Fiquei horrorizada com esta imagem! Considerei-a desprezível.
Vê-se que Guterres anda demasiado curvado.
Não tinha nada que se ir meter na boca do abominável homem de Moscovo.
Não me surpreende que Zelensky não queira receber Guterres. Eu fazia o mesmo, além disso, nunca mais lhe apertava a mão, para não ser conspurcada com a peste putinista.
O que está a passar-se, de acordo com o PAN, é um verdadeiro atentado à Causa Animal, uma vez que o Orçamento de Estado para 2025, NÃO prevê verba alguma para o bem-estar e protecção animal, que vinha a aumentar gradualmente, contudo, o actual governo da AD (PSD, CDS/PP e PPM) decidiu eliminar, por completo, essas verbas, o que representa um retrocesso de oito anos para a Causa Animal.
Ao que parece a política do actual governo é de para dar ali, tira-se dacolá.
Este corte drástico põe em risco programas essenciais como o CED (Captura, Esterilização e Devolução), bem como o apoio a associações e às camadas mais carenciadas da população.
O PAN está a mobilizar-se para reverter esta situação.
Até porque:
«A grandeza de uma Nação e o seu progresso moral podem ser julgados pelo modo como os seus animais [humanos e não-humanos] são tratados»
Isabel A. Ferreira
O autor desta monstruosidade, mais os que lhe pagaram para fazer isto, haviam de ir presos uns bons aninhos.
Isto fará parte da política "do vale tudo", ou a de "encher os bolsos", ou das duas coisas, que se espalhou por Portugal como uma peste negra?
Isto fez-me lembrar a medalha comemorativa dos 500 anos de Luís de Camões.
Andam todos doidos!
Faço minhas, as palavras de Rafael Pinto Borges
Isabel A. Ferreira
Por
Tentei convencer-me, num derradeiro segundo de auto-confiança nacional, de que isto fosse brincadeira cruel ou delírio de arquitecto entediado. Era este último, de facto - mas é real.
O caixote que agora agride a famosa torre de Guimarães fará as delícias dos 'autarcas' -- a mais detestável, estúpida e impressionável tribo parida pelo regime dos partidos -- e do lóbi dos arquitectos, sempre encantado com a milionésima repetição da mesmíssima brilhante originalidade.
Os vimaranenses talvez vejam com menor entusiasmo a profanação da sua cidade, aliás uma das poucas em Portugal a ter escapado a tratamento de horrificação. Mas a doença que devora e arruína o país, transformando-o sem descanso em gigantesca Kishinev atlântica, tem mesmo de ser parada. Agora, de preferência -- enquanto ainda sobra algo de belo e digno por estas bandas.
Fonte: https://www.facebook.com/photo/?fbid=1051149280075309&set=a.283013206888924
Isabel A. Ferreira
O texto está neste link, se bem que apenas acessível aos assinantes.
A exibição pública de Salgado foi uma escolha da sua defesa
«Aquilo que me pareceu mais insuportável não foi ver Ricardo Salgado a andar, mas o seu advogado Francisco Proença de Carvalho a falar», diz João Miguel Tavares (JMT).
Precisamente.
Concordo plenamente com tudo o que o JMT escreveu, porque foi exactamente isso que senti ao ver a reportagem do circo montado à porta do tribunal, para impressionar a opinião pública, e a triste figura do advogado a tentar fazer de Ricardo Salgado (RS) uma vítima desgraçadinha, menosprezada pela justiça, quando as verdadeiras vítimas foram os espoliados por ele, das poupanças de uma vida. Foram milhões de Euros roubados ao povo e ao Estado.
Além de o texto de JMT ser obrigatório ler, os comentários também devem ser igualmente lidos, porque ali há de tudo, até este onde se fala de um fato...
Ricardo Salgado parecia um indigente, à porta do tribunal? Parecia.
E Jorge Silva talvez quisesse fazer uma referência ao facto de RS não levar vestido um fato e gravata, algo que qualquer cidadão, por mais pobrezinho que seja, leva, quando tem de apresentar-se diante de um juiz, ainda que tenha de o pedir emprestado a um amigo, ou usar, para tal, os fatos que estão reservados aos indigentes, nas cadeias.
