber o que é, neste link:

 

A “projecção freudiana” nos aficionados

http://arcodealmedina.blogs.sapo.pt/326500.html

 

2 – Você diz: «pois o q disse é MENTIRA. SE DIZ Q OS FORCADOS SÃO COBARDES VÁ VOCE PEGAR UM TOIRO Mas eu não preciso “pegar” um touro para saber que os forcados são os maiores cobardes do mundo. Basta ser humano, racional e sensível, e olhar para as imagens deste vídeo, com olhos de ver, e não com olhos de parvo:

 

3 – «Os toiros não são torturados quando lhe espetam as bandarilhas pois tem gordura onde espetam as bandarilhas…», pois têm gordura… Então não têm? É isso que dizem aos ignorantes. E você acredita. Então, se você tem uma barriga gorda, deixe que lhe espetem umas bandarilhas na barriga, e vai ver que não dói nada, por causa da gordura. E sabe, quando espetam bandarilhas ou farpas nos Touros, na tal gordura, os cobardes toureiros ou bandarilheiros estão a fazer-lhes festinhas, e as festinhas são tão meiguinhas que os põem a sangrar sumo de tomate, como nos filmes, e os Touros gritam de alegria, mas os sádicos não ouvem esses gritos de alegria, porque põem uma música muito alto, e tudo parece uma festa aos olhos dos ceguinhos mentais.

 

Mas se quer saber mais sobre as festinhas que os cobardes toureiros e bandarilheiros fazem aos Touros, leia este texto, se tiver capacidade para isso:

 

O sofrimento de um Touro diagnosticado por um médico-veterinário

http://arcodealmedina.blogs.sapo.pt/o-sofrimento-de-um-touro-diagnosticado-677391

 

4 – E você diz agora esta coisa notável: «e também não dói quando lhe cortam os cornos, pois, é como cortar as unhas ou o cabelo…». Você sabe o que são cornos? Acha que os cornos são parecidos com unhas e cabelos? Veja aqui o tormento dos Touros às mãos dos seus cobardes carrascos, quando lhes cortam os cornos, e não só…

 

Touradas à portuguesa - O outro olhar!

 

Tourada é sinónimo de suplício, e gostar de ver o sofrimento real de seres vivos será natural?

 

A verdade perversa sobre a tortura de Touros e Cavalos, antes, durante e depois da lide

 

 

5 – E você continua a delirar: «AS TOURADAS NÃO INFLUENCIAM A VIOLÊNCIA MAS SIM A BRAVURA DE ENCARAR UM BICHO DE 600 KILOS». Pois não, as touradas não influenciam POUCO a violência. São uma prática amorosa, em que o Touro é muito bem tratado dentro da arena, de tal modo, que quando sai, sai aos saltinhos, de tanto contentamento, deixando no chão um rasto de sumo de tomate que lhe sai do corpo, onde faz de conta que lhe espetaram umas cotonetezinhas de algodão, tamanho XXL, nas tais gorduras… E então os bravos cobardes forcados acham-se valentes diante de um Touro moribundo que pesa 600 kilos... Então isto não é uma valentia daquelas!!!!

 

6 – E agora mais esta: «QUEM ACHA Q AS TOURADAS DEVIAM SER BANIDAS É UM SOCIALISTA E COMUNISTA DA PIOR ESPÉCIE», diz você. Mas parece-me que não está a ver bem as coisas. Os comunistas (PCP) e os socialistas (PS) até podem ser da pior espécie, no seu conceito, e não lhe retiro razão, mas veja, os socialistas e os comunistas na realidade são defensores das touradas, no Parlamento, e nesses da “pior espécie” (a qualificação é sua, não é minha) estão incluídos os do PSD e os do CDS/PP, que também defendem a selvajaria, no Parlamento. Ora quem defende os Touros não se encaixa nestes partidos carniceiros. Nós somos Animalistas, valorizamos, de igual modo, todos os animais, sejam humanos ou não-humanos. Portanto, enganou-se na classificação. Mas está perdoado. Não se pode saber tudo… Mas agora já sabe.

