Depois de muitas pelejas, uma vez mais, cheguei à conclusão de que esgrimir com aficionados emperrados (porque os há desemperrados e escolhem evoluir) é perda de tempo.
Um aficionado nasce ignorante, mas se lhe damos oportunidade de evoluir, não aceita. Porquê? Haverá uma explicação genética para esta atitude pouco inteligente?
Prova disso foi o meu diálogo com um pró-tourada, que até se mostrou aberto a discutir o tema da Abolição das Touradas, mas… na hora H, recuou. Não conseguiu seguir a linha do raciocínio e desistiu, pura e simplesmente.
O Paulo é um amigo da prótoiro.
E o diálogo começou com uma explicação minha:
Isabel – (…) Isto é apenas uma questão de coerência.
Sirvo uma Causa, que tem como principal "inimiga" a prótoiro.
Nem todos os que forem amigos da prótoiro têm de ser meus inimigos.
Mas não estou sozinha nesta Causa, Paulo.
Paulo – Sei que não está, há muitos defensores dos direitos dos animais por esse mundo fora, e em Portugal também. E, num exercício de coerência natural e linear, ser pró-tourada não faz muito sentido a quem defende os animais (eu tomei nota que referiu prótoiro, que será outro aspecto).
Como em tudo na vida, o maniqueísmo não é a melhor opção. Entre o branco e o preto, há uma infinidade de graus de cinzento. Uma vez mais, respeito a sua opção, legítima, e terei todo o gosto em continuar esta conversa por esta via, se desejar, pois talvez encontremos entre ambos alguns dessas variantes de cinzento que me referia. Dou-lhe apenas uma perspectiva, pessoal: sou firme defensor dos direitos dos animais, já defendi várias acções sobre essa causa, sempre tive (e tratei bem) animais, domésticos ou outros, por minha influência (de certa forma) a milha filha adora-os e quer fazer carreira e opção de vida em cuidar deles.
Contudo, não sou um anti-tourada.
Será incoerente? De forma maniqueísta, é fácil concluir que sim. De forma maniqueísta, também se poderia afirmar que todos os defensores dos animais deveriam ser vegetarianos.... como vê, argumentos de um lado ao outro não faltam. Pelo que a pergunta é esta: o que é um defensor dos animais numa sociedade montada para satisfazer os direitos e necessidades dos humanos?
Isabel – Quer saber a minha opinião, Paulo? Acho que a sua posição é bastante incoerente. Pois os animais não se limitam aos cães e gatos. Os touros e cavalos também são animais sencientes que sentem a dor tal como nós, têm consciência e direito à vida.
Então porquê defender uns, e deixar torturar outros?
Se todos os defensores de animais deveriam ser vegetarianos?
Isso depende da consciência de cada um. Eu não consigo comer um bife de um animal que defendo e que considero meu irmão. Sinto-me mal. É como se estivesse a comer um bife do lombo do Paulo. Para mim, é exactamente o mesmo.
Já viu o horror, que isto é?
Os direitos dos seres humanos acabam quando começam os direitos dos outros seres vivos.
As necessidades dos humanos podem ser satisfeitas sem torturar outros seres que têm uma estrutura biológica igual à nossa.
Além disso, quando falamos de touradas, de circos, de lutas de animais, a própria caça desportiva, não estamos a falar de satisfazer necessidades ou de direitos humanos. Estamos a falar de tortura para diversão.
Penso que não será o mesmo. E está provado cientificamente que os que torturam animais para se divertirem sofrem de um distúrbio mental, pois não têm a noção nem a capacidade de discernir entre uma pedra e um ser vivo.
Paulo – Muito bem, fica a sua opinião. Alguns argumentos acompanham, outros parecem-me fundamentalistas.
Mas enfim, está no seu direito. Tem esse direito, e eu de discordar. A própria fraseologia (incoerência, distúrbio mental) deixa pouca (ou nenhuma) margem para perceber o outro lado.
Se tudo fosse tão simples como escreve...
Isabel – Sabe, Paulo essa do "fundamentalista" nunca percebi. É um termo que se usa demasiado. Será moda? Quanto ao "distúrbio mental" o termo não é meu. É de especialistas na matéria.
Esta questão também é uma questão de sensibilidade. Quem não a tiver, não entenderá nunca que um Touro e um Cavalo são tão animais como nós, e merecem tanto respeito e vida, como nós.
Paulo: Não sei se será moda, Isabel, é como leio algumas das coisas que escreveu. Outras, nem por isso, como lhe disse.
Há especialistas para todos os gostos, e um verdadeiro especialista (para mais clínico) não usa tal jargão. Aliás, "distúrbio mental" é um termo muito redutor e simplista, que não se usa, nem em psiquiatria, nem em psicologia. Então de onde virá?