Mas RS, que vive numa mansão, ali para os lados de Cascais, na Quinta da Marinha, coitadinho, não tinha um fato e uma gravata para se apresentar em tribunal, com uma aparência condizente com a mansão onde vive, e o castelo na Suíça onde passa férias.
Tal facto não passou despercebido ao comentador António Aguiar:
A velhice e a doença de Alzheimer nunca foram impedimentos para que uma pessoa abastada como RS é, se apresentasse adequadamente em tribunal.
O circo foi muito mal montado, e só ficou mal à família e ao advogado, e só acreditou na encenação quem é muito distraído.
Parabéns, João Miguel Tavares!
Isabel A. Ferreira
BICADAS DO MEU APARO
Contributos para a história
Recordando Abril de 1974, em Novembro de 1975
Fabricantes de infernos
A fanfarra sem música está viva, ao rubro, em todo o país e em todos os sectores da vida social. A caminhada para sermos sovietizados, é como a marcha inexorável do tempo: não pára. Só os mortos estão quedos e calados, mas os hospitalizados gemem.
A droga entra silenciosamente em Portugal, os políticos mostram os dentes uns aos outros e as forças militares e militarizadas não sabem em que direcção hão-de olhar.
A prostituição é senhora e rainha nas bermas das estradas; os assédios de várias tonalidades conhecem-se; os incestos brotam em conversas nas mesas dos restaurantes e dos cafés e os pedófilos gravitam nas sombras e junto de escolas e colégios. Estamos a ficar um povo-surpresa, ou já somos um povo que está devidamente cadeado.
Neste quintal de 700 por 350 quilómetros, de poucos recursos e de bastantes velhacarias, estamos, neste mês de Novembro de 1975 – numa democracia incerta ou tenríssima – marginalizados ou estonteados pelos injectáveis, vindos de vários ventos, que não o vento verdadeiramente português.
Mas já fomos grandes homens, então. Por tanto que fizeram, por tanto que descobriram, lutaram e amaram a vida e pelo ser português. Hoje ruminamos o passado e, pelo que se passa nesta hora, saboreamos o passado.
Identificamo-nos ou apresentamo-nos como cristãos em qualquer ruela e para efeitos de estatística todos somos católicos e algo mais, desde que notados ou notáveis. Tantos, nos sentimos inteligentes, educados e, quantas vezes, humanistas ou bons rapazes. Mas a verdade, embora lenta, prevalecerá.
Após a ida dos antepassados, centenas de anos volvidos, hoje, a verdade dos nossos tempos e desta geração é bem diferente: todos revolucionários, ocamente reivindicativos, porque nada há. Somos, pelo que se vê, um povo curto.
Actualmente pouco valemos, já nada descobrimos, pouco amamos e muito menos lutamos pelo bem-comum: produzir e distribuir justamente.
Nesta assustadora e malcheirosa confusão social existente – onde a injustiça é justiça, onde o sério profissional é fascista, onde o sacerdote é grande pecador público, onde o que é lei está desactualizado e onde a anarquia é lei… - não sabemos o que somos ou queremos. Apenas as interrogações comandam a vida.
A nossa inteligência é posta em causa, é polémica: porque damos uma no cravo e outra na ferradura. Sentimos o ódio, a vingança, o medo, programamos guerras sociais, dormimos com a dor, a morte e fazemos a neurose: reina a esquizofrenia.
Observamos o lucro, os negócios baços. O poder a qualquer preço, vida fácil, o comodismo e o egoísmo. O drogado e a prostituta perdem a esperança de recuperarem vontade e de serem eles novamente. Somos fabricantes de infernos.
O bêbado e o invertido sentem-se na valeta porque olhados com desdém. Não se vê possibilidades do sorriso. O criminoso e o ateu não são respeitados, perdem a vontade de viver. A confiança e a solidariedade esfumam-se entre nós. Tantos, que tendo falhas, logo ficam marcados e jamais alguém os escuta. As famílias digladiam-se com a nova política, com a liberdade apontada, mas pesada como o peso de elefante. Somos um povo velho, confuso e doente.
A esperança perde terreno junto daqueles que tinham esperança. Anunciamos justiça social e revoltamos os que procuram emprego em tantas portas fechadas. Anunciamos a defesa da família e divulgamos na comunicação social a violência, a pornografia às toneladas e a mentira como modus vivendi. Somos raça de víboras.