 

7 – E agora temos o finale à moda de uma opereta italiana: «POIS EM VEZ DE SE PREOCUPAREM COM AS PESSOAS Q ESTÃO A SOFRER MAS IMPORTÃO-SE COM UM ANILMAL .A DICA FICA . FIQUE BEM SUA BURRA DA MERDA». Valha-nos Deus, que não nos preocupamos com as pessoas que estão a sofrer nesse mundinho miudinho que é o seu! E estamos a preocupar-nos com um animal senciente e digno como o Touro! Mas que pecado! Ainda vamos todos parar ao inferno, por causa disto! Pois a dica cá fica, porque aqui a Burra não se importa de ser Burra, porque as Burras são animais muitíssimo inteligentes, dignas e com uma personalidade bem vincada, atributos que nenhum aficionado, ainda que seja doutor professor mestrado, não tem. Quanto ao resto… bem… o resto serve para estrumar as terras. E vocês, aficionados de selvajaria tauromáquica, nem para estrumar as terras servem.

 

Espero que lhe tenha sido útil as minhas explicações.

 

E se depois disto ainda continuar a dizer que os Touros não sofrem, que os cornos são como unhas e cabelos e que os forcados são uns valentões ao “pegar” touros moribundos… a opção de morrer ignorante e cego mental (há cura para isto) é inteiramente sua.

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:53

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Quarta-feira, 4 de Outubro de 2017

AFICIONADOS DE SELVAJARIA TAUROMÁQUICA, ESTÃO A CHORAR MUITO?

 

Há por aqui algum aficionado de touradas que esteja a chorar baba e ranho pela morte do monstro de Las Vegas, que metralhou uma multidão pacífica, fez 59 mortos e mais de 500 feridos?

 

É que eu não estou. Não me regozijei com esta morte. Mas não estou a chorar baba e ranho. Simplesmente sou indiferente e digo: menos um a fazer o mal neste mundo.

 

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 (Imagem: David Becker /Getty Images)

 

«Se não estão a chorar deviam, têm muito em comum, este também matou porque sim. Porque gostava, porque fazia senti-lo poderoso, porque lhe dava prazer. Em suma porque como eles (os cobardes tauricidas) era uma besta desprezível, com baixo QI, problemas de auto-estima, problemas cognitivos, incapacidade de sentir compaixão ou empatia. Enfim um sub-humano, que finalmente se foi, embora tarde demais. Esta conclusão pode ser extensiva a seres similares...» (cobardes toureiros, forcados, bandarilheiros, ganadeiros e os sádicos que aplaudem a morte e a tortura na arena, para se divertirem)...

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 11:03

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Segunda-feira, 18 de Setembro de 2017

VOTAREMOS APENAS EM CANDIDATOS QUE NÃO ESTEJAM COMPROMETIDOS COM A SELVAJARIA TAUROMÁQUICA

 

Proponho-me a reproduzir aqui o precioso  testemunho de uma ribatejana, publicado no Facebook, a qual não se identifica com a barbárie que caracteriza o Ribatejo.

Estas eleições autárquicas poderão servir para penalizar todos os candidatos que, à direita e à esquerda, por todo o país, apoiam a selvajaria tauromáquica, que tortura e mata animais não humanos e tira a vida e estropia animais humanos…

 E nenhum destes candidatos merece o nosso voto…

 

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Texto de Isabel Faria

 

«Aprendi a rejeitar as touradas, por uma questão de classe. Os donos dos touros eram sempre, nas minhas certezas juvenis, os latifundiários. Os mesmos que iam para a Praça do Mercado escolher os trabalhadores agrícolas para trabalhar à jorna, recusar dar trabalho a trabalhadores agrícolas, ou chamar a GNR para os reprimir.

 

Os toureiros eram deles. Os forcados eram os filhos dos capatazes das suas terras. Os que ambicionavam ser deles.

