As gentes da Ilha Terceira (Açores) em vez de evoluírem retrocedem, seguindo o exemplo da esmagadora maioria dos deputados da Nação, que continuam a achar que a selvajaria tauromáquica ainda tem futuro, e dá-lhe guarida, através de uma lei retrógrada. ( Isabel A. Ferreira)
***
Assinem a petição, por favor:
Para:
Exmo. Sr. Presidente da Assembleia Legislativa Regional dos Açores;
Exmo. Sr. Presidente do Governo Regional
No dia 24 de Janeiro de 2025, foi avançado no Fórum Mundial da Cultura Taurina a possibilidade de se regressar à “sorte de varas”, também conhecidas como “corridas picadas” na região.
A “sorte de varas", consiste em picar o touro de forma bastante violenta, causando graves lacerações e danos musculares e neurológicos, assim como tem consequências nos cavalos que acabam por sofrer danos físicos, com cornadas que podem causar eviscerações e outros danos graves, colocando em causa a sua vida.
Ora, isto é uma forma de crueldade e tortura que não se coaduna com as declarações do Sr. Secretário Regional da Agricultura e Alimentação dos Açores, António Ventura, que afirma que a tourada é a melhor escola de cidadania que conhece.
Voltar a legalizar este tipo de violência é um enorme retrocesso civilizacional, ainda mais quando se tenta passar uma imagem dos Açores como destino de natureza e de bem-estar animal.
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Esta necessidade de torturar bovinos é coisa antiga. Estamos em 2025, e a coisa continua.
Veja-se aqui:
Manifesto contra a legalização da "sorte de varas" nos Açores
Vejam mais aqui:
https://arcodealmedina.blogs.sapo.pt/search/?q=sorte%20de%20varas%20nos%20a%C3%A7ores&p=2
e aqui:
https://arcodealmedina.blogs.sapo.pt/search/?q=sorte%20de%20varas%20nos%20a%C3%A7ores&p=3
Um texto actualíssimo, publicado neste Blogue, em 15 de Outubro de 2018.
É imprecindível recordá-lo.
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«Educai as crianças e não será necessário castigar os homens» ( Pitágoras)
Basílio de Sousa Dias (Foto: DN - Paulo Coutinho)
Por Isabel A. Ferreira
Eu tinha um amigo (falecido há alguns anos) ilustre jornalista, poeta, historiador, publicista, agente artístico, actor (de cinema e teatro), de seu nome Basílio Joaquim de Sousa Guimarães Torres Peixoto Palhares de Lacerda Burgueira de Mariz e Dias, Conde de Celanova, Barão do Corvo e Morgado da Toutosa, último nobre galaico-português (por ter sido filho único e não deixar descendência).
Durante o tempo em que convivemos e trabalhámos no mesmo jornal, «A Voz da Póvoa», eu apenas sabia que era Basílio de Sousa Dias, jornalista e historiador, habitante da noite portuense, boémio, que vivia em Vila Nova de Gaia, numa casa onde guardava um extraordinário espólio, e que uma tarde visitei, tendo sido mimoseada com um requintado lanche, confeccionado pelo próprio Basílio.
Na altura em que trabalhávamos no mesmo jornal, ambos escrevíamos crónicas, e ele, por mais do que uma vez, me “censurou” por eu “bater” demasiado nos homens, e ele, como Homem, sentia-se lesado com as minhas observações.
Um dia expliquei-lhe os meus motivos.
...
Não haverá ninguém que não conheça o mito de PANDORA, que atribui a esta Eva grega, todos os males que afligem a Humanidade, uma vez que, devido à sua curiosidade, abriu uma pequena caixa onde os deuses guardavam esses males, espalhando-os pelo mundo. Contudo, lá no fundo da caixa, restou uma única coisa boa: a Esperança.
Ora, esta lenda só poderia ter sido inventada por um homem. Se fosse eu a criá-la, talvez a Pandora fosse um Pandoro, pois tanto quanto sei e observo, todos os males que desde tempos antigos afligiram a Humanidade foram (e continuam a ser) causados pela falta de inteligência, de visão e de discernimento dos homens que têm o poder de pôr e dispor da vida e da morte, no nosso Planeta.
