Um texto para se reflectir sobre a pálida sombra que encobre as Democracias do mundo...
Eis o texto que NÃO é de Sócrates, o filósofo grego.
A Democracia deve cair porque tentará adaptar-se a todos, diz a declaração. Porquê?
– Porque os pobres desejarão a riqueza dos ricos, e a Democracia os proverá.
– Porque os jovens desejarão ser respeitados como os idosos, e a Democracia os proverá.
– Porque as mulheres desejarão ser como os homens, e a Democracia as proverá.
– Porque os estrangeiros desejarão os direitos dos nativos e a Democracia os proverá.
– Porque os ladrões e vigaristas desejarão funções governamentais importantes, e a Democracia os proverá.
– E no dia em que os ladrões e vigaristas finalmente e democraticamente conquistarem o Poder, porque é da sua natureza ambicionarem o Poder, a Democracia transformar-se-á numa Ditadura pior do que a dos piores ditadores que já existiram ao longo da História da Humanidade.
Um dia, as praças de touros que restarem deixarão de ser locais nos quais se desrespeitam e maltratam Animais. Não faltarão alternativas interessantes. Este mês, decorrerá na maior praça de touros do Alentejo, em parceria com a Câmara Municipal de Portalegre e com entradas grátis, um espectáculo de dança e artes marciais. Que seja um sucesso.
[Fonte complementar: https://radioportalegre.pt/portalegre-elementor-leva.../... ]
E passo a passo, com MUITO trabalho de bastidores, se vai compondo o nosso espectáculo de dia 27...
Na Praça de Touros de Portalegre, para toda a população!!
O que estaria a "moça" a pensar com um ar tão sério?!!
E o Paulo e o Marcelino será que já estão a arquitectar onde vão montar o seu "estaminé"?
Informação do PAN:
Em Ponte de Lima, um touro com 550 quilos foi forçado a correr pelas ruas, amarrado por cordas, em pleno calor extremo — tudo em nome de uma tradição. A própria organização admitiu temer que o calor enfraquecesse o animal, que se quer “bravo” para divertir quem assiste.
O sofrimento animal não é cultura. Não é tradição. É crueldade normalizada. O PAN contactou as autoridades policiais e a DGAV para pedir a fiscalização ao evento.
Nós mostramos a nossa indignação a estas práticas que ignoram o bem-estar dos animais e colocam vidas em risco. O respeito pelos animais é o mínimo numa sociedade que se quer evoluída e compassiva.
***
Porém, mudam-se os governos, mas a vontade de continuar a maltratar animais tão sensíveis como os bovinos, é maior do que a racionalidade.
Isto seria um crime, em Portugal, se os governantes considerassem os Touros ANIMAIS. Como os consideram, talvez, uma espécie de planta brava, dão aval para que esta barbárie continue a existir na Terra dos Trogloditas, mais conhecida por Ponte de Lima.
Até quando?
Até quando os Portugueses Pensantes correrem com os trogloditas da Assembleia da República, que são aqueles que cozinham a tauromaquia, para que perdure ad aeternum...
Até ver!
Isabel A. Ferreira
Nos meus Blogues «Arco de Almedina» e «O Lugar da Língua Portuguesa», na parte lateral direita poder ler-se o seguinte, no que se refere aos Comentários:
Comentários
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Quem tiver intenção de pretender discutir seja o que for comigo, e que nada tenha a ver com a publicação em causa, por favor usem o e-mail do Blogue (abaixo indicado), correrá o risco de não ver o seu comentário publicado e a sua questão sem resposta.
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***
Este preâmbulo serve para alertar os possíveis comentadores que tenham a ideia de vir para aqui “sem cara e sem nome” armar ao pingarelho, e evitar que eu abra excepções para anónimos, com quem, não tendo cara nem nome, não tenho a obrigação de ser delicada, até porque a estupidez é uma das coisas que me fazem trepar pelas paredes, não conseguindo ignorá-la.
Serve também para informar o que é este Blogue e a sua autora.
Foi o que aconteceu com o Anónimo que me enviou o comentário, abaixo reproduzido, e que, excepcionalmente publiquei, respondendo-lhe no meu estilo furacão, que é um estilo que apenas uso para quem não tem cara nem nome.
Anónimo comentou o post «O Dia de Portugal e as guerras culturais» às 17:48, 16/06/2025 :
Este tal Tiago é o habitual e tipico esquerdolas woke disfarçado que escreve textos esquerdolas fofinhos contraditórios para alegrar esquerdolas socialistas e perpetuar o socialismo.Este texto é contraditório,extremamente doentio e até muitissimo pior do que o da Lidia. É fascinante como estes Tiagos xuxalistas se multiplicam diariamente...este blog é apenas mais uma treta esquerdolas.Assustador!!! |
Uma das regras deste Blogue é NÃO publicar comentários de gente que se esconde no anonimato para dizer baboseiras, mas, às vezes, abro uma excepção, apenas para lançar alertas a possíveis outros anónimos que não têm a coragem de ter NOME e CARA.
Este meu Blogue é totalmente APARTIDÁRIO, e nele cabem todas as ideias que sejam racionais e condizentes com a realidade política portuguesa. Isto de esquerda e direita é coisa da tropa: esquerda/direita/um/dois/esquerda/direita/um/dois...
De resto são todos farinha do mesmo saco.
E o que quero dizer com isto?
Quero dizer que sou apartidária, mas não apolítica e, sobretudo, PENSO pela minha cabeça, e NÃO pela cabeça dos outros. Sou livre pensadora e tenho a liberdade de ser, de estar e de fazer o que EU penso que está certo. Tenho esse direito, o direito que também tem o “sem cara e sem nome” que escreveu este comentário a chispar ódio por algo a que chama “esquerdolas”, para rimar com cervejolas?, talvez a mais, para matar as mágoas...
