Por: Cristina D'Eça Leal
«O único argumento legítimo e verdadeiro que têm [os aficionados], é o de a tourada ser um espectáculo legalizado e, como tal, terem todo o direito a participar. Ponto final porque acabam aí os argumentos válidos. O Sr. que fala em adrenalina ou no sangramento para alívio do touro obviamente não entende nada de biologia, de fisiologia ou de comportamento animal; percebe apenas da sua adrenalina quando assiste a espectáculos de violência. Essa dos sangramentos para alívio dos humores foi uma prática médica muito em voga na Idade Média mas abandonada posteriormente.
O que está na base do movimento anti-touradas não é claramente uma questão de gostos. Os gostos não se discutem. O pior é quando os nossos gostos colidem com a vida ou a integridade física de outros. Gostar é diferente de amar ou respeitar. É por demais evidente que os pedófilos gostam de crianças; mas é uma maneira de gostar que passa pela exploração dos menores e pela negação dos seus direitos.
Os que vivem da indústria tauromáquica cuidam dos touros porque vivem da sua exploração; se eles não lhes trouxessem rendimento, duvido que tratassem deles em regime pro-bono. Mas fica o desafio: vamos ver quantos aficionados amam verdadeiramente a raça taurina e se dispõem a cuidar dos exemplares existentes quando acabarem as touradas. Como fazem, por exemplo, as associações de animais por este país fora, que abnegadamente se dedicam a cuidar de cães e gatos abandonados.
Outra falácia comum para fugir à discussão séria sobre ética é comparar a vida em liberdade que precede a tortura na arena à vida dos animais em criação intensiva. É claro que a criação intensiva é uma ignomínia, mas não invalida que as corridas de touros não constituam também uma ignomínia.
Aqui podemos cair na questão de comparar coisas parvas como campos de concentração, por exemplo: seria melhor acabar em Auschwitz ou em Treblinka? É melhor morrer à nascença ou aos 4 anos? Com uma facada no peito ou afogado? Tudo isto são questões absolutamente laterais e cujo único objectivo é desviar a atenção de uma pergunta muito simples: é eticamente aceitável criar um animal para o massacrar publicamente e ganhar dinheiro assim? Se respondermos sim, abrimos a porta para as lutas de cães, de galos, e até de indivíduos que, por grande carência financeira ou mesmo falta de neurónios, se disponham a entrar num recinto e participar numa luta de morte em jeito de espectáculo.
Há quem goste de ver. E se vamos pela quantidade de público a assistir, nada batia os linchamentos públicos nos pelourinhos. Mas isso também acabou; houve uma altura em que passámos a considerar isso um espectáculo incorrecto e imoral.»
Fonte:
Reparem no corpo do animal, marcado a ferro e fogo, a sangrar, e principalmente vejam a patinha dianteira. É isto que os legisladores portugueses estão a APOIAR?
Li o texto que se segue, algures, publicado pela ASSOCIAÇÃO PRÓ TOIROS NA LINHA (que não pode ser registada com este nome, até já me ri!), e fiquei a reflectir.
As coisas estão a correr bem.
Cada vez menos gente está interessada na TORTURA de TOUROS E CAVALOS.
É que isto não combina nada com EVOLUÇÃO e com CULTURA.
E quem é que gosta de ser chamado de atrasado ou de inculto?
E quem, neste momento, depois de toda a REVOLUÇÃO que vai por este mundo fora, no sentido da ABOLIÇÃO das Touradas e da LIBERTAÇÃO ANIMAL, quererá correr o risco de ser qualificado de ignorante?
Sim, porque IGNORANTE, de uma maneira ou outra, somos todos nós.
Eu, por exemplo, sou ignorantíssima em Física Nuclear. Não sei nada sobre Física Nuclear. Logo, sou ignorante nesta matéria.
Ora, quem não percebe nada de BIOLOGIA, não sabe o que é um animal, nem do que um animal é feito. Pensam que é de pau, e o que vêem sair do corpo dele, quando lhe espetam bandarilhas, é sumo de tomate, que está dentro de sacos de plástico.
Assim sendo, uma pessoa que não sabe BIOLOGIA é IGNORANTE nesta matéria.
Posto isto, vamos saber dos AZARES DOS AFICIONADOS (os sublinhados são meus):
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«A União é Suposta Fazer a Força... E a “Festa” mais que nunca está a precisar!
Por Associação Pró Toiros na Linha
Quinta-feira, 14 de Junho de 2012 às 18:47
Vivemos um momento de grande tensão no meio taurino!
