Domingo, 28 de Fevereiro de 2010
Há uns dias comentava aqui mesmo que as tragédias acontecem, ou por acção da Natureza, ou por acção do homem, ou por ambas as coisas.
E porquê?
Falta de ordenamento do território.
Falta de infra-estruturas apropriadas.
E sobretudo bom-senso dos governantes.
Esse era e sempre foi o meu ponto de vista. As coisas são sempre piores do que poderiam ser quando o homem interfere demais ou interfere de menos.
De um modo ou de outro, há sempre o “Factor Homem”, a agudizar as tragédias.
O que se segue foi enviado por um professor da Universidade de Aveiro, o qual diz o seguinte:
Caríssimos,
Quando a ciência antecipa e prevê os acontecimentos.
Vejam estas ligações em vídeos (um já com 2 anos) onde se explica o que inevitavelmente iria acontecer.
O Prof. Domingos Rodrigues, da Universidade da Madeira, foi recentemente orador convidado na nossa Universidade para falar sobre escorregamentos.
Cumprimentos,
Origem da Fotografia:
iFOTOGALERIA
Madeira: trabalhos intensificam-se para sair do caos
Por Tiago Guerreiro da Silva, Publicado em 20 de Fevereiro de 2010
Terça-feira, 23 de Fevereiro de 2010
(Fonte da foto: Internet)
Copyright © Isabel A. Ferreira 2010
«Dorme meu menino/a estrela-d’alva/ já a procurei e não a vi/se ela não vier de madrugada, outra que eu souber será pra ti».
Assim cantou o Trovador, naquela noite já tão longínqua, nos Jardins da Associação Académica de Coimbra, e eu, sentada na relva entre milhares de outros estudantes, ouvia-o, pela primeira vez, ao vivo.
Só aos poetas é dado o dom de colher estrelas, e o poder de oferecê-las aos meninos. Sem dúvida, eu encontrava-me diante de um daqueles mitos criados pelo infortúnio. Aquela voz inconfundível comportava uma mensagem de esperança e liberdade aos desafortunados e oprimidos, aos prisioneiros de um sistema que tolhia a criatividade e reduzia a cinzas o fulgor próprio da juventude.
Nesse tempo, a Academia Coimbrã vivia um dos períodos mais conturbados da sua história. Os futuros doutores pretendiam cortar as amarras que os prendiam ao sistema obsoleto que havia lançado o nosso país no obscurantismo, enquanto que o resto da Europa florescia, progredia, e nós ficávamos cada vez mais “orgulhosamente sós”.
Como se isso não bastasse, a nossa juventude consumia-se numa guerra colonial inglória e irracional como o são todas as guerras. E estava nas mãos dos estudantes, talvez por constituírem a camada mais esclarecida da sociedade, com o sangue “fervendo nas veias”, mudar pacificamente, através das palavras e das cantigas, o destino da velha Academia.
As vozes, porém, foram caladas pela repressão. Eram as palavras de protesto (única arma dos estudantes) contra os ferozes “pastores alemães”, as metralhadoras, as cacetadas da Polícia de Choque, as perseguições, os julgamentos sumários, a prisão (na altura estava preso o nosso actual Ministro da Justiça, Alberto Martins) a tortura, o exílio, e tudo isto apenas por se pensar de um modo diferente.
Coimbra fervilhava. A população extra-académica mostrava-se apreensiva. A esmagadora maioria dos estudantes, tudo tentava fazer para vingar, por meios pacíficos e civilizados, a sua “revolução idealista”.
Fizeram-se então três marchas, nas quais participaram cerca de oito mil estudantes. A primeira foi silenciosa. Houve concentração na Associação Académica e, silenciosamente, como se acompanhassem o funeral de um estudante, dirigiram-se até à “baixa”. E aquela “massa” triste, que invadiu as ruas da cidade, queria apenas que ouvissem o seu lamento.
A segunda marcha foi a das flores. Os mesmos milhares de estudantes desceram até junto ao Mondego, levando na mão uma flor, e na boca um sorriso, demonstrando que tudo o que pretendiam era apenas a beleza da vida.
