O texto que aqui transcrevo é a opinião de um ser humano CULTO e CIVILIZADO. E os seres humanos cultos e civilizados são, inevitavelmente, contra as touradas. Quem poderá dizer-se culto e civilizado e gostar da imagem que aqui vemos?
Por Arthur Virmond de lacerda Neto
(Cidadão brasileiro e positivista ortodoxo)
(Texto inserido num artigo seu denominado «O Positivismo, os animais, a hipofagia e as touradas».
«Assim como corresponderia a retrocesso a hipofagia, corresponderá a progresso a abolição das touradas, quer as de morte, que se praticam em Espanha (com o abate do touro na arena), quer as que se “limitam” a provocá-lo e a espetá-lo na arena e a abatê-lo às ocultas do público.
Consistem as touradas em espetáculos profundamente imorais: é profundamente imoral a exibição em que se açula um animal (com o pano vermelho), em que se lhe cravam no dorso espetos que lhe ocasionam hemorragias e que termina (na Espanha) com uma estocada mortal, tudo mediante o júbilo da assistência, inteiramente insensível ao sofrimento do animal.
Nenhum espectador admitiria, certamente, sujeitar a violência equivalente um ser humano; todos eles admitem-na, ao contrário, em relação aos touros que sofrem, fisicamente, tanto quanto qualquer pessoa padeceria, naquelas circunstâncias. Não apenas há indiferença pelos padecimentos do animal; pior do que isto, há júbilo coletivo, com exclamações e aplausos, pelos movimentos destros em que o toureiro esquiva-se das marradas e em que o acutila mortalmente.
Tudo isto é profundamente repugnante, odioso e indigno da moralidade humana.
“É uma tradição”, alegar-se-á: há tradições que devem desaparecer e que, aliás, sequer deveriam haver surgido.
Nem a condição tradicional da tourada, nem a destinação do animal abatido para alimentação, nem o divertimento que se propicia aos espectadores justificam o tratamento cruel que se inflinge à vítima.
Há deveres do homem em relação aos touros, dos quais o primeiro corresponde ao de poupá-los à monstruosidade das touradas e, com isto, respeitá-los na sua condição de seres capazes de sofrer. É o mínimo que se deve exigir; é o quanto nenhuma pessoa minimamente sensível pode recusar a estes irmãos inferiores[15] dos homens.»
[15] Inferiores na acepção zoológica.