O termo racismo não se aplica apenas quando odeiam negros ou outras etnias. O racismo também se aplica quando, em Democracia, se odeia os que, estando nos partidos contrários ao seu, pensam de modo diferente.
Em todos os partidos políticos encontro ideias boas e ideias péssimas.
Quando são aproveitáveis, publico-as, venham de onde vierem. Quando não são, não publico, e o critério não é ser deste ou daquele partido. Estou-me nas tintas para o partidarismo. O critério é a essência das ideias.
A mim, não me interessa a que partido político o Tiago pertence.
A mim interessou-me o que ele disse, e o que ele disse é de alguém que vê, ouve e lê, e depois pensa por ele próprio, e disse coisas acertadas acerca da realidade desta nossa sociedade pobre e apodrecida pela política dos três “is”: Incultura, Ignorância e Irracionalidade, e por uma governação calculista e fossilizada, que se tem mantido num tempo demasiado longo.
O “sem cara e sem nome” não gostou? Temos pena.
E se acha que este blogue é uma treta, o que veio cá fazer? Não é obrigado a ler o que aqui se publica, porque o que aqui se publica é apenas para mentes LIVRES de amarras partidárias, e que aceitam o pensar dos outros, quando esses outros apresentam análises com cabeça, tronco e membros.
Isabel A. Ferreira
«O Dia de Portugal e as guerras culturais»
Quando se chega ao ponto de considerar que qualquer homem branco europeu é, por defeito, um potencial opressor, é natural que surja repulsa.
A importação das guerras culturais dos Estados Unidos para a Europa nunca fez verdadeiro sentido. E foi a esquerda mais radical a fazê-lo primeiro em Portugal, procurando mimetizar narrativas e discursos oriundos da ala mais à esquerda dos Democratas americanos, tendo Ocasio-Cortez como figura inspiradora central de uma esquerda que mais tarde passou a ser designada como “woke” ou “identitária”.
Esta esquerda identitária apropriou-se de causas justas e fundamentais – como a defesa do clima, os direitos das mulheres, das comunidades LGBT+ e das minorias étnico-raciais – para as comprimir numa narrativa extremista e maniqueísta, de “bons contra maus”. Nessa lógica, quem se desviasse da ortodoxia discursiva, ainda que partilhasse os mesmos ideais, era imediatamente rotulado de misógino, homofóbico, racista ou xenófobo.
Nos casos mais extremos, houve tentativas de destruição de carácter e até de prejudicar profissionalmente os visados. A estas práticas passou a chamar-se “cancelamento”. Na maioria dos casos, felizmente, sem grande sucesso. Ainda assim, nos EUA, muitas figuras públicas, sobretudo na área artística, continuam marcadas por rótulos dos quais dificilmente conseguem libertar-se.
Esta cultura espalhou-se pelas redes sociais e passou a ser usada como arma contra pessoas comuns. Diariamente assistimos a tentativas de linchamento moral a quem ouse manifestar opiniões fora da cartilha mais radical da ideologia identitária, que parte da esquerda abraçou, afastando-se das suas causas históricas: os direitos dos trabalhadores e o combate às desigualdades. Esse afastamento ajudou a esquerda radical a perder boa parte do seu eleitorado tradicional.
A ascensão da extrema-direita na Europa tem causas profundas e estruturais, muito para além da mera reacção ao discurso identitário. Mas esse discurso contribuiu, e muito, para a sua consolidação. A maioria dos cidadãos que valorizam a democracia não quer viver permanentemente acusada por uma esquerda moralista, que julga o pensamento dos outros – e até o passado dos seus países. Quando se chega ao ponto de considerar que qualquer homem branco europeu é, por defeito, um potencial opressor, é natural que surja repulsa.
Tudo isto a propósito do discurso de 10 de Junho de Lídia Jorge. O que a escritora disse é factual: Portugal é uma mistura de povos e tons de pele, algo que qualquer português com escolaridade básica reconhece. Mas por que o disse no Dia de Portugal? Precisamente porque vivemos um clima polarizado, alimentado por guerras culturais importadas dos EUA. De um lado, uma esquerda identitária a impor a sua moral restritiva; do outro, uma extrema-direita que quer recuperar uma visão retrógrada e perigosa do mundo.
Para além da polarização, esta importação é desajustada da realidade europeia. O modelo esclavagista dos EUA foi profundamente distinto do europeu. O racismo na América do Norte tem origem e expressão muito diferentes do europeu. Ambos são condenáveis e devem ser combatidos, mas importar as soluções e discursos norte-americanos para a Europa é ignorar realidades distintas. Só para dar um exemplo, a maioria dos afro-americanos desconhece a sua origem africana e sente-se profundamente enraizada nos EUA. Já os afro-europeus conhecem, regra geral, a sua origem familiar e mantêm ligações culturais e sociais aos países dos seus ascendentes.
O discurso de Lídia Jorge, num contexto de radicalização crescente, ainda que bem-intencionado, acabou por acentuar divisões num dia simbólico de unidade nacional. E sugeriu, mesmo que implicitamente, que devíamos ter vergonha da nossa História, especialmente da época dos Descobrimentos. Ao fazê-lo, adoptou novamente a narrativa importada de “bons e maus”, colocando os portugueses do lado errado da História. Era o que menos precisávamos em tempos de crescimento da extrema-direita.
Os portugueses podem – e devem – ter orgulho na sua História e nos seus heróis, de D. Afonso Henriques a Salgueiro Maia, passando por Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral ou Diogo Cão. Mesmo os que chegaram a terras que viriam a ser colonizadas. Muitos actos do passado são hoje inaceitáveis – mas à época eram comuns e considerados legítimos. Ter orgulho na História, com tudo o que teve de épico e de trágico, não é um acto ideológico. Não nos torna mais de esquerda ou de direita, nem mais ou menos racistas.