A terceira marcha foi a dos balões. Milhares de balões coloridos, cada um deles transmitindo uma mensagem de amor e de paz. Novamente junto ao Mondego, os balões foram largados e levados pelo vento até outras paragens.
Para que todo aquele movimento de paz e de liberdade tivesse uma consciência colectiva, foi necessário que um Trovador, um Poeta cantasse e transformasse em versos os gritos de todos, abafados pela repressão.
Foi então que a Academia Coimbrã se apoiou no seu mais representativo lutador: o grande trovador e poeta José Afonso – tão perseguido devido às verdades que cantava, as quais obviamente não agradavam às elites poderosas.
«Vejam bem/que não há só gaivotas em terra/quando um homem se põe a pensar.../Quem lá vem/ dorme à noite ao relento na areia/ dorme à noite ao relento no mar.../»
Hoje passei a tarde com a memória de Zeca Afonso, e, depois de uma vez mais, ter ouvido as suas baladas, as suas canções de protesto, as suas melodias populares, os seus fados de Coimbra, as suas mensagens de homem que viveu, veio-me à lembrança um certo palavreado que li algures num jornal, escrito, naturalmente, por alguém que não sabe distinguir o homem que faz política (e tem esse direito) do poeta trovador que enriqueceu comva as suas belas trovas, o património musical português.
Chamaram a Zeca Afonso “um cantor medíocre”, porém, medíocres são todos aqueles que não conseguem ver para além da ponta do seu próprio nariz. O trovador viu longe, muito longe, ultrapassando horizontes invisíveis ao comum dos homens.
...
«Meu pensamento, partiu com o vento, podem prendê-lo, matá-lo não...»
A noite avançava, enquanto a Lua espreitava e os estudantes continuavam rendidos à inconfundível voz do trovador, como se ela fosse a própria libertação, naqueles jardins da Associação Académica de Coimbra, espécie de Santuário que nem mesmo a Polícia podia invadir.
Anos mais tarde aconteceu o 25 de Abril e Zeca Afonso foi apanhado nas malhas da política partidária – e esse foi o seu grande erro, se bem que legítimo – pois nunca mais pôde cantar a liberdade com a liberdade do seu próprio íntimo, e o Trovador passou a ser o símbolo de um Partido Político, não mais da Liberdade, afastando-se, desse modo, da ideologia revolucionária sem amarras, que caracterizou a luta dos estudantes, no tempo em que “pensar alto” era um crime de Estado.
(Pelo que vemos, ainda hoje é...)
O homem partiu. Ficou o Trovador, o Poeta.
E é esse que recordo aqui, hoje.
Algures no Universo, Zeca Afonso dormirá como o menino da sua balada, e eu, que o conheci (e também cantava) cantarei esta noite, essa mesma balada, que, encantada, a ouvi cantar ao som da viola de Rui Pato, nos Jardins da Associação Académica de Coimbra, naquela já longínqua noite.
«Dorme meu menino/a estrela-d’alva/já a procurei e não a vi...»
Ainda que não encontre aquela estrela que querias oferecer ao menino da tua balada, rebuscarei todo o Universo e... outra que eu souber será pra ti... pois estejas tu onde estiveres, meu poeta amigo, é chegada a tua vez de receber a estrela que perpetuará as tuas trovas e cantigas até ao fim dos tempos...
(Origem da Foto: Internet)
23 de Fevereiro de 1988. A voz de Zeca Afonso calou-se... Choraram as fontes, choraram as ribeiras, choraram todos aqueles que amavam a sua Música.
Independentemente de não concordar com a sua ideologia política, admirava-o como músico de intervenção, numa época em que era proibido cantar...
E a sua Música é imortal.
A voz calou-se, porém, estará sempre connosco nas suas belíssimas canções, e nas nossas recordações...
Não esquecerei jamais, aquele sarau nos jardins da Associação Académica de Coimbra, numa noite de Lua Cheia... Tão mágica! Tão sublime!
Obrigada, e até sempre, Zeca Afonso!
