Quarta-feira, 23 de Junho de 2010

«CONTRA O BRASIL» - DIOGO MAINARDI

 

 

Por sugestão de uma amigo “facebookiano” acabo de ler «Contra Brasil», um livro de Diogo Mainardi.

 

Eu, que já li quase todos os livros que têm sido publicados ultimamente em que a História de Portugal se mistura com a do Brasil, umas vezes tentando-se confundir os destinos, outras vezes, culpabilizando os Portugueses de os Brasileiros serem como são actualmente, graças a uma colonização desastrosa, enfim... análises nem sempre sérias, nem sempre bem fundamentadas, nem sempre bem intencionadas, li este «Contra Brasil» com curiosidade, devido ao seu autor ser muito polémico quanto às suas “apreciações” em relação ao seu próprio país.

 

Na verdade «Contra Brasil» impressionou-me pela baixa auto-estima do autor. Porém, não fiquei com a certeza de que a demolição que faz à sociedade brasileira seja fruto de um qualquer preconceito antigo, ou se na realidade o autor pensa que o Brasil actual é mesmo esse gigante defeituoso, fruto da incapacidade das gerações legitimamente brasileiras (e já não ex-colonos) de erguer um país genuíno, à margem da acção colonizadora.

 

A este propósito, encontrei um artigo escrito por um colunista independente, de nome Júlio Daio Borges (D. J. Borges), que passo a transcrever, onde se fala do livro, e se faz uma apreciação de brasileiro para brasileiro.

 

 

(D. J. Borges)

 

Como achei interessante, aqui vai:

 

 

«Diogo Mainardi em «Contra o Brasil» e os Brasileiros

 

"O brasileiro é um Narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: — não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a auto-estima."
(Nélson Falcão Rodrigues, jornalista, dramaturgo e escritor)

 

Diogo Mainardi, nosso infatigável demolidor de lendas e mitos pátrios, volta à carga com sua realização mais ambiciosa: "Contra o Brasil" — livro em que pretende por abaixo toda e qualquer veleidade brasilianista, reduzindo a pó a nossa própria imagem.

 

Em seu empreendimento aniquilador, de dimensões titânicas, o autor não poupa nada nem ninguém — atacando toda e qualquer referência minimamente positiva à Terra Brasilis.

 

Mainardi nos conta, desta vez, a história de desventuras de Pimenta Bueno, um anti-nacionalista crônico que, refugiado nas selvas do Mato Grosso, resolve seguir a rota etnológica do triste tropicalista Claude Lévi-Strauss.

 

A partir daí faz-se o contraponto que permeia toda a obra: um paralelo entre a narrativa aventurosa de Pimenta Bueno e a sequência de acasos trôpegos que caracterizam as páginas da nossa imodesta cronologia de glórias.

 

Ou seja: para cada iniciativa fracassada de Pimenta Bueno, há um episódio correspondente e igualmente lamentável da nossa História; para cada dissabor da personagem, há um desgosto equivalente — vivido aqui por algum estrangeiro renomado; para cada conclusão negativa a que chega Bueno, existe uma citação depreciativa, de um luminar da cultura universal, acerca do Brasil, dos brasileiros e da brasilidade.

 

Mainardi faz, assim, a condenação e a execução sumárias de uma nação que, no seu entender, nunca foi, nunca será e nem nunca jamais deveria ter sido. Pois, como afirma, "o Brasil é fruto de um erro de cálculo." E não poupa esforços para levar adiante sua proposta anticívica; sucumbindo, inclusive, a achaques doentios de anti-ufanismo, tais como: "Peri representa tudo o que eu mais detesto: o orgulho tribal; a apologia da raça; o culto da família; o apego pela própria terra; o amor incondicional; o fanatismo dos bons sentimentos; a afirmação da identidade nacional."

 

Reconhece, outrossim, na defesa de sua causa, a cegueira e a incoerência inevitáveis: "Se é para renegar a minha pátria, permito-me as mais disparatadas contradições."

