«Não há machado que corte, a raiz ao pensamento, não há morte para o vento… não há morte…» (Carlos de Oliveira)
Ontem, dia 11 de Janeiro de 2015, todo o mundo civilizado (e não só os que se juntaram na Praça da República em Paris), disse um rotundo não ao terrorismo e demonstrou que é possível a união dos povos ao redor da liberdade de culto, de ideias, de expressão, de culturas e da civilização que ainda não chegou a quem em nome de um deus assassina seres humanos.
Foto: Peter Dejon/AP
Um uníssono grito em Paris contra os que querem impor ao mundo a desordem da mente
O mundo não mais será o mesmo depois desta demonstração de força contra os fracos de espírito.
Ontem, o terrorismo foi reduzido à sua insignificância.
Podem calar umas tantas vozes, mas milhares de outras se farão ouvir e gritarão que um deus, porque é um ser superior, não se ofende com meros desenhos satíricos, alguns de muito mau gosto (deve dizer-se), uma vez que não passam de riscos e dizem apenas da personalidade de quem os cria.
E nenhum terráqueo, por muito que se julgue representante do divino, tem o direito de fazer a justiça que cabe unicamente aos deuses colocados em causa por esses desenhos.
Ontem, juntaram-se líderes políticos de todo o mundo.
Ontem, gente de todas as crenças religiosas e políticas uniram-se para mostrar que a liberdade é possível.
Notou-se a estranha ausência de Barack Obama (ou de um seu representante mais directo) e também a ausência de líderes religiosos muçulmanos (estiveram lá líderes políticos muçulmanos, o que não é a mesma coisa), para dizerem, com a sua presença, o que com as palavras não dizem.
Repudiar actos terroristas de extremistas, perpetrados em nome de uma religião, seja qual for, qualquer cidadão comum, com um mínimo de lucidez o faz.
O que é preciso é que sejam os próprios líderes religiosos a orientarem esses extremistas, perdidos no tempo, no sentido do caminho de uma prática religiosa pacífica e livre do estigma da vingança.
No entanto, desde o ano 632, os muçulmanos não se entendem numa questão primordial: quem é o elemento congregador do Islamismo, ou seja, o correspondente ao Papa cristão, que aglutina as questões da fé?
Existem muitos títulos para designar os líderes religiosos e políticos muçulmanos: Aiatolá, Califa, Emir, Imã, Marajá, Rajá, Mulá, Ulemá, Paxá, Sultão, Vizir, Xá, Xeque, contudo, as entidades islâmicas de topo ainda não chegaram a um consenso (e existem várias facções que os dividem) daí que não seja fácil uma liderança que possa manter a unidade da fé islâmica e desmistificar a questão do “mártir”, que conduz a actos condenáveis à luz da razão ou de qualquer desígnio divino.
No entanto, e apesar destas ausências notadas, milhões de pessoas, por todo o mundo, deixaram uma mensagem bem clara aos terroristas: nenhuma arma de fogo jamais calará as vozes da consciência dos povos livres e civilizados.
E a este grito, junto um outro grito, o meu grito, pela menina-bomba que foi utilizada por terroristas na Nigéria, no passado dia 9 de Janeiro, e matou vinte pessoas (incluindo a inocente menina), e poucos, no mundo, se importaram…
O atentado ao Charlie Hebdo, perpetrado por abomináveis terroristas, no dia 7 de Janeiro de 2015, em Paris, não foi um atentado apenas contra os jornalistas que trabalhavam naquele jornal satírico.
Foi um atentado contra toda a Humanidade civilizada e livre.
O mundo não mais será o mesmo depois desta tentativa de calar as vozes de uma consciência colectiva.
Não podemos permitir que obscurantistas e ignorantes desprovidos de qualquer sentido humano calem as nossas vozes, aterrorizando-nos com armas de fogo.
As vozes de dez jornalistas calaram-se para sempre, mas milhares de outras vozes gritarão pelo mundo inteiro JE SUIS CHARLIE, e a liberdade de expressão não perecerá.
Quem não tem capacidade intelectual de se rir das suas próprias fraquezas, utiliza a força bruta que os agrilhoa às pesadas algemas da ignorância, para fazer valer ideias retrógradas e irracionais.
E aqueles que ainda não perderam a sua lucidez não podem permitir que a irracionalidade se sobreponha à razão.
JE SUIS CHARLIE será o nosso grito de uma guerra pacífica.
