Segunda-feira, 26 de Setembro de 2011

CARTA ABERTA À PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA PORTUGUESA (4)

 

 

Touros, animais como nós, tranquilamente no prado, imagem que se quer eterna...

 

 

 

EM NOME DA CULTURA, DA CIVILIZAÇÃO E DA ÉTICA ANIMAL

 

 

Exma. Sra. Dr.ª Assunção Esteves,

Presidente da Assembleia da República Portuguesa:

 

Com conhecimento de todos os Grupos Parlamentares

 

 

Começarei esta carta com uma citação que me parece oportuna: «O homem, seja qual for o glorioso nome com que se adorna, é, em minha opinião, um animal infeliz. Fazemos pouco bem e muito mal e, o que é mais grave, fazemos mal o pouco bem que fazemos» (Jean-Baptiste Alphonse Karr – crítico, jornalista e novelista francês).

 

Portugal é um Estado de Direito (é o que dizem). É uma Democracia (é o que dizem). É um país onde existe liberdade de imprensa (é o que dizem). Pertence à União Europeia (uma realidade periclitante).

 

Tem um atraso civilizacional acentuado (é verdade). Muitas das leis do País são caducas, inadequadas aos tempos modernos, leis que defendem mais os pecadores do que os justos (é verdade). Portugal é um País onde existe muita gente tacanha, ignorante, sinistra e sádica, graças às políticas desajustadas no que respeita ao Ensino, à Educação e à Cultura, que têm sido postas em prática ao longo de vários anos (é verdade).

 

É um País onde se promove a mediocridade, a crueldade, a tortura, um País envolto ainda num nebuloso e pavoroso primitivismo (é verdade).

 

Portugal é um País onde a Lei n.º 92/95 de 12 de Setembro, elaborada com intenção de proteger os animais não humanos, diz o seguinte: «são proibidas todas as violências injustificadas contra animais, considerando-se como tais os actos consistentes, sem necessidade, se infligir a morte, o sofrimento cruel e prolongado ou graves lesões a um animal» (...) Utilizar chicotes com nós, aguilhões com mais de 5 mm, ou outros instrumentos perfurantes, na condução de animais, com excepção dos usados na arte equestre e nas touradas autorizadas por lei...

 

Na “arte” equestre e nas touradas, autorizadas por lei. “Arte!? Saberão os legisladores o que é ARTE? Não sabem. Autorizada por lei? A tortura? A violência, com chicotes e aguilhões?

 

Daqui posso deduzir que um sapo é um animal a proteger de toda a violência injustificada (aliás toda e qualquer violência sobre um ser vivo é injustificada). Contudo os Cavalos e os Touros não sendo considerados animais pelos legisladores portugueses, podem sofrer as mais cruéis violências porque a lei permite.

 

Senhora Dr.ª Assunção Esteves, isto é de um pobreza de espírito extrema. Esta Lei ENVERGONHA qualquer País de terceiro mundo, quanto mais um que se diz um Estado de Direito, uma Democracia, um País civilizado. É uma lei que envergonha os Portugueses. Envergonha Portugal.

 

Isto é brincar aos legisladorzinhos.

 

Aliás, esta lei, além de estar muito mal redigida (quem a redigiu deve milhares de Euros à Mátrea Língua Portuguesa), em nenhum item é aplicada. É uma lei fantasma, porque nada do que nela está previsto (à excepção do massacre dos Touros e dos Cavalos nas arenas de triste memória, que fazem lembrar tempos primitivos), se cumpre, de facto.

 

Nós, que defendemos a VIDA, seja ela humana ou não humana, e o BEM-ESTAR de todos os seres viventes, passamos as passas do Algarve para que uma autoridade, que devia ser competente mas não é, faça valer o mais elementar direito consignado na Declaração Universal dos Direitos dos Animais, apresentada pela UNESCO em 15 de Outubro de 1978. É que somos autênticas bolas de pingue-pongue nas mãos dessas autoridades, e nada fica resolvido. Para que serve a lei ou a adesão à Declaração da UNESCO?

 

Senhora Dr.ª Assunção Esteves, sei que os tempos são de crise, e que na Assembleia da República, a prioridade vai para “como vamos sair desta”.

 

Contudo, a vida não pode parar cá fora. Trava-se uma luta desesperada pela subsistência dos seres humanos, e uma luta justa pela existência digna dos seres não humanos.

 

O Governo Português não pode ceder aos lobbies tauromáquicos, apenas porque estes têm e fazem dinheiro; se bem que um dinheiro sujo do sangue de animais inocentes, e tão animais como nós.

 

O Governo Português não pode ser cúmplice, como até agora tem sido, desta macabra e sádica prática de torturar animais. Não pode ceder às pressões desses lobbies, pondo em causa o exercício da governação.

 

Penso que é chegada a hora de a Assembleia da República tomar uma posição em relação a este assunto, se quiser seguir o rumo da Civilização. Até lá serão cúmplices e terão o vosso nome, colado como uma pele, ao ignominioso Massacre de Touros, condenado já em todo o mundo.