 

Possivelmente com alguma análise mais adulta, a equação não seria assim tão linear... mas ainda faltava muito para análises adultas.

 

Só com o tempo, juntei à questão da barricada, o marialvismo reaccionário, a barbárie do espectáculo, o sofrimento infringido aos animais, a desumanidade de ir para as bancadas vibrar com o sofrimento e aplaudir o sangue.

 

Por isso tudo, sou claramente a favor do fim das touradas. Por isso tudo, e voltando, de relance, às autárquicas, seria incapaz de votar num candidato ou num programa que as protegesse, impulsionasse, sequer, acriticamente, aceitasse.

 

Morreram dois jovens em pouco mais de uma semana, em arenas de Praças de Touros em Portugal. A morte é sempre uma tragédia. Os acidentes têm sempre responsáveis e culpados.

 

Estes acidentes são fruto de uma "tradição" bárbara e sem nenhum sentido, que massacra animais e mata homens.

 

À Esquerda devia ser uma linha vermelha intransponível, mantê-la ou apoiá-la.»

 

Fonte:

https://www.facebook.com/josegmatias/posts/10203611412161876?comment_id=10203611523204652&notif_t=comment_mention&notif_id=1505674632260339

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 14:34

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Sábado, 16 de Setembro de 2017

MAIS UM FORCADO ATIRADO À MORTE POR AFICIONADOS

 

Atirado à morte por aficionados e aplaudido por sádicos, numa arena quase vazia, na Moita, mais um forcado morre de uma morte insana, inútil e inglória.

E é isto que querem elevar a património cultural

Não estava lá por obrigação, mas por devoção à barbárie.

A Lei do Retorno anda por aí, infalível e implacável…

É que Deus suporta os maus, mas não eternamente, já dizia Miguel de Cervantes, autor de «Dom Quixote de la Mancha», o qual viu os seus carrascos serem mortos, um a um.

Mais uma morte, carimbada pelo governo português.

Quantos mais precisarão de morrer, para que se acabe com esta estupidez?

 

FORCADO.jpg

 

Morreu esta manhã, o forcado Fernando Quintela, que não resistiu às fortes hemorragias internas, que sofreu, ontem, quando o Touro que torturava, também ele com hemorragias internas, sofridas ao lhe serem espetadas bandarilhas, o colheu, em legítima defesa, em mais uma sessão de selvajaria na Moita.

 

Os tauricidas aproveitaram-se logo desta morte, para fazer propaganda à ganadaria que “forneceu” o Touro, para ser sacrificado em nome do vil metal e do sadismo, e ao grupo de forcados a que pertencia o falecido, que tinha apenas 26 anos.

 

Os aficionados atiraram mais um jovem para a morte, e estavam a aplaudi-lo quando foi colhido pelo Touro moribundo.

 

E do que é capaz um animal, seja humano ou não humano, quando está moribundo, e reúne as suas derradeiras forças para se defender!

 

Quantos mais terão de morrer?

Até quando?

 

E pensar que esta barbárie acaba de receber, por vias obscuras, 200 mil euros do Orçamento Participativo Portugal (OPP), para que continuem a morrer, insanamente, jovens forcados e toureiros e Touros e Cavalos… Se esta selvajaria vier a ser património, será o património da morte nas arenas.

 

Isabel A. Ferreira

 

Fonte da notícia e da imagem:

http://touroeouro.com/article/view/14915/faleceu-o-forcado-fernando-quintela

 

***

E NA MOITA É ASSIM…

 

Duas pessoas baleadas nas “festas” da Moita, no distrito de Setúbal.

Como se a morte do forcado Fernando Quintela já não bastasse, hoje, nas “festas” da Moita, duas pessoas foram baleadas, tendo sido transportadas para o hospital, informou fonte da GNR, sem adiantar mais pormenores.

O caso foi entregue à Polícia Judiciária.

