Mais tarde ou mais cedo o feitiço virar-se-á contra o feiticeiro
Num Blogue, intitulado Partebilhas, da responsabilidade de Manuel Peralta Godinho e Cunha, tive o azar de ler um texto, que é um autêntico atentado à inteligência e à lucidez do ser humano.
Apenas alguém, que ainda não saiu da Idade da Pedra Lascada, tem a ousadia de escrever tal texto e pedir para divulgá-lo, como se fosse a obra-prima da defesa da tauromaquia.
Ao transcrever aqui o texto, a minha intenção não é obviamente defender aqueles que praticam a tauromaquia, mas tão-só o Touro, esse magnífico animal, que tal como eu, tem um sistema nervoso central, que lhe permite sentir dor; tem um corpo onde corre sangue bombeado por um coração, tal como no meu; tem um cérebro que não lhe dá a oportunidade de falar, mas permite-lhe um olhar que diz tudo.
E solta lágrimas, de dor e de incompreensão. Que mal fizeram eles àquelas criaturas para merecerem tal tortura?
A negrito vai o que me ocorre dizer, em nome do Touro.
Ora o tal texto diz o seguinte
OS ANTI-TOURADAS
1 – Têm surgido ultimamente diversas notícias, tão ao agrado de alguns jornais do mal dizer, com as posições anti-taurinas de associações que se dizem defensoras dos animais.
É preciso sublinhar que “Jornais do mal dizer” são aqueles que defendem a Civilização e a Cultura Culta, no século XXI, depois de Cristo. Quanto às associações não “se dizem defensoras”, elas são defensoras dos animais, e anti-taurinos são os carrascos dos Touros. Os defensores dos Touros são anti-touradas ou pró-Touros.
2 – A Festa Brava é, desde tempos imemoriais, o espectáculo favorito de um elevado número de cidadãos europeus com destaque para espanhóis, franceses e portugueses. Não obstante ser verdade que houve sempre quem não gostasse de nada relacionado com toiros.
«É desde tempos imemoriais», disse bem, tempos da Idade das Trevas, que já ficou lá muito para trás. "Espectáculo" favorito de alguns poucos (entre os milhares contra) espanhóis, franceses e portugueses, povos latinos com uma cultura envelhecida. Os povos europeus civilizados, os nórdicos, por exemplo, que já foram “vândalos” e bárbaros, não constam desta lista, porque evoluíram e deixaram de ser “vândalos” e bárbaros.
3 – Todos temos o direito de gostar ou não. Não devemos é querer impor a nossa opinião e obrigar outros a segui-la.
Isto não é uma questão de gostar ou não gostar, nem de impor opiniões, mas sim uma questão cultural, civilizacional, evolucionista; uma questão de evolução de mentalidades; uma questão de lucidez; uma questão de ÉTICA.
4 – Um dos primeiros e mais influentes anti-taurinos foi Antonio Michele Ghiselieri (1504-1572) cardeal no tempo do papa Paulo IV e por este nomeado Grande Inquisidor. Foi ele que organizou a primeira perseguição aos judeus, que passaram a estar confinados em guetos e proibidos de ter mais do que uma sinagoga em cada comunidade. Mais tarde, já como papa Pio V, publicou a bula “De salutis gregis dominici” que obrigava a suspensão completa dos espectáculos tauromáquicos, por os considerar “não de homens mas do demónio”.
Não queira confundir as coisas. A Inquisição foi (disse bem, passado) uma coisa abominável, e a tauromaquia é (presente) outra coisa abominável. Por que será que temos aqui um passado e um presente? Não simpatizo com esse tal cardeal, mas ele disse uma verdade: os "espectáculos" tauromáquicos não são coisas de homens, também não serão de demónios, pois não acredito em demónios. São coisas de mentalidades atrasadas, mofosas, a cheirar a sangue,a urina a bosta e a escuro...