 

Deixo-vos com este texto da Liga Portuguesa dos Direitos dos Animais que diz tudo o que é necessário para reflectirem sobre o assunto, e que eu subscrevo inteiramente:

 

«Cultura é tudo aquilo que contribui para tornar a humanidade mais sensível, mais inteligente e civilizada. A violência, o sangue, a crueldade, tudo o que humilha e desrespeita a vida jamais poderá ser considerado "arte" ou "cultura".

 

A violência é a negação da inteligência. Uma sociedade justa não pode admitir actos eticamente reprováveis (mesmo que se sustenha na tradição), cujas vítimas directas são milhares de animais.

É degradante ver que nas praças de touros, torturam-se bois e cavalos para proporcionar aberrantes prazeres a um animal que se diz racional.
 

Portugal não pode permitir-se continuar a prática do crime económico que é desperdiçar milhares de hectares de terra para manter as manadas de gado, dito bravo. A verdade é que são precisos dois hectares de terreno, o equivalente a dois campos de futebol, para criar em estado bravio cada boi destinado às touradas.

 

Ora isto é tanto mais criminoso quando Portugal é obrigado a importar metade da alimentação que consome. Decerto os milhares de hectares desperdiçados a tentar manter bois em estado bravio, produziriam muito mais útil riqueza se aproveitados em produção agrícola, frutícola, etc. 
 
Uma minoria quer manter as touradas e as praças de touros, bárbara e sangrenta reminiscência das arenas da decadência do Império Romano. De facto nas arenas de hoje o crime é o mesmo: tortura, sangue, sofrimento e morte de seres vivos para divertimento das gentes das bancadas. Como pode continuar tamanha barbaridade como esta, das touradas no século XXI (depois de Cristo.)

 

Só pode permanecer como tradição o que engrandece a humanidade e não os costumes aberrantes que a degradam e a embrutecem».

 

Respeitosamente,

Isabel A. Ferreira

(Cidadã portuguesa com direito à indignação)

 

 

 

Isto será a tal “arte” a que se refere a lei, Senhora Presidente da Assembleia da
República Portuguesa?

 

http://arcodealmedina.blogs.sapo.pt/38589.html

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:58

link do post | Comentar | Adicionar aos favoritos

Mais sobre mim

Pesquisar neste blog

 

Setembro 2023

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
12
13
14
16
18
22
23
24
25
26
27
28
29
30

Posts recentes

«Entre Bandarilhas e Sang...

Pablo Fernández merecia u...

Há sempre trogloditas à e...

Paróquia apoia garraiada,...

As touradas em Portugal...

Cancelaram uma “Vacaca”. ...

"Newsletter" PAN - Pessoa...

Indignação pela realizaçã...

Ao cuidado da CNPDPCJ *:...

“O touro não sofre”. Pedr...

Arquivos

Setembro 2023

Agosto 2023

Julho 2023

Junho 2023

Maio 2023

Abril 2023

Março 2023

Fevereiro 2023

Janeiro 2023

Dezembro 2022

Novembro 2022

Outubro 2022

Setembro 2022

Agosto 2022

Junho 2022

Maio 2022

Abril 2022

Março 2022

Fevereiro 2022

Janeiro 2022

Dezembro 2021

Novembro 2021

Outubro 2021

Setembro 2021

Agosto 2021

Julho 2021

Junho 2021

Maio 2021

Abril 2021

Março 2021

Fevereiro 2021

Janeiro 2021

Dezembro 2020

Novembro 2020

Outubro 2020

Setembro 2020

Agosto 2020

Julho 2020

Junho 2020

Maio 2020

Abril 2020

Março 2020

Fevereiro 2020

Janeiro 2020

Dezembro 2019

Novembro 2019

Outubro 2019

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Agosto 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Agosto 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Direitos

© Todos os direitos reservados Os textos publicados neste blogue têm © A autora agradece a todos os que os divulgarem que indiquem, por favor, a fonte e os links dos mesmos. Obrigada.
RSS

Acordo Ortográfico

Em defesa da Língua Portuguesa, a autora deste Blogue não adopta o Acordo Ortográfico de 1990, devido a este ser inconstitucional, linguisticamente inconsistente, estruturalmente incongruente, para além de, comprovadamente, ser causa de uma crescente e perniciosa iliteracia em publicações oficiais e privadas, nas escolas, nos órgãos de comunicação social, na população em geral, e por estar a criar uma geração de analfabetos escolarizados e funcionais.

Comentários

Este Blogue aceita comentários de todas as pessoas, e os comentários serão publicados desde que seja claro que a pessoa que comentou interpretou correctamente o conteúdo da publicação. 1) Identifique-se com o seu verdadeiro nome. 2) Seja respeitoso e cordial, ainda que crítico. Argumente e pense com profundidade e seriedade e não como quem "manda bocas". 3) São bem-vindas objecções, correcções factuais, contra-exemplos e discordâncias. Serão eliminados os comentários que contenham linguagem ordinária e insultos, ou de conteúdo racista e xenófobo. Em resumo: comente com educação, atendendo ao conteúdo da publicação, para que o seu comentário seja mantido.

Contacto

isabelferreira@net.sapo.pt