E vivemos este momento por diversos motivos, externos, mas também alguns internos...
Na verdade vivemos esta crise que assola a economia do nosso país e as finanças do seu Povo (isto não é verdade, a verdade é que as pessoas estão a deixar de ser ignorantes, por isso não vão às touradas. Os campos de futebol não têm esse problema.)
Em consequência, menores são as possibilidades de cada um de nós assistir a todas as Corridas de Toiros que gostaríamos!
Mas isto acontece na tauromaquia, como acontece no cinema, teatro, nos restaurantes, nas casas nocturnas e em todas aquelas coisas que por não serem de importância máxima para a sobrevivência de cada um, são postas à margem num momento em que os remédios, a alimentação própria e da família ou a casa já começam a ser fardos difíceis de suportar! (até porque muitas dessas “coisas” deixam de ter ajuda, para que haja apoios para as touradas, mas não chega, pois não?)
Nesse sentido há que repensar, sem qualquer sombra de dúvida, como fazer para levar a tauromaquia de uma ponta à outra da crise, sã e salva e nas melhores condições possíveis.
Passará certamente por uma solução conjunta de Ganadeiros, Empresários, Criadores de Cavalos, Toureiros e todos os restantes intervenientes directos e indirectos da Festa. (Têm todos de mudar para uma profissão menos sanguinária, é a única saída.)
Passará certamente por criar regras de sobrevivência para este espectáculo, esta arte que todos tanto gostamos e pela qual alguns arriscam tanto das suas vidas e até das vidas dos seus familiares directos, uma vez que disso depende a sua subsistência e das suas famílias. (Coitadinhos, vivem tão mal, à custa da violência! A violência acaba sempre por se espatifar na berma de uma estrada poeirenta, não se esqueçam disso. É melhor saírem dela, enquanto vão a tempo.).
Mas passará certamente pela união de todos sem excepção, intervenientes e aficionados! Porque há sem dúvida muitos aficionados que são os primeiros a prestar serviço à causa dos anti-taurinos... (Ora se prestam! Não dizem uma de jeito. Não têm sequer um argumento para justificar a TORTURA, ou seja, o que não pode ser justificado, logo quantas mais dessas vierem, mais ajudam a causa anti-tourada. A ignorância é a mãe da crueldade... Não se esqueçam desta também...)
Dizia eu no princípio deste modesto desabafo que a Festa vive um momento de grande tensão interna e externa. (Tensão, não, extrema-unção... está no fim...podem crer!)
Na verdade, os anti-taurinos encontraram em alguns políticos, essencialmente no Bloco de Esquerda, mas também em alguns outros partidos políticos, aliados para fazer crescer a sua luta. (E ela está VIVA, cada vez mais VIVA, em todo o mundo).
E assim se têm organizado – aliás muito bem – cavando trincheiras bem no meio das nossas casas sem que nós demos por isso ou no mínimo, sem que façamos alguma coisa contra isso! (O que demonstram que estão a ser espertos. Não vale a pena imitar o Dom Quixote.)
Até porque, já se sabe, quem está instalado pouco se mexe em sua própria defesa até ao dia em que lhe entram pela casa dentro...
O BE, encontrou nesta batalha, bem como na do aborto entre outras, a capacidade de mobilizar alguns fanáticos e assim gerar alguns – poucos - votos. E nesta fase em que tão por baixo estão, cada vez mais precisam de causas fanáticas a que se agarrar! (Causas fanáticas, alto lá! A vossa causa é que é fanática, porque implica VIOLÊNCIA CONTRA UM SER VIVO PARA VOS DIVERTIR, e não vêem um palmo adiante do nariz, só o sangue dos pobres animais vos dá gozo).
Assim, depois de em 19 de Janeiro ter percebido não haver condições para apresentar os Projectos-Lei a votação, a quando do debate em que a tauromaquia saiu vitoriosa do Parlamento, viu na recepção feita pelo Sr. Primeiro-ministro a um movimento anti-taurino e na recepção do Secretário do Estado da Cultura a associações anti-taurinas para estas opinarem sobre o documento que virá depois de aprovado a regular a Tauromaquia, o clima mais favorável ao contra-ataque! (Alto lá! Quem tem saído vitoriosa no Parlamento é a CAUSA DA ABOLIÇÃO DA TOURADA. Nunca como agora se tem falado tanto no assunto. E isso já é uma grande VITÓRIA, e podem crer: os partidos que estão a favor da tauromaquia vão ser PENALIZADOS, e MUITO, nas próximas eleições, porque nós SOMOS MUITO MAIS).