Apreciamos e queremos a paz, a ordem e o respeito e fazemos guerra no meio ambiente, anarquia e desobediência constante às hierarquias. Somos um exército sem comando. Mostramos um sorriso ou amizade aos outros e, interiormente, somos a fera, o chefão ou o invejoso. A hipocrisia e o nevoeiro galvanizam-se na cidade.
Deus parece não existir no país e dentro de cada homem e, as crianças não compreendem isto. Cada um ama-se a si mesmo. Construímos o deus que nos convém e somos parasitas do que não temos. Portugueses grandes, fomos. Pequenos hoje, e doentes agora.
Merda! Merda para tudo que seja merda.
(Artur Soares – Novembro de 1975)
***
Recordando Abril de 1974, em Março de 1976
Naquela Praça Vermelha
Nunca me preocupei em saber ou em pensar, se, a vida difícil do homem, o desilude ou traumatiza no seu futuro, ou se o beneficia sendo mais livre e, dessa forma, o faça mais útil à sociedade em que vive.
Na verdade, filho da vida dura e difícil que sempre tive, mas lidando sempre descontraído (e ainda bem) com homens de várias raças e cores – essa mesma vida e ambiente pouco fraterno que respirava – levaram-me de muito cedo a admirar entre outras virtudes no ser humano, a verdade e a odiar neles, a ingratidão.
Hoje, através deste cantinho dispensado, queria falar sobre a mentira, o facciosismo, o dogmatismo de um filme apresentado pela “nossa” televisão um destes dias, sobre as pessoas e a vida na Rússia, no programa “A Gente que nós somos”.
Começou o filme por mostrar, mas com rapidez, a Praça Vermelha. Esta rapidez (preocupação?), assim me pareceu, por esconder o luxo daquela Praça, e talvez se deva ao facto de tanta Arte não estar em harmonia com os trajes das pessoas que, naquele local caminhavam.
Quem tenta ler a sociedade, quem tenta entranhar-se no seu modus vivendi, vai-se apercebendo que o grande paradoxo das sociedades, democráticas ou não, é que o homem vai sendo livre para expressar os pensamentos, mas frequentemente vive num cárcere intelectual: possivelmente livre por fora, mas verdadeiramente prisioneiro por dentro.
No filme que falamos, via-se que se tratava de um dia especial – com certeza Domingo ou dia de lavagem aos cérebros – pois as pessoas aglomeravam-se em vários sítios e parecendo não se conhecerem umas às outras.
Filme publicitário, pois claro, porque procurava mostrar uma terra e uma gente descontraída, solta, feliz, mas na verdade, ao atencioso telespectador mostrava um filme opressivo, de individualismo social e, principalmente, a pobreza no vestir de muitas pessoas da Praça, embora lhe quisessem dar uma tonalidade diferente.
Nessa peça/documentário, mostravam-se os bem vestidos, lenços de seda nas mulheres, os relógios nos pulsos, sapatos bem engraxados, etc., foi preocupação do realizador (do filme) para mostrar pormenores afidalgados na sociedade russa, quando, até um palerma atento, se apercebia que tudo aquilo era facciosismo e mentira.
Na verdade, já o bom-senso ensina: Não deixes medrar aquele que pratica a magia. Não pratiques qualquer tipo de inverdade; não oiças nem recorras aos nigromantes ou a conselheiros sem testemunhos dados de carácter; dispensai esses manipuladores para não serdes contaminados por eles.
Tenho a certeza que, na minha Aldeia, os Zés, de bonés ensebados ou de boina que lhes vai tapando o suor de um dia de trabalho rude, devem ter pensado ao ver o filme sobre as pessoas na Praça Vermelha: “querem vender-nos gato por lebre”.
Distinguiam-se um ou dois casais no filme – e tinha de ser – que trajavam melhor que a restante gente. Daí, a sua distinção, mas pareciam contratados para entrar na publicidade e poderem responder a perguntas que lhes eram feitas sobre a vida social, respondendo sempre “nada melhor que isto”; “vida sossegada e bela”; muita felicidade” e por aí fora, segundo a tradução apaixonante dos nossos “locutores/jornalistas/intérpretes portugueses.”
Os casais entrevistados falavam muito pouco à-vontade. Pareciam ter falta de óleo nas cordas vocais. Estavam presos, sérios, desconfiados, demoravam a responder e nem estaleca mostravam para serem actores de ocasião. Uma desgraça, total falhanço naquele documentário.