 

Ainda que quixotesco no varejo, o projeto de Diogo Mainardi mostra-se válido no atacado. Ainda que sofra de sanha brasilofóbica, gastando latim com comezinhos detalhes, Mainardi cunha novas e velhas verdades sobre a nossa nacional identidade.

 

Reino da Impunidade

  

"Significa então que assassinei barbaramente um bando de miseráveis e ainda saí lucrando? O Brasil é o reino da impunidade!" (Pimenta Bueno)

Quem duvida que, no Brasil, a Justiça tarda e falha? Quem, dentre os brasileiros, contesta a necessidade de uma imperiosa reforma no Judiciário?

E o que foi feito de Collorgate, Magrigate, Zéliagate, PCFariasgate, TAMgate, Osascogate, Nayagate, Malufgate, Lulagate e BispoMacedogate? Alguém soube de algum encarceramento, ou de alguma pena cumprida por conta desses incidentes manifestamente condenáveis?

 

Inata Covardia

 

Talvez pior do que a iniquidade nos tribunais seja a parcimônia com que o brasileiro médio, pequeno ou grande encara esses casos — em que evidências tão gritantes levaram criminosos-malfeitores-facínoras à absolvição quase total.

 

Condenamos aqueles que nos governam a, no máximo, um linchamento moral na mídia; seguido de momentâneo obscurantismo; sem, no entanto, alterar-lhes a pujança e a safadagem.

 

"Alguém já ouviu falar do levante dos escravos haitianos? Em 1828, o naturalista francês Victor Jacquemont, justamente indignado com o tratamento que os brasileiros reservavam aos negros, prognosticou que uma revolta semelhante ocorreria entre nós. ‘Lá isto é nação! De que serve a liberdade de agir e pensar para os que não pensam nem agem?” Porém Victor Jacquemont estava enganado. Ao contrário do Haiti, no Brasil os levantes sempre fracassam, em virtude da nossa inata covardia e incompetência." (Pimenta Bueno)

 

Depravados Morais

  

"Fico contente que isso tenha acontecido na terra dos brasileiros pois não lhes quero bem — uma terra de depravados morais." (Charles Darwin)

 

E o que dizer da invasão de bundas, de genitálias e de danças as mais chulas e lascívias?

Claro está que nem só de sexo vive o Homem. Todavia, junto com a banalização dos instintos básicos, vem o desrespeito pela pessoa física, pela personalidade e por aquilo que nos distingue dos outros seres: a humanidade.

 

Hoje o brasileiro tem sua alma escancarada, suas feridas pessoais expostas e remexidas em praça pública, em cadeia nacional, em horário nobre — sob os olhares impassíveis de adultos, jovens, velhos e crianças de colo.

 

Assim, o que se tem de mais elevado, nobre e belo perde-se na sede pelo entretenimento bizarro, gratuito e imediato. Os poucos altruístas de intenções louváveis e edificantes vêem-se derrotados pela escolha inclemente da audiência ignorante.

 

"O Brasil é um país em que as melhores idéias prostram-se diante dos mais primários instintos." (Pimenta Bueno)

 

Gente Miseranda e Bruta

 

"Caramuru é o maior poema épico brasileiro, de Santa Rita Durão. Conta a história de um dos nossos primeiros povoadores, o português Diogo Álvares Correia, que naufragou na Bahia em 1510, sendo capturado pelos índios canibais, essa ‘gente miseranda e bruta’." (Pimenta Bueno)

 

Somente a Educação, que implicará num mergulho fundo nas nossas mazelas sociais mais cavas, trará nossa redenção frente a Humanidade. Afinal, como falou o rodriguiano Nélson: — "O homem só se salva quando reconhece a própria hediondez."

 

Por essas e outras que Diogo Mainardi, pela via oposta à de um Policarpo Quaresma, cumpre esplendidamente bem a parte que lhe cabe.

 

E nós?»

 

J. D. Borges

(Júlio Daio Borges, colunista independente em várias publicações brasileiras)

 

(Foto do J.D. Borges de Arnaldo Pereira)

publicado por Isabel A. Ferreira às 11:44

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Sexta-feira, 18 de Junho de 2010

Até sempre, José...

 

 

...

