Segunda-feira, 24 de Novembro de 2008

In Memoriam A. Monteiro dos Santos (Dário Marujo) - Poeta vila-condense...

 

 Copyright © Isabel A. Ferreira 2008
 
 
(A. Monteiro dos Santos declamando um dos poemas do seu primeiro livro
«Se eu fosse dono da vida…» no Salão Nobre da antiga
Biblioteca Municipal de Vila do Conde)
 
 
Ao meu amigo António Monteiro dos Santos, Poeta vila-condense, falecido no passado dia 22 de Novembro (2008), dediquei esta crónica, publicada no Jornal «A Voz da Póvoa»:
 
 
As Laranjeiras Florescem no Inverno…
 
 
A tarde caía. A frágil luz de fim de dia dourava a paisagem, e eu ali estava, diante daquelas velhas pedras cobertas de musgo e hera, tentando buscar, num passado longínquo, episódios bucólicos, talvez nunca vividos, mas que se fixaram no meu subconsciente, como se eu tivesse, realmente, pertencido a outras épocas.
 
Nunca entendi este meu fascínio por muros velhos, rodeados de silvas, que o tempo guardou religiosamente como autênticas relíquias, mudos testemunhos de vidas passadas.
 
Foi então que, por entre o silêncio que sempre invade os lugares ermos, distingui, nitidamente, o chilreio dos pássaros, que se recolhiam algures, ali perto. Por momentos, julguei-me para além do meu mundo, distante do meu planeta, numa qualquer galáxia prodigiosa, povoada por seres silenciosos.
 
Continuei a olhar aquelas ruínas, junto ao rio, cujas águas entoavam um cântico, baixinho, como que embalando os arbustos que habitavam as suas margens.
 
Nesta busca, quase louca, de recordações-fantasmas, o meu olhar pousou sobre uma laranjeira solitária, salpicada de frutos redondos e amarelos, a qual nascera ali, naquele lugar, inacessível a mãos vorazes, por isso, se mantinha ainda virgem.
 
Sentei-me então num daqueles muros que outrora serviram de abrigo provavelmente a algum senhor feudal e, ao olhar aquela laranjeira, veio-me à memória recordações bem mais recentes: a minha convivência com um Poeta que não se assumia como tal, talvez por modéstia, talvez por indefinição, que me disse:
 
«Deus, ao fazer a Natureza, cometeu um grande erro: criou as laranjeiras para florescerem no Inverno, e não no Verão, quando o calor abrasa e sabia bem refrescar-nos com os saborosos bagos da laranja…».
 
Sorri.
Estas não eram palavras do passado. Ouvia-as recentemente, da boca desse Poeta, meu amigo, quando filosofávamos acerca de Deus e das coisas do mundo e da vida.
 
*
 
Assim como as velhas pedras, os muros cobertos de musgo e hera, e as ruínas rodeadas de silvas, me cativam, e nelas tento buscar um passado que sinto pertencer-me, talvez por fazerem parte das minhas raízes, das minhas origens, também os Poetas têm o dom de me conduzir em batéis dourados, fazendo-me percorrer recantos do meu subconsciente, nunca dantes percorridos, porque só os Poetas conseguem atingir o inatingível.
 
A tarde sumia-se. A imensa laranja solar deslizava por detrás do arvoredo, enquanto as outras laranjas, as verdadeiras laranjas, continuavam a enfeitar aquela arvorezinha solitária, coberta agora de uma luz que me fez lembrar a de um belo quadro de Monet.
 
Senti a aragem fresca que fazia baloiçar, de mansinho, a folhagem dos eucaliptos e pinheiros que se agigantaram ao redor das ruínas, e fazia as águas do rio cantar mais atrevidamente.
 
Não tive qualquer desejo de saborear aqueles frutos que Deus, tão generosamente, criara para saciar a sede dos caminheiros errantes, no Inverno.
 
Talvez o Poeta tivesse razão. Talvez aquelas laranjas pudessem ser mais apreciadas no Verão, quando o Sol escaldasse e o corpo queimasse por dentro.
 
Porém, se Deus criou as laranjeiras para florescerem no Inverno, algum motivo secreto imperou.
 
