Segunda-feira, 11 de Novembro de 2024

«Bicadas do Meu Aparo»: “Expectantismo e salas de espera”, por Artur Soares

 

Diz o povo que “há certas doenças em certos doentes que só o tempo as resolve ou curará”.

E nós, devido à vivência que temos, estamos d’acordo e bem sabemos quais são esses males.

Logo, subentende-se que a Mãe Natureza, o tempo e a própria estrutura física do doente – sem intervenção de algo ou de ninguém – irão resolver a cura. Mas resolverá?

 

Ora isto, é expectantismo!

 

Se há dores e males que vão perturbando e enfraquecendo o homem, outros se conhecem que podem contaminar todo um povo: refiro-me concretamente aos males do tempo perdido. Mas há muitas mais maleitas, sobretudo nas sociedades ditas organizadas onde se respira tantas vezes uma falsa liberdade e uma certa animalidade.

 

Nós por cá – assim o entendemos – perdemos mais de sessenta por cento do nosso tempo! Tem-se visto e sentido no todo nacional, que o país se encontra desterrado no tempo perdido: indiferente, distraído, sonâmbulo e egoísta como nunca. Para aqueles que nada fazem e para aqueloutros que sofrem, o tempo é excessivamente lento, mas demasiado rápido para os que possuem carácter.

 

Muito do nosso tempo, é passado a dizer mal uns dos outros e, tantas vezes, a fazer mal aos outros e a nós mesmos.

 

Gasta-se tempo à espera!

 Espera-se que a doença, dentro ou fora dos hospitais, passe. Espera-se por nascer e espera-se por morrer; espera-se pela noite e pelo dia; pela alegria e pela doença.

 

Espera-se pelo dinheiro do nosso trabalho e pelo médico; pelo advogado e pelo chefe da repartição; espera-se pela paciência e pela substituição dos governantes que actuam segundo a mentira… distribuindo expectantismo.

 

Espera-se nas longas reuniões a programar o que tantas vezes se não concretiza e espera-se pela esperança de se possuir brio individual e colectivo; esperam os jovens, as aldeias, as vilas e as cidades e espera o povo a competência e a seriedade dos responsáveis, dos (minimamente) líderes políticos que não temos.

 

Nós por cá vivemos numa autêntica sala de espera, onde todos esperam por tudo, ou já por nada!

 

Recorde-se e faça-se reflexão sobre os graves problemas acontecidos na sala nacional:

 os incendiários anuais, sempre em acção, comandados contra a nossa floresta; os pedófilos putrefactos e as caras públicas que a esse mundo pertencem; a droga, que às claras entra e se vende por altos preços nas prisões e em qualquer viela; as muitas horas passadas nos empregos, sem que correspondam à produção inventariada e a corrupção existente.

 

O desemprego que não resolvem, provocando violência de toda a ordem, assaltos organizados e a parasitologia social; a violência de tantos lares, devido à instabilidade económica dos que têm de comer o arroz sem nada e de pagar a prestação da habitação.

 

Recordemos a insatisfação permanente em todas as classes profissionais, a bagunça em todas as áreas dos serviços de saúde, da justiça e do ensino, os aumentos semanais nos combustíveis, na luz e nos alimentos; analise-se o futebol nacional, onde uns são facínoras, outros, velhacos e ainda outros, rapaces - comportamentos que meu avô já lhes chamava “pecados de estimação”, isto é, comportamentos já vulgares.

 

E muitos mais casos maus se podiam mencionar!

E onde não era de esperar, existe expectantismo!

 

Pobre país, paciente país que espera há mais de cem anos que estas tristes, perigosas e madraças repúblicas, deixam colocar o povo à espera, nesta triste sala de esperandos e com aspecto de antecipadas múmias.

 

Na jactância da política, onde abundam os defensores do “self-service” aos dinheiros do Estado, não sentem estes pincéis, pejo, de iludir e ostracisar quem neles confiou, imperando a promoção – pelas portas traseiras - das camarilhas e afilhados: enganam e iludem o povo que espera, e sempre com o apoio de televisões servilista com seus analistas.