5 – Não obstante o fervor religioso de Filipe II de Espanha e de Sebastião I de Portugal, estes reis não deram seguimento à ordem do papa. Filipe II confessou-se incapaz de fazer cumprir, em povo tão arreigado à tauromaquia, a bula papal.
Fale-me de gente corajosa, não de paus-mandados.
6 – As atitudes anti-taurinas provocam sempre uma reacção.
Naturalmente, nos indivíduos que não evoluíram, a reacção é negativa. Pararam no passado. Não sabem como alcançar o futuro, São atrasados mentais, ou seja, não evoluíram.
7 – Assim, por exemplo, quando em 1874 se inaugurou a Praça de Toiros madrilena “de la carretera de Aragón”, a revista anti-taurina “La Ilustración Española y Americana”, publicou, entre outros, um artigo a que deu o título “La ultima plaza” onde fazia o vaticínio que esta iria encerrar um ciclo de praças de toiros em Madrid, porque o toureio estaria condenado a desaparecer em data breve.
A data pode não estar fixada, ainda, mas chegará o tempo em que os poucos aficionados, que ainda não saíram da Idade das Trevas, irão fazer tijolos, e uma nova geração culta e civilizada os substituirão, e então o Touro será libertado do opressão e da tortura.
8 – Os intelectuais responsáveis por esta revista mostraram ser maus profetas, péssimos profetas. Na realidade e porque o toureio é um espectáculo popular e com enorme força, cerca de 45 anos depois Madrid teve que resolver se deveria acrescentar a praça de toiros ou construir uma outra, tendo prevalecido a ideia de se construir uma nova a que se deu o nome de Las Ventas del Espíritu Santo.
Não, não foram, maus profetas. As profecias demoram o seu tempo a cumprir-se. O tempo do fim virá a seu tempo. Não tenho a menor dúvida que vivemos o “canto do cisne” do abominável "espectáculo" tauromáquico.
9 – Assim em 21 de Outubro de 1934 foi reinaugurada a nova praça, dado que algum tempo antes, em 17 de Junho de 1931 foi realizada a primeira corrida sem as obras e os acessos estarem devidamente acabados.
Feito glorioso, este! Feito de verdadeiros heróis da Idade das Trevas, onde reinava a ignorância, mãe da estupidez.
10 – Hoje em Portugal e nalguns pontos da União Europeia há quem pense que pode mandar nas vidas, tradições e culturas dos povos, onde a diversidade deveria ser respeitada. Quem são e por quem são constituídos estes movimentos anti-taurinos?
Movimentos anti-touradas, se faz favor. São constituídos por mim, por exemplo, e por outras pessoas como eu. Aos milhares, por esse mundo fora.
11 – Quantos são os que não querem que se realizem touradas? Quem lhes paga? A quem interessa que sejam destruídas as ganadarias bravas?
Somos, muitos, muitos milhares, mais do que possa pensar-se. Ninguém recebe dinheiro para ser anti-tourada, como os tauricidas recebem para serem torturadores de Touros. O nosso respeito pelo Touro assim o exige. Ao contrário dos grandes negócios das ganadarias e tráficos afins. Aí sim, à custa da tortura e da cultura da morte de um animal nobre, o dinheiro que se mete ao bolso apenas de uns poucos parasitas da sociedade: os tauricidas.
12 – Os aficionados terão que se movimentar no sentido que seja criado um Observatório Tauromáquico que estude, analise e dê a resposta adequada a estes movimentos de carácter terrorista.
Está é de almanaque. Isto é para rir ou para chorar? Os que são a favor da tortura dos Touros são uns santinhos de altar; e nós, que somos contra essa tortura, é que somos os terroristas! Esta realmente é de fazer chorar as pedras, além de demonstrar uma insapiência descomunal.
13 – Como é do conhecimento geral, a corrida de toiros contém uma série de valores éticos representados pelo toureio, reconhecido por elevado número de pensadores e artistas, resultando avultadas manifestações artísticas e culturais no domínio da literatura, escultura, pintura, teatro, fotografia e cinema.