 
«A mulher do médico levantou-se e foi à janela. Olhou para baixo, para a rua coberta de lixo, para as pessoas que gritavam e cantavam. Depois levantou a cabeça para o céu e viu-o todo branco, Chegou a minha vez, pensou. O medo súbito fê-la baixar os olhos. A cidade ainda ali estava».

A cidade ainda ali está...
A vida continua...
José Saramago também...
Neste excerto do livro «Ensaio sobre a Cegueira», e em toda a obra que deixou, Saramago continuará connosco.

Até sempre, José...

 
 
 
publicado por Isabel A. Ferreira às 16:45

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Quarta-feira, 9 de Junho de 2010

Exposição da "arte" tauromáquica

 

 

«Estava aqui uma vida que sofreu atrozmente, sob os aplausos de uma multidão em festa»...

 

*** 

 

Eis o resultado final do que em Portugal chamam de "tradição", "arte", "cultura", "festa", "alegria" e "património":

 

 

O Touro é um mamífero superior, e possui um sistema nervoso central tal como o Homem. 

O que aqui se apresentou não passa de tortura e massacre de um ser vivo que sente a dor 5tal como todos nós a sentimos.  

 

 

 

Será isto arte?...

 

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Será isto cultura?...

 

 

Será isto festa?... 

 

 

Sera isto alegria?... 

 

 

 Será isto património de alguma coisa?...

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 18:34

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Terça-feira, 1 de Junho de 2010

Em defesa do Touro - Não desistirei...

 

Touro Ferido (Internet)

Isto é Arte? É Cultura? É Património? É Festa? Tenham vergonha!

  

(Para Vasco Graça Moura)

 

Na última revista “Caras”, nº 772, de 29 de Maio de 2010, foi publicado um artigo sob o título «AFICIONADOS DA FESTA BRAVA REUNIDOS – Admiradores das Touradas defendem tradição no Campo Pequeno».

 

E lá vem algumas fotografias dos aficionados, dos empresários da tortura, enfim... unidos para apoiar a PRÓTOIRO – Federação Portuguesa das Associações Taurinas, que tem como objectivo principal defender e preservar o PATRIMÓNIO da tauromaquia.

 

Ora nem mais, vamos propô-lo à UNESCO, como PATRIMÓNIO DA DESUMANIDADE, uma vez que a UNESCO, na sua DECLARAÇÃO, em 1980, a este propósito, diz o seguinte: «A tauromaquia é a terrível e venal arte de tourear e matar animais em público, segundo determinadas regras. Traumatiza as crianças e adultos sensíveis. A tourada agrava o estado dos neuróticos atraídos por estes espectáculos. Desnaturaliza a relação entre o homem e o animal, afronta a moral a educação, a ciência e a cultura».

 

Não inventei nada.

 

Depois o cavaleiro João Ribeiro Telles, falou da importância que a PRÓTOIRO tem para DIGNIFICAR e divulgar a tauromaquia. Como se a tortura de um ser vivo possa ter alguma dignificação!

 

E diz mais o cavaleiro Telles: «É uma obrigação nossa, intervenientes da FESTA, ENGRANDECER esta ARTE e dinamizá-la. Não damos muita importância às vozes contra a tourada, NÃO TÊM um peso grande, e isso ultrapassa-nos. O que queremos é preservar a TRADIÇÃO».

 

Primeiro: a FESTA. Se formos ao dicionário ver o que significa festa, encontramos, por exemplo, “alegria”.

 

Sim, a tourada é uma festa de alegria: chega o magnífico Touro à arena, depois um cavaleiro a picar o cavalo, a tal ponto que lhe fere a abdómen, e o sangue começa a escorrer. Depois vem o espetar das bandarilhas, a abrir buracos no dorso do Touro e a fazer escorrer mais sangue. E entre olés e gritaria histérica o Touro vai lutando, como pode, pela sua vida, arfa, espuma, e vem mais outra farpa, e outro buraco nas carnes já feridas, rasgadas, e mais sangue jorra. É na verdade a FESTA dos sádicos.

 

Quanto à ARTE querem dizer: arte da TORTURA. Lá isso é!

