Copyright © Isabel A. Ferreira 2009
Como nem só de Literatura e de Livros pode viver o Homem, gostaria de propor uma reflexão sobre o PORTUGAL DE HOJE.
Para tal começarei por sugerir a leitura destas palavras de Fernando Pessoa, que lamento não serem minhas, pois dizem exactamente do estado do meu espírito, quanto à Honra que sinto por ser Portuguesa (e à vergonha que também sinto por aqueles homens de pouco ou nenhum carácter que estão a destruir a Honra de Portugal).
NAVEGAR É PRECISO
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
"Navegar é preciso; viver não é preciso".
Quero para mim o espírito desta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo
e a (minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.
(Obs: Esta “raça” de que nos fala Pessoa refere-se naturalmente à “honra” de ser Português, honra que se perdeu com as novas teorias libertinas. E hoje, nem “honra”, nem “palavra”, nem “vergonha”: tudo se perdeu com o culto da desportugalidade.
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Passados 35 anos sobre o 25 de Abril, é urgente reflectirmos no caos que, ao longo destes anos, se foi entranhando no nosso país que, apesar de territorialmente pequeno, já foi grande. E depois de ter sido muito grande, tornou-se moralmente muito pequeno. E hoje é uma casquinha de noz, à deriva, no meio de um mundo decrépito e turbulento, sem rumo, sem ideias, sem futuro.
Não! Quando digo que o nosso país já foi grande não me refiro ao Império grande que já teve, mas ao vastíssimo contributo que deu ao conhecimento de outras humanidades, à ciência, à cultura, às artes, enfim, ao saber em geral, exceptuando naturalmente os actos menos humanistas dessa missão: a escravatura; a imposição da sua fé e da sua cultura, a povos de outras fés e de outras culturas, através da violência; e também a vulgarização da corrupção, que até hoje está entranhada nos governantes, como uma pele.
Fez-se o 25 de Abril para derrubar um regime que não servia o povo. Foi o que se disse. Portugal era, na altura, um país mal falado, mal amado, por todo o mundo. Não merecia o respeito dos países ditos democráticos (e aqui friso bem a palavra ditos, porque as “democracias” deixam muito a desejar). Vivia-se uma ditadura espartana. E havia ainda a funesta Guerra Colonial.
A intenção do General Salgueiro Maia, o legítimo herói do 25 de Abril, que teve a honradez e a sensibilidade, de tratar com dignidade os governantes cessantes (isto é o que eu chamo de Democracia e um dos grandes valores da verdadeira Liberdade) foi a melhor. Evidentemente a melhor.
Contudo, outros homens vieram, sem honradez, sem sensibilidade, sem visão alargada e transformaram a LIBERDADE (para a qual Salgueiro Maia abriu caminho), em CAOS. Um caos vertiginoso e vergonhoso.
E que país temos hoje?
Um país pequeno territorialmente e moralmente. Cheio de gente desiludida coma a dita democracia, saudosa da tirania do passado – porque havia emprego, havia segurança.
Havia também o Tarrafal, a tortura, a censura. Ignorância e analfabetismo.
Não havia liberdade.
Havia valores.
Os governantes de então não tinham por hábito fruir de contas recheadas nos bancos, off-shore, ou coleccionar casas, vivendas, quintas e outros bens afins, à custa do erário público.
O que temos hoje?
Temos muita liberdade. Demasiada liberdade. Tanta liberdade que se confunde com libertinagem.
O que não temos?
Não temos empregos.
Não temos segurança.
Não temos o Tarrafal.
A tortura, essa, continua, disfarçada de angústia. Uma tortura moral.
A censura continua. Dominante. Os proscritos do Jornalismo, do pós 25 de Abril, estão impedidos de escrever nos Jornais. Os seus artigos não são aceites, nem publicados. São muito inconvenientes. Tal como outrora.
Os valores humanos diluíram-se numa libertinagem sinistra, e hoje a vida humana vale menos do que um saco cheio de lixo.
Os governantes caíram no descrédito. Têm contas recheadas; coleccionam casas, vivendas, quintas…
O que mudou?