Fiquei convencido ao ver apenas metade da peça, que aquela gente, aquelas almas, mais pareciam objectos manipulados e coisas de produção, que pessoas com direito à liberdade, à fraternidade, à alegria e o direito a “terem” e “serem” o que cada um pretende. Saladas russas, liberdades de Brejnev!
Não posso deixar para trás, o trabalho de interpretes daquele filme pelos “nossos locutores”, olhando ao tom alegre, encorajante e apaixonante que punham nas palavras, as quais, nos diziam ser as respostas dos distinguidos casais – felizes sempre – na sua tentadora pátria!
Não seria de admirar pois, devido ao bom-viver e à felicidade daquela gente na Rússia, que esses “nossos intérpretes locutores” se demitissem do seu trabalho na televisão - dando origem a duas vagas – e nos trocassem, indo para um dos países comunistas, saboreando tais normas de vida, felicidade que nos deram a entender e a existir, naquela Praça Vermelha!
Mas como diz Abraham Lincoln : “Pode-se enganar muitos por algum tempo; pode-se mesmo enganar alguns por muito tempo, mas não se pode enganar a todos por todo o tempo”.
E porque é urgente recordar e acordar o povo; E porque é proibido esquecer de como vai este país…, se escreveu o presente texto.
(Artur Soares – Março de 1976)
A ser verdade, sempre os Açores na senda de apetites assassinos e do retrocesso civilizacional, em vez de optar por soluções mais condizentes com o respeito que devemos aos animais não-humanos, como é próprio da civilização! (IAF)
«O PAN/Açores tomou conhecimento, por meio de denúncias, de que há suspeitas, de que foi realizado (...) um abate indiscriminado de gamos na Reserva Florestal do Lugar da Fazenda, na freguesia e concelho de Santa Cruz das Flores. Entre os animais abatidos, há suspeitas de que se incluam fêmeas gestantes, agravando as preocupações quanto ao respeito pelos preceitos de bem-estar animal.
De acordo com as informações recebidas e perante a reincidência deste cenário – recorde-se que no ano passado teve lugar o abate de cerca de 20 gamos no mesmo lugar, o PAN/Açores formalizou uma queixa junto das entidades competentes, visando uma investigação rigorosa do ocorrido.
Paralelamente, assim que tomou conhecimento, o PAN/Açores interpelou, por escrito, o Governo Regional com o intuito de esclarecer a autenticidade das denúncias e perceber, desde Agosto do ano passado, que medidas foram implementadas para controlar a população de gamos não só na ilha das Flores, como em outras reservas florestais onde estes animais habitam, designadamente Monte Brasil e Pinhal da Paz.
Este cenário tende a repetir-se por todo o arquipélago e, a fim de evitar que abates indiscriminados ocorram como controlo da população – uma medida arcaica que espelho um retrocesso civilizacional em termos de bem-estar animal, urge ouvir os alertas dados e implementar medidas preventivas de controlo da população como a esterilização e castração.
No entanto, caso sejam confirmadas as suspeitas, o Partido repudia veemente tais actos que vitimaram cerca de 10 animais, aparentemente, perfeitamente integrados em meio natural, e, exige que sejam tornados públicos os motivos que levaram a este abate.
“O Executivo está a transmitir um sinal errado à sociedade quando recorre ao abate como meio de controlo da população de animais. Deveriam liderar pelo exemplo, implementando medidas que não colidissem com o bem-estar animal, especialmente quando o combate aos maus-tratos a animais está na agenda política, e são investidas verbas do erário públicos para combater esse flagelo”, afirmou o Deputado e Porta-Voz do PAN/Açores Pedro Neves.»
https://pan.com.pt/pan-acores-suspeita-de-abate-de-gamos...
Fonte da imagem:
https://www.facebook.com/photo/?fbid=1021490703352016&set=a.344045851096508
[Um delicioso naco de boa prosa, onde o Portugal que NÃO temos é exposto com um humor requintado - Isabel A. Ferreira]
Origem da imagem:
A caldeirada
Como pertenço ao grupo dos “técnicos de lazer”, minha mulher, democraticamente, só decidiu que eu devia colaborar na elaboração dos serviços culinários de casa. Assim, tocou-me preparar uma caldeirada de peixe e uma sopa. Meti pés ao caminho e já na rua liguei à minha comadre Ortelinda para me dar umas dicas sobre a caldeirada, p’ra fazer figura perante minha mulher, como jeitoso cozinheiro.