TODOS SOMOS CHARLIE neste momento.
Que estes jornalistas não tenham morrido em vão.
Eles morreram para manter a liberdade de expressão viva.
Saibamos honrar o extremo sacrifício destes heróis da palavra, por um mundo livre do estigma da tirania religiosa, da escravatura política e do encarceramento do pensamento.
JE SUIS CHARLIE.
Hoje e sempre.
Não há falta de médicos e enfermeiros em Portugal, o que há é falta de verbas para lhes pagar e evitar que emigrem para o estrangeiro.
E para onde vai uma boa fatia do dinheiro dos impostos pagos pelos portugueses?
Exactamente: para a tortura de touros.
E depois acontece o que aconteceu: cidadãos morrem nas urgências dos hospitais por falta de assistência médica.
Fotografia © DR
Entretanto, milhares de jovens médicos e enfermeiros licenciados e bem qualificados são obrigados a emigrar, porque os governantes portugueses decidem que apenas duas dezenas de famílias incultas e inúteis para a sociedade “merecem” apoio financeiro para o negócio da tortura e da morte de bovinos.
Também por falta de verbas, vários serviços em hospitais públicos foram encerrados.
Foram encerrados vários Centros de Saúde no interior do País, onde se encontra a maior percentagem de população envelhecida e mais necessitada de cuidados médicos.
Milhares de portugueses estão a ser “empurrados” para fora de Portugal em busca de melhores condições de vida.
Milhares de portugueses sofrem e muitos morrem à fome por não poderem alimentar-se e tratar-se como é de seu direito.
Muitos estudantes ficam sem bolsas de estudo, tendo de abandonar as escolas.
As Artes e as Letras são deitadas ao caixote do lixo como se fossem o rebotalho da sociedade.
Enquanto toda esta tragédia acontece, nas herdades de cerca de 24 famílias portuguesas vive-se à tripa-forra, circula-se em carros topo de gama, esbanja-se os dinheiros que deveriam ser canalizados para o essencial da vida dos portugueses, dos outros portugueses, daqueles portugueses que querem apenas o que é de seu direito: trabalho, assistência médica adequada, educação, habitação, enfim, uma vida condiga, que não colide com a existência pacífica dos outros seres vivos.
Origem da imagem: http://iniciativa-de-cidadaos.blogspot.pt/
Dezasseis milhões de euros esbanjados na tauromaquia, não será um atentado contra os direitos mais básicos dos portugueses?
Apetece-me gritar como Voltaire:
«Povo, desperta, quebra as tuas cadeias!»
Rejeita o governo que te traz cativo da ignomínia.
... perdem igualmente a noção da Vida, da Humanidade e do sentido do Ser. O único objectivo deles é praticar a crueldade e deleitarem-se com o sofrimento dos outros, seja quem forem esses “outros”.
Transformam-se em criaturas luciferinas, que são capazes de torturar e matar um ser vivo com o mesmo prazer com que saboreiam o melhor vinho do mundo.
Sem alma e sem coração, estas criaturas não passam de mortos-vivos que deambulam pelo mundo sem qualquer préstimo.
E o mais insólito é que ainda existem governantes que os apoiam, protegem, promovem e incentivam à prática desta crueldade, e este pormenor constitui um grande mistério para os que ainda mantém a lucidez…
Se um toureiro fosse integrado num exército nazista, comportar-se-ia com os seres humanos do mesmo modo desumano e cruel com que lida um Touro numa arena. A motivação que o move contra o animal não-humano é exactamente igual à que moveu os nazistas contra inocentes, indefesos e inofensivos judeus (entre outros).
No passado fim-de-semana revi pela enésima vez (e é sempre como se fosse a primeira) o mais extraordinário filme jamais produzido sobre o holocausto nazi, «A Lista de Schindler», que completa 20 anos desde que foi lançado ao mundo.
Steven Spielberg, talvez porque nas suas veias corra sangue judeu e ouça os gritos de desespero do seu povo, conseguiu transpor para a tela não só imagens que mostram o horror de uma época, governada por um psicopata apoiado por uma multidão de alienados, mas fundamentalmente (e nisto reside a grandiosidade do filme) a essência, o âmago de uma crueldade inata e patológica, centrada na personagem genialmente interpretada pelo então estreante actor Ralph Fiennes, como Amon Leopold Goeth, o capitão austríaco das SS e comandante do campo de concentração de Płaszów, o qual representa, na perfeição, o tenebroso espírito nazista.
