(Fonte: Wikipédia)
O cisne dobrou o flexível pescoço para a água e viu-se reflectido.
Então, de repente, compreendeu a razão da sua fraqueza e daquele frio que lhe atenazava o corpo fazendo-o tremer como de Inverno: e sem qualquer dúvida soube que a sua hora havia soado e que precisava de se preparar para a morte.
As suas penas eram ainda brancas como no seu primeiro dia de vida. As estações e os anos tinham-se passado sobre ele sem lhe manchar as vestes imaculadas; podia pois desaparecer, concluir em beleza a sua existência.
Erguendo o belo colo, dirigiu-se lenta e solenemente para debaixo de um salgueiro, onde costumava repousar durante o calor. Era quase noite. O ocaso estava agora tingido de púrpura e a água do lago tinha um tom violeta.
E no silêncio que havia em tudo, o cisne começou a cantar.
Até aí, nunca encontrara acentos tão plenos de amor pela natureza, pela beleza do céu, da água e da terra. O seu canto dulcíssimo espalhava-se no ar, velado de nostalgia, até que, pouco a pouco, se foi extinguindo conjuntamente com a derradeira luz do horizonte.
– É o cisne – disseram comovidos os peixes, os pássaros, todos os animais do prado e do bosque – é o cisne que morre.
in Fábulas e Lendas – Leonardo da Vinci