Isabel A. Ferreira
Segunda-feira, 22 de Fevereiro de 2010
(Fonte: Internet)
Não podemos ficar indiferentes às tragédias que nos cercam.
Elas acontecem, ou por acção da Natureza, ou por acção do homem, ou por ambas as coisas.
No caso da Ilha da Madeira, a Natureza revoltou-se (lá terá as suas razões), e os homens não estavam preparados para fazer face a esta revolta.
E porquê?
Falta de ordenamento do território.
Falta de infra-estruturas apropriadas.
E sobretudo bom-senso.
Os governos desgovernadamente permitem a construção em qualquer terreno, mesmo que esses terrenos sejam à beira-rio, à beira-mar. O que é das águas sempre volta às águas. Sempre assim foi, e o homem não aprende.
Sinto muito pelos madeirenses que perderam a vida. Por aqueles que ficaram feridos. Por aqueles outros que perderam as suas casas, e espero, que os senhores governantes madeirenses retirem desta catástrofe uma lição, e possam reconstruir a Ilha, olhando as águas com outros olhos: com olhos humildes, porque as forças da Natureza são muito mais poderosas do que qualquer poderoso governante.
Sábado, 20 de Fevereiro de 2010
Recordando George Harrison, numa das músicas dos Beatles que mais me marcaram e recordações deixaram
Uma patilha com quem gosta desta Banda
http://www.youtube.com/watch?v=T7qpfGVUd8c
Terça-feira, 16 de Fevereiro de 2010
Convocam-se todos os poetas, de todas as línguas, com uma pátria do tamanho do mundo, a enviar um, dois ou três poemas, para a instalação poética “Entre o Livro e a Liberdade”, que vai acontecer nos dias 23, 24 e 25 de Abril, 2010, no jardim da Avenida Júlio Graça, em Vila do Conde.
O Colectivo Silêncio da Gaveta, depois de a 21 de Março de 2009, dia Mundial da Poesia, ter colocado mais de 2000 poemas, em mais de duzentas árvores do jardim, traduzindo em seiva e fruto as palavras dos poetas, de cerca de duas dezenas de países, pretende este ano, com a colaboração da Nuvem Voadora, no mesmo jardim, fazer nascer entre as flores, as palavras dos poetas.
Nesta nova instalação poética os poemas erguem-se do chão, como girassóis à procura do leitor.
O colectivo agradece que o poema traga consigo o nome do autor e não ultrapasse uma folha A4, para que as palavras não se separem do mesmo cacho. Podem ser inéditos ou já editados. A convocatória pretende apenas os vossos poemas, os dos outros nós já temos.
Os poemas devem ser enviados para:
fontesnovas@hotmail.com
vasques.manuel@gmail.com
silenciodagaveta@gmail.com
A instalação poética “Dez Passos Depois das Árvores”, pode ser vista no blog:
Segunda-feira, 15 de Fevereiro de 2010
Copyright © Isabel A. Ferreira 2010
(Ficam aqui salvaguardadas as devidas e honrosas excepções)
Recuemos no tempo...
Começo por recordar um episódio ocorrido na Guarda, já lá vão uns anos, quando o seu Tribunal foi apedrejado por uma população em fúria, protestando contra a pena, demasiadamente leve, atribuída a um casal de criminosos acusado de ter “maltratado” uma criança de dois anos.
Como se o facto de se violar ainda que o mais elementar direito de uma criança, já não merecesse o máximo dos castigos!
Porém o crime cometido, neste caso, foi muito maior do que uma simples violação de direitos, e a pena, menor do que se esse casal tivesse roubado as jóias à mulher do Senhor Doutor Juiz.
Chego a pensar que essas pequenas penas são aplicadas quando se trata de violentar os direitos das crianças, porque essas crianças não são os filhos dos Grandes e Poderosos Senhores Legisladores, que fazem leis apenas “para inglês ver”.
Recordo-me de outro caso escandaloso, passado em Coimbra, também já há bastante tempo, cujo Governador Civil pede prisão para um meliante que carregava doze crimes declarados às costas e o que fez o Senhor Doutor Juiz? Libertou-o.