Claro que, quando me refiro aos homens, é aos que escrevo com um h minúsculo. Todas as vezes que me refiro a um ser (masculino) superior utilizo o H maiúsculo, e para mim, a superioridade de um Homem tem a ver com a sua inteligência e com o seu modo prudente, sábio, lúcido e hábil de estar na vida. Em suma tem a ver com a sua Humanidade.
Se os homens parassem um pouco para reflectir, por exemplo, na guerra, talvez chegassem à conclusão de que ela é a maior manifestação da sua própria imbecilidade. Lá pelas épocas pré-históricas, tais actos bélicos ainda se justificariam. Talvez! Hoje, porém, em pleno século XXI D.C., a proliferação de confrontos entre os Povos é inadmissível e extremamente irracional.
Os grandes chefes, normalmente pequenos homens em mentalidade, enviam para a morte, jovens que se matam uns aos outros sem saberem porquê, em nome de ideais idiotas, a maior parte das vezes. E esta é uma das maiores provas do cretinismo dos actos de guerra.
Eu, se fosse Homem, recusar-me-ia, nem que tal me custasse a vida, a ir para uma guerra matar outros seres humanos, como eu, os quais nunca me fizeram mal, a propósito de coisa nenhuma.
Quem inventou a pólvora, as bombas atómicas, as armas nucleares e as outras? Os homens. Quem são os “cérebros” das células terroristas (o que considero um bando de requintados cobardes) que infernizam a vida de cidadãos pacatos? Os homens.
Quem são os chefes das máfias? Quem são os maiores criminosos? Os grandes bandidos da Humanidade? Os pedófilos? Os homens.
Quem inventa as leis que regem os povos, e que nem sempre correspondem às necessidades, aos anseios e às realidades das populações? Os homens.
Quem governa (mal) os países (tirando uma ou outra mulher)? Os homens.
Quem contribui para a poluição do ar, das águas e do solo? São os homens, com as suas ridículas invenções, que proclamam em nome de um falso progresso. Depois é o «Ai Jesus!» que a camada de ozono vai mal; «Ai Jesus!» que a radioactividade está a contaminar a Natureza; «Ai Jesus!» que o Planeta está em risco!
Quem está a destruir o chamado “pulmão do mundo” – a floresta amazónica? São homens: fazendeiros dementes e ávidos de lucro, que matam os que querem preservar um dos lugares mais diversificados em flora e fauna que se conhece. Quem polui as águas dos rios, que desfeiam a paisagem e matam os animais e as plantas? São os homens, donos de fábricas, que não respeitam a vida no Planeta.
Quem foram os neros, os hitlers, os estalines, os bin ladens, os saddams, e mais recentemente os putins, os kims, os de Israel, os da Palestina, os da Síria, os do Irão, os ditadores africanos, a lista é grande, que infernizaram e infernizam a Humanidade? Foram e continuam a ser homens. Quem dirigiu os campos de concentração alemães e os Gulags russos, lugares de extermínio de Homens, Mulheres e Crianças? Foram homens.
Normalmente são homens que estão à frente do destino da Humanidade; homens de mente mesquinha, que se escudam por detrás da sua pequenez de espírito e pouco se importam com a fragilidade das flores. São eles que dominam e pisam a verde erva que cresce nos campos.
Parece que estou a ouvir perguntar: e se o mundo fosse governado por Mulheres, como seria? Não sei. Mas palpito que, talvez, muito melhor. Julgo que, pelo que se tem verificado do trabalho das (ainda poucas) Mulheres que se têm encontrado no topo dos comandos, a grande maioria tem-se mostrado eficiente e pacifista. Porque a Mulher é, acima de tudo, criadora de vida, é Mãe, e compreende que os filhos da Pátria não são trapos que possam ser usados para limpar o lixo do mundo.
Quando olho, por exemplo, para a figura de Hitler, e penso que, um dia, ele foi uma criança, naturalmente linda... O que teria feito dele um monstro?...