Portugal é, desde a sua génese, fruto de mestiçagens, cruzamentos e influências diversas. Que os portugueses possam viver em paz com a sua herança histórica e com orgulho na sua portugalidade, seja ela expressa e vivida de que forma for.
Escreve no SAPO quinzenalmente à quinta-feira // Tiago Matos Gomes escreve com o antigo acordo ortográfico
Durante o mês de Maio e este de Junho, vários órgãos da Comunicação Social têm vindo a alertar dos perigos dos fogos para este ano de 2025, das formas de os combater, dos meios de combate e muitos mais comentários/avisos se fizeram.
Até já se avisou que o ministro da presidência, António Leitão Amaro, ministro deste Governo de Montenegro, era familiar de uns empresários que possuíam helicópteros para combater fogos e que o contracto se aproximava dos 18 milhões de Euros a expensas dos cofres do Estado.
Por mim, qualquer empresa que ganhe dinheiro sem pisar caminhos criminosos, não me cria invejas. Todavia, tanta publicidade contra os fogos de 2025, até me parece que tais “preocupações” apenas visam recordar os pirómanos de que se aproxima o tempo deles e que preparem as botas de cano alto.
Como se sabe os pirómanos nunca estão sós no terreno a incendiar as florestas. Há, como não podia deixar de ser, criminosos/invejosos, madeireiros interessados nos fogos florestais, empresas de celulose, políticos e até bombeiros, por vingança, ateiam os fogos.
Os criminosos das florestas em Portugal, actuam como e onde querem e a justiça é excessivamente branda contra esta gente! Quem não recorda o flagelo dos fogos no ano de 2017 e o destino da madeira queimada?
Foi público que a “geringonça” de António Costa, criou mais de trinta parques para receberem um milhão de toneladas de madeira queimada e apenas apareceram cerca de cento e setenta mil toneladas nos referidos parques. A madeira queimada, “entenderam certos políticos especialistas, não servia para as indústrias de transformação nacionais” – anunciaram - e acabaram por vender à China as cerca de setecentas mil toneladas de toros que não chegaram a entrar nos referidos parques.
E assim, verificamos que os Governos que temos tido, não se importam de disponibilizar milhões para helicópteros e aviões Cannadair que passam o tempo a refrescar o país onde as labaredas aparecem, porque os criminosos não dão tréguas e serão, quem sabe, bem pagos.
Ora, a maioria dos nossos governantes, que nem remendos novos cozem em calças velhas, têm-se limitado pelo banal, pela política normose e sempre põem interesses pessoais e partidários em primeiríssimo lugar. O povo, apenas o vêem (imediatamente) antes dos actos eleitorais.
No tempo do Estado Novo, do fascismo como sempre disseram, raramente aconteciam fogos, mesmo na canícula dos meses de Julho e Agosto. E se acontecessem, eram devidamente averiguados e os criminosos – se fosse o caso – de imediato, perdiam o “vício” de atear fogos: a prisão era bem longa.
Mas o progresso e a democracia que agora vivemos, vieram modificar usos e costumes. Acabaram com os guarda-rios que patrulhavam as bermas e estavam atentos à pesca ilegal dos oportunistas; acabaram com os guardas florestais que vigiavam as respectivas zonas, vigiavam os turistas pedonais, os turistas do garrafão e das fêveras assadas nas bouças; e acabaram com os cantoneiros que limpavam as bermas da estrada e que denunciavam queimadas perigosas.
Também nas regiões autónomas, cometeram o erro ou os disparates do continente, ao acabarem com os guardas florestais. E logo na Madeira, região de montanha, que nunca devia dispensar estes serviços em defesa e gestão da sua floresta.
Sendo assim, e fazendo um pouco de humor com coisas sérias e graves, este Governo e os próximos, ao continuarem a ser políticos de política normose, ao abdicarem dos guarda-rios, dos cantoneiros, dos guarda florestais e de secções de militares a patrulharem zonas perigosas de fogos, só têm uma hipótese: ministrar um curso a incendiários e criminosos, devidamente preparados, e fazer deles profissionais de fogo posto. Seleccionavam-se os bem constituídos e que fossem invejosos.
Assim, os formandos deste curso em pirologia, evitariam infernais labaredas, dispensavam-se piquetes de vigia, observatórios, aviões e helicópteros. Estes pirómanos e criminosos, agora profissionais, programavam os fogos, os lucros ao Estado da venda dos barrotes queimados e seriam todos funcionários públicos com sindicato, horário de trabalho, folgas e sob a tutela das forças armadas, que justificariam, desse modo, os salários dos soldados, os ordenados dos sargentos e os vencimentos dos oficiais.
E continuando a fazer humor, se não for assim, não havendo cursos de pirologia, todas as vozes falam e nada fazem, e o povo, evidentemente, terá de aceitar, chorar e rir perdidamente, da incompetência de quem dispensa serviços imprescindíveis, porque políticas sem travões, sem inteligência e sem carácter político.
(Artur Soares)
(O autor não segue o acordo ortográfico de 1990)
Penso que todos os Portugueses Pensantes ficaram estupefactos com o discurso que o Presidente da República de Portugal fez, no passado dia 10 de Junho, esvaziado da portugalidade que a celebração do Dia de Camões exigia. Como foi possível!!!!
As críticas brotam nas redes sociais, como cogumelos em dias de chuva.
Portugal tem um Presidente da República sem o mínimo sentido de Estado, estando apenas ao serviço dos estrangeiros.
Luís de Camões, que com tanto Engenho e Arte cantou a nossa Portugalidade, na sua obra mais universal «Os Lusíadas», deve estar a sentir-se traído, lá onde estiver, por ter visto ir por água abaixo, logo no Dia que lhe foi dedicado, (caso único no mundo), todo o esforço, todo o empenho, todo o sacrifício que fez para dar a portugal e mais tarde ao Mundo o seu Poema Épico, ao ouvir as palavras que lhe soariam de traição à sua Pátria e à sua Língua.