E o que aconteceu ao Vítor “qualquer coisa”, aquele que friamente matou sete de uma só vez (a filha, a mulher e mais cinco jovens) na Praia da Baleia? Dos parcos 18 anos de prisão a que foi condenado por tamanha chacina, apenas cumpriu cerca de quatro anos, e depois... libertaram-no «por bom comportamento na prisão». Um homem, de facto, exemplar...
Posto isto, pergunto? Que lugar ocupará a nossa justiça entre todos estes crimes? Certamente nenhum lugar.
Recordei estes crimes “antigos” apenas para dizer que desde então nada mudou. As coisas continuam absolutamente na mesma ou piores. Os crimes estão mais violentos, e a justiça mais branda. Os criminosos têm muitos direitos, e nenhuns deveres. Os meios de comunicação social chegam a fazer deles uns verdadeiros “heróis”, dando-lhes tempo de antena, e quase choramos ao ver a infelicidade deles, coitadinhos, a justificar o injustificável.
Um dia, por ter chegado à conclusão de que, no nosso país, a justiça não passava (e não passa) de uma farsa, escrevi isto, nas entrelinhas de uma carta privada, que dirigi a um determinado Senhor Doutor, que por acaso era um Senhor Doutor Juiz. Fui imediatamente processada pelo crime de injúria agravada. Gravíssimo. Desta não escapava, de certeza. Mas safei-me. Como? Graças à visita do Papa João Paulo II a Portugal. Há sempre aquelas amnistias... Então fui amnistiada. De outro modo, não tinha a mínima dúvida que seria condenada. Contudo, devo dizer que não sentiria a mínima desonra se fosse condenada por dizer uma verdade. Não matei, não roubei, não raptei, não esfolei ninguém. Disse apenas uma verdade.
Mas isso é crime? Perguntarão.
No nosso país era e continua a ser crime. Basta recordar os recentes casos de jornalistas a contas com a Justiça, devido às verdades que escrevem e os Grandes Senhores não gostam.
Durante o exercício da profissão de jornalista, fui várias vezes processada (mas nunca passei de “arguida”, pois todos os processos foram arquivados por falta de argumentação que me conduzisse a condição de ré) e fui testemunha de muitos processados (também jornalistas) e assisti a muitos julgamentos que fizeram notícia. Posso acrescentar um pormenor bastante interessante e que descobri, nessas alturas: os juízes (salvo raras excepções) acreditam mais nas testemunhas que vão descaradamente mentir em Tribunal, do que naquelas que vão dizer a verdade, os factos, aquilo que na realidade se passa.
Segui certa vez um determinado processo, em que os cinco envolvidos (o réu e as suas testemunhas) todos sobejamente conhecidos devido às respectivas condutas morais, mentiram descaradamente (e as suas mentiras podiam ser comprovadas muito facilmente) e o juiz acreditou, e absolveu o réu, e quem disse a verdade tramou-se. Isso revoltou-me.
Brilhante! Tão brilhante que o caso chegou a ser alvo de chacota por parte de quem conhecia o processo e todo o seu envolvimento.
Ultimamente temos assistido a casos jurídicos que nos envergonham a todos.
O que será a Justiça no nosso país senão uma grande farsa? (Pode consultar-se o dicionário para se perceber melhor o que quero dizer com “farsa”)
O que pensar? O que dizer? O que fazer?
Claro: questionar, contestar, criticar, repetir que muita farsa se representa na aplicação da justiça. E o que é a justiça senão a virtude moral que inspira o respeito pelo direito das vítimas? E como é que esse direito é respeitado? No nosso país, é sendo-se benevolente com os criminosos.
Um dia, vi-me envolvida da noite para o dia, nas malhas da Justiça apenas porque um grupo de pessoas mal intencionadas resolveu violar leis e direitos (dos outros) e por vingança (uns) e por serem paus mandados (outros) enredaram-me nas teias da lei com base unicamente em suposições e testemunhos falsos, e para cúmulo, tive de ver o grupo envolvido nesta tramóia viver a vida impunemente, como se nada tivesse acontecido.
O que pensar? Onde está o Direito e a Justiça?
