Um magnífico texto de André Silva, Deputado da Nação, pelo PAN, descomprometido e livre das amarras do lobby tauromáquico instalado na Assembleia da República Portuguesa.
Esperamos que aos deputados, aficionados da selvajaria tauromáquica, que ainda vivem no passado, chegue a lucidez suficiente, para que possam interpretar as palavras do Deputado André Silva, um Homem que pertence à modernidade, e os faça catapultar para o Século XXI D.C.
(Os excertos do texto a negrito são da minha responsabilidade)
Isabel A. Ferreira
Por André Silva
«Conseguimos saber algo importante sobre uma pessoa através da forma como ela trata os que são mais fracos do que ela. Mas conseguimos saber quase tudo sobre uma pessoa através da forma como ela trata os que não têm qualquer poder, os que são impotentes. E os candidatos mais óbvios a este estatuto são os animais. Milan Kundera diz que a verdadeira bondade humana só pode manifestar-se, em toda a sua pureza e liberdade, em relação aos que não têm poder.
O verdadeiro teste moral da humanidade, o mais básico, reside na relação que mantém com os que estão à nossa mercê. E é neste ponto que encontramos a maior derrota da tauromaquia. Sem tibieza, Fernando Araújo dá-nos a mais crua e límpida definição de uma corrida de touros, que consiste na exibição da mais abjecta cobardia de que a espécie humana é capaz, o gozo alarve com a fragilidade e com a dependência alheias.
Na falta de argumentos saudáveis e convincentes, ao estertor tauromáquico nada mais resta do que defender ad nauseam que estas manifestações são parte integrante do património cultural português e da sua identidade. Estagnados no tempo em que a maioria das pessoas não sabia ler nem escrever, tentam fazer-nos acreditar que mutilar e rasgar carne a um animal e fazê-lo cuspir sangue faz parte da nossa herança cultural.
A identidade de um povo cria-se a partir do que é pertença comum e não daquilo que nos divide, pelo que forçar a identidade tauromáquica à população portuguesa é ofensivo e contraproducente para uma desejada unidade nacional.
Aceitando por um lado que devem ser banidas e condenadas as violências contra animais, tentam fazer-nos crer que infligir a morte, o sofrimento cruel e prolongado ou graves lesões a um animal é legítimo, desde que se faça num anfiteatro, que o mal-tratador use fato com lantejoulas e que seja acompanhado ao som de cornetas.
Esta deplorável cena troglodita, em Barrancos, leva-nos a um nome: Jorge Sampaio, ex-presidente da República Portuguesa, que não soube defender a Civilização.
O país pede uma evolução civilizacional e ética em relação a este assunto, sendo que as tradições reflectem o grau de evolução de uma sociedade, pelo que não é mais aceitável que o argumento da tradição continue a servir para perpetuar a cultura da brutalidade e do sangue que se vive nas arenas. Todas as tradições devem ser colocadas em crise quando atentam contra a vida e integridade de terceiros. As pessoas têm muitas formas de satisfazer o seu direito cultural sem que tenha que passar por infligir sofrimento a animais.
Mais de 90% dos portugueses não assiste a touradas e as corridas de touros têm vindo a perder milhares de espectadores todos os anos, tendência confirmada pelos recentes referendos nas universidades de Coimbra e de Évora, onde milhares de estudantes decidiram afastar a violência tauromáquica das suas festas académicas, após várias instituições de ensino superior já o terem feito.
Assim, afirmar que a tourada faz parte da identidade nacional é pretender que uma minoria da população que assiste a corridas de touros seja considerada mais “portuguesa” do que a grande maioria que não se revê neste tipo de espectáculos, o que é, no mínimo, desconcertante.
A identidade de um povo cria-se a partir do que é pertença comum e não daquilo que nos divide, pelo que forçar a identidade tauromáquica à população portuguesa é ofensivo e contraproducente para uma desejada unidade nacional.
Tenha a classe política a coragem para acompanhar o desejo de não-violência da esmagadora maioria dos portugueses.