Cena da banalização da morte de um ser inocente, indefeso e inofensivo, à mercê de carrascos todo-poderosos. É fácil ser “valente”, com uma arma na mão, diante de um ser desprotegido. Amon Goeth gostava de matar e matava aleatoriamente pelo mais insignificante motivo, mas também por nada.
«A Lista de Schindler» mostra-nos, com grande mestria, o apetite desenfreado pelo acto de espancar, torturar e matar seres vivos apenas porque sim.
Além de soldados nazistas assassinos e ladrões, o filme revela-nos a psicopatia colectiva de um exército chefiado por um louco que, com uma invulgar genialidade, conseguiu contaminar, com essa loucura, milhares de criaturas sem personalidade própria, como se fosse uma peste contagiosa e perigosamente incontrolável.
O filme apresenta-nos nua e cruamente (e não é por acaso que foi realizado a preto e branco) a selvajaria nazista; o gosto por sangue; o gozo de matar só por matar; a cobardia de assassinar crianças pelas costas; a brutalidade no seu estado mais puro; a bestialidade a que podem chegar os homens quando se despem da própria humanidade; a falta de empatia pelos outros; olhar os outros nos olhos e nada mais ver do que uma coisa inútil que deve ser abatida sem piedade alguma, apenas porque sim.
A Vida, para essas criaturas insensíveis, perde todo o sentido. Só a inutilidade da vida delas conta.
Quando Oskar Schindler diz a Amon Goeth que o poder de um comandante se avalia pela capacidade de perdoar a quem pede misericórdia, aquele oficial nazista tentou algumas acções piedosas.
Tentou. Porém, como no seu corpo não corria a seiva humana, a gratidão era um termo vão, e não tardou a regressar à selvajaria desarvorada dos impiedosos.
Amon Goeth personificou a maldade no seu mais alto grau de monumentalidade. Era um tipo que acordava com apetite de matar, e do alto da varanda do seu quarto girava a arma, e quando decidia parar, imprimia o gatilho e, aleatoriamente, matava quem estivesse na sua mira, e até inocentes crianças matava pelas costas.
E a patologia era de tal modo desmedida que baleava ferozmente quem já estava morto.
A acção deste filme centra-se na avaliação de forças entre o bem e o mal, em que está em jogo a vida de 1.100 judeus, que Oskar Schindler, um alemão membro do Partido Nazi, resgatou da morte, utilizando toda a considerável fortuna que angariou durante a guerra.
Amon Goeth, a quem foi diagnosticada uma doença mental depois de capturado, viu a sua inútil vida acabar, pendurado numa forca.
***
Quem teve ânimo para ler este texto até ao fim, estará a perguntar: o que terá «A Lista de Schindler» a ver com a selvajaria tauromáquica?
E eu responderei: o tenebroso espírito de homens, que perderam a sua roupagem humana, sentindo um prazer mórbido em torturar e matar seres vivos, que este filme nos mostra com enorme mestria.
O toureiro, que vemos na imagem reproduzida acima, representa para os Touros exactamente o que Amon Goeth representou para os Judeus, naquele campo de concentração.
E se pudessem trocar de posição, Amon Goeth daria um perfeito toureiro, e o toureiro, um perfeito nazista.
É que ambos têm algo em comum: uma psicopatia incentivada pelos respectivos governantes.
Isabel A. Ferreira
A saber: Colômbia, México, Venezuela, Perú, Equador, Costa Rica, Portugal, Espanha e França
A vergonha e a escória da Humanidade
BASTA DE TANTA ESTUPIDEZ!
BASTA DE APOIAR ESTES MONSTROS!
BASTA!
Isto é imoral, é inversão de valores, é privilegiar a violência e a crueldade, é marginalizar crianças inocentes, é capar o futuro.
(Origem da foto: http://www.publico.pt/sociedade/noticia/colegios-de-ensino-especial-reabrem-sem-dinheiro-1681250
É inadmissível que num Estado que se diz de Direito se pratique uma política tão distorcida, tão prejudicial à camada mais frágil da sociedade, ou seja, às crianças dependentes dos adultos para progredirem moralmente e intelectualmente, tanto as que necessitam de um ensino especializado, para poderem viver com dignidade e serem integradas na comunidade, como é de seu direito, como as que são forçadas a entrar numa arena para aprenderem a ser algozes e assassinas de seres vivos para mera diversão de alienados.