Naquele instante, as ruínas, junto ao rio, deixaram de ter importância. Fixei o meu olhar sobre aquela arvorezinha salpicada de amarelo, e tudo o que desejei, então, foi encontrar a razão para a existência das laranjas, no Inverno. Se eu conseguisse decifrar o mistério, talvez o Poeta, meu amigo, mudasse de ideias e se reconciliasse com Deus.
 
*
 
Começava a escurecer. Aquele recanto à beira-rio transformou-se num lugar tenebroso. Lá no alto, surgiu a primeira estrela. Mais adiante, a Lua espreitou por detrás de uma nuvem e mirou-se, vaidosa, nas águas do rio.
 
Era tarde. Precisava de retirar-me. Aquelas ruínas, sob a luz do luar assustavam-me. Aproximava-se a hora do passeio dos fantasmas, e eu continuava sem encontrar qualquer argumento que pudesse contentar o Poeta.
 
Dir-lhe-ia apenas que tentei.
 
Afinal, que diferença faz as laranjeiras florescerem no Inverno, desde que cumpram, honestamente, a missão que o Criador lhes confiou?... O que importa é a autenticidade dos seres, tudo o resto é mera ficção científica.
 
Deixei aquele lugar ermo, aquelas ruínas cobertas de musgo e hera, despedi-me do rio, da Lua e daquele forte odor a terra húmida, onde a verde erva cresce em liberdade (o que sempre me deixou a sensação de lhe pertencer – à terra).
 
Num outro dia, talvez, eu ali volte e recomece a busca das minhas raízes, que sei mergulhadas num passado tão antigo como aquelas pedras que deixei à beira-rio.
 
Antes de retirar-me, porém, murmurei baixinho, só para a noite: «Ó Poeta, meu amigo, deixa que as laranjeiras saciem a tua sede, no Inverno. No Verão tu tens a água fresca das fontes que brotam dos montes, junto aos lugares da tua infância».
 
O eco das minhas palavras fez chegar a minha mensagem ao meu amigo, que na outra margem do rio, fazia poemas à Lua, junto às ruínas de um outro passado.
 
E naquela noite, pareceu-me sentir no ar, o aroma fresco das flores de laranjeira.
 
 
*
O Poeta a que me refiro neste texto é A. Monteiro dos Santos que vai hoje a enterrar, no cemitério do Monte, em Vila do Conde. Assinava os seus livros de poemas com o nome de Dário Marujo, um nome do qual eu não gostava. E um dia ele perguntou-me porquê? E eu respondi-lhe: «Porque o seu nome cheira a docas, cheira a cais…».
 
E logo ali nasceu o poema com que abriu o seu primeiro livro de poesia intitulado Se eu Fosse o Dono da Vida… (de1997), e que aqui reproduzo, com saudade…
 
 
O Meu Nome
 
O meu nome cheira a docas,
O meu nome cheira a cais,
De partida e de chegada.
Filho de um mar de gaivotas,
Colhidas nos vendavais.
O meu nome é maresia,
O meu nome é mar salgado,
É filho da alegria,
O meu nome é sem pecado.
É filho de um mar chão,
E também de um mar bravio,
Que trago na minha mão.
O meu nome é desafio,
O meu nome cheira a docas,
O meu nome cheira a cais,
Marujos em mastros reais,
No tempo das caravelas,
Filho do Sol, da chuva, do vento,
Tenho-o escrito nas velas,
Desta nau do pensamento,
O meu nome é panamá,
Corpete, manta de seda,
Farda branca, imaculada,
É jersey e é alcaxa,
Farda de azul-escuro,
É estóico, é lutador.
Nos lábios sempre uma trova,
No coração um Amor.
Desta doçura não fujo,
 
Meu nome é DÁRIO MARUJO.
 
*
Depois de ler este belo poema, fiquei a entender e a gostar do nome Dário Marujo.
A. Monteiro dos Santos havia sido marinheiro, na sua juventude.
Até sempre, amigo Dário Marujo!
Até sempre!...
 