André Silva»
***
Comentário, na página, ao texto de André Silva, o qual subscrevo:
Acontece que a "classe política" é tão cobarde como um toureiro, e a população de certos locais e adepta deste primitivismo é particularmente agressiva. Viu-se na palhaçada de Barrancos onde a população se manifestou mais para ter touradas ilegais do que para ter um centro de saúde decente. E em vez de impor a lei, o Estado rebaixou-se e cedeu perante alguns burgessos ululantes. Uma pena e uma vergonha nacional que se continuem a praticar touradas. (Gustavo Garcia)
Fonte:
Entrevista de Pedro Marques a Francisco Miguel Valada, intérprete de conferência nas instituições comunitárias, mestre em Linguística e Estudos Literários pela Universidade Livre de Bruxelas (VUB) e activista contra o novo acordo ortográfico.
Como intérprete de conferência e como linguista, o que sente ao ver a língua portuguesa levar o caminho sinuoso de desastre total através do novo acordo ortográfico e das suas múltiplas interpretações?
Em primeiro lugar, peço desculpa pela demora em aceitar dar-lhe esta entrevista. O ano de 2017 foi um ano extremamente ocupado, como será, aliás, 2018. Por isso, eis-me já aqui. Não quis que esta minha dívida fosse saldada depois de Janeiro.
Quanto ao desastre – total ou parcial – está previsto há imenso tempo. No entanto, como vemos pela sua pergunta, as múltiplas interpretações estão aí, são uma realidade perceptível, o quadro teórico não é sólido, as formações foram uma anedota. Já escrevi acerca das opiniões de uma formadora, ainda por cima com responsabilidades associativas, que diz que a palavra Egipto pode ser objecto de dupla grafia, o que vai completamente contra a letra do texto do acordo ortográfico de 1990. Nem é preciso ir ao espírito, basta ir à letra. Se uma formadora desta dimensão comete calinadas destas, é muito natural que outros, contratados ad hoc e formados à pressa, as cometam. Além de o texto ser ambíguo, mas essas são contas de outro rosário. O que sinto? Sinto pena: pena da situação, pena de quem ainda não percebeu a gravidade da situação, pena de quem encolhe os ombros perante o problema.
Escreveu o livro Demanda, Deriva, Desastre – os Três Dês do Acordo Ortográfico. O que o levou a aprofundar o acordo ortográfico e escrever um livro para levar os leitores a debruçar-se sobre o que este novo acordo permitiu? O que tem aprendido desde então?
Tenho aprendido imenso. O livro cumpriu o seu papel em 2009. O debate andava demasiado circunscrito à retórica política e decidi dar o meu modesto contributo para que as questões linguísticas viessem ao de cima. Começou por ser um pequeno ensaio, mas depois acabei por escrever o livro. Infelizmente, desde então, muito tem acontecido neste dossier. Por exemplo, nos últimos anos, tenho aprendido que, independentemente dos factos, independentemente dos pareceres, independentemente da vontade de agentes políticos antes de serem eleitos para cargos, depois da eleição e da nomeação tudo continua exactamente na mesma.
Através do seu livro, das várias publicações no jornal Público e no Aventar onde publica frequentemente e do grupo Acordo Ortográfico Não, de que forma tem conseguido levar a que conheçam melhor o acordo, que o discutam e que reflictam nos prós e contras?
Apresentando os factos e mostrando que há agentes que se estão nas tintas para os factos. É verdade que há petições e audições. Contudo, aceite o pedido e ouvidas as partes, não há mais nada. E depois o processo repete-se. Mais uma petição, mais uma audição. E andamos neste rame-rame, neste faz-de-conta. Cumpro a minha parte de cidadão, mas do lado do poder a resposta é sempre vaga e ambígua. O enquadramento teórico e a perspectiva técnica são aspectos – peço desculpa por usar esta palavra neste contexto –facultativos. Mas é importante que se saliente esta área, para mim, a mais relevante.
Em 2012 disse em entrevista que o AO90 era um desastre e nas suas publicações apresenta imensos textos sublinhando as inúmeras palavras escritas de diversas formas consoante o jornal, a televisão ou outro. Desde então como vê os resultados da aplicação do acordo ortográfico em cada vez mais canais, jornais, e pessoas que têm aderido?