Pitágoras (filósofo grego do século V a.C.) dizia: «Educai as crianças e não será necessário castigar os homens».
Será que as crianças de outrora (hoje, a minoria de homens que desgovernam o nosso Planeta, não foram educadas por Mulheres?
Não sei! Talvez fossem educadas num mundo selvagem, à margem das Mães!
Hoje, a Ciência pode explicar o que vai na cabeça dos homens, e por que é que os homens são tão diferentes das Mulheres, no que respeita ao comportamento.
Como gostaria de ver uma pomba branca a sobrevoar uma flor, numa noite escura...
Como gostaria que os homens se tornassem HOMENS, para que a Humanidade pudesse ter a dignidade dos seres mal-denominados irracionais.
...
Basílio de Sousa Dias percebeu as minhas razões. Afinal, eu considerava-o um HOMEM. Não havia razão para sentir-se lesado na sua honra.
Isabel A. Ferreira
Em 27 de Janeiro de 1756, nasce em Salzburgo, Áustria, Wolfgang Amadeus Mozart, um dos maiores génios da música de todos os tempos. Precisamente, na mesma Áustria que viu nascer Adolf Hitler, um dos maiores bárbaros da História, o qual permitiu o horror elevado ao infinito, nos Campos da Morte, entre eles, Auschwitz, onde as almas de milhões de seres humanos inocentes foram libertadas através das chaminés dos fornos que queimaram os corpos que as acolhiam.
Dois momentos que demonstram que, neste nosso mundo, existem homens que não pertencem à espécie Homo Sapiens Sapiens.
A evolução do ser humano, a dado momento, correu mal, e uns evoluíram, seguindo o Bem, o Bom e o Belo. Outros, estagnaram no Mal, no Mau e no Feio.
Mozart pertenceu ao Homo Sapiens Sapiens.
Hitler entrou para a História como o abominável Homo Bellicus Horribilis.
Em 27 de Janeiro de 1945 o campo de Auschwitz foi libertado, pelo Exército Russo, das mãos de horrendos algozes cruéis. No entanto, os mandantes russos actuais nada aprenderam com isso. Hoje, são eles os horrendos algozes cruéis do Povo Ucraniano, com pretextos também absolutamente insanos.
Neste dia, 27 de Janeiro, que também me viu nascer, eu, que tal como Mozart, sigo o Bem, o Bom e o Belo (a Filosofia dos três Bês), tendo a certeza de que ele abominaria o Homo Horribilis que foi Hitler, apesar de ser seu compatriota, há muito que destaco estas duas datas para mostrar ao mundo que não somos todos feitos da mesma matéria-prima.
Hitler permitiu a monstruosidade que a foto documenta:
Foto de crianças ciganas, vítimas do Holocausto, utilizadas nas inomináveis experiências realizadas pelo médico Josef Mengele, conhecido em Auschwitz por «anjo da morte», exposta no Museu Auschwitz II – Birkenau.
Mozart compôs música divina, como a Lacrimosa do Requiem KV.626, com que homenageio os cerca de 85 milhões de seres humanos, seis milhões deles judeus, mortos durante a II Grande Guerra Mundial, graças à loucura de uma criatura diabólica, posta no Poder por milhares de zombies, que nunca souberam se estavam mortos ou vivos!
E o pior é que o mundo nada aprendeu com esse louco, uma vez que os zombies hodiernos continuam a pôr no Poder criaturas diabólicas,cujo leitmotiv continua a ser o voraz prazer de invadir território alheio, de matar seres humanos inocentes e destruir as suas cidades.
E não há coisa mais estúpida no mundo do que repetir os erros de todos os Homo Bellicus que insanamente vêm destruindo a Humanidade.
