Sexta-feira, 20 de Setembro de 2019

O olhar de um Médico Veterinário sobre a tourada à corda

 

«Na Tourada à Corda o sofrimento psicológico do animal é forte», salienta o Dr. Vasco Reis, Médico Veterinário, que dá a cara pela Causa Animal.


O que hoje publico é um texto escrito por quem sabe.

Porém, poderia ser também um texto escrito por quem sente, porque existem coisas que, basta um olhar, para nos ferir o coração e a alma, o que é um indicador da existência de empatia, o sentimento maior que faz do homem um ser humano, e que na questão animal (como em tudo na vida) faz toda a diferença entre os seres humanos, e os seres desumanos desprovidos de alma e de empatia, o que os leva a divertirem-se com o sofrimento de um ser vivo.

Bem-haja, Dr. Vasco Reis!

 

O OLHAR DE VASCO REIS.jpg

 

NOBLESSE OBLIGE

 

Texto do Dr. Vasco Reis (Médico Veterinário)

 

«Tenho muito gosto em estar aqui na defesa de animais não humanos e humanos (pessoas) deste país, Portugal.

 

Sou Vasco Reis, médico veterinário aposentado, conhecedor da tourada à portuguesa e da tourada à corda. Fui médico veterinário municipal no Concelho da Praia da Vitória, Ilha Terceira, Açores, de 1986 a 1989, terra onde existem bastantes aficionados e se organizam muitas touradas à corda. Fui, então, incumbido pelo município da PV de examinar, avaliar e fazer acompanhamento e intervenção (nomeadamente, a retirada de bandarilhas/arpões) nos touros que eram ali toureados à portuguesa. É inegável que os touros lidados à portuguesa sofrem imenso psicológica e fisicamente antes, durante e após a Tourada. O sofrimento só termina quando são sofridamente abatidos.

 

E, acompanhei, também, algumas touradas à corda.

 

Na Tourada à Corda o sofrimento psicológico do animal é forte:

 

1º - Desde que é retirado do campo onde se encontrava acompanhado;

 

2º- Acrescido da corda que lhe é imposta ao pescoço e que os pastores seguram para o travar e dirigir;

 

3º- Pela provocação e alarido da multidão.

 

O Sofrimento físico é constante:

 

1º - Pelo esforço/esgotamento das correrias por percursos muito variados e até acidentados;

 

2º- Pelo elevado risco de lesões que pode sofrer no percurso por onde corre, salta, tomba, embate, pelo forte e agressivo esticão da corda - Tudo pode acontecer e muito tem acontecido - queda, entorse, fractura, acidente cardiovascular, desmaio, afogamento, quando levado para a praia e mar, etc.

 

Os riscos de segurança e de vida são muitos para as pessoas que teimam em assistir a este tipo de “entretenimento” uma vez que podem ser atingidas pelo animal, ou pela corda, ou pela multidão em fuga, ou por derrube das estruturas, etc.

 

As crianças estão expostas à violência e ao perigo eminente.

 

Tudo pode acontecer ali e atingir gravemente alguém tornando-o inválido ou até provocar a morte, por temeridade, por excesso de álcool, por azar, por esforço exagerado, por pânico, etc.

 

Além dos terceirenses, também muitos turistas arriscam a vida ao assistir a estas “festividades”.

 

Os touros depois da corrida podem voltar para o campo e ali permanecerem e podem constituir um perigo para pessoas que por lá passem, inclusive turistas incautos em passeio.

 

A propósito da uma tourada à corda mostrada em vídeo: Uma fotografia retirada do vídeo - “Tourada no Cabo da Praia com toiros da Ganadaria de (MJR) 31 de Agosto de 2019. Ilha Terceira, Açores”, mostra um touro ainda preso na caixa de contenção e muito próximo vê-se uma mão que segura uma seringa carregada com cerca de 7ml de um líquido de cor leitosa. Isto deu azo a suspeita de doping e a denúncia de suspeita de que se tratou de contenção do bovino e de material para injecção do bovino!

 

O caso foi revelado no Facebook e provocou reacções lastimáveis de pessoas com conhecimentos limitados e errados e afirmações irresponsáveis. Tais "Aprendizes de feiticeiro" afirmam que se trataria de medicação (antibiótico) para devolver o "bem-estar" ao animal. Já aqui está implícito o reconhecimento de que a corrida provoca tais danos na saúde psicológica e física do animal, que justificam ou exigem medicação. E esta pode ter efeitos secundários.

 

Nota - Constata-se a progressiva resistência de agentes patogénicos a antibióticos.

 

Isto é consequência do abuso da aplicação de antibióticos sem indicação correcta e por parte de muita gente sem autorização e sem preparação para isso. Provavelmente, nunca ficará esclarecido se, neste caso, se pode falar de responsabilidade de um profissional médico-veterinário. É muito improvável, pois estes técnicos da saúde animal não ousam meter-se nestas andanças.

 

Apesar da violência e crueldade exercida sobre animais nas diversas actividades tauromáquicas, há ainda quem considere que, pelo menos algumas, merecem ser reconhecidas património cultural de países e, até, da humanidade, por exemplo, a Tourada à Corda!

 

É claro que esta meta é civilizacionalmente inatingível. No entanto, abundam neste país pessoas de mentalidade retrógrada e praticam-se hábitos e tradições onde impera a violência exercida sobre animais. Há, pois, muito que educar, legislar e fiscalizar contra a liberdade de se abusar dos seres sencientes e conscientes, que são os animais.

 

Antes sim se apreciasse mais e se devesse o mesmo empenho em apresentar e divulgar a deliciosa música dos Açores, essa sim riqueza cultural superior e prestigiante!