Aplaudo a ética do Touro
Outra de almanaque! «A corrida de touros contém uma série de valores éticos», como por exemplo, torturar um ser vivo até à morte, retirando-lhe o sangue às golfadas, através de farpas que lhe entram na carne, rasgando-a sem dó nem piedade. Muito ético. Arte puríssima... Antiga talvez. Estão todos mortos, esses da literatura, da pintura, etc.,. Se vivessem hoje não seriam pensadores, nem artistas, se assim pensassem ou se assim exprimissem através da arte, seriam simplesmente uns infelizes analfabetos, uns monstros.
14 – A tauromaquia terá que ser defendida!
Pelos mortos, talvez! Que a defendam lá dos quintos dos infernos onde estão todos...
...
Para terminar, vou citar um comentário de Josefina Maller, retirado da sua página no Facebook, a propósito deste texto:
«Fiquei estupefacta ao ler este texto. E pensei: em pleno século XXI ainda existem mentes obscuras, que pensam no escuro, e o que dizem soa a mofo, a ignorância, a estupidificação. Incrível! Festa Brava. Brava, sim. A bravura do Touro perante o ignominioso criminoso toureiro, em vantagem, este com os seus instrumentos de tortura. Festa? Saberão eles o que significa “festa”? Quanto mais querem argumentar a favor dessa “tradição” grotesca, do tempo das cavernas mais profundas, mais se enterram nelas. Evoluí, ó aficionados da tortura, e da morte! Evoluí! Permitam que a luz entre nessas vossas cabeças vazias de civilização. Um só Touro, animal magnífico, vale por milhares de mentes dementes como as vossas. É nestes momentos que se eu tivesse de escolher entre salvar um Touro ou um serzinho desses ,de morrer afogado, naturalmente, obviamente, optaria pelo Touro».
...
E eu também. Evidentemente.
Isabel A. Ferreira
De Manuel Silveira a 21 de Abril de 2010 às 09:05
Cara Senhora, o espectáculo taurino é pago, por isso em DEMOCRACIA só vai e só paga para o ver quem quer. A senhora não gosta, eu respeito. Mas se eu gostar a senhora vai ter obrigatóriamente de respeitar. Assim como a senhora não aceita que lhe imponham ideologoas que não as suas, eu também não aceito que ninguém mas imponha a mim. Tenha a sua opinião que é concerteza fundamentada, agora não lute por impor conceitos e idealogias a outras pessoas, coisa que numa pessoa lúcida e esclarecida como a senhora parece ser, fica muito mal.
Sr. Manuel Silveira, vejo que não percebeu nada do que escrevi nas entrelinhas do texto do partebilhas. Mas repito: isto não é uma questão de gostar ou não gostar; de impor ideias ou não impor. Isto é apenas uma questão civilizacional. Um aquestão de evolução de mentalidades. o Sr. fala assim, porque não é o Touro. Ponha-se no lugar do Touro, imagine-se picadado por aquelas farpas. As suas costas a escorrer sangue, à mistura com dores alucinantes. É disso que eu falo. E quer saber, eu sou uma pessoa lúcida e esclarecida sim, mas estou-me nas tintas para os que gostam de ver torturar um animal. O importante, para mim, é o Touro, que não tem voz para se defender. O sr. Manuel Silveira faça o que quiser. Se algum dia o ferirem nas costas com facadas, o que é que eu tenho com isso? Da minha ética faz parte dar voz aos que não têm voz, aos indefesos animais (não só os Touros). Arre, que isto é difícil de fazer passar!
De partebilhas a 21 de Abril de 2010 às 10:29
Fico grato pela divulgação que fez ao meu blogue PARTEBILHAS.
Não tem de quê, partebilhas. Eu é que estou agradecida por esta oportunidade.