E essa traição está bastante evidente no discurso que Marcelo Rebelo de Sousa, sem o mínimo pudor, proferiu no Dia 10 de Junho de 2025.
Via e-mail, recebi um texto intitulado «Tenha vergonha Professor Marcelo...», que passo a transcrever mais abaixo, porque também sublinho tudo, tal como refere Filipe Neves ...
E sublinho tudo, porque, na realidade, o actual presidente da República, foi o pior presidente que Portugal já teve desde Dom Afonso Henriques.
O que estará a levar o Chefe de Estado Português a ficar para a História como um traidor, um apátrida um desafecto de Portugal?
Isabel A. Ferreira
***
Discurso de Marcelo Rebelo de Sousa no 10 de Junho
«Tenha vergonha Professor Marcelo….
O senhor reduziu a Nacionalidade Portuguesa a uma questão sanguínea ou de pureza de raça, como se de cavalos ou burros estivesse a falar, matéria para a qual, acredito, o senhor é doutorado, mas, Ser Português é muito mais que isso, em primeiro lugar é carregar 900 anos de História no lombo, é saber distinguir entre umas papas de sarrabulho e um arroz do mesmo, é distinguir um Vinho do Porto dum Madeira, é degustar um Leitão à Bairrada e umas tripas à Moda do Porto, saber a origem dos Ovos-moles ou do Cozido das Furnas, saber o que é o Pão de Padronelo ou uma sopa à Alentejana…. E que dizer do Vira do Minho ou do Cante Alentejano?
E o Fado?
Já ouviu falar de Fernando Pessoa ou Eça de Queiroz?
E que tal Vitorino Nemésio ou José Hermano Saraiva?
E tantas, mas tantas coisas que nos distinguem que a sua sapiência é pequena para tanta riqueza!
Tenha vergonha Marcelo Rebelo de Sousa, o senhor sempre foi um privilegiado e, agora, vendeu a sua alma como Miguel de Vasconcelos já o havia feito!
O senhor não honra seu pai nem seu padrinho, pessoa que a certa altura disse que muitos dos que queriam alcandorar-se ao Poder nem para criados de quarto serviriam, e olhe que em relação a Sua Excelência, ele acertou mesmo na mouche.
Só me pergunto se o senhor tem feito este papel ignóbil porque tem o rabo preso ou se está mesmo senil!"»
11/06/2025 Luís Franqueira.
Fonte: https://www.facebook.com/share/p/16A8EbpjUw/
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(*)
10 de Junho
«Dia de Camões, de Portugal, da Língua Portuguesa e dos Portugueses!».
Impõe-se que justifique este meu modo de aludir ao Dia 10 de Junho.
Dia de Camões – por se assinalar no dia 10 de Junho, o dia da morte de Lvís Vaz de Camões, que, pela monumentalidade do seu Poema Épico «Os Lusíadas», mereceu ter um dia Nacional, o Dia de Portugal para o celebrar.
Dia da Língua Portuguesa – Língua de Camões, que continuará a ser celebrada no Dia 10 de Junho, pelos Portugueses, por ter sido Camões o que elevou mais alto a Língua de Portugal, e só foi retirada destas celebrações, quando em 2019, a 40ª sessão da Conferência Geral da UNESCO decidiu proclamar o dia 5 de Maio de cada ano como "Dia Mundial da Língua Portuguesa", esquecendo-se de assinalar que se refere à Língua ACORDIZADA, que nada tem a ver com Camões, com Portugal e com os Portugueses.
Dia dos Portugueses, simplesmente, NÃO Dia das Comunidades Portuguesas, para poder englobar aqui TODOS os Portugueses, um Povo feito de muitos Povos: os que vivem em Portugal e os que vivem na diáspora, e não só os das Comunidades Portuguesas no estrangeiro. Nós, que vivemos em Portugal, também merecemos ser celebrados. Ou não?
Isabel A. Ferreira
Enviaram-me a carta via e-mail.
Manuel Muralhas é alguém que sabe escrever bem, é lúcido e tem consciência do que é Portugal e do que é ser Português, e pode ser muito bem aquele Português que está em cada um dos que amam Portugal.
O conteúdo da carta foi o que mais me interessou, por vir ao encontro do que pensei e senti perante o discurso de Lídia Jorge, presidente da Comissão Organizadora do 10 de Junho, uma escritora que já admirei, em tempos, e que me decepcionou, como decepcionou a muitos dos seus leitores.
Marcelo Rebelo de Sousa sabe escolher as pessoas a dedo, quando quer passar a mensagem da falta de patriotismo, que é algo que devemos cultivar, porque sem Pátria somos apátridas, não somos Portugueses, muito menos portugueses puros, porque tal coisa não existe.
Isabel A. Ferreira
«𝐶𝑎𝑟𝑡𝑎 𝑑𝑒 𝑀𝑎𝑛𝑢𝑒𝑙 𝑀𝑢𝑟𝑎𝑙ℎ𝑎𝑠, 𝑛𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎𝑙 𝑑𝑎𝑠 𝑒𝑛𝑐𝑜𝑠𝑡𝑎𝑠 𝑑𝑎 𝐵𝑒𝑖𝑟𝑎 𝐴𝑙𝑡𝑎, 84 𝑎𝑛𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒, 𝑝𝑜𝑟𝑡𝑢𝑔𝑢𝑒̂𝑠 𝑑𝑒 𝑎𝑙𝑚𝑎 𝑒 𝑑𝑒 𝑒𝑛𝑥𝑎𝑑𝑎, 𝑎𝑜 𝑐𝑢𝑖𝑑𝑎𝑑𝑜 𝑑𝑎 𝐸𝑥𝑐𝑒𝑙𝑒𝑛𝑡𝑖́𝑠𝑠𝑖𝑚𝑎 𝑆𝑒𝑛ℎ𝑜𝑟𝑎 𝐷𝑜𝑢𝑡𝑜𝑟𝑎 𝐿𝑖́𝑑𝑖𝑎 𝐽𝑜𝑟𝑔𝑒»
𝐄𝐱𝐦𝐚. 𝐒𝐞𝐧𝐡𝐨𝐫𝐚 𝐃𝐨𝐮𝐭𝐨𝐫𝐚 𝐋𝐢́𝐝𝐢𝐚 𝐉𝐨𝐫𝐠𝐞,
Venho por esta carta, escrita com mãos calejadas, mas cabeça bem erguida, responder, com humildade e pesar, ao seu discurso proferido ontem, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
Fê-lo com pompa, com palavras estudadas, com recurso ao verbo polido das grandes cidades e aos corredores onde reina o eco dos salões luxuosos da Capital do Império.
