Touros, animais como nós, tranquilamente no prado, imagem que se quer eterna...
EM NOME DA CULTURA, DA CIVILIZAÇÃO E DA ÉTICA ANIMAL
Exma. Sra. Dr.ª Assunção Esteves,
Presidente da Assembleia da República Portuguesa:
Com conhecimento de todos os Grupos Parlamentares
Começarei esta carta com uma citação que me parece oportuna: «O homem, seja qual for o glorioso nome com que se adorna, é, em minha opinião, um animal infeliz. Fazemos pouco bem e muito mal e, o que é mais grave, fazemos mal o pouco bem que fazemos» (Jean-Baptiste Alphonse Karr – crítico, jornalista e novelista francês).
Portugal é um Estado de Direito (é o que dizem). É uma Democracia (é o que dizem). É um país onde existe liberdade de imprensa (é o que dizem). Pertence à União Europeia (uma realidade periclitante).
Tem um atraso civilizacional acentuado (é verdade). Muitas das leis do País são caducas, inadequadas aos tempos modernos, leis que defendem mais os pecadores do que os justos (é verdade). Portugal é um País onde existe muita gente tacanha, ignorante, sinistra e sádica, graças às políticas desajustadas no que respeita ao Ensino, à Educação e à Cultura, que têm sido postas em prática ao longo de vários anos (é verdade).
É um País onde se promove a mediocridade, a crueldade, a tortura, um País envolto ainda num nebuloso e pavoroso primitivismo (é verdade).
Portugal é um País onde a Lei n.º 92/95 de 12 de Setembro, elaborada com intenção de proteger os animais não humanos, diz o seguinte: «são proibidas todas as violências injustificadas contra animais, considerando-se como tais os actos consistentes, sem necessidade, se infligir a morte, o sofrimento cruel e prolongado ou graves lesões a um animal» (...) Utilizar chicotes com nós, aguilhões com mais de 5 mm, ou outros instrumentos perfurantes, na condução de animais, com excepção dos usados na arte equestre e nas touradas autorizadas por lei...
Na “arte” equestre e nas touradas, autorizadas por lei. “Arte!? Saberão os legisladores o que é ARTE? Não sabem. Autorizada por lei? A tortura? A violência, com chicotes e aguilhões?
Daqui posso deduzir que um sapo é um animal a proteger de toda a violência injustificada (aliás toda e qualquer violência sobre um ser vivo é injustificada). Contudo os Cavalos e os Touros não sendo considerados animais pelos legisladores portugueses, podem sofrer as mais cruéis violências porque a lei permite.
Senhora Dr.ª Assunção Esteves, isto é de um pobreza de espírito extrema. Esta Lei ENVERGONHA qualquer País de terceiro mundo, quanto mais um que se diz um Estado de Direito, uma Democracia, um País civilizado. É uma lei que envergonha os Portugueses. Envergonha Portugal.
Isto é brincar aos legisladorzinhos.
Aliás, esta lei, além de estar muito mal redigida (quem a redigiu deve milhares de Euros à Mátrea Língua Portuguesa), em nenhum item é aplicada. É uma lei fantasma, porque nada do que nela está previsto (à excepção do massacre dos Touros e dos Cavalos nas arenas de triste memória, que fazem lembrar tempos primitivos), se cumpre, de facto.
Nós, que defendemos a VIDA, seja ela humana ou não humana, e o BEM-ESTAR de todos os seres viventes, passamos as passas do Algarve para que uma autoridade, que devia ser competente mas não é, faça valer o mais elementar direito consignado na Declaração Universal dos Direitos dos Animais, apresentada pela UNESCO em 15 de Outubro de 1978. É que somos autênticas bolas de pingue-pongue nas mãos dessas autoridades, e nada fica resolvido. Para que serve a lei ou a adesão à Declaração da UNESCO?
Senhora Dr.ª Assunção Esteves, sei que os tempos são de crise, e que na Assembleia da República, a prioridade vai para “como vamos sair desta”.
Contudo, a vida não pode parar cá fora. Trava-se uma luta desesperada pela subsistência dos seres humanos, e uma luta justa pela existência digna dos seres não humanos.
O Governo Português não pode ceder aos lobbies tauromáquicos, apenas porque estes têm e fazem dinheiro; se bem que um dinheiro sujo do sangue de animais inocentes, e tão animais como nós.
O Governo Português não pode ser cúmplice, como até agora tem sido, desta macabra e sádica prática de torturar animais. Não pode ceder às pressões desses lobbies, pondo em causa o exercício da governação.
Penso que é chegada a hora de a Assembleia da República tomar uma posição em relação a este assunto, se quiser seguir o rumo da Civilização. Até lá serão cúmplices e terão o vosso nome, colado como uma pele, ao ignominioso Massacre de Touros, condenado já em todo o mundo.
Deixo-vos com este texto da Liga Portuguesa dos Direitos dos Animais que diz tudo o que é necessário para reflectirem sobre o assunto, e que eu subscrevo inteiramente:
«Cultura é tudo aquilo que contribui para tornar a humanidade mais sensível, mais inteligente e civilizada. A violência, o sangue, a crueldade, tudo o que humilha e desrespeita a vida jamais poderá ser considerado "arte" ou "cultura".
A violência é a negação da inteligência. Uma sociedade justa não pode admitir actos eticamente reprováveis (mesmo que se sustenha na tradição), cujas vítimas directas são milhares de animais.
É degradante ver que nas praças de touros, torturam-se bois e cavalos para proporcionar aberrantes prazeres a um animal que se diz racional.
Portugal não pode permitir-se continuar a prática do crime económico que é desperdiçar milhares de hectares de terra para manter as manadas de gado, dito bravo. A verdade é que são precisos dois hectares de terreno, o equivalente a dois campos de futebol, para criar em estado bravio cada boi destinado às touradas.
Ora isto é tanto mais criminoso quando Portugal é obrigado a importar metade da alimentação que consome. Decerto os milhares de hectares desperdiçados a tentar manter bois em estado bravio, produziriam muito mais útil riqueza se aproveitados em produção agrícola, frutícola, etc.
Uma minoria quer manter as touradas e as praças de touros, bárbara e sangrenta reminiscência das arenas da decadência do Império Romano. De facto nas arenas de hoje o crime é o mesmo: tortura, sangue, sofrimento e morte de seres vivos para divertimento das gentes das bancadas. Como pode continuar tamanha barbaridade como esta, das touradas no século XXI (depois de Cristo.)
Só pode permanecer como tradição o que engrandece a humanidade e não os costumes aberrantes que a degradam e a embrutecem».
Respeitosamente,
Isabel A. Ferreira
(Cidadã portuguesa com direito à indignação)
Isto será a tal “arte” a que se refere a lei, Senhora Presidente da Assembleia da
República Portuguesa?
http://arcodealmedina.blogs.sapo.pt/38589.html