Em resultado disso, no próximo dia 22 de Junho, pelas 17 horas, e segundo nos diz a Prótoiro – passo a citar - “o Bloco desafia agora todos os interessados em participarem num debate público sobre esses mesmos projectos que, mesmo sabendo-se que não ameaçam a continuidade da Tauromaquia, constituem um ataque inadmissível e intolerável à Cultura, à Identidade e à Liberdade dos Portugueses”.
Face a este apelo da Prótoiro, é sem dúvida chegada a hora de toda a afición se mobilizar para defender os seus princípios.
Peço assim com a maior humildade a todos que deixem as “fracturas” e ideias próprias de lado e apoiem a Prótoiro incondicionalmente nesta acção, apoiando assim a própria Festa Brava e a verdadeira Cultura Portuguesa! (Viu-se a postura da prótoiro: só insultos. E nós tivemos mais uma GRANDE VITÓRIA. Além disso limpem a boca quando falarem em CULTURA PORTUGUESA. A tauromaquia não consta em nenhum livro de CULTURA PORTUGUESA. Eu sei do que estou a falar, porque estudei essa matéria na Faculdade, e nunca ouvi falar que a tauromaquia fosse “cultura”. Será COLTURA? Mas essa não vem nos livros.)
Podem estar certos de que os políticos, os partidos e os governantes portugueses estão atentos à nossa capacidade de mobilização nesse dia, podendo esta ser determinante na forma como a Tauromaquia será tratada por estes no futuro! (Os políticos não estão atentos à vossa “capacidade de mobilização”, porque ela não existe. Estão, sim, atentos é aos votos que VÃO PERDER se continuarem a apoiar a TORTURA).
Se no Europeu de Futebol se diz agora: - Onze por Todos e Todos por Onze, é momento de na Tauromaquia se dizer:
- Todos com Todos pela Tauromaquia!!!
Ricardo Dias Pinto»
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Pois Ricardo Dias Pinto, a esmagadora maioria dos Portugueses está a dizer: MORRA A TAUROMAQUIA.
E ela está moribunda... Está com os pés na cova. Agora é só mais um empurrãozinho e ela ficará enterrada por inteiro, como ficaram todas as outras “tradições primitivas e sangrentas” que já nenhum povo civilizado pratica.
Podem ir pensando em hortinhas e pomares. Esqueçam as arenas da tortura.
Touro Ferido (Internet)
Isto é Arte? É Cultura? É Património? É Festa? Tenham vergonha!
(Para Vasco Graça Moura)
Na última revista “Caras”, nº 772, de 29 de Maio de 2010, foi publicado um artigo sob o título «AFICIONADOS DA FESTA BRAVA REUNIDOS – Admiradores das Touradas defendem tradição no Campo Pequeno».
E lá vem algumas fotografias dos aficionados, dos empresários da tortura, enfim... unidos para apoiar a PRÓTOIRO – Federação Portuguesa das Associações Taurinas, que tem como objectivo principal defender e preservar o PATRIMÓNIO da tauromaquia.
Ora nem mais, vamos propô-lo à UNESCO, como PATRIMÓNIO DA DESUMANIDADE, uma vez que a UNESCO, na sua DECLARAÇÃO, em 1980, a este propósito, diz o seguinte: «A tauromaquia é a terrível e venal arte de tourear e matar animais em público, segundo determinadas regras. Traumatiza as crianças e adultos sensíveis. A tourada agrava o estado dos neuróticos atraídos por estes espectáculos. Desnaturaliza a relação entre o homem e o animal, afronta a moral a educação, a ciência e a cultura».
Não inventei nada.
Depois o cavaleiro João Ribeiro Telles, falou da importância que a PRÓTOIRO tem para DIGNIFICAR e divulgar a tauromaquia. Como se a tortura de um ser vivo possa ter alguma dignificação!
E diz mais o cavaleiro Telles: «É uma obrigação nossa, intervenientes da FESTA, ENGRANDECER esta ARTE e dinamizá-la. Não damos muita importância às vozes contra a tourada, NÃO TÊM um peso grande, e isso ultrapassa-nos. O que queremos é preservar a TRADIÇÃO».
Primeiro: a FESTA. Se formos ao dicionário ver o que significa festa, encontramos, por exemplo, “alegria”.
