O que espero para 2025?
Embora não interesse a ninguém, vou dizer o que penso, porque é a única coisa que ainda me permitem fazer, neste meu lugar de luta.
Espero que uma luz radiante passe nos céus de Portugal e ilumine todos aqueles que têm nas suas mãos a solução para os graves problemas que estão a arruinar o nosso desditoso pedaço de terra, à beira-mar plantado, há quase 900 anos, e que más políticas e a falta delas estão a fazer desaparecer do mapa da Península Ibérica.
E isto não é uma hipérbole. Um exagero.
É apenas o sentimento de alguém que quando olha, vê a realidade, não a escamoteando para parecer que somos um povo europeu civilizado, quando parte da população portuguesa e os decisores políticos nem sequer sabe falar e escrever correctamente.
Isto pode parecer um facto de pouca monta, mas não é.
É algo que nos retira o direito de sermos um Povo com identidade própria, culto, civilizado, instruído, senhor da sua História, da sua Cultura, da sua própria Língua, das mais antigas da Europa.
Sem este direito protegido, por quem de direito, nada somos como Povo.
Regresso em Janeiro.
Até lá, Boas Festas e o meu muito obrigada a todos os que por aqui passam...
Isabel A. Ferreira
(Imagem retirada da Internet)
Desconheço se há ou não há alguma estátua erigida a algum crítico. Pode ser que haja. Havendo, e pelo menos nas centenas de estátuas que conheço, nunca no seu frontispício vi ou li o cognome de “Crítico, ou “Crítico justo”.
Desconheço ainda se tal actividade é profissão ou dom, e se é necessário ser “doutor de crítica” e se existe qualquer sindicato ou associação de críticos. Neste meu mundo, nestes últimos cem anos, isto é, durante as três repúblicas que já vivemos - pois já vamos na quarta - penso que é a actividade com mais evidência – o criticismo.
Vemos críticos duma ponta à outra do quintal e nos mais variados sectores da vida profissional, social, familiar, económica e religiosa. No desporto então, é “um ver se te avias”: não há jornais, televisões e tempo que chegue, para se ler e ouvir as críticas dos críticos.
Todo mundo critica, todo o mundo percebe do Mundo!
Pensando bem e analisando melhor, o crítico, aquele crítico que se aceitaria e se deveria respeitar, havia de ser aquele que percebesse “com profundidade” o que criticasse (para construir), e aquele, portanto, que fizesse ou fosse muito melhor que os que construíram. Mas não!
No reino do meu mundo, com as reduzidíssimas excepções, o crítico que temos, vemos, lemos ou ouvimos, é aquele que vive do que diz e que pretende vender a ideia de que é ou faz melhor, do que aqueles que vai criticando.
No reino do meu mundo, os críticos, para além da espada ou da faca que usam para esquartejar quem quer que seja, actuam cobardemente tantas vezes e não há leis que o julguem. Atiram pedras em todas as direcções e são fortes em pontapear coxos.
No reino do meu mundo, os críticos, desde que bem ouvidos e bem lidos nas entrelinhas, revelam tantas vezes inveja e incapacidade, chegando aos pontos de até os mortos e bem enterrados não escaparem às investidas das suas críticas.
Os críticos do meu reino, têm dificuldade em admirar seja quem for e o que quer que se faça: não são capazes de usar um grama de bálsamo ou de um unguento simples, para amortecer qualquer queda ao seu semelhante.
Os críticos do meu reino, ou são gordos ou são magros: os primeiros, porque comem lautas refeições à borla para não criticarem e desaparecem; os segundos, porque perante tanta inveja e tanta incapacidade, pouco comem e, tais defeitos, seca-os.
Também existem no reino deste meu mundo, os elogiadores, que, bem lá no fundo, também são críticos. Elogiam os compadres, os ofertantes de algo, ou aqueles onde podem “sacar qualquer coisa”. E desconheço, pesa-me a verdade, quando o elogio teve início. Nem tão pouco sei, onde se iniciou.
Sabe-se também que sempre houve quem tivesse necessidade ou obrigação de recorrer ao elogio. Uns por delicadeza, simpatia ou para sossegar almas desorientadas. Outros recorrem ao elogio para manterem a respiração dos incompetentes, dos frustrados e dos verdugos, uma vez que o elogiador pode carecer dessa gente; ainda outros, porque se não disparam o elogio, ficam parados na vida ou desconhecidos da sociedade.
Sempre hão-de existir os cineastas da vida. O mal é que neste género de arte, por norma, não se ama ninguém. E se parecem amar, não passam de actores a mostrarem virtudes que não têm.
O povo do meu reino possui estranhos tiques, ou então vivemos num tempo sem nexo e de atropelos.
Recorremos ao elogio mútuo, sentimo-nos bem ao viver com um certo punhado de ilusões. Tantos, não sabendo viver sem serem elogiados ou bajulados, desconhecem que podem estar a receber um carro sem volante e sem travões, dado por essas raposas profissionais da hipocrisia. Como diria, e muito bem a escritora Agustina Bessa Luís: “os elogios poderão ser “verdades engarrafadas”, que a serem bebidas, poderão ser uma zurrapa”.
Quantas vezes nas televisões do nosso reino se ouve o elogio mútuo, que além de parecer organizado é ainda teatralizado? Milhares de vezes!
Concluiu-se, assim, que só os mortos se devem elogiar, como faziam os Sacerdotes aos monarcas mortos no Egipto, elogiando o que bastava e sem que os vivos ouvissem!