 

O que pretendem é preservar a TRADIÇÃO dessa TORTURA.

 

Que tradição? Uma tradição que nem sequer é portuguesa.

 

Depois vem um depoimento de um dos membros da Associação Portuguesa de Empresários Tauromáquicos, os tais dos negócios, a puxar a brasa para a sardinha deles. Claro!

 

E a seguir vem um parágrafo que me deixou estupefacta, e que diz o seguinte:

«Apesar de não ser um dos intervenientes directos no espectáculo tauromáquico, Vasco Graça Moura é uma das muitas figuras públicas que apoiam esta causa».

 

E Vasco Graça Moura profere então esta pérola discursiva: «Há muito tempo que acho que a festa brava deve ser defendida. Cada pessoa é livre de ter a sua opinião, mas para mim o argumento do sofrimento animal não me parece suficiente, porque assim não comeríamos leitão da Bairrada nem frango de aviário... E há outros interesses em jogo, como a importância antropológica, cultural e económica da festa brava. Acho que é um espectáculo bonito, com a coreografia do perigo entre a inteligência e agilidade do homem com a força bruta do animal».

 

Banzei-me! Para Vasco Graça Moura o argumento do sofrimento do animal é irrelevante, porque assim não comíamos leitão nem frangos.

Eu não acredito que alguém que é (será?) da CULTURA CULTA pudesse dizer tamanha idiotice. Como se o leitão e as galinhas, que ele come, fossem torturados, massacrados, picados com farpas durante duas ou mais horas, até à sangria total, e passados uns dois ou três dias, são mortos.

 

Disse bem, senhor Graça Moura, há outros interesses em jogo, mas não a importância antropológica (então e o lobo, e o lince, e outras espécies que estão em extinção em Portugal, incomodam-se com isso?); nem cultural, pois quem tem um pingo de inteligência sabe que TORTURA NÃO É CULTURA, em lugar nenhum do mundo civilizado. Fale-me da questão económica, essa sim, com peso, à custa da tortura do Touro. Uma desonra para um país com gente dentro!

 

O espectáculo é “lindíssimo”, realmente, com todo aquele sangue a escorrer, com o desespero do animal a sair-lhe pelos olhos, a dor muda que ele sente ao ter as suas carnes rasgadas... Espete uma coisa daquelas nos seus costados, senhor Graça Moura e sinta: a dor é IGUAL, pois o Touro é um mamífero superior... igualzinho a si, por dentro, fisicamente, mas muito superior na dignidade dele, como um animal não humano.

 

É um espectáculo deveras “lindíssimo”... para os sádicos, para os carniceiros!

 

Bem... não vale a pena falar nisto, pois só assim se exprime quem não tem a mínima noção básica de Zoologia, de Biologia, de Anatomia... enfim... Não sabe nada dos seres vivos, nem de si próprio.

 

O senhor Graça Moura gosta da coreografia do perigo, que, aliás, é muito parecida com a coreografia do bailado “Lago dos Cisnes”; gosta também da “inteligência” e “agilidade” do homem contra a força bruta do animal.

 

Que inteligência? Que agilidade? Com farpas na mão? Com espadas na mão? Contra um animal já torturado no curral, sem qualquer força bruta para se defender na arena?

 

Isso chama-se COBARDIA, da parte do homem, obviamente.

 

No meio deste Circo Romano, o BRAVO é o Touro.

 

O artigo acaba dizendo que os aficionados puderam deixar a sua marca numa tela feita para a ocasião por Júlio Pomar. Júlio Pomar!!!

 

A marca do sadismo.

 

Cada um é livre de ser sádico.

 

Já não é livre de usar o seu sadismo para torturar animais. É por isso, que há gente que GRITA por eles, uma vez que não têm voz para se defenderem dos sádicos.

 

E finalmente, eu sou livre para retirar das minhas estantes os livros de Vasco Graça Moura, que até este momento tinha como um homem inteligente e de Cultura Culta, e agora sei que não é nada disso.

 

Que desilusão!

Isabel A. Ferreira

publicado por Isabel A. Ferreira às 19:14

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