Vou andando, por aí, em busca de um lugar onde possa sentar-me. Talvez à beira de um riacho, para ouvir o burburinho das suas águas límpidas e calmas, que me acalmam...
Nunca digo “não sei”, quando posso dizer “vou tentar saber”.
Ideias, ideais e ideologias, cada um com as suas.
A não ser que te destruam o cérebro ou sejas cremado e as tuas cinzas lançadas aos ventos, o teu pensamento e o espaço ocupado pelo teu corpo, no Universo, são os únicos bens verdadeiramente só teus. De ninguém mais.
Isto é uma das minhas ideias. Tu podes ter outra ideia.
Vou andando por aí em busca de um lugar onde possa sentar-me. Talvez à beira de um riacho, para ouvir o burburinho das suas águas límpidas e calmas, que me acalmam, e à hora em que o Sol, já cansado de me olhar, se afundar no oceano, trocar algumas impressões sobre a natureza das coisas, com o sábio mocho.
Este é um dos meus ideais. Tu podes ter outro ideal, tão válido quanto o meu.
Vou andando por aí e vou pensando... Que mais poderei fazer? Tantas coisas!... Não sou rei, não sou súbdito. Não sou pobre, nem sou rico. Não mando, também não desmando. Tenho ideias. Tenho ideais. Não sou pau, nem pedra. Nem cera que se derrete. Sou um simples ser humano. Respeito o meu semelhante. Considero de igual modo os meus irmãos animais, as minhas irmãs plantas. O ar, a água, a terra. Até as pedras dos caminhos...
Faço versos às águas do mar. Finjo que canto com as sereias, em noites de lua cheia, porque dou valor ao sonho.
Mas grito a minha indignação, quando tenho de gritar.
Choro, quando tenho de chorar.
Gosto de aprender. Nunca digo “não sei”, quando posso dizer “vou tentar saber”, uma vez que, deste modo, cresço, na minha própria consideração.
Abomino a violência, a covardia, a maldade, a tortura, o ódio, a inveja, a injustiça, a vingança, a raiva. Para mim, coisas menores, de seres ainda menores.
Não faço a guerra, simplesmente porque prezo a minha liberdade.
Sou corpo. Sou também espírito. E, embora talvez não te interesse, Cristo, Buda, Confúcio, Maomé fazem parte do meu mundo. Uso a rosa amarela como símbolo da minha espiritualidade. Gosto de sonhar e de brincar à maneira das crianças. Conheço o valor da amizade. Tenho um rato, uma cadela, um gato e três pequenas gatas entre os meus maiores amigos.
Venero os valores humanos, mas as leis dos homens nada me dizem. A minha lei é a Lei Natural. Além disso, não fui eu quem inventou a política.Esta é a minha ideologia. A tua ideologia é outra?
Óptimo! Eu sei ser tolerante. Aceitá-la-ei com todo o respeito que te devo.
Afinal, desprezo apenas a malvadez dos que são apenas “omens”.
Isabel A. Ferreira
in «Manual de Civilidade» - Texto e foto © Isabel A. Ferreira
elmanofilo, gosto de vaguear pelos seus blogs, porque os seus temas são interessantes.
Gosto de seguir o avesso das coisas, para poder reflectir, e, se puder, dar-lhe a volta, para que se ponham do lado certo.
Cada um tem a sua filosofia de vida.
Eu quando vejo alguém estatelado no chão, não lhe ponho o pé em cima, para que continue estatelado no chão. Estendo-lhe a mão para que se levante.
De pessimistas anda o mundo cheio.
O grupo "Vencidos da Vida" do qual fizeram parte, entre outros, Eça de Queiroz e Antero de Quental, era um grupo altamente pessimista, e o pessimismo destes homens ajudou Portugal a erguer-se do chão?
Não me parece.
Calcaram-no, e até hoje o País nunca se levantou.
O «Rio Portugal» vai poluído sim, mas eu recuso-me a poluí-lo ainda mais, com um pessimismo inútil, que em nada contribui para o despoluir.
Será um modo alienado de ver as coisas...
Será...
Permito-me discordar da forma como aborda esta problemática. Ser crítico é dizer bem e dizer mal. Ser pessimista é só saber dizer mal. Doentiamente.
Pessoalmente digo bem do que está bem (podem chamar-me adulador ou servil... não me importo) e digo mal do que me parece estar mal (chamem-me maledicente, ou bota-abaixo que também não me importo).
Eça de Queiroz e Antero de Quental não podem ser metidos na mesma baliza redutora do «pessimismo», como me pareceu vê-la fazer.
Eça ainda hoje continua a ajudar Portugal com a sua sátira, com a sua acerada ironia, a sua mordacidade aos costumes.
Antero foi diferente. Foi mais um ideólogo, um doutrinador, mais virado para um socialismo romântico com laivos clericais (os adversários chamavam-lhe o «Santo Antero»...); os seus sonetos refletem certa melancolia muito embora sempre impregnados de um desejo de mudança, de mentalidades, de regimes, de sensibilidades.
Eça não era um pessimista «tout court». Ele era um
bom manuseador da pena, que usava como um varapau quando era preciso, mas também com subtileza, com mestria, com romantismo.
O rio Portugal precisa tanto de ser despoluído que todos os utensílios fazem falta.
Os instalados domesticaram a cultura e só vemos o poder usando habilmente a trela publicitária, para ter na mão aqueles que baixam o cachaço, nunca beliscando os czares e os sobas que vão gerindo a coisa pública como se fora uma coutada pessoal.
Elmanofilo, tem o direito de discordar de mim. Eu também se tiver de discordar de si, discordo.
Eu referi-me ao grupo "Vencidos da Vida", do qual fizeram parte Eça e Antero, entre alguns outros.
Não metii ninguém na mesma baliza. Eça e Antero são inquestionavelmente dois Portugueses Grandes, na área literária.
O que eu quis dizer, muito simplesmente é que, desde há muito que o nosso país está afundado. Aparecem grupos pessimistas, críticos a dizerem mal, e apenas isso. Nada fazem para mudar as coisas.
Penso que Portugal não precisa que todos nós sejamos pessimistas. Tem de haver optimistas para poder equilibrar-se a balança.
Nunca Portugal se levantará do chão com o pessimismo que sempre o rodeou. O fatalismo, o tal fado, a tal sina traçada, na palma da mão.
É preciso mudar os discursos.
Dizer mal, por dizer, dos czares, dos sobas e de outros que tais, não leva a lugar algum.
É preciso mudar as mentalidades.
É preciso fazer-lhes ver que apesar de nos quererem pisar, nós não deixamos.
É preciso mais acções e menos palavras.
Na hora de votar é preciso dizer NÃO, e esse NÃO pode traduzir-se no voto em branco, em massa, por exemplo. Coisa que faço há muito tempo. Um protesto calado que, isolado, não tem qualquer força.
Mas pelo menos, não me sinto culpada. Não sou cúmplice desta mascarada que é a governação.
É preciso dizer-lhes (aos czares e aos sobas) que as águas dos rios correm para o mar, e as águas do mar revoltam-se e não há nada que eles possam fazer para as dominar.
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