De Manuel Silveira a 21 de Abril de 2010 às 16:13
Exma Senhora
Será que algum de nós te autoridade para pôr em causa toda uma civilização? Haja um pouco de humildade... Ou julga a Senhora que é o exemplo e que todos devem pensar como a senhora? Porque é que a sua mentalidade é mais evoluída que a minha? Com que bases científicas é que a senhora pode aferir e mensurar tal coisa?
Vejo que a Senhora tem ou tem uma larga experiência em "ser Touro", ou fala completamente de cor e não sabe do que está a falar.
Fala com base naquilo que acha e que lhe parece! Como pode a senhora falar de uma exeperiência que nunca viveu? Quem lhe confere autoridade para isso?
Eu também me estou nas tintas para si! No entanto penso ter que corrigi-la em algumas coisas que escreve e das quais não pode escrever pois ninguém lhe concedeu autoridade para tal.
Seriam Ernest Hemingway, Pablo Picasso, Garcia Llorca, Miró, Amália Rodrigues, Eça de Queiroz e outros tantos génios que compreenderam e defenderam a festa Brava retrógrados e adeptos da tortura em contraposição à sua iluminação progressista? Ou figuras incontestáveis como o Padre Melícias, Margarida Martins da associação Abraço, Pedro Almodóvar entre tantos outros, terão uma desenvoltura intelectual menor que a sua?
Cordiais Cumprimentos
MS
Ó sr. Manuel Silveira, vejo que continua a confundir as coisas, e a dizer asneiras. Se pensasse um pouco, não escreveria o que escreveu. Aliás os pró-tourada quando se metem a defender os seus pontos de vista, quanto mais tentam, mais se enterram. Arre, que ainda não foi desta!
Olá Isabel.
De facto não há argumentos que possam defender um espectáculo destes. Enquanto se usarem animais para divertimento humano não podemos falar de uma sociedade civilizada e respeitadora...
Não sou do grupo "anti-taurino"... sou um cidadão entre milhões de portugueses (esmagadora maioria) que não aceita este divertimento sádico. Felizmente em Espanha a tourada tem os dias contados.
Cumprimentos
A.S.
Obrigada, André, pelo seu comentário. Em Espanha, como diz, felizmente, a tourada tem os dias contados. Em Portugal, como sempre, talvez fiquemos para último, mas lá chegaremos também. Tenho esperança. Aqui as coisas correm mais lentas. Por que será?...
Nao entendo como a UE nunca proibiu isso, o direito dos animais deveria ser mais bem tratado na Europa!
Obrigada pelo seu comentário. Estive a reflectir no que disse, e cheguei à conclusão de que talvez a UE nunca tivesse proibido esse espectáculo degradante, porque apenas existe em Portugal , Espanha (que está a evoluir) e na França (uma minoria). Nos outros países não. Contudo valerá sempre a pena lutar pelos Direitos dos animais não humanos, mesmo que em tão poucos países.
De Fernando Manuel Ramos a 23 de Abril de 2010 às 17:47
Exma. Senhora,
Fui forcado amador durante uma meia dúzia de anos. Gosto da festa brava. Ponto final.
Nas arenas partilhei com aqueles que me deram a honra de ombrear a seu lado dos perigos que acarreta tal gosto. Sem remorsos, sem saudades ou saudosismos vãos. Aceitei essa passagem na minha vida como aceito outras.
Sou o que a Senhora quiser reputar do alto da sua maioridade civilizacional, intelectual, o que queira que a deslumbre e a faça sentir superior, do ponto de vista que reputar pertinente. Poder-me-á, assim, assacar aquilo que reputa de mente obscura, estúpida, menor, o que lhe aprouver para manifestar o seu inimpugnável direito à indignação.
Do meu lado é-me manifestamente indiferente a sua opinião, não fosse a minha experiência de vida, o ter passado, entre outras coisas, por quatro cenários de guerra onde vi a aplicação concreta do brocardo “homo homini lupus” (O homem é o lobo do homem), e muito sinceramente a sua indignação passar-me-ia ao largo… muito mesmo!