Isabel A. Ferreira
publicado por Isabel A. Ferreira às 14:10

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Sexta-feira, 21 de Novembro de 2008

PRINCESA ISABEL, A REDENTORA…

  D. Isabel Leopoldina de Bragança e Bourbon, regente do Império do Brasil 
(1846 — 1921)

 

Do Brasil têm-me chegado textos interessantes sobre figuras da nossa História comum, e uma delas foi a da Princesa Isabel, uma mulher de quem não se fala, e por isso mesmo, pedi permissão para aqui deixar este testemunho.
Curioso.
Grandioso.
 
***
 
 Por: denisedealmeida
 
14 de Novembro de 1921
A Redentora morre aos 75 anos
 
O telegrama enviado de Paris pelo conde D'Eu à baronesa de Loreto, no Rio, informava que a princesa Isabel morrera aos 75 anos, com fraqueza cardíaca agravada por congestão pulmonar. A herdeira do imperador dom Pedro II ficou conhecida como a "redentora", por ter assinado a Lei Áurea, que pôs fim a três séculos de escravidão no Brasil. A princesa sabia que, ao sancionar a lei corria o risco de perder o trono, já que os republicanos planejavam um golpe apoiados pelos escravocratas. Entretanto a monarca não se intimidou, e inclusive compareceu a todas as festas pela libertação dos escravos realizadas pelo povo. As comemorações duraram 15 dias. O centro do Rio foi enfeitado com flores e a população saiu às ruas para festejar.
 
Por ter acabado com a escravidão no Brasil, que vitimou 12 milhões de africanos, o papa João XIII ofereceu à princesa a comenda da Rosa de Ouro.
 
Em 1889, Isabel partiu, com a família real, para o exílio em Paris, onde montou uma embaixada informal. Entre os brasileiros que passaram por lá e receberam o apoio de Isabel estava o jovem Santos Dumont.
 
A princesa foi a primeira chefe de Estado das Américas, tendo sido uma das nove mulheres a governar uma nação durante todo o século 19.
A monarca substituiu o pai, o imperador dom Pedro II nas três vezes em que ele se ausentou por motivo de viagem. A primeira de 1871 a 1872, a segunda, de 1876 a 1877, e a última de 1877 a 1888. A princesa foi também a primeira senadora do Brasil, cargo a que tinha direito como herdeira do trono a partir dos 25 anos de idade, segundo a Constituição do Império, de 1824. Defendia a reforma agrária e o voto feminino. Antes da Lei Áurea, Isabel sancionou as leis do primeiro recenseamento do império, naturalização de estrangeiros e relações comerciais com países vizinhos.
 
A PRINCESA E A ABOLIÇÃO DOS ESCRAVOS
 
O nome de Isabel esteve ligado à abolição muito antes da assinatura da Lei Áurea. A princesa financiava a alforria de escravos com seu próprio dinheiro e apoiava a comunidade do Quilombo do Leblon, que cultivava camélias brancas, símbolo do abolicionismo. Documentos descobertos recentemente revelaram que a princesa estudou indemnizar os ex-escravos com recursos do Banco Mauá.
 
Em 28 de Setembro de 1871, foi também ela quem sancionou a Lei do Ventre Livre, que estabelecia que todos os filhos de escravos, que nascessem a partir da assinatura da lei estariam livres.
 
 
http://www.jblog.com.br/hojenahistoria.php
publicado por Isabel A. Ferreira às 21:16

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Terça-feira, 11 de Novembro de 2008

Já à venda a Contestação ao Livro «1808», de Laurentino Gomes

 

 Copyright © Isabel A. Ferreira 2008
 
 
 
 
 
 
De como Portugal tem o dever de defender a sua Honra e a sua História 
 
Prefaciado pelo Dr. Mendo Castro Henriques, Professor de Filosofia Política na Universidade Católica Portuguesa, Presidente do Instituto da Democracia Portuguesa e Biógrafo oficial e membro do conselho privado de S. A. R. D. Duarte Pio de Bragança; e de João Gomes, editor de política, da Chiado Editora (a minha editora), este livro contesta o modo como a história de D. João VI foi apresentada pelo jornalista brasileiro Laurentino Gomes, no seu livro «1808 – Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil», cuja narrativa amesquinha Portugal, a Monarquia Portuguesa e os Portugueses.
 