Mas permita-me dizer: fê-lo descompassada da alma do povo que vive nos montes, nas planícies, nas vilas e nas aldeias que não têm comboio, nem médico, nem esperança.
A Senhora diz que Portugal nasceu com Camões. Não, minha senhora. Portugal nasceu em 24 de Junho de 1128, à ponta de uma espada afiada, num campo de batalha em S. Mamede, ali mesmo às portas de Guimarães, com Afonso Henriques a dizer à própria mãe que este chão era dele e de todos os que viriam a lavrá-lo e a respeitá-lo.
Portugal não nasceu da pena, desculpe que lhe diga, nasceu do sacrifício, da terra cavada, das mãos sujas de pó e do suor que se mistura à pedra para erguer muralhas.
Vivi 84 anos. Vivi-os sempre com muita honra, respeitando quem chegava à minha aldeia, fossem espanhóis, moçambicanos, chineses ou alemães.
Nunca me coube no peito o veneno do ódio, nem nunca vi tal praga entre os meus vizinhos. O que nos revolta, minha Senhora, não são os homens, nem os seus credos, nem as suas cores. É a injustiça. É a falta de respeito por tudo o que este povo construiu com sangue, suor e lágrimas.
Sei que mora em Alvalade, no coração de uma das cidades mais luxuosas da Europa, mas diga-me, onde estava Vossa Excelência, permita-me perguntar-lhe, quando fecharam os milhares de escolas das nossas aldeias e os miúdos passaram a andar carradas de quilómetros a pé para aprender a ler?
Onde estava Vossa Alteza Real quando milhares de centros de saúde e dezenas de hospitais foram encerrados e nos deixaram uma carrinha velha a dizer que era “unidade móvel”?
Onde estava Vossa Excelência quando o meu netinho, e outros milhares de netinhos, precisou de uma ambulância do INEM, para episódios de convulsões gravíssimas, e nunca apareciam, chegando ao Hospital, lá longe a trinta quilómetros, e lá estavam as viaturas do INEM ali paradas?
Onde estava a Doutora quando os meus filhos emigraram para o Luxemburgo porque aqui o ordenado não chegava para metade do pão?
Fala a Senhora com grande emoção sobre escravidão. Tem razão. Foi crime hediondo e deve ser lembrado, sempre, para que jamais volte a acontecer!
Mas nós também temos direito à memória.
Fui expulso de África depois de 30 anos a abrir estradas, a construir hospitais, pontes e escolas. Vim com a roupa do corpo e a dignidade nos ossos.
Nenhum governo me agradeceu. Nunca! Tudo que ali conquistei, com o meu suor, ali ficou. Mas vim sereno, sem raiva, e com um filho maravilhoso, sim negro, que me deu netinhos maravilhosos, que amo com todo o meu ser.
E agora, num dos dias mais sagrados da nossa Pátria, ouço dizer que devemos pedir desculpa por sermos quem somos? Que somos filhos de opressores? Que somos malignos por gostarmos do que construímos ao longo de séculos? Não somos. Somos filhos da fome, da dignidade, da luta e da perseverança.
A Senhora afirma que a imigração descontrolada é fruto de um novo ciclo. Talvez! Mas, depois de nos últimos quarenta anos a ASAE ter fechado milhares de restaurantes porque não cumpriam as mínimas regras da higiene, o que vemos nessas grandes cidades é restaurantes improvisados sem higiene, com ratos, baratas e cocó onde se confecciona a comida, regras a serem violadas sem quaisquer fiscalização, leis que sempre se aplicaram ao português pobre e agora são ignoradas para agradar aos senhores da “diversidade”.
Há trinta anos, fecharam-nos a produção artesanal do nosso Queijo da Serra. Hoje vendem carne podre ao lado dos Jerónimos. Isto não é progresso, Senhora. É abandono.
As leis do trabalho, que este país desenvolveu ao longo dos últimos cinquenta anos, e muito bem, para que todos tenham uma vida digna, são hoje completamente ignoradas ao abrigo da diversidade e dos braços abertos para todos.
Isto sim, é escravidão!
Milhares de pobres coitados amontoados em espaços minúsculos, milhares de escravos que chegam para trabalharem por uma côdea, sem qualquer controlo, tudo para que, meia dúzia de iluminados, como Vossa Alteza possa ler textos lindos a dizer que todos podem entrar!
E se o povo português é hoje tolerante ao ponto de a ouvir de pé, no Dia de Portugal, cuspir no orgulho nacional e comparar Camões a um corpo sem lençol ao lado dos cadáveres da escravatura, é porque este povo nunca foi racista, nem xenófobo, nem intolerante.
É porque este povo, minha Senhora, tem um coração maior do que o país que lhe deram. Mas cuidado: o coração também cansa. Cansa de ser sempre acusado, sempre explorado, sempre traído.
A Senhora fala de Lagos. De Sagres. De escravos. De remorsos. Eu falo de orgulho. De honra. De gente que reza antes de comer, que ajuda o vizinho a meio da noite, que espera cinco horas nas urgências sem bufar porque sabe o que é sacrifício. Falo de um povo que construiu escolas, igrejas, hospitais, barragens e auto-estradas para os outros andarem.