Pois é! Não está.
A este propósito, um ex-delegado do Procurador-geral da República (da altura), que foi deputado, brilhante advogado, com mais de meio século de experiência (e que me deu a honra de ser meu amigo e meu advogado no caso do Crime de Injúria Agravada), Manuel da Silva Pereira, de seu nome, e já falecido, um dia dirigiu-me o seguinte discurso: «Uma vez que te enredaram nas malhas da Justiça, tira do facto o maior proveito. Aprenderás muitas coisas. Terás muitas desilusões. Ficarás a conhecer os meandros dos tribunais. E, no final, seja qual for o veredicto, terás uma boa história para contar».
Foi o que fiz. Um dia talvez escreva essas histórias.
De facto, a minha riquíssima experiência passada num Tribunal e numa Esquadra de Polícia do meu país que “frequentei” muitas vezes, forneceu-me elementos preciosos que me permitiram uma aprendizagem extraordinária, conduzindo-me à desmistificação do nosso sistema judicial.
Uma vez que os tribunais (diziam-me) não faziam investigação, quem as fazia era eu. E com os meus métodos “artesanais” (o que não descobririam os profissionais!!!) consegui desvendar violações do segredo de justiça; descobri o motivo de determinadas testemunhas de “grande peso” não falarem o que tinham de falar diante do juiz; decifrei o enigma que consiste em saber porquê determinados réus tiveram conhecimento da sentença de um processo em que estavam envolvidos, no dia anterior à sua leitura; consegui também montar toda a engrenagem de um outro processo, onde os arguidos saíram favorecidos...
Enfim, na altura não sabia o que fazer com tantas descobertas. Só sabia que tinha muitas razões para continuar a dizer que a nossa justiça era uma farsa, e contentava-me em saber o que sabia, não podendo ninguém andar a “rir-se” da minha pretensa ignorância” porque essa “ignorância”, afinal não existia. Os implicados é que não sabiam que eu sabia.
Ora o que acabei de contar aconteceu há vários anos. E o que me custa mais é que tudo isto ainda é tão actual, que me assusta.
Actualíssimo está também o que escreveu M. A. Pina, no Jornal de Notícias, no dia 8 de Março de 1991, num artigo intitulado «J’accuse», e que na altura, num outro escrito meu, transcrevi uma pequena parte, porque a desilusão do articulista era também a minha desilusão:
«Uma das piores desilusões que tive na Faculdade de Direito foi a descoberta de que o Direito e a Justiça são parentes muito afastados. Depois fui aprendendo, quase sempre à minha custa, como a lei e os seus sacerdotes são, afinal, humanos, demasiadamente humanos, e como raramente estão acima de todas as suspeitas (frequentemente aprendi também, estão até muito abaixo...)».
Depois disto, digam-me lá: o que mudou na nossa Justiça desde então?...
Quinta-feira, 11 de Fevereiro de 2010
Segunda-feira, 8 de Fevereiro de 2010
Copyright © Isabel A. Ferreira 2010
A escritora LUÍSA DACOSTA foi distinguida pela Universidade de Évora com o Prémio Vergílio Ferreira, nesta que é a 14.ª edição deste galardão.
José Alberto Machado, presidente do júri, explicou que a deliberação foi tomada por unanimidade, por aquela ser «uma grande autora que se notabilizou na literatura infantil mas também ao nível das crónicas e das auto-biografias», salientando «ser esta uma forma de corrigir a ideia de que escreve apenas para o público infantil, chamando-se deste modo a atenção para as suas valias como cronista e diarista». (1)
O prémio será entregue, em cerimónia pública, como é habitual, na Sala dos Actos, no próximo dia 1 de Março, dia em que se assinala o aniversário da morte de Vergílio Ferreira.
***
Posto isto, não posso deixar de me congratular com esta boa notícia, até porque apesar de Luísa Dacosta ser considerada uma das maiores estilistas da Língua Portuguesa do século XX, foi sempre muito esquecida, e raramente os seus livros se encontram à venda, e raramente a sua obra é divulgada, como deveria ser.