Esta CONTESTAÇÃO pretende repor o período da História contada no livro «1808», e que é altamente desprestigiante para Portugal e para os Portugueses, essencialmente para D. João VI, que apesar de não ter sido “talhado” para reinar, reinou o melhor que pôde, conservando a dinastia de Bragança e o império português, com dignidade, não se vergando ao grande e poderoso Napoleão Bonaparte, que subjugou praticamente todos os monarcas europeus da época. Tento integrar as circunstâncias dos acontecimentos históricos apresentados no «1808», no contexto da época; analiso, sem preconceitos, as acções e consequências dos actos assinalados; e realço as virtudes da alma grande portuguesa.
 
Para Laurentino Gomes, D. João VI era um rei covarde.
Para mim (e para muitos historiadores), um rei corajoso, que deixou uma obra notável no Brasil.
 
Ao ler-se o livro de Laurentino Gomes chega-se ao final com a ideia de que os Portugueses foram (e ainda são) Feios, Porcos, Maus e Ignorantes. Os factos que o Laurentino narrou, fora do seu contexto, soam a preconceito. Logo, defender a Honra e a História de Portugal foi um dever que se me impôs.
 
 
 
ÍNDICE
 
 
PREFÁCIO
 
NOTA INTRODUTÓRIA
 
1 – DE COMO D. JOÃO, PRÍNCIPE REGENTE DE PORTUGAL, TEVE A CORAGEM DE NÃO SE VERGAR AOS PÉS DE NAPOLEÃO BONAPARTE
 
2 – DE COMO OS FACTOS HISTÓRICOS FORAM “DESVIADOS”
 
3 – DE COMO UM PEQUENO REINO SE FEZ IMPÉRIO, E DE COMO DETERMINADAS CIRCUNSTÂNCIAS FAZEM TODA A DIFERENÇA
 
4 – DE COMO A MÁ UTILIZAÇÃO DAS PALAVRAS PODE DISTORCER A REALIDADE
 
5 – DE COMO UM IMPÉRIO DITO DECADENTE CONSEGUE SOBREVIVER E IMPOR-SE ENTRE IMPÉRIOS PODEROSOS
 
 
6 – DE COMO SE DIZ QUE TUDO ESTAVA MAL NO REINO DE PORTUGAL SEM SE TEREM EM CONTA AS CIRCUNSTÂNCIAS
 
7 – DE COMO VIAJAR EM 1808 NÃO ERA PROPRIAMENTE CRUZAR OS MARES EM PAQUETES DE LUXO
 
8 – DE COMO A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL ENGRANDECEU O IMPÉRIO BRITÂNICO À CUSTA DA EXPLORAÇÃO DO TRABALHO ESCRAVO INFANTIL E DAS MULHERES
 
9 – DE COMO PODEMOS CONFIAR NUM REPÓRTER IMPROVISADO MAIS DO QUE EM FONTES FACCIOSAS
 
10 – DE COMO SE “FABRICAM” MONSTROS COM BASE NO PRECONCEITO
 
11 – DE COMO A INGLATERRA DEVE A UMA RAINHA PORTUGUESA O REQUINTADO COSTUME DO «FIVE O’CLOCK TEA»
 
12 – DE COMO A ESCRAVATURA FOI A NÓDOA NEGRA NA SEDA BRANCA DE TODOS OS POVOS COLONIZADORES
 
13 – DE COMO NÃO PODE HAVER REQUINTE LONGE DA CIVILIZAÇÃO
 
14 – DE COMO PORTUGAL NÃO PERDEU A HONRA NEM ESTEVE NUNCA ABANDONADO
 
15 – DE COMO D. JOÃO VI NÃO SE LIVROU DE SER HUMILHADO
 
16 – DE COMO OS BRASILEIROS DEVERIAM ORGULHAR-SE DAS SUAS ORIGENS
 
ESCLARECIMENTO
 
 
***
 
 
Prefácio ao livro “Contestação”
 
 
Temos por certo que o estudo e a interpretação da nossa história, são duas tarefas fundamentais para a nossa definição enquanto povo e, mais do que isso, para a nossa afirmação actual enquanto país. Com identidade, o que é próprio de qualquer nação, mas acima de tudo com uma história riquíssima, do que nem todas se podem gabar.
 