 

Com tanta expectativa imposta, com tamanha sala de espera e à espera de tudo, não passamos de portugueses que diariamente gasta moeda falsa, distribuída por políticos de dinheiro falsificado.

 

Sabe-se que a vida do homem não passa de um “esperar na vida” por uma vida autêntica, de felicidade e dignidade.

 

Pertencemos a um vestíbulo ou choldra, onde todos esperam, tendo como único remédio, o tenebroso e perigoso expectantismo.

 

(Artur Soares)

 

(O autor não segue o actual acordo ortográfico)

 

Anne Frank.PNG

                                                                                         

publicado por Isabel A. Ferreira às 18:06

link do post | Comentar | Adicionar aos favoritos

Mais sobre mim

Pesquisar neste blog

 

Dezembro 2024

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31

Posts recentes

«Bicadas Do Meu Aparo»: “...

A intuição de Mário Soar...

Carta Aberta, ao Primeiro...

«Se Deus tivesse falado…»

Pobreza em Portugal: «Tod...

Alguém na China, veio esp...

Comunicado do MCATA: Bala...

«Bicadas do Meu Aparo»: “...

«Donald Trump prova ao mu...

«Bicadas do meu aparo»: “...

Arquivos

Dezembro 2024

Novembro 2024

Outubro 2024

Setembro 2024

Agosto 2024

Junho 2024

Maio 2024

Abril 2024

Março 2024

Fevereiro 2024

Janeiro 2024

Dezembro 2023

Novembro 2023

Outubro 2023

Setembro 2023

Agosto 2023

Julho 2023

Junho 2023

Maio 2023

Abril 2023

Março 2023

Fevereiro 2023

Janeiro 2023

Dezembro 2022

Novembro 2022

Outubro 2022

Setembro 2022

Agosto 2022

Junho 2022

Maio 2022

Abril 2022

Março 2022

Fevereiro 2022

Janeiro 2022

Dezembro 2021

Novembro 2021

Outubro 2021

Setembro 2021

Agosto 2021

Julho 2021

Junho 2021

Maio 2021

Abril 2021

Março 2021

Fevereiro 2021

Janeiro 2021

Dezembro 2020

Novembro 2020

Outubro 2020

Setembro 2020

Agosto 2020

Julho 2020

Junho 2020

Maio 2020

Abril 2020

Março 2020

Fevereiro 2020

Janeiro 2020

Dezembro 2019

Novembro 2019

Outubro 2019

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Agosto 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Agosto 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Direitos

© Todos os direitos reservados Os textos publicados neste blogue têm © A autora agradece a todos os que os divulgarem que indiquem, por favor, a fonte e os links dos mesmos. Obrigada.
RSS

AO90

Em defesa da Língua Portuguesa, a autora deste Blogue não adopta o Acordo Ortográfico de 1990, nem publica textos acordizados, devido a este ser ilegal e inconstitucional, linguisticamente inconsistente, estruturalmente incongruente, para além de, comprovadamente, ser causa de uma crescente e perniciosa iliteracia em publicações oficiais e privadas, nas escolas, nos órgãos de comunicação social, na população em geral, e por estar a criar uma geração de analfabetos escolarizados e funcionais. Caso os textos a publicar estejam escritos em Português híbrido, «O Lugar da Língua Portuguesa» acciona a correcção automática.

Comentários

Este Blogue aceita comentários de todas as pessoas, e os comentários serão publicados desde que seja claro que a pessoa que comentou interpretou correctamente o conteúdo da publicação. 1) Identifique-se com o seu verdadeiro nome. 2) Seja respeitoso e cordial, ainda que crítico. Argumente e pense com profundidade e seriedade e não como quem "manda bocas". 3) São bem-vindas objecções, correcções factuais, contra-exemplos e discordâncias. Serão eliminados os comentários que contenham linguagem ordinária e insultos, ou de conteúdo racista e xenófobo. Em resumo: comente com educação, atendendo ao conteúdo da publicação, para que o seu comentário seja mantido.

Contacto

isabelferreira@net.sapo.pt