Sim, a tourada é uma festa de alegria: chega o magnífico Touro à arena, depois um cavaleiro a picar o cavalo, a tal ponto que lhe fere a abdómen, e o sangue começa a escorrer. Depois vem o espetar das bandarilhas, a abrir buracos no dorso do Touro e a fazer escorrer mais sangue. E entre olés e gritaria histérica o Touro vai lutando, como pode, pela sua vida, arfa, espuma, e vem mais outra farpa, e outro buraco nas carnes já feridas, rasgadas, e mais sangue jorra. É na verdade a FESTA dos sádicos.
Quanto à ARTE querem dizer: arte da TORTURA. Lá isso é!
O que pretendem é preservar a TRADIÇÃO dessa TORTURA.
Que tradição? Uma tradição que nem sequer é portuguesa.
Depois vem um depoimento de um dos membros da Associação Portuguesa de Empresários Tauromáquicos, os tais dos negócios, a puxar a brasa para a sardinha deles. Claro!
E a seguir vem um parágrafo que me deixou estupefacta, e que diz o seguinte:
«Apesar de não ser um dos intervenientes directos no espectáculo tauromáquico, Vasco Graça Moura é uma das muitas figuras públicas que apoiam esta causa».
E Vasco Graça Moura profere então esta pérola discursiva: «Há muito tempo que acho que a festa brava deve ser defendida. Cada pessoa é livre de ter a sua opinião, mas para mim o argumento do sofrimento animal não me parece suficiente, porque assim não comeríamos leitão da Bairrada nem frango de aviário... E há outros interesses em jogo, como a importância antropológica, cultural e económica da festa brava. Acho que é um espectáculo bonito, com a coreografia do perigo entre a inteligência e agilidade do homem com a força bruta do animal».
Banzei-me! Para Vasco Graça Moura o argumento do sofrimento do animal é irrelevante, porque assim não comíamos leitão nem frangos.
Eu não acredito que alguém que é (será?) da CULTURA CULTA pudesse dizer tamanha idiotice. Como se o leitão e as galinhas, que ele come, fossem torturados, massacrados, picados com farpas durante duas ou mais horas, até à sangria total, e passados uns dois ou três dias, são mortos.
Disse bem, senhor Graça Moura, há outros interesses em jogo, mas não a importância antropológica (então e o lobo, e o lince, e outras espécies que estão em extinção em Portugal, incomodam-se com isso?); nem cultural, pois quem tem um pingo de inteligência sabe que TORTURA NÃO É CULTURA, em lugar nenhum do mundo civilizado. Fale-me da questão económica, essa sim, com peso, à custa da tortura do Touro. Uma desonra para um país com gente dentro!
O espectáculo é “lindíssimo”, realmente, com todo aquele sangue a escorrer, com o desespero do animal a sair-lhe pelos olhos, a dor muda que ele sente ao ter as suas carnes rasgadas... Espete uma coisa daquelas nos seus costados, senhor Graça Moura e sinta: a dor é IGUAL, pois o Touro é um mamífero superior... igualzinho a si, por dentro, fisicamente, mas muito superior na dignidade dele, como um animal não humano.
É um espectáculo deveras “lindíssimo”... para os sádicos, para os carniceiros!
Bem... não vale a pena falar nisto, pois só assim se exprime quem não tem a mínima noção básica de Zoologia, de Biologia, de Anatomia... enfim... Não sabe nada dos seres vivos, nem de si próprio.
O senhor Graça Moura gosta da coreografia do perigo, que, aliás, é muito parecida com a coreografia do bailado “Lago dos Cisnes”; gosta também da “inteligência” e “agilidade” do homem contra a força bruta do animal.
Que inteligência? Que agilidade? Com farpas na mão? Com espadas na mão? Contra um animal já torturado no curral, sem qualquer força bruta para se defender na arena?
Isso chama-se COBARDIA, da parte do homem, obviamente.
No meio deste Circo Romano, o BRAVO é o Touro.
O artigo acaba dizendo que os aficionados puderam deixar a sua marca numa tela feita para a ocasião por Júlio Pomar. Júlio Pomar!!!
A marca do sadismo.
Cada um é livre de ser sádico.
Já não é livre de usar o seu sadismo para torturar animais. É por isso, que há gente que GRITA por eles, uma vez que não têm voz para se defenderem dos sádicos.
E finalmente, eu sou livre para retirar das minhas estantes os livros de Vasco Graça Moura, que até este momento tinha como um homem inteligente e de Cultura Culta, e agora sei que não é nada disso.
Que desilusão!
Isabel A. Ferreira