Com tristeza, porque já se previa que isto ia acontecer, mas ninguém com responsabilidades na matéria ligou aos avisos. Como agora a confusão está instalada, os responsáveis continuam a não ligar nenhuma, não vá alguém descobrir que a culpa é deles. Como é público, nem os principais responsáveis pela aplicação do acordo ortográfico de 1990 dominam a matéria. Vá a um motor de busca na Internet e procure “agora ‘facto’ é igual a fato (de roupa)”. Não se retractam (não se esqueça do cê, quando passar isto a limpo, se não ainda julgam que estou a falar de selfies) e andam por aí a espalhar a confusão.
“Os lemas em ‘-acção’ e a base IV do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990” – Em que se baseou para escrever este artigo? Na IV base do acordo ortográfico, na aprofundação das bases e do estudo feito também ao AO45? Para si quais são as maiores incongruências? Quais são as falhas que têm resultado desde que começaram a fazer alterações na grafia?
Utilizei uma base de português actual e seleccionei um corpus, ou seja, um conjunto concreto de dados linguísticos para levar a cabo uma descrição de determinado padrão. Neste caso, extraí palavras terminadas em -acção e palavras terminadas em -ação, para elaborar um estudo comparativo. Tenho um certo orgulho neste texto, pois foi um estudo submetido a arbitragem por pares académicos, cuja identidade eu desconheço, os quais, por seu turno, também desconheciam a minha identidade: é aquilo a que os anglófonos - nativos ou adoptivos - chamam double blind peer review. Ou seja, o estudo foi publicado por se considerar que o conteúdo era, no mínimo, interessante para ser debatido cientificamente. Ao contrário do acordo ortográfico de 1990, elaborado em cima do joelho e aprovado por leigos na matéria.
O novo acordo assenta na base da unificação da língua. Na criação do acordo fizeram-se vários vocabulários ortográficos de apoio e dicionários, tendo em conta que a premissa seria unificar a língua. Desde que foi aplicado, foram ignorados pareceres, processos jurídicos e as próprias regras da CPLP. Em que é que a ortografia se unificou e de que forma a ortografia/língua/cultura se tem denegrido desde a aplicação deste acordo e desde a reforma de 1911?
Não consigo responder-lhe completamente a essa pergunta, sem estarmos um dia inteiro à volta dela, porque existe um interessante, até indispensável, contexto histórico a ter em conta. Há uns tempos, na inauguração da secção portuguesa da livraria Filigranes, em Bruxelas, quando entrevistei Jacinto Lucas Pires (um excelente escritor, uma pessoa espectacular, com óptimo gosto clubístico, mas com péssimo gosto ortográfico), lembrei-lhe o que aconteceria ao título de um livro dele, se optasse por O Aspecto da Recepção.
Só para que os leitores desta entrevista percebam a mentira da “unificação”, esse improvável título, em condições normais, ou seja, antes do acordo ortográfico de 1990, seria O Aspecto da Recepção em todo o lado: em Portugal, no Brasil, em Angola, em Moçambique, etc., etc. Todavia, com o acordo ortográfico de 1990, só no Brasil (repito: só no Brasil) se manteria O Aspecto da Recepção: em Portugal, em Angola, em Moçambique, etc., etc., passa a O Aspeto da Receção. Sublinho: esta divergência é causada pelo acordo ortográfico de 1990. A unificação ortográfica é uma falácia.
Quais são os seus sonhos para a língua portuguesa e para Portugal?
Para Portugal, no tempo actual, sonho com a adopção de bons exemplos nacionais ou estrangeiros e que a educação esteja no cerne da acção e não só do discurso. E desejo que os responsáveis políticos não se limitem a ouvir peticionários e a pedir pareceres. Sonho com um mundo em que aqueles que solicitam pareceres percam alguns minutos a lê-los e a reflectir acerca deles – e que, quando ouvem peticionários, não marquem audições em cima das sessões plenárias, se não, não conseguem escutar com atenção aquilo que os peticionários vão dizer, limitam-se a ouvir os colegas que ficaram a assistir e aprendem pouco sobre o que se passa cá fora. Quanto à língua portuguesa, desejo-lhe o mesmo que a si e a mim: paz e sossego.
Obrigado pelo seu tempo, votos de bom trabalho.
Fonte:
Entrevista de Pedro Marques a Francisco Miguel Valada, intérprete de conferência nas instituições comunitárias, mestre em Linguística e Estudos Literários pela Universidade Livre de Bruxelas (VUB) e activista contra o novo acordo ortográfico.
