Sexta-feira, 6 de Abril de 2018

«Acordo Ortográfico: colonização da Língua?»

 

Entrevista com Maria João Cantinho (***)

 

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Por: João Morgado

 

(As frases a negrito, são notas marginais, da autora deste Blogue)

 

«Maria João Cantinho, poetisa, ensaísta, veio ao 29º Colóquio da Lusofonia, em Belmonte, para falar de Lusofonia. Espaço para uma conversa em que reconhece, ser ainda um tema algo controverso. “Há quem não goste do termo, achando que ele traz em si inscrito o traço do colonialismo”.

 

(Sou uma das que não gosta do termo, que tresanda a colonialismo.)

 

Tantos e tantos anos depois ainda perdura esse nojo da língua do antigo poder? Maria João acha que sim. “Nos congressos, quando se fala das questões da lusofonia, é muito habitual surgir a expressão… a língua portuguesa é a língua dos estrupadores da minha avó, o que é muito violento.”

 

(Eventualmente, muito eventualmente, só poderão falar nestes termos os indígenas brasileiros e os descendentes dos antigos escravos africanos; os outros, os que tiveram avós brancas não sabem do que falam, e o que falam é fruto de uma lavagem ao cérebro, levada a cabo por marxistas).

 

Se assim falam os brasileiros, assim devem falar muitos luso-falantes de África, avisa a poetisa. E, se assim é em meios académicos, temos de nos perguntar se é uma linha de uns tantos activistas sociais ou um pensamento que permanece impregnado nas populações desses países. Em todos os casos, importa perceber porque permanecem abertas essas feridas históricas, de uma língua que atravessou séculos, povos, gentes.

 

Maria João entende que na vastidão da história “os tempos da colonização ainda representam uma ferida recente”. Talvez tenha razão, talvez seja ainda uma memória demasiado próxima, vivida por uma geração mais velha e uma herança dolorosa que passou para uma geração que é hoje activa e interventiva. Mas ainda estamos presos na história?, pergunto. A língua portuguesa não evoluiu, não abriu novos horizontes, não deu palavra a novas realidades? Talvez esse caminho esteja a ser feito. Maria João Cantinha sublinha que, se perguntarmos aos brasileiros pela língua que falam, “eles respondem que falam a língua portuguesa – não brasileiro –, por isso reconhecem a sua identidade cultural dentro da língua portuguesa”.

 

(Não me parece que assim seja. Se os Brasileiros respondem que falam Português, então por que “exigem” que traduzamos os nossos livros para “brasileiro”?)

 

É esse o desafio que ainda temos pela frente, fazer de uma língua colonizadora a nossa língua colectiva do presente e do futuro. “Não são várias línguas a falar português, mas sim uma só língua com ramificações, variantes, matizes, diferentes acentos e novas palavras, mas que vivem em torno de uma unidade. A uniformidade do Acordo ortográfico? Maria João discorda.

 

(Também eu discordo. Jamais haverá uma uniformização linguística entre Portugal e as suas ex-colónias. Hoje elas são países livres, autónomos, com uma linguagem própria e não têm de andar “coladas” à língua colonizadora. Não têm. E muito menos, Portugal tem de adoptar a grafia de uma ex-colónia).

 

O acordo é uma imposição artificial e imposta. Não é tido como necessário. Surge como uma imposição exterior. E a quem é imposto, não a reconhece como seu.”

 

Entende que na expressão brasileira o acordo não mexeu muito com a forma de falar e escrever, mas no caso do português de Portugal, sim, veio mesmo a “desfigurar a língua e a nossa relação com as palavras. Estamos a perder a nossa raiz latina…” Consequências? “Qualquer dia não saberemos descortinar a origem etimológica das palavras”.

 

(É verdade que na expressão brasileira o acordo não mexeu com a forma de escrever e muito menos com a forma de falar. Em Portugal mudou tudo. A forma de escrever e a de falar, porque quando se escreve “arquiteto” por exemplo, o correcto é pronunciar “ârquitêtu”. Se se pronuncia “ârquitétu” está errado. É como a pronúncia de “ganhar”, que em bom Português se diz “gânhár”, e o que se ouve por aí, a torto e a direito, é “gánhár”. Está errado. Em Portugal, fala-se e escreve-se muito mal).

 

Mas a verdade é que estamos no olho do furacão, metade do país segue o acordo e a outra metade está em desacordo. Como saímos desta encruzilhada? “Por enquanto ainda escrevemos como nos apetece, mas tudo vai mudando. Por exemplo, escrevo para o Jornal de Letras e eles corrigem!” Ou seja, mesmo que não esteja oficializado em todos os países de fala oficial portuguesa, aos poucos o acordo ganha terreno, vai-se impondo.

 

(Só se vai impondo porque os Portugueses não se impõem, não batem o pé, nomeadamente os Professores, que não exigem que seja devolvida a Portugal a grafia portuguesa; porque os que escrevem em Língua Portuguesa não deveriam escrever para jornais acordistas; porque na hora de votar deveriam penalizar os partidos que defendem a colonização da Língua Portuguesa).

 

Ao fim desta conversa resta a pergunta: é o novo Acordo Ortográfico o novo poder colonizador sobre a língua?

 

(A resposta é sim. Este acordo ortográfico só é o novo poder colonizador da Língua Portuguesa. Os motivos, esses, são os mais obscuros).

 

***

 

(***) Maria João de Oliveira Sequeira Cantinho (Lisboa, 1963), é uma autora portuguesa, licenciada em filosofia, premiada no campo do ensaio e da poesia. Colabora regularmente em várias revistas académicas e literárias, publicou várias obras de ficção, ensaio e de poesia. É investigadora do CFUL (faculdade de Letras) e do Collège d’Études Juives da Universidade da Sorbonne. É editora da revista digital Caliban. É membro da direcção do PEN Clube Português, da APE (Associação Portuguesa de Escritores desde 2014) e da APCL (Associação Portuguesa de Críticos Literários).

 

Fonte:

https://www.imperativoonline.pt/2018/04/05/acordo-ortografico-colonizacao-da-lingua-entrevista-com-maria-joao-cantinho/

 

***

Tudo conduz à colonização da Língua.

 

O AO90 não era necessário. Ninguém o pediu. Ele está a ser imposto ditatorialmente. As palavras mutiladas vêm do "brasileiro". No Brasil já não se estuda "Português", disciplina que foi substituída por "Comunicação e Expressão". Já não se ensinam os Clássicos da Literatura Portuguesa.

 

Na sua esmagadora maioria o povo brasileiro escreve mal, e necessita de que se traduzam os livros escritos em Língua Portuguesa para o "brasileiro". Isto é um facto.

 

Neste momento, em Portugal, apenas os subservientes adoptaram uma grafia assente na grafia brasileira, e, por mera ignorância, mutilam as palavras, a torto e a direito… E instalou-se uma outra ortografia: o vergonhoso mixordês.

 

Enfim, uma autêntica salgalhada! Tanto cá, como lá…

 

E nesta salgalhada não estão incluídas as restantes ex-colónias: Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Timor. Cabo Verde passou a Língua Portuguesa para segunda língua. Agora é língua estrangeira.

 

E isto é muito significativo da inutilidade deste acordo, que está a destruir a Língua Portuguesa, apenas em Portugal.

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 18:25

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