Que governantes e dirigentes são estes que, deste modo vil, violam a Constituição da República Portuguesa e os mais elementares Direitos das Crianças e permitem que a umas falte o ensino de que necessitam, e a outras lhes incutam sementes de violência e crueldade para que no futuro próximo (já livre da praga da tauromaquia), sejam marginalizadas por continuarem ligadas a um passado sangrento e vergonhoso, que não fará parte desse futuro?
O que pretenderão os actuais governantes e dirigentes portugueses com esta postura obscura que não pugna pela evolução da sociedade, muito pelo contrário, enterra-a num passado que o 25 de Abril não conseguiu destruir, porque não foram cortadas pela raiz as ervas daninhas que, durante anos a fio, impediram o crescimento das árvores do conhecimento e da liberdade, que são a base da evolução de um povo?
Essas ervas daninhas continuam por aí, infiltradas em partidos políticos com assento na Assembleia da República, lugar onde não se pratica uma Política de Estado, mas uma potiliquice de partidos vendidos a lobbies.
E eis-nos chegados a 2015 ainda com cenas do calibre desta que vemos na imagem: uma criança que frequenta o Clube Taurino de Alter do Chão, integrado no Agrupamento de Escolas daquele concelho alentejano, o qual é uma estrutura de “ensino” estatal (não é insólito?), onde cerca de 50 menores, alguns deles com 4/5 anos aprendem as disciplinas da violência, da crueldade, da tortura, da insensibilidade, da desumanidade praticadas contra um bovino bebé, indefeso, inocente e inofensivo, quase tanto como os seus pequenos algozes, a quem não é perguntado se querem ou não querem aquela vida de malfeitores.
Criança de Alter do Chão aprende como maltratar um bovino bebé
(Origem da foto: http://diariotaurino.blogspot.pt/2011/07/alter-do-chao-parrita-ja-e-professor.html
Numa época em que por todo o mundo milhares de pessoas contestam esta forma cruel e primitiva de divertir uma minoria ridícula e inculta, e muitas cidades estão a rejeitar este costume bárbaro que envergonha a modernidade, os governantes e dirigentes portugueses teimam em continuar a fomentar e a apoiar antros de tortura de bovinos bebés e a formar monstrinhos para os lançar num futuro sem futuro.
E para que se tenha uma ideia de quão ridícula e perniciosa é esta politiquice de apoio a antros de toureio, deixo aqui alguns dos que eles chamam “objectivos” para “moldar a personalidade” de crianças que nada sabem da vida e nunca virão a saber se as condenarem a esta violência e obscuridade, praticados (por exemplo) na Escola de Toureio de Alter do Chão (com dinheiros públicos):
- Fazem colóquios e visitas a ganadarias e coudelarias (onde lhes falam de ética e de como devemos respeitar os touros e os cavalos, que também são animais, tanto quanto (agora por lei) devemos respeitar os animais cães e gatos?)
- Formar bons aficionados, fomentar o espírito de grupo e o contacto directo com a realidade tauromáquica (onde lhes falam de ser bom aficionado da empatia para com todos os seres vivos? Do espírito de grupo para construírem um futuro onde a violência e a crueldade não têm lugar? Contacto directo com a tortura, o sangue, a dor, o sofrimento dos bovinos nas arenas para divertir sádicos, algo que devem rejeitar veementemente se querem ser gente?)
- (Esta é a mais caricata) Melhorar a formação intelectual e social dos jovens, fomentar o espírito de partilha e prestigiar a escola e a comunidade de Alter do Chão (formação intelectual com a leitura de bons livros de Ciências Sociais, História, Literatura, Filosofia, Política? Melhorar a formação social levando as crianças a teatros, ou a visitar museus, exposições de arte? Partilhar conhecimentos e saberes sobre os mais básicos direitos dos Homens, das Crianças e dos Animais? Prestigiar a Escola de Alter do Chão, colocando-a ao nível do Colégio Luso-Francês do Porto, por exemplo?)
- Reunião semanal para analisar as notícias taurinas que marcaram os últimos dias e, nesses encontros, são projectadas novas iniciativas a desenvolver em prol da tauromaquia (falar-lhes-ão dos fracassos da tourada, da falta de público, da abolição dessa tragédia bovina em muitas cidades, e dos estropiamentos e das mortes dos toureiros nas arenas? Projectam iniciativas para incutir nas crianças a empatia pelos seres vivos que sofrem como elas, quando são feridas nas suas próprias carnes?)