Foi exactamente por considerar injusto que uma das minhas autoras preferidas estivesse “votada ao abandono”, quando gente literariamente medíocre merece parangonas e páginas e mais páginas de jornais, dediquei-lhe um livro que perpassa toda a sua obra, o seu pensamento e a sua vida, e o qual, devido às dificuldades que um autor menor (mas não inferior, pois não me considero inferior a muitos outros que andam por aí) encontra para divulgar os seus livros, «Luísa Dacosta: “no sonho, a liberdade...”» continua à espera de melhores dias.
PALAVRAS QUE PROFERI NO DIA DO LANÇAMENTO DO LIVRO, NO CORRENTES D’ESCRITAS/2006, NA PÓVOA DE VARZIM, NO DIA 16 DE FEVEREIRO, DIA EM QUE A ESCRITORA COMPLETOU O SEU 79.º ANIVERSÁRIO
Luísa Dacosta nasceu em Vila Real de Trás-os-Montes, e, portanto, possui, a força e a coragem que caracterizam a mulher transmontana, força e coragem que aliadas a uma genuína e saudável rebeldia, a transformaram num ser insubmisso, destinado a construir uma obra isenta de lugares-comuns, de banalidades, de insignificâncias.
Reconhecida pelos estudiosos como uma das maiores estilistas da Língua Portuguesa, do século XX, a sua obra é feita de palavras que flutuam, disfarçadas em seres únicos, etéreos, eternos e encantatórios, que dizem da recusa, da solidão, do sofrimento, da angústia.
Com Luísa, a poesia brota de todas as coisas.
Com Luísa, os enredos são mágicos.
Com Luísa os sons humanizam-se.
Com Luísa, o sofrimento é sublimado.
Algumas das suas principais obras foram escritas no seu moinho de A-Ver-o-Mar, na Póvoa de Varzim, um presente de amor e depois concha de solidão. E lá, naquele lugar, o moinho de paredes brancas foi berço de uma prosa poética invulgar. E é num universo, entre a cadência da vida e a beleza das palavras que se move Luísa Dacosta. Contudo, devido, talvez, à sua recusa em enveredar pela vulgaridade e pelo mediático, conceitos tão entranhados na sociedade actual, cúmplices de uma gritante cegueira cultural, que, infelizmente, tanto valoriza e cultua a mediocridade, uma escritora de tal importância, inclusive, estudada nas universidades do nosso País e até no estrangeiro, não tem merecido o justo reconhecimento, nem a oportuna divulgação.
Sendo eu uma amante da sua escrita, há muito acalentava a ideia de fazer uma longa entrevista a Luísa Dacosta, com o intuito de dar a conhecer a dimensão da sua literatura, tão pouco divulgada nos órgãos de comunicação social, e tão mal acarinhada pelos seus editores. Uma lacuna que entendi necessário preencher.
Nos finais do ano de 2002, propus à autora a entrevista, depois de verificar que o seu último livro, O Planeta Desconhecido e Romance da que Fui Antes de Mim, uma admirável urdidura ao redor da velhice e de um tempo que já foi mas ainda nos pertence, andava alheado das montras das livrarias e das páginas dos jornais, e, desse modo, o seu nome continuava a ser esquecido. Tão injustamente.
Conforme escrevi no Preâmbulo do livro, dar a conhecer o universo da mulher/escritora, com o intuito de despertar os leitores para a sua obra, e de os acompanhar na descoberta do seu mundo, imensamente fértil em palavras delicadamente cerzidas, que são as suas, é o objectivo principal deste livro. Trata-se de um trabalho que, de modo algum, pretende ser académico ou erudito, crítico ou de análise linguística. É apenas um olhar, o meu olhar, despretensioso, de leitora e admiradora da escrita de Luísa Dacosta; a experiência de uma jornalista que segue o percurso literário da escritora desde 1984; uma abordagem pessoal, tendo também em conta o que vivi com Luísa, ao longo de vários anos, e o conhecimento do seu modo desassossegado de ser, e do seu pensamento irreverente.