Quanto à sensibilidade, de acordo. Aliás, é o que faz não ser "fundamentalista". Acredite-me quando lhe digo que, provavelmente, não terá mais apreço por cavalos e toiros do que eu, que nasci e cresci no seu meio.
Agora, não haverá outras razões? Os princípios que defende são tão absolutos que não admitem excepções? Sabe que a raça de touro bravo provavelmente já se tinha extinto... que os cavalos de lide recebem tratamento menos rigoroso que alguns de escola hípica...
Há muitas variáveis, Isabel. Percebo-a perfeitamente, mas o problema da maioria dos anti/pró qualquer coisa é o "tudo ou nada". E com tudo ou nada, nada se resolve, tudo se exalta. Vou prescindir, assim, do termo fundamentalista e usar maniqueísta, que me é mais caro, e que me parece mais adequado.
Temo que, hoje ou no futuro, não avaliará correctamente o peso das minhas palavras (repare que nunca usei a questão da tourada para argumentar...).
Fica, de qualquer modo, o alerta. Sabe, há ideologias políticas que dizem que os homens são todos iguais... Na prática serão?
É algures nos tons de cinzento que reside a resposta, não no preto ou no branco.
Isabel: Acho que o Paulo precisa informar-se melhor. TUDO o que escrevo está fundamentado.
Para não ir mais longe, deixo-lhe aqui este texto, que está na Internet, mas há muitos mais:
«Os termos transtorno, distúrbio e doença combinam-se aos termos mental, psíquico e psiquiátrico para descrever qualquer anormalidade, sofrimento ou comprometimento de ordem psicológica e/ou mental. Os transtornos mentais são um campo de investigação interdisciplinar que envolves áreas como a psicologia, a filosofia, a psiquiatria e a neurologia. As classificações diagnósticas mais utilizadas como referências no serviço de saúde e na pesquisa hoje em dia são o Manual Diagnóstico e Estatístico de Desordens Mentais - DSM IV, e a Classificação Internacional de Doenças - CID-10.»
Quanto ao apreço por Touros e Cavalos, desculpe, se tivesse VERDADEIRO apreço por eles, não gostaria de vê-los SOFRER. Gostaria, sim, de vê-los livres, a pastar nos campos. Sem arreios, sem trelas, sem selas. Esse seu "apreço" terá outro nome.
Com animais não humanos não pode haver excepções, bem como não pode haver excepções com animais humanos. TODOS somos ANIMAIS. Ponto final.
Vejo que também está muito desinformado sobre o touro bravo, que é algo QUE NÃO EXISTE NA NATUREZA. Ele é "fabricado" pelos ganadeiros, com um fim único. O Touro é simplesmente um bovino como outro qualquer. Manso, digno e que merece respeito. Extinguir-se-á mais depressa o homem do que qualquer outro animal não humano. Isto não sou eu que digo. É a CIÊNCIA.
Quando se trata de VIDA (seja humana ou não humana) tem de ser TUDO OU NADA. Não pode haver meio-termo. Estamos a falar de SOFRIMENTO, TORTURA, MASSACRE, VIOLÊNCIA, CRUELDADE. Nestas circunstâncias tem de se ser RADICAL.
Essas teorias políticas de que fala valem zero.
Os homens nunca foram iguais (estamos a falar de DIREITOS e de OPORTUNIDADES) porque os políticos NUNCA QUISERAM.
Quando se trata de seres vivos, tudo tem de ser OU PRETO OU BRANCO. Não pode haver dúvidas. Não poder haver zonas cinzentas.
Coloque-se sempre no lugar das outras criaturas. E verá do que estou a falar.
O mal do homem é ter a PRETENSÃO de querer ser um deus e o DONO DO MUNDO. E não passa de um serzinho insignificante, que à beira da cratera de um vulcão, tendo por companhia um verme, é tão “poderoso” quanto esse verme.
A MÃE NATUREZA é que dá as cartas no jogo da VIDA. Não o homem.
Por isso, sejam mais modestos. Mais solidários com os outros seres.
Paulo: Ficamos assim. É, fica clara a sua posição. Sei que não reteve (discordando ou não) a minha, pelo que mais diálogo se tornará infrutífero. É pena, fico sempre desapontado nestes casos.
Isabel: Olhe, Paulo, o desapontamento é todo meu, porque tendo a certeza de que a razão não está do lado de quem gosta de ver torturar animais, fico triste e cada vez mais desapontada com os homens.
Daí eu preferir as causas dos animais não humanos. Eles precisam e merecem.
***
Como se vê, de repente fez-se escuro e o Paulo não aguentou a argumentação. É sempre assim… Até com os mais “letrados”, como é o caso deste Paulo, isto acontece.
Por isso, tentar converter um aficionado emperrado numa pessoa evoluída é missão impossível.