Gabamos, no entanto, o trabalho de investigação de Laurentino Gomes que trouxe a público a importância da transferência da Corte para o Brasil, evento cujo Bicentenário comemoramos em 2008. Reconhecemos o Brasil como um país amigo e os brasileiros como um povo irmão onde João Ubaldo Ribeiro acaba de ganhar o Prémio Camões. E vemos na língua portuguesa a marca distintiva da Lusoesfera, passo evolutivo da Lusofonia, numa época em que Portugal pode ter influência para além dos países de língua portuguesa. Exemplo disso são as recentes aproximações à Comunidade de Países de Língua Portuguesa por parte de Galiza, Croácia, Venezuela, Ucrânia, Guiné Equatorial, Marrocos e Ilhas Maurícias, povos e Estados que a história aproximou de Portugal.
 
Como portugueses, temos um compromisso com a história, que nos leva a defender as aproximações à verdade e contestar os desvios da mesma. Por esse motivo, aceitámos prefaciar o livro da jornalista Isabel A. Ferreira. Assertivo e forte, patriótico e escrito com muita limpidez e, acima de tudo, um exemplo “de como Portugal tem o dever de defender a sua honra e a sua História”.
 
O livro de Laurentino Gomes é interessantíssimo do ponto de vista hermenêutico porque acumula quase todos os erros possíveis ao interpretar figuras históricas: falta de contextualização, acumulação de informação não tratada, confusão nos critérios de relevância, teoria explicativa deficiente, etc., etc. Sabemos hoje que D. João VI, ao contrário do que Laurentino Gomes nos afirma, não era um monarca cobarde, tendo sido um dos únicos príncipes europeus que não se vergou perante Napoleão Bonaparte. Poucos reis, durante a nossa história, foram tão perseguidos por motivos pessoais, como D. João VI. Quer pela loucura de sua mãe, quer pelo seu casamento infeliz e as conspirações de sua mulher e de fidalgos visando a sua abdicação. E contudo, poucos reis, na nossa história, foram tão consistentemente vencedores nos projectos a que se abalançaram, de mãos dadas com o seu povo e dirigentes. A sua permanência por treze anos no Brasil, permitiu-lhe ser o governante que garantiu a unidade do Estado, a que o Povo Brasileiro justamente acrescentou a independência.
 
Concluamos, pois, que a lenda negra que pairou sobre o monarca português que nos trouxe ao “Portugal Contemporâneo” é muito bem contestada neste livro, deixando à opinião dos leitores avaliar onde está a verdade. Por este motivo, elogiamos o trabalho de Isabel A. Ferreira. Que esta obra ajude a clarificar o legado de D. João VI, o monarca luso-brasileiro!
 
Mendo Henriques
João Gomes
 
 
 
(Pintura de Debret) 
 
 
 
Nota Introdutória
 
A presente crónica «De como Portugal tem o dever de defender a sua Honra e a sua História» nasceu da indignação de ver o meu país amesquinhado no livro, apesar de tudo, interessante, «1808Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil», da autoria do muito ilustre jornalista brasileiro Laurentino Gomes.
 
Uma vez mais, Portugal e os Portugueses foram expostos ao ridículo, publicamente. Recentemente, na série televisiva «Os Tudors», apresentada num canal de televisão estatal, a corte portuguesa foi retratada com enorme desprestígio e leviandade. Há bem pouco tempo, e a propósito do caso do desaparecimento de Madeleine McCann, no Algarve, Portugal foi extremamente enxovalhado pela imprensa britânica. Isto apenas para falar de casos mais recentes.
 
Basta!
Portugal é um país territorialmente pequeno, mas não deve deixar que o amesquinhem deste modo tão acintoso, porque a sua alma é grande. Um povo deve celebrar os valores do seu país mais do que gritar ao mundo as suas desvirtudes. Estas devem ser redimidas na intimidade da sua auto-estima.
 
E porque tudo vale a pena quando a alma não é pequena (citando Fernando Pessoa), este é o meu contributo no sentido de resgatar o bom-nome de Portugal.
 