Deixo-vos com a pérola da musicalidade do genial Mozart: Lacrimosa – Requiem KV. 626, para que sintam a diferença entre a barbárie de um e a evolução de outro:
Isabel A. Ferreira
Um texto de Artur Soares, para reflectir a existência humana, o que fomos, para onde nos levam, o que dizer diante do inevitável fim do nosso percurso terreno. Valeu a pena?... (Isabel A. Ferreira)
***
Escrevi um dia que “os sonhos nocturnos, são como o vento: mal se sabe donde vêm nem porque surgem. Mas todos os sonhos são lícitos, se for para progredir, crescer e tornar os outros felizes. Não o sendo, os sonhos são fantasia, vazio ou frustração”.
E um dia destes, tive um sonho fora do vulgar!
Alguém me chamou e convidou para um passeio.
Sem poder oferecer resistência, fui.
Então, respondendo várias vezes “já vou, já vou”, senti-me a levitar. Subindo, subindo sempre, pude apreciar as torres das cidades, igrejas monumentais, o verde e o loiro de certas zonas e verifiquei que a paisagem, vista do alto, é um espectáculo sem igual!
Continuando a subir, vi o mar, esse “chão azul” sem igual, bem como os golfinhos que picavam o plano das águas marinhas, a respirar. De seguida, entrei por sobre as nuvens e concluí, que me dirigia para oriente, revendo a África, essa estouvada e sedutora terra que parece hipnotizar até, os que nunca tiveram alma cigana.
Por fim, já bem longe e bem alto, levitando pelos céus sem fim, alguém, de tapete branco nas mãos, obrigou-me a parar e, segurando-me, disse:
–Vais na direcção do Reino dos Céus. Como te justificas para transpor a Divina Porta?
– Bom, Anjo meu. Não estava nos meus planos encontrar-me contigo tão cedo. Uma vez que o percurso está feito e para trás não se pode voltar, muito posso contar e pouco me posso justificar.
– Devo dizer-te Anjo meu, que a minha infância foi desprovida de suficientes agasalhos no frio e a qualidade era precária. De alimentos, saboreei alguma mercearia, hortaliça e, as quantidades ainda hoje, penso que eram insuficientes. Daí, ter tido várias vezes o desejo de roubar algo mais para comer. E devo confessar-te também, que muitas vezes senti desejos de uma banana ou de um pouco de carne e, possível, só uma vez de vez em quando.
– Cresci na confusão e no labirinto de homens velhacos e loucos: meninos, batiam-me porque eram ricos, mais velhos ou mais atléticos que eu. Os adultos reprimiam-me, porque tudo era mal feito, queixavam-se; como adolescente, fui traquina, teimoso e, sempre em desfavor dos companheiros, perspicaz.
– Como jovem e a caminho de adulto, namorei imenso, amei pouco e menti muito mais; fui calculista, estoira-vergas, malicioso, e pratiquei a maledicência, principalmente contra os “escolhidos” pelo meu Senhor. –
Também Anjo meu participei numa guerra, não como mercenário - que são a diarreia dos prepotentes - mas obrigado. Embora não visse sentido nessa guerra, tão distante do meu país, como autoridade no terreno, nem sempre fui justo e nem sempre obedeci.
–Esbanjei sem tréguas e sem necessidade forças físicas e, fui por vezes, prepotente e desinteressado dos problemas, das lágrimas e da fome dos outros. Nessa guerra, talvez tenha matado, uma vez que os homens que me estavam confiados apareciam mortos também.
– A seguir, Anjo meu duvidei dos meus familiares, dos meus amigos, de quase todos os homens e tornei-me jactante, individualista e, até perdi a Fé!
– Nestes últimos anos, paciente Anjo, andava a sentir-me confuso, sem fé alguma nos homens, com medo de todos: uns, porque não cumpriam (nem cumprem ainda hoje) os direitos dos homens; não sentiam (nem sentem ainda) respeito e amor pela humanidade; outros roubavam (e roubam), eram (e são) mentirosos, egoístas, vaidosos, vingativos, falhados que sugavam (e ainda sugam), traidores, invejosos.