No dia 10 de Junho, esperava ouvir palavras que nos unissem, enaltecessem e empolgassem.
Palavras sobre os nossos emigrantes que mandam dinheiro e saudade. Sobre Camões, sim, mas também sobre os milhares de idosos que vivem com 300 euros e que mesmo assim oferecem vinho aos que os visitam. Sobre os que morrem sozinhos em aldeias abandonadas e ainda assim votam, pagam os seus impostos e rezam pela Pátria.
Se Portugal ainda existe, é porque estas pessoas, que a Senhora ignorou, continuam cá. Com a espinha direita. Com o orgulho de serem portugueses.
Perdoe-me a franqueza, mas alguém tem de a ter para lhe dizer que não vale tudo. Para lhe dizer que até pode valer tudo, se for dentro da lei e dos limites que definem a cultura de um povo.
Perdoe-me a franqueza, mas não consigo ficar calado.
A minha idade já me permite estes gestos obscenos de falar para alguém com a dimensão intelectual de Vossa Excelência!
Uma Senhora, qual Alteza Real, que ontem, no Dia de Portugal, nos fez sentir a todos um farrapo velho, dizendo-nos que na sua opinião somos um povo que deveria ter vergonha de si mesmo, um povo que não está à altura das gentes que vivem lá para os lados de Alvalade, como Vossa Excelência, ou para os lados de Belém, como o seu comparsa de palco, em Dia de Camões.
Perdoe-me a franqueza, mas tive a felicidade de nascer português e, acredite, vou morrer português, esse povo que Vossa Excelência ontem, no Dia de Portugal, tentou diminuir a um pedaço de gente pobre, inculta e má. Não somos. Somos ricos pela nossa história. Somos cultos pelas nossas tradições. Somos bons por sabermos receber de braços abertos o mundo inteiro. E somos humildes para ouvir alguém destilar ódio disfarçado de discurso progressista e não ficarmos com rancor.
Sim, vou morrer português, não pela cor da minha pele, não pelo meu credo, mas sim pela grandeza da minha alma, que é verdadeiramente lusitana.
E já agora, deixe que lhe diga:
“Quem não se orgulha do seu povo, não merece os seus aplausos.”
Respeitosamente,
Manuel Muralhas
Um homem de 84 anos,
Neto de analfabetos,
Pai de emigrantes,
Filho de Portugal.
Fonte:
Do discurso de Lídia Jorge, depreendo que o estudo da História, tão negligenciado nos tempos que correm, e pelos vistos, também no tempo de escola da escritora, faz muita falta.
Espero que todos os oradores em Portugal aprendam com os erros cometidos nos discursos do nosso descontentamento, efectuados por Lídia Jorge e Marcelo Rebelo de Sousa, (o discurso de Marcelo esteve no mesmo tom) no dia em que celebrámos Camões, a Língua Portuguesa [retirada destas celebrações depois da imposição ilegal do AO90], de Portugal e dos Portugueses [porque não assim? estando aqui incluídos os das Comunidades Portuguesas na diáspora, de contrário parece que os que cá vivem, não existem, ficam de fora da celebração].
Remexer no passado, para culpar os que vivem no presente, não me parece normal. Do modo como hoje se fala da escravatura, até parece que foram os Portugueses que a inventaram. A escravatura sempre existiu, em todas as civilizações, desde a Antiguidade: egípcia, persa, grega, romana, muçulmana, asiática, africana, entre outras, em contextos históricos diferentes, e nessas civilizações, os escravos tanto eram negros como brancos, como de todas as etnias dos países invadidos pelos conquistadores de cada época.
Não percebo esta preocupação com a escravatura do passado, quando, hoje, em pleno século XXI d. C., existem imigrantes escravizados a viverem em território português. Não são propriamente escravos, mas são escravizados pelos novos senhores de toda a espécie. Para não falar na existência do tráfico humano, e na exploração de escravas sexuais, não direi por todos os cantos e esquinas do nosso País, mas quase.
Disto a tal esquerda woke não fala. Não interessa?
A questão da escravatura tem milhares de anos, e não se limita aos escravos que Portugal explorou, num tempo em que era prática comum entre muitos povos “de bem”.
Abomino a escravatura. Nem sei como foi possível alguma vez existir, desde tempos remotíssimos. Mas existiu. E eu, evoluí, e só tenho que denunciar a escravatura dos tempos que correm, e deixar na paz dos mortos, os escravos de outros tempos, os quais, por muito que condenemos a sua escravidão, não traremos, de novo, à vida, para terem uma vida livre. Mas os actuais escravos precisam da nossa ajuda para se libertarem do jugo dos novos senhores.
Passemos à análise do Historiador português João Pedro Marques.
Isabel A. Ferreira
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«Considerações sobre um discurso de Lídia Jorge»
Por
João Pedro Marques
11 de Junho de 2025
in https://observador.pt/opiniao/consideracoes-sobre-um-discurso-de-lidia-jorge/
Não foram os portugueses que inauguraram “o tráfico negreiro intercontinental em larga escala”. Não repita nem espalhe aos quatro ventos informações falsas. Já bastam as que a esquerda woke injecta.
Numa passagem do seu discurso no passado dia 10 de Junho, a escritora Lídia Jorge acentuou, adequadamente, as múltiplas origens do povo português. Disse, a esse respeito, o seguinte: “Consta que em pleno século XVII 10% da população portuguesa teria origem africana. Essa população não nos tinha invadido. Os portugueses os tinham trazido arrastados até aqui, e nos miscigenámos. O que significa que por aqui ninguém tem sangue puro. A falácia da ascendência única não tem correspondência com a realidade. Cada um de nós é uma soma do nativo e do migrante, do europeu e do africano, do branco e do negro e de todas as outras cores humanas. Somos descendentes do escravo e do senhor que o escravizou”.
