(Foto de Isabel A. Ferreira)
Não dizemos adeus a quem deixa uma obra.
Rosa Lobato de Faria partiu para algures, mas ficou nos seus poemas, nos seus romances, nas letras de canções, nas personagens que interpretou...
Um dia conheci Rosa Lobato de Faria e o que mais me impressionou nela foi o seu sorriso traquina, num rosto belo e nobre. A sua simplicidade, apesar do seu porte fidalgo, foi outro aspecto que me marcou.
Rosa não era uma vedeta. Era uma artista.
Deixo-te esta rosa, Rosa, como tributo à grande Mulher que foste, e o poema que escreveste, antecipando um dia que nenhum de nós deixará de viver...
Se eu morrer de manhã
Se eu morrer de manhã
abre a janela devagar
e olha com rigor o dia que não tenho.
Não me lamentes. Eu não me entristeço:
ter tido a morte é mais do que mereço
se nem conheço a noite de que venho.
Deixa entrar pela casa um pouco de ar
e um pedaço de céu
- o único que sei.
Talvez um pássaro me estenda a asa
que não saber voar
foi sempre a minha lei.
Não busques o meu hálito no espelho.
Não chames o meu nome que eu não venho
e do mistério nada te direi.
Diz que não estou se alguém bater à porta.
Deixa que eu faça o meu papel de morta
pois não estar é da morte quanto sei.
Rosa Lobato de Faria