Como intérprete de conferência e como linguista, o que sente ao ver a língua portuguesa levar o caminho sinuoso de desastre total através do novo acordo ortográfico e das suas múltiplas interpretações?
Em primeiro lugar, peço desculpa pela demora em aceitar dar-lhe esta entrevista. O ano de 2017 foi um ano extremamente ocupado, como será, aliás, 2018. Por isso, eis-me já aqui. Não quis que esta minha dívida fosse saldada depois de Janeiro.
Quanto ao desastre – total ou parcial – está previsto há imenso tempo. No entanto, como vemos pela sua pergunta, as múltiplas interpretações estão aí, são uma realidade perceptível, o quadro teórico não é sólido, as formações foram uma anedota. Já escrevi acerca das opiniões de uma formadora, ainda por cima com responsabilidades associativas, que diz que a palavra Egipto pode ser objecto de dupla grafia, o que vai completamente contra a letra do texto do acordo ortográfico de 1990. Nem é preciso ir ao espírito, basta ir à letra. Se uma formadora desta dimensão comete calinadas destas, é muito natural que outros, contratados ad hoc e formados à pressa, as cometam. Além de o texto ser ambíguo, mas essas são contas de outro rosário. O que sinto? Sinto pena: pena da situação, pena de quem ainda não percebeu a gravidade da situação, pena de quem encolhe os ombros perante o problema.
Escreveu o livro Demanda, Deriva, Desastre – os Três Dês do Acordo Ortográfico. O que o levou a aprofundar o acordo ortográfico e escrever um livro para levar os leitores a debruçar-se sobre o que este novo acordo permitiu? O que tem aprendido desde então?
Tenho aprendido imenso. O livro cumpriu o seu papel em 2009. O debate andava demasiado circunscrito à retórica política e decidi dar o meu modesto contributo para que as questões linguísticas viessem ao de cima. Começou por ser um pequeno ensaio, mas depois acabei por escrever o livro. Infelizmente, desde então, muito tem acontecido neste dossier. Por exemplo, nos últimos anos, tenho aprendido que, independentemente dos factos, independentemente dos pareceres, independentemente da vontade de agentes políticos antes de serem eleitos para cargos, depois da eleição e da nomeação tudo continua exactamente na mesma.
Através do seu livro, das várias publicações no jornal Público e no Aventar onde publica frequentemente e do grupo Acordo Ortográfico Não, de que forma tem conseguido levar a que conheçam melhor o acordo, que o discutam e que reflictam nos prós e contras?
Apresentando os factos e mostrando que há agentes que se estão nas tintas para os factos. É verdade que há petições e audições. Contudo, aceite o pedido e ouvidas as partes, não há mais nada. E depois o processo repete-se. Mais uma petição, mais uma audição. E andamos neste rame-rame, neste faz-de-conta. Cumpro a minha parte de cidadão, mas do lado do poder a resposta é sempre vaga e ambígua. O enquadramento teórico e a perspectiva técnica são aspectos – peço desculpa por usar esta palavra neste contexto –facultativos. Mas é importante que se saliente esta área, para mim, a mais relevante.
Em 2012 disse em entrevista que o AO90 era um desastre e nas suas publicações apresenta imensos textos sublinhando as inúmeras palavras escritas de diversas formas consoante o jornal, a televisão ou outro. Desde então como vê os resultados da aplicação do acordo ortográfico em cada vez mais canais, jornais, e pessoas que têm aderido?
Com tristeza, porque já se previa que isto ia acontecer, mas ninguém com responsabilidades na matéria ligou aos avisos. Como agora a confusão está instalada, os responsáveis continuam a não ligar nenhuma, não vá alguém descobrir que a culpa é deles. Como é público, nem os principais responsáveis pela aplicação do acordo ortográfico de 1990 dominam a matéria. Vá a um motor de busca na Internet e procure “agora ‘facto’ é igual a fato (de roupa)”. Não se retractam (não se esqueça do cê, quando passar isto a limpo, se não ainda julgam que estou a falar de selfies) e andam por aí a espalhar a confusão.
