De Rfof a 21 de Agosto de 2012 às 19:03
Estimada Isabel A. Ferreira,
Valeu a pena o meu excesso propositado nas palavras que empreguei. Peço desculpa por as ter utilizado, mas era exactamente para chegar a um post tal como a senhora publicou que eu fiz aquela entrada. Já notou que os animais não fazem estes raciocínios? Já notou que há uma racionalidade própria do ser humano que não é partilhada pelos seres humanos. O que a senhora diz sobre aquilo que os animais demonstram como sendo a sua justificação da «sua» alma, dá conta, primeiro que tudo, de um processo de hipostaseação da sua parte, algo que os animais desconhecem por completo. Eles têm uma vida, um ímpeto-sopro-anima vital, mas que é intrínsecamente da alma racional humana, e o seu post prova exactamente isso.
Quanto ao direito a torturar os animais, penso que dos meus posts anteriores, ficou mais que demonstrado que sou contra, totalmente contra. Mas aceito e defendo que os animais estão «ao serviço» do ser humano, e portanto podem ser mortos para daí termos alimentação, tosqueados para daí termos roupa, tidos em cativeiro para termos ovos, etc.; mas claro que nisto deve sempre ser procurado o mínimo de sofrimento possível. O animal é diferente do humano, ainda que haja um mínimo partilhado, na medida em que ambos são seres vivos.
Quando me referi ao desprezo que tem pelo ser humano na sua igualação aos animais - e daí ter atalhado para temas como o aborto e a eutanásia - note que a base intelectual para legitimar um aborto é a mesma: os que o defendem, dizem que aquele ser vivo que está no ventre da mãe, pelo seu estado de evolução, ainda não é humano. Mas não deixa de ser um ser vivo, na medida em que está a evoluir, a desenvolver as suas capacidades, a capacitar-se para a vida fora do útero. Os que defendem o aborto afirmam que na medida em que não é humano, então pode ser morto. Basicamente, reduzem o embrião a um animal não-humano. Foi por isso que disse o que disse. Mas fico muito contente por defender as crianças não nascidas. Quanto à questão da eutanásia, encontra-se na mesma linha de justificação.
Saltando algumas das suas afirmações que penso que ficam esclarecidas pelo que fica dito, gostava de abordar brevemente a questão bíblica. Fala do Novo testamento, em contraposição ao direito de cidadania do Antigo testamento. Então convido-a a ler a passagem do endemoninhado de Gerasa: Jesus não hesitou em enviar os espíritos malignos para os porcos - que acabaram por morrer - para salvar um único ser humano. Notemos a base: a infinita superioridade da dignidade humana sobre a do animal justifica ter de matar os animais para salvar um único ser humano. É de dignidade do ser humano que se trata, e essa é infinitamente superior à dos animais. Sem que isso justifique que se podem torturar. Apenas podemos, com respeito pelo dom de Deus que são os seres vivos, tratá-los da melhor forma, mas nunca subjogados por eles ou igualados a eles.
Estou a gostar muito desta discussão! Cumprimentos,
Rfof
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