Deslocado à peixaria, disse à “técnica da carne do Mar” – assim se intitulou – que pretendia peixe para caldeirada e que chegasse para dois. “Pois sim senhor” – respondeu a técnica.
- “Pode levar um pouco de Perca do Nilo, que é do Uganda e também uma rodela de pescada do Chile; posso-lhe cortar uma lasca desta Dourada grande, que é da Grécia e, também fica divinal a caldeirada se lhe juntar uns cinco ou seis camarões e uma pernita de polvo, que são de Marrocos. Também tem aqui truta salmonada, embora não ligue bem, mas é portuguesa, ali para os lados de Paredes de Coura”.
A “técnica da carne do Mar” deu-se conta que eu estava absorto, olhando para o gelo que envolvia o peixe e alertou para que me decidisse. E trouxe toda a peixeirada que seleccionou.
Nas compras para a sopa, não deixei de pensar que sou pouco apto. Vou comer caldeirada com peixe de vários países e não os conheço, pensei. O Uganda, o Chile, Marrocos aqui tão perto e a Grécia… hei, caramba, a Grécia!!! E Portugal, país que vou conhecendo, onde nasci, que amo, que tive várias ocasiões para ter de dar a vida por ele, não me dá peixe para a minha caldeirada a não ser a truta de Paredes de Coura!
Frente aos expositores que continham os legumes para a sopa, podia escolher couve-galega, alho e batata franceses, grelos, nabos portugueses e, melão para sobremesa, de Espanha.
Melão de Almeirim ou melão “casca de carvalho” do Minho, zero! Procurei tomates para a caldeirada, havia alguns de tamanho normal e muitos dos pequeninos, mas tomates portugueses não. Permaneci triste e pensativo dentro do híper.
Sem me aperceber da sua chegada, tocou-me o Abrantes no ombro e perguntou se estava perdido. Que não, que pensava em nabos.
Foi-se o Abrantes e ruminando a situação de semiperdido no híper dizia a mim mesmo: convidam na televisão ao consumo de bens nacionais. E onde estão os pescadores, os barcos e o mar para termos peixe como os outros? Tem de ser mesmo uma caldeirada internacional ou então feita com os velhos chicharros e tirones (verdinhos).
Mas então a sopa também ter de ser internacional? Pois tem, uma vez que os donos dos híperes não têm tempo de ouvir na televisão o “consuma o que é nacional”. Então, comprei apenas nabos para a sopa e calda de tomate para a caldeirada.
Nabos, pois cheguei à conclusão de que nabos em Portugal é o que mais há e têm mau aspecto. A calda de tomate, porque tomates a valer é o que menos temos e são pequeninos e, os tomates grandes que existiam, eram estrangeiros, muito berrantes, de pouco miolo e de aspecto duvidoso.
Quanto ao grelo havia-os em todos os corredores. Não sei donde eram, mas muitos, maltratados, e o grelo fresco que se podia adquirir já outros o tinham em seu poder. Assim, para além do problema de não termos mar para pescar, temos também um problema agrícola.
Voltei a ligar à comadre Ortelinda para me dar os retoques finais. Fiz a caldeirada e a sopa e disse à mesa que iríamos um dia aos países que pescaram o peixe que estávamos a comer. Era nossa obrigação fazê-lo.
Quanto à sopa, se a agricultura estivesse organizada, é verdade que teríamos nabos a menos no país, mas controlados, teríamos mais tomates e os grelos escusavam de se ver maltratados.
Ainda procurei bananas da Madeira, que são pequeninas e muito saborosas e ananás dos Açores. As bananas eram do Equador, grandes como pepinos e, o ananás da Costa Rica, mais caro do que o nosso açoriano. Nada disto trouxe, pois eram já internacionalizações a mais.
Logo, é importante que haja mar e agricultura organizados no país, para que os peixes grandes não comam a raia miúda e para que nabos, tomates e o grelo existam com equilíbrio.
Artur Soares
(O autor não segue o acordo ortográfico de 1990)
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[O que só demonstra ser um cidadão português inteligente, ao cumprir a Lei vigente - Isabel A. Ferreira]