Tais críticos e elogiadores provam o mal que padecem e as virtudes que não adubaram: enfermam da falta de verdade em suas vidas.
(Artur Soares – escritor d’Aldeia)
(O autor não usa o actual acordo ortográfico)
Devido a uma carta que recebi, tive de me deslocar nos primeiros dias de Junho passado, à cidade de Hobart, capital da Ilha South East, sob administração da Austrália.
O autor da carta, amigo antigo, solicitou a minha presença urgente na referida Ilha, uma vez que lhe garantiram somente quatro a cinco meses de vida e queria que fosse seu herdeiro de quinhentos mil euros. Antecipadamente transferiu-me a importância necessária para as deslocações e iniciei viagem, acompanhado de dois bagageiros e dois seguranças.
O meu amigo Komiscua é um homem de setenta anos, baixo, testa alta, nariz de papagaio, de olhos rasgados, orelhas curtíssimas e com dentes de tamanho mínimo, acriançados. Mas é inteligentíssimo!
Licenciado em filosofia, numa das melhores universidades da Grécia; em psicologia, no Canadá e, em sociologia, na Alemanha, Komiscua é homem simples e grande democrata, parece-me. Enriqueceu como administrador de uma empresa de electricidade, sem ter habilitação para tal! Mas é inteligente!
Chegado a sua casa, fizemos a festa possível, falamos de política, de religiões, do covi-19 em Portugal e, como não podia deixar de ser, falamos da nossa presença na União Europeia.
-- Sabes, grande amigo -- disse Komiscua -- sei que o teu país vive em crise há mais de quarenta anos. Há muitos pobres, muita sacanisse e tacanhice política, jactância, burlões etc. E eis a razão por que, desconfiando que és também um pobre de Portugal, quero fazer-te meu herdeiro. Mas o grande mal - continuou Komiscua - é que os homens inteligentes do teu país se têm recusado a exercer política em Portugal, por sempre se ter apresentado infecciosa, rapace, e, tantas vezes, políticas ingénuas e impostas.
-- Mas o povo português vota livremente e escolhe os governantes! - Interrompi-o.
“-- Isso é simplesmente fachada! Os políticos e os vossos partidos políticos, não trabalham, não têm pés nem mãos, caçam, comem e rastejam como a serpente: não se formam, não se educam, não lhes interessa o povo. São raposas à porta das capoeiras.
Nas Repúblicas como a nossa – continuou - só resulta um único estilo de democracia: sorteamos um Régulo por um ano, autoridade máxima. Depois numa roda, chamada a "Roda dos Governantes", colocamos os nomes de todos os elementos com mais de quarenta anos até aos sessenta, para serem sorteados e governar. Uma criança de oito anos, de seis em seis meses tira da Roda os nomes necessários para formarem governo e sorteamos ainda os elementos do Parlamento, que exercem por seis meses o mandato. Esta democracia avançada permite que todos tenham possibilidades de governar, uma vez que os anteriormente sorteados jamais terão possibilidades de segundo mandato. Tal sistema, inspirado, aceite e implantado (democraticamente) por mim, permite a não existência do clientelismo, do compadrio, das camarilhas, das negociatas, da fuga às obrigações, da prostituição embuçada nos serviços públicos e ministérios, etc. Neste sistema, tudo é perfeito porque todos os sorteados têm pouco tempo para serem transgressores”.
-- Mas -- interrompi. E se algum dos sorteados sair parvo ou perverso, incompetente ou madraço?
-- Bem -- respondeu Komiscua. Aqui todos ganham bem. Depois os governantes ganham por mês vinte vezes mais daquilo que ganham como empregados. Por isso o povo é exigente e, dificilmente há madraços, mentirosos ou incompetentes. Nesta Ilha, somente um género de pessoas não entra na "Roda dos Governantes: que são os loucos, uma vez que a Ilha exige homens que sirvam o povo. No teu país governam os loucos e os pretensiosos.
-- Desculpa, Komiscua, a interrupção. Mas na Ilha há presos políticos?
“- Nós cá damos absoluta prioridade aos anseios e às necessidades do povo, em primeiríssimo lugar! Temos por toda a Ilha salas de ensino com os melhores professores do mundo para falarem de todas as religiões e de todos os ideais políticos. Só que, se existir um professor que tente influenciar, obrigar ou comprar qualquer ilhéu para seguir certa religião ou ideal político, é preso.
-- Vamos lá ver, Komiscua. -- Nada disseste dos incompetentes ou madraços que possam ter sido governantes! - Interroguei.
“-- Cá na Ilha quando se provar incompetência e madracismo nesses governantes, são destituídos do lugar, comunica-se a toda a Ilha e, de seguida, são colocados nus, numa jaula de ferro bem forte, por trinta dias, na cidade mais próxima do governante defeituoso e dá-se-lhe a comida mínima dia-sim-dia-não”.
Passei três dias na Ilha do Komiscua e, durante a noite pensava na democracia local e nos conselhos dados a aplicar no meu país. Respeitei o dia e a hora da partida e, na bagagem foi guardado o cheque da herança anunciada.
Apresentado no Banco o cheque para receber, verificou-se que lhe faltava uma assinatura.
(Artur Soares – escritor d’Aldeia)
(P.S.: o autor não segue o actual acordo ortográfico).
Eu, pessoalmente, não acredito, não só na cultura democrática do povo português, como, principalmente, na cultura democrática dos políticos portugueses.
E isto não é intuição. É certeza.
Isabel A. Ferreira
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Isabel A. Ferreira