Não pretendo entrar em diálogos em que nenhuma das partes atingirá razão maior, desde logo porque não lhe reconheço o direito à detenção do pergaminho da verdade e de porta-bandeira da civilização.
A festa brava existe, com o seu cariz profano, místico e religioso. A única diferença entre esta festa e a da Páscoa, é que V. Ex.ª já não assiste em directo e a cores, à matança do borrego. Assim como não assiste diariamente ao abate dos frangos, coelhos, porcos, vacas e outros animais essenciais para a subsistência humana.
Poder-lhe-ia ensinar muito sobre o ser solidário face ao meu passado na toca do lobo mau. Mas como sei que as suas opiniões assentam em premissas tomadas no meio de pacíficas conversas onde tudo é legitimo defender e nada ousar, recomendo-lhe, se acaso a isso se dispuser, que não tome a sua posição como premissa universal e respeite o que de maior a humanidade tem vindo a lutar ao longo da sua existência: O direito à diferença. E, neste caso concreto, sinto-me diferente de si por respeitar o seu direito À indignação que nunca poderá passar por o castrar um direito meu a gostar de Corridas de Touros.
Uma muito boa tarde.
Sr. Fernando Manuel Ramos, nada do que disse me atinge ou deixa de atingir. Não me apetece discutir este assunto (que é claro como a água límpida) com quem tem ideias fixas. Sempre ouvi dizer que o pior cego é aquele que não quer ver. E este seu comentário é a prova cabal disso. Passe bem, e continue com as suas ideias, porque elas só lhe ficam mal a si. Não a mim.
De Tugacav a 20 de Maio de 2010 às 11:49
A srº consegue ser mais fanática que um taliban
Esta foi para rir, não foi, sr Tugacav (vemos logo quando é um homem a comentar, ainda que com um nickname). Eu defendo a VIDA, vocês defendem a tortura e a morte a coberto de interesses económicos chorudos, e eu é que sou uma taliban fanática! Esta é mesmo para rir. Só uma cabeça de alfinete se lembraria de dizer tal coisa! Mas tudo bem, as pessoas têm o direito de dizer disparates de vez em quando.
De line a 9 de Junho de 2010 às 01:28
Boa noite, Eu sou infinitamente contra a qualquer mal tratos com animais ,porque quem tem DEUS no coração quem acredita nele é incapaz de cometer ou aplaudir tal ato de covardia e de horror .
essas touradas ou corridas de touros , são um ato de maldade sem tamanho onde não se importam com o sofrem do outro .QUEM AMA A DEUS E JESUS NÃO APLAUDE TAL CRUELDADE .
nos dez mandamentos esta escrito :
Não matarás
Ama o próximo como a ti mesmo
porque matam ?
porque não respeitam seu próximo não importando se é animal ou humano
por que tem pessoas que gostam das touradas porque ????
QUEM GOSTA dessa MATANÇA devia ir no meio da arena e pedir para o toureiro enfiar aqueles espetos nas costas para ver se é legal ver seu próprio sangue jorrar ate estar quase morto
e ficar agonizando sangrando cansado e se perguntando porque esta ali ....
Obrigada pela sua visita e pelo seu comentário. Há muitas pessoas, mais do que possamos imaginar, a não gostar deste espectáculo deprimente, mas os lobbies económicos falam mais alto, por isso, em Portugal, esta barbárie continua a ser a nódoa negra da Cultura Portuguesa, e os governantes, tão preocupados com a imagem do país lá fora, ainda não se aperceberam de que Portugal só merecerá o respeito das Nações cultas, quando evoluir para um estádio superior de civilização.
De Eduardo Lopes a 23 de Julho de 2010 às 23:37
Não comentando como defensor de nenhuma das partes. Só me parece incrível alguém qualificar um texto como "autêntico atentado à inteligência e à lucidez do ser humano", e depois fazer comentários a esse próprio texto que revelam a maior irracionalidade e turbidez
Seja mais claro, Eduardo Lopes. Quando nos metemos a comentar algo, devemos ser claros e ir directos ao assunto.