Todos os povos têm virtudes e defeitos. Portugal não foge à regra. Contudo, o maior defeito do povo Português é o de não acreditar nas suas virtudes, e encolher-se perante os juízos menores que dele fazem os que desconhecem a grandeza do seu percurso histórico, e de como sempre conseguiu manter-se na corda bamba, sem nunca perder completamente o equilíbrio.
 
E isso não é coisa pouca!
São essas virtudes que pretendo realçar nesta crónica.
          
Isabel A. Ferreira
 
 
(Esgotado)
 
música: http://www.livapolo.pt/index.php?action=artigo_detalhes&arti
publicado por Isabel A. Ferreira às 14:40

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Segunda-feira, 10 de Novembro de 2008

À HORA MORTA DO ENTARDECER

 

Copyright © Isabel A. Ferreira 2008

 
 

 

 

Hora morta do entardecer.
Ali estava ela. Ela, o mar e as palavras, sem ter o que dizer e muito menos a quem dizer. Para quê? Porquê? Dizer o quê?...
 
As ondas quebravam na praia. Recuavam e avançavam num eterno vai e vem, monotonamente fascinante. O Sol escondia-se e ela esperava a noite. O sono. Os sonhos, talvez! E assim passava aquelas horas esquecidas a pensar diálogos mudos ou monólogos de palavras perdidas.
 
Ali estava ela. Ela e os seus pensamentos transformados nas tais palavras que precisava de gritar. Porém o sussurro do mar abafava o seu grito e obrigava-a a calar. Contudo, àquela hora morta do entardecer, num refúgio tão solitário, à beira-mar, quem a ouviria?... Para quê? Porquê? Ouvir o quê?!...
 
Lá longe, num horizonte ardente, o Sol poente pintava a paisagem de tons róseos. As águas do mar serenaram. Era mais um dia que findava. Do outro lado do areal, onde a natureza dá lugar à civilização, as primeiras luzes da cidade surgiram, tímidas e cintilantes, e em cada uma delas, ela sentia a esperança de um novo dia…
 
Aquela hora morta e esquecida do entardecer continuava a rolar, na praia, com a maré. E ela ali estava, tal como um castelo de areia erguido à beira-mar. Frágil construção envolvida por águas revoltas e areias movediças que a arrastavam e, lentamente, a afundavam num abismo.
 
Porém, o embate frio e brutal no fundo de qualquer coisa que não sabia definir, fazia-a voltar ao areal e àquele silêncio perturbado apenas pelo constante marulhar das ondas.
 
Naquele ambiente meio místico, quase secreto, o seu encontro com as águas transformou-a numa sarça-ardente, e foi possuída pela força dos sábios que lhe rasgou a mente, deixando a luz do conhecimento iluminar toda a massa cinzenta do seu cérebro e disfarçou-se então de poeta.
 
Ao mesmo tempo, os raios escarlates do Sol, tão misteriosamente calado, penetravam-lhe o espírito, injectando-lhe os poderes ocultos da Natureza, enfeitiçando os seus olhos, para que pudessem ver todo o mistério da vida. E ela, indolentemente, entregou-se àquele feitiço do entardecer, e deixou-se envolver pelo seu mistério, regressando aos pensamentos.
 
Uma vez mais, contemplava o mar, o Sol, o céu, e tentava sentir o silêncio. Foi então que uma realidade ainda mais subtil surgiu diante dela. E ela reflectiu. Reflectiu profundamente. Por que hão-de os homens complicar a vida, se ela é tão simples, tão bela, tão única?...
 
Ali estava ela. Ela e as suas palavras, talvez agora já não tão perdidas. Contudo, continuava ainda a sentir-se castelo de areia construído à beira-mar.
 
Existência efémera, aquela!
 
Na praia deserta e envolta por aquela luz pálida do entardecer, o seu olhar pousou sobre duas gaivotas que lutavam pelo mesmo naco de peixe apodrecido. Assim se comportam as aves. Assim agem também os homens. Assim obriga a Natureza quando se trata de sobreviver. Afinal, a vida não é tão simples como ela a sentia...
 