 

Fonte da notícia:

https://www.noticiasaominuto.com/pais/865255/duas-pessoas-baleadas-nas-festas-da-moita

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 11:58

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OS TOUROS SÓ INVESTEM SE FOREM TORTURADOS!

 

Mais um mito tauromáquico destruído pela realidade.

 

Os Touros, como herbívoros que são, só investem para se defenderem dos carrascos que o atacam cobardemente: toureiros, bandarilheiros, forcados…

 

Os tauricidas e afins vivem num mundo de mentiras, criadas para sustentarem uma prática selvática, que apenas serve interesses económicos obscuros e os maus instintos de quem a pratica, a aplaude, a promove, a apoia…

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 11:05

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Quarta-feira, 30 de Agosto de 2017

Morte de Touros e toureiros nas arenas demonstra como esta prática é cruel e irracional

 

Eu nem fico contente, nem triste, com a morte de um toureiro na arena. Não comemoro, mas também não choro. É-me indiferente. Quem ataca touros habilita-se a ser agredido, porque é dos animais, quer sejam humanos ou não humanos, defenderem-se instintivamente, quando são atacados.

 

Um toureiro ataca o Touro porque é sádico, psicopata. O Touro investe sobre o toureiro porque tem o direito de se defender do ataque do seu carrasco.

 

Por isso, lamentar que morte? A do Touro, obviamente, que não foi para arena por sua livre e espontânea vontade, e porque o Touro não é carrasco, nem cobarde, nem cruel.

 

MORTE DE TOUREIRO.jpg

 

Num artigo intitulado «Mortes e feridos nas Praças de Touros» o professor açoriano Teófilo Braga aborda este tema, a propósito da morte do toureiro basco Iván Fandiño, de trinta e seis anos, no passado dia 17 de Junho, no sudoeste de França.

 

Refere o autor que Fandiño «matava touros, para divertimento de seres pouco humanos, desde os 14 anos de idade. O toureiro foi atingido pelo corno de um touro quando já estava no chão durante uma tourada em Aire-sur-l'Adour».

 

«De acordo com a agência de notícias EFE, no século XX, morreram 138 profissionais da tauromaquia devido a sofrimentos sofridos nas arenas.

 

A morte de toureiros não impressiona muito os adeptos da tauromaquia, pois para estes não há bela sem senão, isto é, não há beleza na tauromaquia se aqueles não colocarem em risco as suas vidas.

 

Os opositores das touradas não reagem de forma uniforme. Com efeito, se há alguns que se regozijam com as mortes, há outros que lamentam o facto e usam-no como um dos argumentos para combater as touradas.

 

Em relação ao número de mortes, Fernando Alvarez, doutor em biologia pela Universidade de Tulane (E.U.A.), autor do livro “La Verdade Sobre los Toros” não nega que não haja risco, mas considera-o muito baixo, pois os toureiros estão muito bem informados acerca dos handicaps físicos do touro, em termos de visão, que “não vê ou só vê um vulto entre meio metro e um metro de distância e que ataca sobretudo o que está mais perto e em movimento”.

 

O mesmo autor refere que os toureiros não têm qualquer razão para se vangloriarem dos seus pretensos feitos já que, segundo as estatísticas, muito maior risco correm as pessoas que trabalham nas minas, nos transportes e na construção civil”.

 

Não me incluo nos que ficam contentes quando alguém fica ferido ou morre numa tourada porque o que desejo é que não haja derramamento de sangue, nem abuso de animais, nem mortes nas praças ou nos matadouros, “às escondidas”, depois das touradas.»

 

Não me incluo nos que ficam contentes quando alguém fica ferido ou morre numa tourada porque o que desejo é que não haja derramamento de sangue, nem abuso de animais, nem mortes nas praças ou nos matadouros, “às escondidas”, depois das touradas» conclui Teófilo Braga.

 

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 31305, 15 de agosto de 2017, p.8).