– E ainda conheci e conheço os avarentos, os burocratas, os imbecis, os madraços, os cobardes, os homens de alma desabitada, os loucos, os perversos e tantos outros que brincam com a saúde e os direitos daqueles que estão permanentemente sob a alça do seu (deles) ponto-de-mira. –
Assim, Anjo meu – paciente Anjo – também fui vítima de muitos: roubado no “Ter” e no “Ser”. Fui excluído da cultura, da educação e, de certo modo, das profissões que sonhei ter, entre outras coisas.
– Desta forma me moldaram e me trataram os homens que vivem lá em baixo! Finalmente, Anjo do meu Senhor, queria afirmar-te que, na vida, sempre caminhei devagar, é certo, mas nunca parei. Andei sempre atento, rindo e chorando, mas sem nunca negar ou trair o meu país como alguns fizeram e disso hoje se ufanam.
– Ultimamente procurei conhecer melhor o meu Deus e, fruto desses conhecimentos, dei-me aos outros sem olhar a classes ou raças: dos que tive conhecimento e soube estarem moribundos, a quase todos visitei; sempre que vi necessário, dei algum do meu pouco pão; quando se juntaram dois fatos no armário e um ficou disponível, eu próprio o coloquei aos ombros do nu.
– Portanto, Anjo que me segues e interrogas, assim me apresento ao meu Senhor, que nestes últimos anos segui, servi e amei com todas as forças dos meus membros, com todo o sangue das minhas veias e com toda a força da minha capacidade intelectual.
– Que o Imperador do Céu e da Terra – continuei – me não veja como totalmente imperfeito, mas sofredor também e que Sua Mãe interfira, de forma que premeie este débil, humilde, mas convicto seguidor.
Ecce homo, Anjo meu!
Continuando a subir, vi o mar, esse “chão azul” sem igual, bem como os golfinhos que picavam o plano das águas marinhas, a respirar. De seguida, entrei por sobre as nuvens e concluí, que me dirigia para oriente, revendo a África, essa estouvada e sedutora terra que parece hipnotizar até, os que nunca tiveram alma cigana.
Por fim, já bem longe e bem alto, levitando pelos céus sem fim, alguém, de tapete branco nas mãos, obrigou-me a parar e, segurando-me, disse:
-Vais na direcção do Reino dos Céus. Como te justificas para transpor a Divina Porta?
– Bom, Anjo meu. Não estava nos meus planos encontrar-me contigo tão cedo. Uma vez que o percurso está feito e para trás não se pode voltar, muito posso contar e pouco me posso justificar.
– Devo dizer-te Anjo meu, que a minha infância foi desprovida de suficientes agasalhos no frio e a qualidade era precária. De alimentos, saboreei alguma mercearia, hortaliça e, as quantidades ainda hoje, penso que eram insuficientes. Daí, ter tido várias vezes o desejo de roubar algo mais para comer. E devo confessar-te também, que muitas vezes senti desejos de uma banana ou de um pouco de carne e, possível, só uma vez de vez em quando.
– Cresci na confusão e no labirinto de homens velhacos e loucos: meninos, batiam-me porque eram ricos, mais velhos ou mais atléticos que eu. Os adultos reprimiam-me, porque tudo era mal feito, queixavam-se; como adolescente, fui traquina, teimoso e, sempre em desfavor dos companheiros, perspicaz.
– Como jovem e a caminho de adulto, namorei imenso, amei pouco e menti muito mais; fui calculista, estoira-vergas, malicioso, e pratiquei a maledicência, principalmente contra os “escolhidos” pelo meu Senhor. –
Também Anjo meu participei numa guerra, não como mercenário - que são a diarreia dos prepotentes - mas obrigado. Embora não visse sentido nessa guerra, tão distante do meu país, como autoridade no terreno, nem sempre fui justo e nem sempre obedeci.
– Esbanjei sem tréguas e sem necessidade forças físicas e, fui por vezes, prepotente e desinteressado dos problemas, das lágrimas e da fome dos outros. Nessa guerra, talvez tenha matado, uma vez que os homens que me estavam confiados apareciam mortos também.
– A seguir, Anjo meu duvidei dos meus familiares, dos meus amigos, de quase todos os homens e tornei-me jactante, individualista e, até perdi a Fé!