A ideia não foi a de analisar a sua obra sob o ponto de vista literário. O objectivo de Luísa Dacosta – «no sonho, a liberdade...» foi o de acolher o todo – quem escreve e o que escreve – numa visão meramente jornalística, mais próxima do leitor comum, colocando esta questão básica: quem é Luísa Dacosta? E partindo-se do pressuposto de que conhecendo-se aquela que escreve melhor se compreende aquilo que escreve, atinge-se o âmago do meu objectivo: falar da obra de um dos nomes maiores da criação literária portuguesa contemporânea, dos seus motivos, e do que ao redor dessa obra se foi construindo.
Partindo da infância, passando pela adolescência, pela juventude, pela publicação do primeiro livro até à actualidade, a minha ideia foi a de reunir numa só obra o saber da menina/mulher que escreve livros, por que os escreve, e como os escreve, aproveitando excertos das suas obras, para ir divagando sobre as coisas do seu universo e do mundo, e aprofundar um pouco mais o seu pensamento, entremeando com alguns episódios que vivenciei com a autora, procurando despertar o leitor comum para a obra desta que, à margem do mundo, é, sem dúvida, repito, uma das mais fascinantes escritoras portuguesas, pelo modo como usa a palavra.
O livro, além de incluir fotografias inéditas, percorre o pensamento de quem considera o livro um objecto mágico, e a Literatura um veículo que nos leva a tornarmo-nos maiores na nossa dimensão humana.
Ciosa da sua privacidade, a escritora só falou do que entendeu poder partilhar connosco, sem trair as suas mais íntimas vivências. Segredos só seus. Porém, o que foi dito faz jus ao espírito livre de Luísa.
Em suma: este livro é o meu modesto contributo para a divulgação de uma obra lúcida e de uma autora que cultiva uma Cultura Culta.
Por fim, uma sugestão, para quem gosta de ler ouvindo música: Luísa Dacosta – «no sonho, a liberdade…» é um livro que dever ser lido ao som do nosso inesquecível Carlos Paredes.
***
Este livro custa 15,00 Euros (mais despesas de envio) e pode ser adquirido à cobrança, através do e-mail isabelferreira@net.sapo.pt Basta informar o nome e a morada para a qual deve ser enviado o livro (1) no qual se aborda precisamente o aspecto que o júri do Prémio Vergílio Ferreira salientou, como particularidade para atribuir a Luísa este galardão.
Sexta-feira, 5 de Fevereiro de 2010
Copyright © Isabel A. Ferreira 2010
Hoje preciso de esquecer o meu cantinho. Sim, sei que ele é muito importante para mim, mas o que no meu País e noutras partes do mundo vem acontecendo obriga-me a deixar o meu pequeno paraíso.
Hoje apetece-me voar com as “asas” que tenho o privilégio de possuir, e que me conduzem aonde quer que eu queira ir.
Hoje estarei nos lugares onde ainda se luta por direitos, porque os homens nada aprenderam com as lições da História; estarei com aqueles que ainda precisam de fazer manifestações contra a possibilidade do retorno da “noite de cristal” – uma das grandes vergonhas da Humanidade – ou para reivindicar direitos que já deveriam, há muito, estar sólidos.
Hoje abominarei aqueles cuja existência é um insulto à harmonia cósmica e à vivência dos seres pacíficos.
Hoje, nenhum de nós, que nos dizemos humanos, pode ficar indiferente à xenofobia e racismo que pelo mundo grassa; ao reacender de fogueiras nazistas; às atrocidades cometidas nos países onde vigoram ditaduras; à destruição abominável de florestas, de animais, humanos, desumanos e não-humanos, em suma, da Vida; ao racismo ignóbil de gente contra gente; às injustiças que, em nome de uma ignorância disfarçada de poder, são cometidas contra inocentes.
Não podemos ignorar os crimes que ficam por punir, apenas porque interesses mais altos se levantam, abrindo caminho à corrupção.
A fome grassa em algumas partes do mundo, mas também ainda em Portugal, apenas porque noutros lugares o esbanjamento é criminoso.