Se quer insultar-me, insulte-me, mas mais claramente para eu poder defender-me. Se quer fazer um comentário racional, faça o favor.
Se não quiser explicar o que disse, ficarei com a impressão de que quem revela irracionalidade e turbidez é quem escreveu este comentário, com pés mas sem cabeça.
Gosto quando as pessoas põem os pontos nos "is".
É um desafio.
1) O silogismo que anima os grupos anti-tourada é hipócrita e falacioso. Para essa gente, o espectáculo da tourada consiste no prazer extraído do sofrimento de um animal. “Ergo”, quanto mais sofrer o touro, maior o prazer do aficionado. Não preciso de salientar a indigência de semelhante raciocínio…
2) Decorrendo da lógica anti-taurina acima exposta, estes grupos são abjectamente desumanos, por darem prioridade ao sofrimento do touro sobre tantos outros espectáculos onde animais são feridos. Inclusive o animal homem. Sabem o que é o Strike-Force, o Vale Tudo, etc.? Não extrai o público prazer de ver dois homens esfacelando-se, estrangulando-se até perderem os sentidos? A lógica anti-taurina, que condena os adeptos da tourada, não deveria condenar os adeptos das lutas entre seres-humanos? É condenável ver um bicho sofrer, mas já se aceita o prazer em ver homens sofrer? Há grupos anti-luta livre?
3) Quem classifica a tourada de “barbárie”, fá-lo com a autoridade moral de quem conhece a fundo um universo cultural, que, na realidade, ignora completamente. A prova disso mesmo é a convicção absurda – cultivada com sanha – de que o prazer na tourada é consequência do sofrimento do touro: mais sofrimento, mais prazer.
4) Quem gosta de touradas é um bárbaro? Não será profundamente arrogante declarar-se autoridade moral para decidir o que é “cultura”, “barbaridade”, etc.? Será bárbaro fazer da matança do porco uma celebração, será ausência de cultura? Ou, pelo contrário, não será antes a perpetuação de um gesto ancestral, que nos identifica como povo e consiste, por isso mesmo, num elemento de riqueza cultural inestimável?
5) Mais do que poupar um bicho ao sofrimento, não se tratará antes de um estrebuchar da má consciência da esquerda urbanóide? Sim, porque não é o sofrimento do animal per se que move a turba das passeatas fracturantes: é o público que vai à tourada. É sobretudo uma condenação moral de quem aprecia a tourada, e não a tentativa de erradicar qualquer espécie de dor animal. Isso seria ingénuo e imbecil: nada há de mais violento e cruel que a madrasta Natureza.
6) Os argumentos dos grupos anti-taurinos pretendem vestir moralismos mentecaptos com a fina roupagem das verdades universais.
7) Eu acho bárbaro que se comam delícias-do-mar, douradinhos, assim como hamburgueres de proto-animais criados em sítios que fazem Auschwitz parecer o Ondaparque. Mas, na sabedoria do povo, longe da vista, longe do coração. Com um filete quadrado e ultra-processado no prato, podemos aliviar a nossa parola consciência, ignorando que aquilo já fez parte de um animal, outrora vivo, engordado numa espécie de fábrica e abatido para nossa alimentação.
Os movimentos anti-taurinos fazem parte de uma tendência social de origem urbana, que tem entre as suas consequências mais óbvias o repúdio colectivo das manifestações de virilidade, o culto da tirania moralista e a negação dos hábitos rurais, por violentos e pouco higiénicos, excepção feita ao pitoresco inócuo.
9) Não deixa de ser irónico que a moderna sociedade que limpa o rabo ao seu caniche, depois de lhe ter apanhado o cócó do passeio, e se repugna com as touradas, tem nojo de cuidar dos seus humanos velhos, que despeja em simpáticos asilos.