Passemos por cima do dado percentual errado — Lídia Jorge terá eventualmente confundido população portuguesa no século XVII com população de Lisboa no século XVI. Segundo Arlindo Manuel Caldeira a percentagem de escravos e negros livres, em Portugal, situar-se-ia entre os 3 e os 4%. Passemos, também, por cima de um curioso esquecimento relativamente aos árabes, isto é, aos asiáticos, que — esses, sim — nos invadiram, e muito antes do século XVII já constituíam parte significativa da população portuguesa. Somos a soma não apenas do europeu e do africano, mas também do asiático.
Mas tudo isso são detalhes. O que importa acentuar é que a escritora tem razão no resto que afirmou nesta breve passagem do seu discurso. Discurso que provocou reacções desencontradas, com o Chega, pela voz de André Ventura, a contestar, e a esquerda a vir para as redes sociais e, quase que imediatamente, para os jornais, a celebrar e a apoiar estas afirmações de Lídia Jorge. Contudo, essa esquerda não terá reparado que está a entrar em forte contradição (a esquerda é muito dada a não se prender com essas minudências). É que, se de facto, nós, portugueses, descendemos dos africanos e dos europeus, dos escravos e dos seus senhores, por que razão é que essa mesma esquerda que rejubila com o discurso de Lídia Jorge, apoia e exige, por outro lado, reparações pela escravatura? Se não somos apenas descendentes dos senhores, mas também daqueles que eles traficavam ou mantinham em escravidão, teremos de pagar reparações a quem? A nós próprios?
Fica a pergunta e passo adiante porque o discurso de Lídia Jorge suscita-me uma segunda questão, bem mais importante. É que numa outra passagem da sua intervenção, a escritora, referindo-se ao local do Algarve em que discursava e mais especificamente à questão dos Descobrimentos versus escravatura. Disse o seguinte:
“No início da Idade Moderna, Lagos e Sagres representaram tanto para Portugal e para a Europa que a sua volta se constituíram mitos que perduram. Sagres passou assim para a História e para a mitologia como lugar simbólico de uma estratégia que mudaria o mundo. Mas existe uma outra perspectiva, como é sabido, e hoje em dia o discurso público que prevalece é sem dúvida sobre o pecado dos Descobrimentos e não sobre a dimensão da sua grandeza transformadora. É verdade que a deslocação colectiva que permitiu estabelecer a ligação por mar entre os vários continentes e o encontro entre povos obedeceu a uma estratégia de submissão e rapto, cujo inventário é um dos temas dolorosos de discussão na actualidade. É preciso sempre sublinhar, para não se deturpar a realidade, que a escravatura é um processo de dominação cruel tão antigo quanto a humanidade, o que sempre se verificou foi diversidade de procedimentos e diferentes graus de intensidade. E é indesmentível que os portugueses estiveram envolvidos num novo processo de escravização longo e doloroso. Lagos, precisamente, oferece às populações actuais, a par do lado mágico dos Descobrimentos, também a imagem do seu lado trágico. Falo com o sentido justo da reposição da verdade e do remorso, por aqui se ter inaugurado o tráfico negreiro intercontinental em larga escala, com polos de abastecimento nas costas de África, e assim se ter oferecido um novo modelo de exploração de seres humanos que iria ser replicado e generalizado por outros países europeus até ao final do século XIX. Lagos expõe a memória desse remorso”.
Passemos de novo por cima de erros incompreensíveis, mas persistentes por terem aparentemente ficado calcificados em muitas mentes. É que, de facto, Lídia Jorge, não foram os portugueses que inauguraram “o tráfico negreiro intercontinental em larga escala”. Não repita, por favor, nem espalhe aos quatro ventos, mais informações falsas. Já bastam as que a esquerda woke aqui injecta. O tráfico negreiro de grande dimensão entre continentes foi inaugurado pelos povos de religião muçulmana que já a partir do século VIII traficavam escravos negros — escravas, sobretudo — de África para a Ásia e, depois, para a Europa.
Lídia Jorge afirmou também que “sempre houve quem repudiasse por completo a prática (da escravatura) e o teorizasse”, e que Gomes Eanes de Zurara, que escreveu a Crónica da Guiné, em 1448, e nos deixou uma descrição detalhada da chegada do primeiro grande número de escravos africanos a Lagos, quatro anos antes, seria contra aquela “degradação”. Mas está completamente enganada e a reproduzir, sem ter disso consciência, suponho, uma lengalenga woke que é falsa de cabo a rabo.
Sim, Zurara comovia-se com o espectáculo da partilha e com o afastamento forçado de pais e filhos. Contudo, como qualquer homem do século XV, logo acrescentava que, com o correr do tempo, e uma vez acalmada a dor da separação inicial, os escravos eram socialmente integrados, cristianizando-se, aprendendo os ofícios e acabando até, por vezes, por adquirir a liberdade. Para Zurara, a salvação das almas e a introdução à civilidade cristã legitimavam o acto escravizador e isso ficará claríssimo para quem, em vez de acreditar no que Lídia Jorge disse no seu discurso, ler as palavras do próprio cronista, que são as seguintes: “É assim que onde antes viviam em perdição das almas e dos corpos, (os negros) vinham de todo receber o contrário: das almas enquanto eram pagãos, sem claridade e sem lume de santa Fé; e dos corpos, por viverem assim como bestas, sem alguma ordenança de criaturas razoáveis, que eles não sabiam que era pão nem vinho, nem cobertura de pano, nem alojamento de casa; (…). Ora vede que galardão deve ser o do Infante (D. Henrique) ante a presença do senhor Deus, por trazer assim à verdadeira salvação não somente aquestes, mas outros mui muitos que em esta história ao diante podeis achar!”.
Não, Lídia Jorge, no século XV (e noutros, claro) não houve gente, que eu saiba, a insurgir-se contra o tráfico negreiro. A contestação a esse tráfico e à escravidão só se tornou comum a partir do último terço do século XVIII.