“Os lemas em ‘-acção’ e a base IV do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990” – Em que se baseou para escrever este artigo? Na IV base do acordo ortográfico, na aprofundação das bases e do estudo feito também ao AO45? Para si quais são as maiores incongruências? Quais são as falhas que têm resultado desde que começaram a fazer alterações na grafia?
Utilizei uma base de português actual e seleccionei um corpus, ou seja, um conjunto concreto de dados linguísticos para levar a cabo uma descrição de determinado padrão. Neste caso, extraí palavras terminadas em -acção e palavras terminadas em -ação, para elaborar um estudo comparativo. Tenho um certo orgulho neste texto, pois foi um estudo submetido a arbitragem por pares académicos, cuja identidade eu desconheço, os quais, por seu turno, também desconheciam a minha identidade: é aquilo a que os anglófonos - nativos ou adoptivos - chamam double blind peer review. Ou seja, o estudo foi publicado por se considerar que o conteúdo era, no mínimo, interessante para ser debatido cientificamente. Ao contrário do acordo ortográfico de 1990, elaborado em cima do joelho e aprovado por leigos na matéria.
O novo acordo assenta na base da unificação da língua. Na criação do acordo fizeram-se vários vocabulários ortográficos de apoio e dicionários, tendo em conta que a premissa seria unificar a língua. Desde que foi aplicado, foram ignorados pareceres, processos jurídicos e as próprias regras da CPLP. Em que é que a ortografia se unificou e de que forma a ortografia/língua/cultura se tem denegrido desde a aplicação deste acordo e desde a reforma de 1911?
Não consigo responder-lhe completamente a essa pergunta, sem estarmos um dia inteiro à volta dela, porque existe um interessante, até indispensável, contexto histórico a ter em conta. Há uns tempos, na inauguração da secção portuguesa da livraria Filigranes, em Bruxelas, quando entrevistei Jacinto Lucas Pires (um excelente escritor, uma pessoa espectacular, com óptimo gosto clubístico, mas com péssimo gosto ortográfico), lembrei-lhe o que aconteceria ao título de um livro dele, se optasse por O Aspecto da Recepção.
Só para que os leitores desta entrevista percebam a mentira da “unificação”, esse improvável título, em condições normais, ou seja, antes do acordo ortográfico de 1990, seria O Aspecto da Recepção em todo o lado: em Portugal, no Brasil, em Angola, em Moçambique, etc., etc. Todavia, com o acordo ortográfico de 1990, só no Brasil (repito: só no Brasil) se manteria O Aspecto da Recepção: em Portugal, em Angola, em Moçambique, etc., etc., passa a O Aspeto da Receção. Sublinho: esta divergência é causada pelo acordo ortográfico de 1990. A unificação ortográfica é uma falácia.
Quais são os seus sonhos para a língua portuguesa e para Portugal?
Para Portugal, no tempo actual, sonho com a adopção de bons exemplos nacionais ou estrangeiros e que a educação esteja no cerne da acção e não só do discurso. E desejo que os responsáveis políticos não se limitem a ouvir peticionários e a pedir pareceres. Sonho com um mundo em que aqueles que solicitam pareceres percam alguns minutos a lê-los e a reflectir acerca deles – e que, quando ouvem peticionários, não marquem audições em cima das sessões plenárias, se não, não conseguem escutar com atenção aquilo que os peticionários vão dizer, limitam-se a ouvir os colegas que ficaram a assistir e aprendem pouco sobre o que se passa cá fora. Quanto à língua portuguesa, desejo-lhe o mesmo que a si e a mim: paz e sossego.
Obrigado pelo seu tempo, votos de bom trabalho.
Fonte:
Imagina que uma multidão te persegue enquanto tentas desesperadamente não te afogares…
O que se vê na imagem é o “bous a la mar”, um acto aberrante e dos mais bárbaros e retrógrados praticados em Espanha e também nos Açores, ao qual temos de pôr fim, em nome da dignidade animal – humana e não-humana.
E assim se divertem as criaturas mais broncas e atrasadas que existem à face da Terra.
O Planeta Terra está doente. São muitos os predadores que estão a aniquilá-lo.
É urgente salvar o nosso Planeta.
Se cada um fizer a sua parte, ainda poderá haver esperança…
Os balões que soltas não vão para o ar...