 

Muitos são os aficionados em organismos detentores de poder económico, político e legislativo que ainda permitem a sobrevivência destas actividades. Assim, praticamente, se podem "preparar" touros e cavalos para as "festividades", sem qualquer controle de doping.

 

Hipocritamente, as poucas leis/regulamentos existentes, "pretendem promover o BEM-ESTAR animal nos eventos". Como se isso pudesse ser possível sob tanta violência!!!

 

Apesar, de muita "medicação" ser feita às escondidas, sempre se vão encontrando pistas do uso de Rompum, antibióticos, vários tranquilizantes, analgésicos, etc., nos locais onde as "festividades" tiveram lugar.

 

Insisto no facto e lastimo que a tourada à corda signifique sofrimento psicológico e físico para os bovinos envolvidos e que seja um evento de violência psicológica e física para quem assista, com risco de ferimentos graves, incapacitantes e até mortais e a par e passo sendo ainda causador de despesas públicas e privadas, que são perfeitamente evitáveis!

 

Que nódoa perigosa e desprestigiante para a Ilha Terceira.

 

Esta ilha e região são dotadas de paisagens maravilhosas, natureza luxuriante, clima algo instável, mas sempre temperado, de tanta beleza musical e de dança tradicional. Quanta riqueza e que atractivos para serem oferecidos a um turismo pacífico, sem a lastimável tourada à corda. Pessoalmente e por tudo isto, que é tão positivo, e ainda por muitas pessoas que conheci, guardo sempre saudades da Ilha Terceira e dos Açores! Queiram apreciar esta bela música tradicional “Olhos Pretos”, muito popular no arquipélago, cantada e gravada num serão que teve lugar na Praia da Vitória, Ilha Terceira. Isto sim, é uma verdadeira festa de alegria e comunhão entre as pessoas!

 

Basta reproduzir o link: https://youtu.be/l8my33yKwyY

 

 

Vasco Reis

19.09.2019

 

***

Menção: agradecemos ao Dr. Médico Veterinário Vasco Reis que cedeu este texto ao Movimento Não À Vaca das Cordas, o qual muito louvamos.

 

Pedimos que este texto seja partilhado por todos nós e que chegue a muitas pessoas que desconhecem esta realidade da Tourada à Corda em Portugal.

O teu apoio é muito importante, se és contra, assina a petição:

https://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT89816

 

Fonte:

https://www.facebook.com/eu.digo.nao.a.vaca.das.cordas/photos/rpp.1247201205382503/1896498330452784/?type=3&theater

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 10:32

link do post | Comentar | Adicionar aos favoritos

Mais sobre mim

Pesquisar neste blog

 

Março 2024

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
14
15
16
17
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31

Posts recentes

«Não há a mínima TOLERÂNC...

São José festejado em San...

Brasileira diz que são os...

Legislativas 2024: nenhum...

Parabéns, Colômbia sem to...

Os milhares de pessoas pr...

Dois anos de guerra na Uc...

«Bicadas do Meu Aparo: “P...

Na passagem do 97º aniver...

Aleixei Navalny, um símb...

Arquivos

Março 2024

Fevereiro 2024

Janeiro 2024

Dezembro 2023

Novembro 2023

Outubro 2023

Setembro 2023

Agosto 2023

Julho 2023

Junho 2023

Maio 2023

Abril 2023

Março 2023

Fevereiro 2023

Janeiro 2023

Dezembro 2022

Novembro 2022

Outubro 2022

Setembro 2022

Agosto 2022

Junho 2022

Maio 2022

Abril 2022

Março 2022

Fevereiro 2022

Janeiro 2022

Dezembro 2021

Novembro 2021

Outubro 2021

Setembro 2021

Agosto 2021

Julho 2021

Junho 2021

Maio 2021

Abril 2021

Março 2021

Fevereiro 2021

Janeiro 2021

Dezembro 2020

Novembro 2020

Outubro 2020

Setembro 2020

Agosto 2020

Julho 2020

Junho 2020

Maio 2020

Abril 2020

Março 2020

Fevereiro 2020

Janeiro 2020

Dezembro 2019

Novembro 2019

Outubro 2019

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Agosto 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Agosto 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Direitos

© Todos os direitos reservados Os textos publicados neste blogue têm © A autora agradece a todos os que os divulgarem que indiquem, por favor, a fonte e os links dos mesmos. Obrigada.
RSS

AO90

Em defesa da Língua Portuguesa, a autora deste Blogue não adopta o Acordo Ortográfico de 1990, nem publica textos acordizados, devido a este ser ilegal e inconstitucional, linguisticamente inconsistente, estruturalmente incongruente, para além de, comprovadamente, ser causa de uma crescente e perniciosa iliteracia em publicações oficiais e privadas, nas escolas, nos órgãos de comunicação social, na população em geral, e por estar a criar uma geração de analfabetos escolarizados e funcionais. Caso os textos a publicar estejam escritos em Português híbrido, «O Lugar da Língua Portuguesa» acciona a correcção automática.

Comentários

Este Blogue aceita comentários de todas as pessoas, e os comentários serão publicados desde que seja claro que a pessoa que comentou interpretou correctamente o conteúdo da publicação. 1) Identifique-se com o seu verdadeiro nome. 2) Seja respeitoso e cordial, ainda que crítico. Argumente e pense com profundidade e seriedade e não como quem "manda bocas". 3) São bem-vindas objecções, correcções factuais, contra-exemplos e discordâncias. Serão eliminados os comentários que contenham linguagem ordinária e insultos, ou de conteúdo racista e xenófobo. Em resumo: comente com educação, atendendo ao conteúdo da publicação, para que o seu comentário seja mantido.

Contacto

isabelferreira@net.sapo.pt