Artur Sequeira Portela
Em primeiro lugar, obrigada, por ter se identificado.
1) Na verdade, meu caro Artur, num espectáculo taurino, quando o Touro é atacado com as bandarilhas e o sangue do animal começa a escorrer, ou quando se ouve o rugido de dor do Touro, ou quando os cavalos são estripados pelos cornos do Touro, chora-se muito na plateia. Aqueles “olés” são gritos do sofrimento imenso que o público sente, ao ver um magnífico animal a ser massacrado, daquele modo delicado e afectuoso.
E a “indigência de semelhante raciocínio” é nossa.
2) Coitadinhos dos homenzinhos que entram nesses jogos parvos, porque os OBRIGARAM. Não puderam DIZER NÃO! Não lhes pediram opinião. Sofrem como uns doidos, porque NÃO TIVERAM OUTRA OPÇÃO.
Lutas entre SERES HUMANOS? Diz o Artur. Humanos ou brutos?
Morro de pena deles!
3) NÃO! De modo algum, Artur. Os aficionados vão ao Massacre de Touros para VER O TOURO A RIR ÀS GARGALHADAS! E isso não é barbárie, obviamente. É CULTURA. Da mais requintada.
A nossa convicção, claro que é absurda! Olha, se ir ver um Touro a rir às gargalhadas, depois de lhe espetarem farpas, que o faz sangrar até à morte, é “barbárie”! Nem pensar! É como se estivéssemos a ver um filme de amor, cheio de carícias e beijos, na mais romântica das cenas!
4) Mas claro, Artur, tudo isso é um elemento de riqueza cultural INESTIMÁVEL. Coisas que dizem do SER MUITO CULTURAL que vocês são. MATAR ou MASSACRAR UM ANIMAL NÃO HUMANO é CULTURA DA MAIS PURA. Daquelas coisas que deviam merecer o PRÉMIO NOBEL DA ESSÊNCIA E DA DIGNIDADE HUMANAS.
5) Eis aqui um daqueles raciocínios que merecem igualmente o PRÉMIO NOBEL DA INTELIGÊNCIA NATA. Madrasta Natureza? Essa é de Mestre!
E já agora, “esquerda urbanóide” é algum partido político novo?
6) Mas que bela prosa! “Moralismos mentecaptos”... Os Touros são massacrados até à morte, há gente que diz “olés” a cada estocada, e nós é que somos os mentecaptos. Isto é coisa de uma cabeça com muita, muita inteligência dentro, Artur! Merece montes de aplausos.
7) Disse bem, MANIFESTAÇÕES DE VIRILIDADE contra um animal indefeso, meio drogado, para não poder defender-se com a valentia que lhe é característica. Assim até eu me batia com um daqueles coitadinhos que vão fazer o Vale Tudo, e são estraçalhados.
O Artur acha bárbaro comer delícias-do-mar? Então não coma. Eu cá não como coisas que acho bárbaras comer. Nem sou obrigada a tal.
8) Esta é para morrer a rir ou para morrer a chorar? O que terá a ver o fiofó (vá ao dicionário ver o significado desta palavra, se não sabe) com as calças?
Está a ver? Neste arrazoado todo que para aqui escreveu, não me deu nem um só argumento válido para eu acreditar que o MASSACRE DE TOUROS é um ACTO CULTURAL DE ALTO NÍVEL, UMA OBRA DE ARTE E UM ACTO DE MUITA VIRILIDADE, QUE LEVA AS PESSOAS A UM ESTADO SUPERIOR DE INTELIGÊNCIA NUNCA VISTA.
Olhe, sabe o que mais, Artur? Perdeu uma boa oportunidade de ficar no seu canto, calado, para não se expor ao ridículo, como se expôs.
Sejam mais criativos. Argumentem, se quiserem argumentar, mas façam-no com inteligência. Por favor!
Isabel A. Ferreira
Comentar post