Leonardo Boff
«Tudo tem limites, também a tolerância, pois nem tudo vale neste mundo. Os profetas de ontem e de hoje sacrificaram suas vidas porque ergueram sua voz e tiveram a coragem de dizer: "não te é permitido fazer o que fazes". Há situações em que a tolerância significa cumplicidade com o crime, omissão culposa, insensibilidade ética ou comodismo.
Não devemos ter tolerância com aqueles que têm poder de erradicar a vida humana do Planeta e de destruir grande parte da biosfera. Há que submetê-los a controles severos.
Não devemos ser tolerantes com aqueles que assassinam inocentes, abusam sexualmente de crianças, traficam órgãos humanos. Cabe aplicar-lhes duramente as leis.
Não devemos ser tolerantes com aqueles que escravizam menores para produzir mais barato e lucrar no mercado mundial. Aplicar contra eles a legislação mundial.
Não devemos ser tolerantes com terroristas que em nome da sua religião ou projecto político cometem crimes e matanças. Prendê-los e levá-los às barras dos tribunais.
Não devemos ser tolerantes com aqueles que falsificam remédios que levam pessoas à morte ou instauram políticas de corrupção que delapidam os bens públicos. Contra estes devemos ser especialmente duros pois ferem o bem comum.
Não devemos ser tolerantes com as máfias das armas, das drogas e da prostituição que incluem sequestros, torturas e eliminação física de pessoas. Há punições claras.
Não devemos ser tolerantes com práticas que, em nome da cultura, cortam as mãos dos ladrões e submetem mulheres a mutilações genitais. Contra isso valem os direitos humanos.
Nestes níveis não há que ser tolerantes, mas decididamente firmes, rigorosos e severos. Isso é virtude da justiça e não vício da intolerância. Se não formos assim, não teremos princípios e seremos cúmplices do mal.
A tolerância sem limites liquida com a tolerância assim como a liberdade sem limites conduz à tirania do mais forte. Tanto a liberdade, quanto a tolerância precisam, portanto, da protecção da lei. Senão assistiremos à ditadura de uma única visão do mundo que nega todas as outras. O resultado é raiva e vontade de vingança, fermento do terrorismo.
Onde estão então os limites da tolerância? No sofrimento, nos direitos humanos e nos direitos da natureza. Lá onde pessoas são desumanizadas, aí termina a tolerância. Ninguém tem o direito de impor sofrimento injusto ao outro.
Os direitos ganharam a sua expressão na Carta dos Direitos Humanos da ONU, assinada por todos os países. Todas as tradições devem confrontar-se com aqueles preceitos. Se práticas implicarem violação daqueles enunciados não podem justificar-se. A Carta da Terra zela pelos direitos da natureza. Quem os violar perde legitimidade.
Por fim, é possível ser tolerantes com os intolerantes? A história comprovou que combater a intolerância com outra intolerância leva à espiral da intolerância. A atitude pragmática busca estabelecer limites. Se a intolerância implicar crime e prejuízo manifesto a outros, vale o rigor da lei e a intolerância deve ser enquadrada. Fora deste constrangimento legal, vale a liberdade. Deve confrontar-se o intolerante com a realidade que todos partilham como espaço vital. Deve-se levá-lo ao diálogo incansável e fazê-lo perceber as contradições da sua posição. O melhor caminho é a democracia sem fim que se propõe incluir a todos e a respeitar um pacto social comum.»
Leonardo Boff
Leonardo Boff, teólogo da libertação e ex-padre brasileiro foi condenado pela Igreja Católica pelas suas posições. Em 1985, foi condenado a um ano de "silêncio obsequioso".
Se o actual governo português continuar a teimar em perseverar no erro que foi aceitar cegamente e impor ditatorialmente aos portugueses o acordo ortográfico de 1990, estes nomes ficarão para a História como os maiores traidores da Pátria Portuguesa:
Pedro Santana Lopes (Primeiro-ministro)
Aníbal Cavaco Silva (Presidente da República)
José Sócrates (Primeiro-ministro)
Marcelo Rebelo de Sousa (Presidente da República)
António Costa (Primeiro-ministro)
Na minha qualidade de cronista, encarregar-me-ei de deixar crónicas, a este respeito, para a posteridade, porque estas personagens insólitas não poderão passar pela História impunemente.
Isabel A. Ferreira