- Um dos momentos altos da vida do clube taurino é a recepção a toureiros na escola (dirão às crianças que os toureiros ou os forcados não passam de cobardes que atacam e torturam animais indefesos para exibirem uma virilidade que não têm? Levarão á escola escritores ou poetas para lhes falarem de palavras benévolas e da poesia das flores?)
Francamente!
Que futuro pretenderão os governantes e dirigentes portugueses para as crianças portuguesas mais desprotegidas: as portadoras de deficiências e as que são obrigadas a frequentar antros de violência, crueldade e tortura?
Seria pedir muito que respondessem a esta pergunta tão simples?
Com a esperança de que os governantes e dirigentes portugueses sintam o apelo do Bem, do Bom e do Belo
Depois de um interregno que me levou a lugares imaginários, longe do rebuliço mundano, onde não encontro alimento para o espírito, sempre desassossegado, sempre ávido do Bem, do Belo e do Bom, regresso a este meu lugar de passagem para a inquietude do verde, para dar continuidade à minha luta contra as ignomínias que me esmagam a existência.
Certo dia, um sábio ancião, que sabia da vida e das coisas da vida, lançando-me um olhar que entrevia para além de mim, disse-me que eu era um ser do futuro e nunca encontraria a paz e a felicidade tão desejadas, uma vez que nascera precocemente num tempo que não era o meu.
Esta sentença, proferida na penumbra do átrio de um hotel, onde havia marcado um encontro com aquele desconhecido, que desejava conhecer-me pessoalmente, pois apenas me intuía através das crónicas e contos que então escrevia para um jornal (estava eu ainda no início de uma carreira sobre a qual não sabia se tinha futuro) desconcertou-me, perturbou-me, amedrontou-me, porque na realidade, aquele ancião que eu nem sabia que existia e que, em princípio, nada devia saber de mim, conhecia-me melhor do que eu jamais poderia imaginar, através apenas daquilo que eu escrevia.
Este episódio mudou, por completo, a minha vida.
Até então eu desconhecia o poder das palavras.
É certo que, desde muito jovem, habituara-me a escrever contos em Inglês, para o jornal de parede da Escola Inglesa que frequentava, e o meu professor considerava amazing aquelas minhas digressões pelo imaginário. Contudo, nunca projectei fazer da escrita uma profissão. Escrevia aqueles contos apenas para exercitar a Língua de Shakespeare.
Bem… tudo isto para dizer que aquele encontro com o ancião que sabia da vida e das coisas da vida, levou-me a compreender o poder das palavras, colocando-as ao serviço de causas justas, uma vez que aqueles que se consideram superiores aos outros seres vivos que connosco partilham o mesmo Planeta e que a ele chegaram muito antes dos hominídeos que vieram dar origem ao presunçoso Homo Sapiens Sapiens, demonstram uma descomunal incapacidade, como mais nenhum outro ser demonstra, para gerir o normal fluir da existência dentro de parâmetros racionais e lógicos, obrigando os que vêem para além do visível a uma permanente luta para fazer valer os direitos mais óbvios e naturais de tudo e de todos os que se movem debaixo do Sol.
E naquele fim-de tarde, na penumbra do átrio de um hotel, depois de ouvir o ancião falar da força das palavras e de um futuro ao qual pertenço, decidi fazer delas a minha arma e colocá-las ao serviço dos menos privilegiados, dos que não têm voz para se defenderem, dos que são esmagados pela ignorância dos que deveriam ser sábios, dos indefesos que caem nas mãos de cobardes, pertençam à espécie humana ou a qualquer outra espécie.
No dia 31 de Dezembro de 2014 ficou concluída (com enorme sucesso) a primeira etapa da luta contra os algozes que mantém Touros e Cavalos fora do Reino Animal, para que duas dezenas de famílias portuguesas usufruam de privilégios que ninguém mais usufrui em Portugal.
Bem-vindos ao ano de 2105, ano em que terá início a segunda etapa do plano que conduzirá à Abolição da Tauromaquia.
A fonte de inspiração será Voltaire, um Homem que com uma só frase podia aniquilar um político, um Homem que transformou a sua época na Era da Razão.