Hoje as pessoas podem insultar-se à vontade. Na rua. Na televisão.
Podem matar, bater, roubar, violar e são livres de o fazer, com todos os direitos e nenhuns deveres.
As vítimas, essas, têm todos os deveres, mas nenhuns direitos.
Não gosto do sistema em que vivemos hoje.
Não gostava do sistema em que vivíamos antes.
Por isso, CRIAR É PRECISO… URGENTEMENTE…
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E porque todas as palavras são importantes, desde que transmitam uma mensagem criativa, com todo o gosto transcreverei o comunicado que me chegou do Instituto da Democracia Portuguesa, com o qual estou plenamente de acordo.
COMUNICADO DO IDP
Em 26 de Abril é canonizado em Roma aquele a quem os portugueses já chamavam Santo Condestável. O seu túmulo, no Convento do Carmo, rezava assim: "Aqui jaz o famoso Nuno, o Condestável, fundador da Casa de Bragança, excelente general, beato monge, que durante a sua vida na terra tão ardentemente desejou o Reino dos Céus depois da morte, e mereceu a eterna companhia dos Santos. As suas honras terrenas foram incontáveis, mas voltou-lhes as costas. Foi um grande Príncipe, mas fez-se humilde monge. Fundou, construiu e dedicou esta igreja onde descansa o seu corpo."
Em 25 de Abril, comemorou-se o dia da Liberdade. Há 35 anos, um homem comandou uma coluna de blindados vinda de Santarém, montou cerco aos ministérios no Terreiro do Paço, e forçou a rendição do regime no Quartel do Carmo. Esse homem, Fernando Salgueiro Maia, cumprida a sua missão, recusou ao longo dos anos ser conselheiro, embaixador, governador civil e demais honras.
Nuno Álvares Pereira e Fernando Salgueiro Maia colocaram o serviço à Pátria à frente dos interesses de grupos e colocaram os grandes princípios da humanidade, religiosos e laicos, à frente do seu interesse pessoal.
É de gente assim que Portugal precisa na crise económica que todos os dias vemos crescer, e que ameaça transformar-se em crise social caso não forem tomadas as medidas correctas, e em crise política se o ciclo eleitoral para onde caminhamos for inconclusivo e pautado pelo abstencionismo.
26 de Abril de 2009
A Direcção do Instituto da Democracia Portuguesa
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Como achega à canonização de D. Nuno Álvares Pereira, acrescentarei que não ficava nada mal aos “democráticos” governantes do nosso país, terem se deslocado a Roma, para assistir às cerimónias dessa canonização.
Uma coisa é NÃO SEREM Católicos Apostólicos Romanos.
Outra coisa É SEREM Governantes, com deveres de ESTADO.
(Na passagem do 10.º aniversário sobre o meu escorraçamento, do jornal onde trabalhava há vinte anos, por companheiros da profissão, motivados pelo poder político, em vésperas das comemorações do 25.º aniversário do 25 de Abril, em Portugal).
Origem da imagem: Internet
Ontem assim como Hoje
22 de Abril de 1999 – 22 de Abril de 2009
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Há dias, deparei-me com uma situação deveras preocupante, quando um comum leitor de jornais me disparou a seguinte frase bombástica: «Uma vez mais ficou provado que as notícias que lemos nos jornais não nos merecem a menor confiança. E jornalistas… é fugir deles!»
Estas palavras, proferidas assim, cruamente, indignaram-me, mesmo porque há Jornalistas e jornalistas. Quis saber concretamente o que levou aquele leitor a chegar a uma conclusão tão radical, acerca de uma classe que, afinal, me diz respeito.
Desta vez (muitas outras vezes houve) o motivo de tanta indignação foi uma notícia que veio a público, num determinado jornal, assinada por um jornalista profissional, com longos anos de carreira, na qual afirmava um certo acontecimento, que me absterei de referir, por razões éticas.
O leitor, movido pela curiosidade, deslocou-se ao local descrito na notícia, para se inteirar pessoalmente do facto, verificando que, afinal, o que o jornalista divulgara não passava de uma tremenda mentira, apenas com o objectivo de atingir politicamente determinados senhores, rivais na política.