 
Fonte:

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1760480257299893&set=a.166480236699911.42193.100000138080317&type=3&theater

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 11:21

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Quarta-feira, 26 de Julho de 2017

CARTA ABERTA AO PROVEDOR DO TELESPECTADOR NA SEQUÊNCIA DE UM PROTESTO CONTRA TRANSMISSÃO DE TOURADAS NA RTP1

 

Na qualidade de cidadã, forçada a pagar a taxa audiovisual, e que, imbuída de espírito cívico e humanista, pugna pelos Direitos dos Animais Não-Humanos, apresentei um legítimo protesto ao provedor do telespeCtador, a respeito da transmissão de selvajaria tauromáquica na RTP1, que pode ser consultada neste link:

 

As touradas não são serviço público

 

Na sequência disso, recebi a seguinte carta que muitos mais cidadãos indignados e que também protestaram, igualmente receberam, e a qual me deixou bastante estupefacta.

 

Entretanto, veja-se neste vídeo a barbaridade que está em causa:

 

 

É a esta carta que responderei de seguida. (Os erros ortográficos nela incluídos são da responsabilidade do autor da carta)

 

Susana Odilia Martins Faria <susana.de.faria@rtp.pt>

17:18 (há 17 horas)

   

Para

mim

Exmo(a) Senhor(a),

Encarrega-me o Senhor Provedor do Telespetador [em Português: telespeCtador] de lhe transmitir a seguinte resposta:

 

“Recebi a mensagem que enviou para o meu endereço de correio eletrónico [em Português: eleCtrónico]. Ela traduz a sua adesão a uma campanha que terá, seguramente, as suas razões de ser. É, porém, uma campanha mal dirigida pois sobre a matéria em causa o Provedor do Telespetador [em Português: telespeCtador] não tem poder de decisão.

 

Para sua informação:

A RTP1 esta temporada vai limitar-se à transmissão de três touradas.

 

Sobre a transmissão de touradas pela RTP, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social já se pronunciou, bem como, anteriormente e sobre o valor cultural das mesmas, o Ministério da Cultura. Também sobre tais transmissões se pronunciou, mais do que uma vez, o meu antecessor.

 

Creio, assim, que para impedir a transmissão de touradas na RTP1 talvez tenha de obter legislação específica nesse sentido. Penso também que os argumentos (pró e contra) são suficientemente conhecidos. Cabe agora a palavra a quem tem capacidade legal de impor uma decisão.

m/ cumprimentos,

Jorge Wemans

Provedor do Telespetador[em Português: telespeCtador]

 

Susana de Faria Gabinete de Apoio aos Provedores

(+351) 217 947 087

 

***

Exmo. Senhor Provedor do TelespeCtador:

 

Fiquei deveras estupefacta com esta resposta que V. Exa. se dignou a enviar-me, a qual, de qualquer modo, muito agradeço.

 

Surpreendeu-me o seu conteúdo, pelos seguintes motivos:

 

Primeiro: o senhor diz que a campanha está mal dirigida, pois sobre a matéria em causa o Provedor do TelespeCtador não tem poder de decisão? Tem a certeza disso? O Provedor do TelespeCtador só não terá poder de decisão nesta matéria ou nas outras matérias também? É que se o Provedor do TelespeCtador não tem poder de decisão apenas nesta matéria, há algo suspeito por detrás desta impotência.

 

Segundo: o facto de a RTP1 esta temporada limitar-se à transmissão de três touradas, não justifica absolutamente nada. Três touradas significa a tortura ao vivo de 18 Touros e uns tantos Cavalos, animais sencientes e racionais (e não sou eu que o digo, mas sim biólogos de várias universidades do mundo, basta procurar na Internet esses estudos); três touradas significa que a RTP1 esbanja dinheiros públicos de um modo vil, indigno de uma estação televisiva evoluída, ainda que apenas transmitisse o vídeo que ilustra o que aqui está em causa: o sofrimento atroz de um ser vivo, torturado e transmitido ao vivo para uma minoria mentalmente deformada, constituída por sádicos e psicopatas (e isto não sou eu que digo, são as Ciências da Mente e do Comportamento Humano) que aplaudem o sofrimento, a estupidez, a crueldade e a violência gratuitas exercidas sobre seres vivos.