Naquele instante, a construção frágil do seu ser foi novamente envolvida por águas revoltas e areias movediças, e ela voltou a afundar-se num abismo. E as suas palavras esconderam-se por detrás dos sentimentos...
 
Horas mortas do entardecer.
Horas esquecidas à beira-mar.
 
Ali estava ela. Ela e as suas palavras, que tornou a perder. Continuou sem ter o que dizer, e muito menos a quem dizer.
 
Todavia... quem ouviria o seu grito, se o silêncio era constantemente perturbado pelo perpétuo lamento do mar?...
 
publicado por Isabel A. Ferreira às 14:42

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Segunda-feira, 3 de Novembro de 2008

Do primitivo progresso ao moderno retrocesso

 

 
Copyright © Isabel A. Ferreira 
in Manual de Civilidade - Edição Maio de 2000
 
 
(Mosteiro de Santa Clara, na foz do Rio Ave - Vila do Conde)
 
Os antigos usaram a sua inteligência, e da pedra à madeira, da madeira à cerâmica, da cerâmica ao metal, tirando partido do fogo, dos ventos e das águas, inventaram quase tudo o que está na base das sociedades ditas modernas.
 
 
Os primitivos usaram a inteligência;
os modernos abusam do poder
 
 
 
Perguntas-me por que razão te dirijo estas palavras?
Por nada de especial.
 
Apenas pretendo evitar, se for esse o caso, que não comprometas o futuro, com os teus excessos, com os teus exageros, com a tua inabilidade, com a tua cegueira. É que gostaria de viver o que me resta da vida, sem ter de me preocupar contigo. Por isso, decidi expor-te o meu pensamento.
 
Quando criança fui criança e costumava dizer: «Quando eu for grande quero ser...». Tanta coisa eu quis ser! Já passei pela juventude e fui apenas o que tive de ser. Nem criança, nem adulta. Apenas jovem. Hoje, estou a meio do meu percurso. Continuo a seguir em frente, claro! Vivo como posso e como sei. Não sou criança, também não sou jovem. Sou apenas o que sou. Como convém.
 
Quando ultrapassar o Cabo da Boa Esperança, navegarei em outras águas, talvez um pouco mais turvas, mas nem por isso deixarão de ser boas águas para navegar, e provavelmente continuarei a seguir o meu caminho, com a tranquilidade da primeira idade, pois viver cada época de cada vez é a evolução natural da vida. Pretender invertê-la não criará o caos?
 
Todas as vidas começam de um modo muito primitivo. Uma simples e frágil sementinha transforma-se num belo e frondoso embondeiro, se lhe derem condições. A isto chama-se progresso: movimento para a frente.
 
Diz-se que o homem também nasceu primitivo. Vivia em cavernas, andava nu e utilizava instrumentos muito rudimentares. No entanto, esse homem primitivo e inculto fez algo que o homem moderno, esparramando tanta sabedoria e tão alta tecnologia, não conseguiu fazer: progresso. Os antigos usaram a sua inteligência, e da pedra à madeira, da madeira à cerâmica, da cerâmica ao metal, tirando partido do fogo, dos ventos e das águas, inventaram quase tudo o que está na base das sociedades ditas modernas.
 
Todavia, o que o homem primitivo construiu apenas com a sua inteligência, habilidade, e muito engenho e arte, o homem moderno destrói com a sua alta tecnologia. Inabilmente. Desinteligentemente.
 
E o que faz o homem do nosso tempo com o espantoso progresso dos seus primitivos antepassados? Transforma-o num moderno retrocesso, e o pior é que se vangloria desse feito, assim como de outros feitos também.
 
Diz ufanado: «Navego na Internet». Isso é bom. É muito bom. Mas navega igualmente em outras águas, onde se vão extinguindo todas as espécies...
 
Saberás qual é a diferença entre o homem primitivo e o homem moderno?
 
O homem primitivo usou a inteligência em prol do progresso; o homem moderno abusa do progresso em prol do retrocesso.
 
E chama a isso poder.
 
 
in Manual de Civilidade, de Isabel A. Ferreira
 
Este livro pode ser adquirido através do e-mail:
isabel.bonari@gmail.com
 
publicado por Isabel A. Ferreira às 11:24

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