Hoje, gostaria que este meu grito de revolta contra aqueles que não sabem ser HOMENS, e também contra aqueles outros que não sabem distinguir o trigo do joio humano, fosse ouvido até nas profundezas dos infernos, para que os demónios soubessem que, à face deste nosso Planeta, há, pelo menos, uma voz a dizer NÃO a esta humanidade vazia de sentimentos e valores humanos.
Há quem aplauda, quem se curve e faça vénias. Há (por incrível que pareça) quem vote a favor de neonazistas, de xenófobos, de ditadores. Há quem os siga. Há quem dê razão às suas ideias criminosas.
Ninguém é superior a ninguém, a não ser, através das suas atitudes humanas.
Friedrich Nietzsche foi um filósofo alemão que viveu de 1844 a 1900, e, como todos os homens livres, ele teve a liberdade de pensar e de filosofar, e de expor a sua moral baseada numa cultura da energia vital e na vontade de poder que eleva o homem até à categoria de “super-homem”.
Este seu pensamento, porém, serviu de base à doutrina político-social de carácter totalitário e imperialista, baseada na ideia da “raça superior”, por aquele filósofo exposta, e cujos princípios foram adoptados pelo Partido Nacional Socialista, fundado por Hitler (o alucinado), na Alemanha.
E nós bem sabemos no que tudo isso deu. Não foi assim há tantos anos, para já se ter esquecido os crimes atrozes cometidos contra a Humanidade, apenas porque um homem sem cérebro assim o quis, e os seus seguidores aplaudiram.
Há gente, contudo, com a memória curta, e visão ainda mais curta, e inteligência muito mais curta ainda, e essa gente nada sabe, de nada se lembra, tão-pouco nada pensa. Por isso aplaude os criminosos; por isso segue os novos hitlers; por isso, tal como autênticos autómatos, tal como meros desenhos animados, essas pessoas bajulam aqueles que não passam, eles próprios, de criaturas inconscientes, dos cancros malignos das sociedades humanas.
Todos os dias os vemos na Televisão.
Bettrand Russell, um matemático, filósofo e sociólogo britânico, enérgico adversário do uso das armas nucleares, no prefácio do livro «Por que Não Sou Cristão» (tema de uma conferência que ele pronunciou em 1927, em Battersea) tentando explicar a sua hostilidade à ortodoxia religiosa e a sua descrença quanto à existência de Deus, escreveu: «Além do aspecto lógico, há para mim algo mais estranho na escala de valores daqueles que crêem que uma divindade omnipotente, omnisciente e benfazeja, depois de ter preparado o mundo durante milhões de anos, a partir das nebulosas privadas de qualquer vida, se considere completamente recompensada com a aparição final de um Hitler, de um Estaline, e da Bomba H».
Creio que Deus não tem nada a ver com as atitudes dos homens. Deus deixou-nos um paraíso, deu inteligência ao homem e brindou-o com o livre-arbítrio, e o que é que os homens fizeram desse paraíso, dessa inteligência, desse livre-arbítrio?
Cada vez mais me convenço de que o mal da Humanidade está na ignorância, e na estupidez que ela gera; está na falta de sensibilidade, na falta de bom senso, na falta de cultura, dos indivíduos que ocupam cargos de responsabilidade, tendo de dirigir o destino de tantos outros homens, a maioria deles mergulhada também numa involuntária ignorância, uns, e numa ignorância optativa, outros. Estou a lembrar-me do Haiti. Que país era aquele antes do terramoto? E como é triste ser-se ignorante e não o reconhecer!
Hoje precisei de esquecer este meu cantinho, porque a minha revolta contra as barbaridades que andam a acontecer no meu País e no mundo, na época em que vivemos, é enorme.
Os novos hitlers andam por aí e são aplaudidos, são acolhidos como heróis, são reverenciados.
Como posso ficar indiferente a uma humanidade que está a regressar às trevas, em pleno início do século XXI, quando tudo indicava que todos os homens (e não só alguns) poderiam ser, de facto, seres superiores, em relação a um verme, que nada mais pode fazer do que rastejar, e sendo verme, o que faz, faz muito bem…
Hoje, a minha desilusão é imensa!...
Isabel A. Ferreira
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