– Nestes últimos anos, paciente Anjo, andava a sentir-me confuso, sem fé alguma nos homens, com medo de todos: uns, porque não cumpriam (nem cumprem ainda hoje) os direitos dos homens; não sentiam (nem sentem ainda) respeito e amor pela humanidade; outros roubavam (e roubam), eram (e são) mentirosos, egoístas, vaidosos, vingativos, falhados que sugavam (e ainda sugam), traidores, invejosos.
– E ainda conheci e conheço os avarentos, os burocratas, os imbecis, os madraços, os cobardes, os homens de alma desabitada, os loucos, os perversos e tantos outros que brincam com a saúde e os direitos daqueles que estão permanentemente sob a alça do seu (deles) ponto-de-mira. –
Assim, Anjo meu – paciente Anjo – também fui vítima de muitos: roubado no “Ter” e no “Ser”. Fui excluído da cultura, da educação e, de certo modo, das profissões que sonhei ter, entre outras coisas.
– Desta forma me moldaram e me trataram os homens que vivem lá em baixo! Finalmente, Anjo do meu Senhor, queria afirmar-te que, na vida, sempre caminhei devagar, é certo, mas nunca parei. Andei sempre atento, rindo e chorando, mas sem nunca negar ou trair o meu país como alguns fizeram e disso hoje se ufanam.
– Ultimamente procurei conhecer melhor o meu Deus e, fruto desses conhecimentos, dei-me aos outros sem olhar a classes ou raças: dos que tive conhecimento e soube estarem moribundos, a quase todos visitei; sempre que vi necessário, dei algum do meu pouco pão; quando se juntaram dois fatos no armário e um ficou disponível, eu próprio o coloquei aos ombros do nu.
– Portanto, Anjo que me segues e interrogas, assim me apresento ao meu Senhor, que nestes últimos anos segui, servi e amei com todas as forças dos meus membros, com todo o sangue das minhas veias e com toda a força da minha capacidade intelectual.
– Que o Imperador do Céu e da Terra – continuei – me não veja como totalmente imperfeito, mas sofredor também e que Sua Mãe interfira, de forma que premeie este débil, humilde, mas convicto seguidor.
Ecce homo, Anjo meu!
– Bom, caro peregrino dos mares e dos céus – interrompeu o Alguém do Tapete branco. Por mim, julgo-te justificado e aproxima-te da Porta que pretendes, pois...
E com esta última palavra “pois”, do Anjo meu, acordei e foi maravilhoso ter acordado a sorrir.
(Artur Soares)
(O autor não segue o acordo ortográfico de 1990)
Para que conste, aqui deixo o cartaz da indignação, e o meu repúdio por esta afronta à memória de Eça de Queiroz.
O Ano de 2025 começou mal, com atitudes políticas incompreensíveis.
Eça merecia honras de Panteão, se não pertencesse à terra, ao chão, à simplicidade das serras...
Muito, muito lamentável, obrigar Eça, depois de morto, a ir plantar-se num lugar que recusaria, se lhe tivessem perguntado...
E isto não se faz a um nome maior da Literatura Portuguesa...
Eça não pertence aos políticos, mas ao Povo, que o lê, que o venera, como um dos nomes maiores da Literatura Portuguesa.
Só quem não lhe conhece a Obra e o Pensamento é que pode considerar que ele gostaria de ter os seus restos mortais no Panteão Nacional.
Lamento que Afonso Reis Cabral, presidente da Fundação Eça de Queiroz, trineto do escritor, não tivesse alcançado o erro que cometeu ao ter cedido aos políticos, caindo na armadilha das honras que Eça NÃO vai buscar ao Panteão, porque não precisa delas.
Não é o Panteão que fará Eça ser o que sempre foi, na sua Sepultura, simples, sempre bem cuidada e visitada por tanta gente, em Santa Cruz do Douro, em Baião.
No Panteão, terá a visita provavelmente de turistas, que nunca o leram.
Talvez um dia, numa outra volta da existência, Eça possa regressar a Baião, e Tormes volte a ser o lugar de Eça.
Isabel A. Ferreira