 

Terceiro: o que diz sobre os pronunciamentos da Entidade Reguladora para a Comunicação Social e sobre o valor cultural (não será mais para o coltural?) emitido pelo Ministério da Cultura vale zero, porque ambos os organismos têm ao leme aficionados subservientes a um lobby que manda e desmanda no Parlamento Português. Quanto ao antecessor de V. Excelência, na verdade, ele pronunciou-se contra a transmissão desta barbárie, mas o parecer dele não foi considerado. E ao não ser considerado ele só tinha uma coisa a fazer: demitir-se. Não o fez. As razões, levou-as para o túmulo.

 

Quarto: o senhor crê que para impedir a transmissão de touradas na RTP1 talvez se tenha de obter legislação específica nesse sentido. Pensa também que os argumentos (pró e contra) são suficientemente conhecidos, cabendo a palavra final a quem tem capacidade legal de impor uma decisão.

 

Ora acontece que o senhor tocou num ponto fulcral: todos nós sabemos que as leis em Portugal são elaboradas por incompetentes ao serviço de lobbies, e que legislam a favor destes e não a favor do superior interesse de um País, que todos gostaríamos de ver no rol dos países civilizados e evoluídos. E enquanto o poder legislativo estiver em mãos de aficionados, incompetentes e servis, a legislação específica será a de torturar e encher os bolsos com essa tortura, à maneira dos povos terceiro-mundistas. E isto é bastamente imoral.
 

Além disso, se a palavra final depende de quem tem capacidade legal para impor uma decisão, também estamos mal, uma vez que essa decisão está precisamente nas mãos de quem não tem capacidade, nem legal, nem outra, nem lucidez, nem bom senso, nem inteligência para discernir e chegar à conclusão de que a tauromaquia é uma prática indigna, cobarde, cruel, violenta imbuída da mais profunda estupidez, rejeitada por milhares e milhares de Seres Humanos evoluídos, por todo o mundo. Basta ver que em 193 países, apenas oito (e como é lamentável ver Portugal nesta listinha) mantêm essa prática como algo a que chamam “tradição, arte e cultura”, e que só classifica por baixo os governos que a apoiam.

 

Quinto: se o Provedor do TelespeCtador é impotente para transmitir à administração da RTP os protestos dos telespeCtadores (não telespetadores, porque nós não espetamos nada, quem espeta são os cobardes toureiros) em relação a um programa grosseiro, imbecil e inculto, que não transmite nada que seja humano, cultural ou educativo, e tal impotência o impede de cumprir o que está estipulado na Lei n.º 2/2006 de 14 de Fevereiro que no seu CAPÍTULO VII - A, Artigo 23.º-D, fala sobre as Competências do Provedor do Ouvinte e do TelespeCtador, nomeadamente as alíneas a) e b), que dizem o seguinte:

a) receber e avaliar a pertinência de queixas e sugestões dos ouvintes e telespeCtadores sobre os conteúdos difundidos e a respeCtiva forma de apresentação pelos serviços públicos de rádio e de televisão;

 

b) produzir pareceres sobre as queixas e sugestões recebidas, dirigindo-os aos órgãos de administração e aos demais responsáveis visados;

 

vai desculpar-me, mas então esse cargo só serve para sorver dinheiros públicos, é uma inutilidade, por isso, o mais digno a fazer é pedir a sua demissão, pois os Portugueses pagam-lhe um salário para PODER AGIR, e ser a voz de quem paga contrariado uma taxa audiovisual, e, portanto, deve ser bem servido; não é pago para NÃO PODER AGIR, e se o parecer de Vossa Excelência sobre as queixas dos telespeCtadores nada vale, o que está aí a fazer?

 

Com os meus cumprimentos,

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:12

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