Mas deixando de lado esse e outros erros, o que quero dizer é que não estou certo de que a perspectiva que prevalece entre os meus concidadãos seja a do “pecado dos Descobrimentos”. E também duvido que o seu sentimento dominante seja o do “remorso” pela existência do tráfico e escravidão dos negros. Mas admitindo, por mera hipótese académica, que assim seja, a pergunta que quero fazer a Lídia Jorge e a todos os portugueses é a seguinte: serão essas perspectivas e esse eventual remorso adequados? É que os Descobrimentos tiveram um lado luminoso, positivo, que sucessivas levas de bem-pensantes se têm encarregado de denegrir e enterrar. Seria importante que, neste 10 de Junho que passou, Lídia Jorge tivesse dado tanto realce a esse lado, como o que, indo nas modas culturais da actualidade, resolveu dar à trágica história do envolvimento português na escravatura.
Mas talvez Lídia Jorge não saiba, que o remorso a que se refere, já teve o seu tempo, já foi sentido e vivido, no século XIX. Foi nessa época que os ocidentais, entre os quais os portugueses, se deram conta da crueldade e do erro que a escravatura constituía, e decidiram pôr-lhe fim. Em Setembro de 2017 escrevi um artigo no Público intitulado “Quantas vezes terá Portugal de pedir desculpa?” em que mostrei, como já mostrara nos meus textos académicos e como outros autores continuam a mostrar, que a partir de 1840, Portugal alinhou decidida e sinceramente no combate ao tráfico de escravos. Por isso, renovo a pergunta a Lídia Jorge e aos portugueses: quantas vezes terá Portugal de pedir desculpa? Não nos bastou o remorso do século XIX? Eu acho que bastou. E acho que continuar com este muro de lamentações em 2025, 150 a 200 anos depois de ele ter sido percorrido e demolido, é não só incompreensível, como flagelante e masoquista.
Por muito que os apátridas e os traidores e os desafectos façam e desfaçam, queiram ou não queiram, gostem ou não gostem, HOJE é o dia em que os Portugueses, nascidos em Portugal, celebram o que lhes pertence, o que faz parte da sua Cultura, da sua Identidade, da sua História, não só do Poeta como da sua Língua, e não haverá ninguém, por muito imbuído que esteja de má-fé, que possa destruir esta unidade que faz de nós um Povo que tem uma Pátria, uma Língua, uma Cultura, uma História, que são das mais antigas da Europa.
E isto é algo de que devemos orgulhar-nos. Não é um crime. É algo muito natural, excepto para as mentes retorcidas da ala mais ignorante da nossa sociedade.
O que é anormal é rejeitar o patriotismo de quem tem uma Pátria, um lugar seu, onde estão as suas raízes, as raízes de quem ama essa pátria, esse lugar seu, de quem se orgulha de ser de onde é, sem culpas, sem ódios, sem maquinações desviantes, sem subserviências, sem complexos de inferioridade.
Um tempo houve, em que os Portugueses deixaram o seu País, no passado, tal como hoje, pequeno e pobre, e se aventuraram pelo imenso mar afora, em busca de melhor vida, e nessa demanda, acabaram por dar novos mundos ao Mundo, e a abrir caminhos marítimos, contribuindo, desse modo, para o primeiro fenómeno de globalização do Planeta Terra.
E foi essa saga que Lvis Vaz de Camões celebrou no seu Poema Épico «Os Lusíadas», ficando ao nível de Homero, com a sua «Ilíada» e «Odisseia», de Vergílio, com a sua «Eneida», de John Milton, com o seu «Paraíso Perdido», do «Épico de Gilgameš», da «Canção de Rolando», entre outros.
Este dia é, pois, de Portugal, e não há mal nenhum em o ser.
Apenas para os apátridas, para os traidores e para os desafectos celebrar o dia de Camões, da Língua Portuguesa [que foi banida destas comemorações, depois de os políticos portugueses se vergarem ao Brasil] de Portugal e dos Portugueses, estando aqui incluídos os milhares e milhares de emigrantes mais os seus descendentes, espalhados pelos quatro cantos do mundo, é algo que já não faz sentido. Não faz sentido para eles, que não conhecem Camões, que desprezam a Língua e a Cultura Portuguesas e a História de Portugal, venerando, desse modo, a Santa Ignorância, e rendendo-se à mais sórdida estupidez.
Hoje, os Portugueses, que se prezam de o ser, celebram a Portugalidade no seu todo, e a Portugalidade não é nenhum palavrão que não possa pronunciar-se desassombradamente.
Pobres daqueles que não têm Pátria, ou tendo-a, não sabem o quão importante é ter uma Pátria, para poder regressar ao ninho, regressar às origens, que fazem parte do nosso ADN existencial, que integra uma panóplia de Povos, Culturas e Línguas que completam este nosso modo de ser português.
Sem uma Pátria, sem uma Língua, sem uma Cultura, sem uma História, sem uma Origem nada mais somos do que seres mortos-vivos à deriva num mundo onde a única coisa visível são as suas próprias sombras.
Posto isto, espero que o próximo Presidente da República Portuguesa saiba dar significado ao Dia em que ao morrer o Poeta maior de Portugal, o Poeta que também pertence ao Mundo, Portugal ganhou uma nova dimensão, modelada nos versos d’«Os Lusíadas» que cantaram os nossos feitos, elevando a Língua Portuguesa aos píncaros da sua grandeza linguística, que, no entanto actualmente, está a ser selvaticamente destruída.
E não haverá ninguém que possa romper este elo da alma de um Povo que soube cumprir o seu destino, apesar de todos os pesares, que sempre ensombram o percurso do Homem, na sua natural metamorfose evolutiva.
E o que importam os apátridas, os traidores, os desafectos, se ficarão à porta da História?
Isabel A. Ferreira