Dias mais tarde, no mesmo jornal, a primeira notícia foi desmentida, e o leitor acrescentou: «E se eu não tivesse ido ver com os meus próprios olhos, e verificasse, eu próprio, que a primeira notícia era falsa, não saberia em qual das duas acreditar!»
Ah! Então era isso! Naquele momento compreendi a sua indignação. Tinha razão, o leitor.
Embora aceitando plenamente a sua razão, que será, com certeza, a de milhares de outros leitores, aquele final de frase: «Jornalistas…é fugir deles!» fez-me reflectir na triste realidade do jornalismo português. É que por uns tantos fanáticos, que apesar de possuírem carteira profissional de jornalistas, não passam de meros fanáticos da política, com acesso a jornais (o que é bem diferente) paga toda uma classe.
Há bem pouco tempo estive a reler um interessante livro intitulado «Democracia e Censura Interna», da autoria do jornalista Sérgio Mourão (que será feito dele?) no qual põe em causa precisamente as “amplas liberdades” de expressão de pensamento e liberdade de imprensa garantidas pela Constituição da República Portuguesa, revelando publicamente «o mal que a censura pode causar à democracia, quando a Comunicação Social está amordaçada ao controlo do poder político, assumido por personalidades e por Conselhos de Redacção constituídos por profissionais com mentalidade de funcionários de partido»… acrescentando mais adiante: «Uma realidade política e económica, profundamente movediça e com o campo aberto à pior das censuras: aquela que é feita arbitrariamente pelos próprios companheiros de profissão».
Um livro de 1987 (ainda actualíssimo) que denuncia os cancros do jornalismo, que fazem esta profissão, hoje mais do que nunca, ser olhada de soslaio.
São precisamente esses censores – jornalistas-fanáticos-políticos de direita e de esquerda, que muito à maneira do antigamente, fazem censura, transformam, com a sua doentia submissão partidária, o jornalismo num trampolim, com objectivos nem sempre claros, deturpando, desse modo, a sua principal missão, que deve ser seguida como um autêntico sacerdócio – a de bem informar e formar o leitores, apresentando-lhes os factos tais como são, e não como gostariam que fossem.
O fanatismo, tenha a origem que tiver – político, religioso, racial, social, ou qualquer outro – leva o homem a agir como um ser irracional, fazendo-o perder a noção da verdade, da realidade, do bom senso. Retira-lhe, por completo, o poder de discernimento e dá-lhe uma visão totalmente distorcida do mundo, levando-o a usar frequentemente o argumento da calúnia, da difamação, da mentira, da invenção e inversão de factos, apenas para atingir os seus mais mesquinhos objectivos. Por isso, o fanático tantas vezes se senta no banco dos réus.
Por incrível que pareça, no actual jornalismo português, ainda há indivíduos deste género, que de tão fanáticos, guardam um ódio patológico a todos quantos não sejam da sua “cor política” (como se o verdadeiro Jornalista possa ter cor política!). Pode e deve ter, sim, opinião política. O seu partidarismo, porém, deve ficar pendurado à porta das Redacções dos jornais, se quiser ser um profissional honesto. Mas o que muitas vezes acontece é que rixas meramente pessoais se sobrepõem à verdade jornalística e o que é oferecido ao leitor não passa de uma grande farsa.
Contudo, não podemos ajuizar toda uma classe pelo (mau) exemplo de uns tantos indivíduos que, de jornalistas só têm a carteira profissional ou o simples hábito de escrever em jornais, pois não é uma carteira profissional que faz um bom jornalista, mas sim as palavras que escreve com rigor, isenção e discernimento.
É necessário, pois, que os leitores saibam distinguir o trigo do joio e, para tal, basta estar atento à realidade e ao que se escreve sobre ela, e, desse modo, descobrirão facilmente que há Jornalistas e jornalistas.
Será urgente um rigoroso saneamento nas empresas jornalísticas, para que o Jornalismo Português seja uma profissão da qual possamos sentir orgulho em exercê-la.
Isabel A. Ferreira