Por Quintino Geraldo Diniz de Melo *
Tenho a honra de, a pedido da autora, manifestar minha opinião sobre a interessante obra “CONTESTAÇÃO – De como Portugal tem o dever de defender a sua Honra e a sua História” (Chiado Editora, Portugal, 2008), da insigne historiadora e jornalista luso-brasileira, Isabel A. Ferreira.
A autora discorre com uma simplicidade e honestidade cativantes, revelando que seu empreendimento foi inspirado pelo amor à sua terra natal, sendo um “contributo no sentido de resgatar o bom-nome de Portugal”.
Dividido em dezesseis capítulos com sugestivos títulos, tais como De como D. João, Príncipe Regente de Portugal, teve a coragem de não se vergar aos pés de Napoleão Bonaparte (Cap. 1), De como um império dito decadente consegue sobreviver e impor-se entre impérios poderosos (Cap. 5), De como a Inglaterra deve a uma Rainha portuguesa o requintado costume do “five o’clock tea” (Cap. 11), De como não pode haver requinte longe da civilização (Cap. 13), De como Portugal não perdeu a honra nem esteve nunca abandonado (Cap. 14), De como os brasileiros deveriam orgulhar-se das suas origens (Cap. 16), o texto da Drª Isabel é de gostosa e fácil leitura, com sabor de uma crônica jornalística.
Buscando uma explicação psicológica, ela atribui o tom agressivo da narrativa de Laurentino Gomes a uma certa rejeição natural que o colonizado nutre por seu colonizador. Seria essa a razão porque tantos brasileiros procuram menosprezar Portugal e seus feitos.
Registre-se que a obra é impregnada, do início ao fim, da ideologia do politicamente correto, sendo uma preocupação constante da autora frisar que não aprova o colonialismo, mesmo o português, que para ela foi tão “mau” quanto os colonialismos inglês, francês ou qualquer outro.
Daí a ausência de elogios à colossal obra missionária e civilizadora empreendida por Portugal e Espanha, que é seu principal legado e mais importante patrimônio imaterial dos latino-americanos.
Ademais, a mestiçagem promovida pelos colonizadores ibero-católicos, e ausente nas áreas de colonização protestante, é outro grande feito da engenharia política portuguesa pouco explorado pela autora.
É de se admitir que o resultado dessa abertura do português para as outras raças, tão bem sintetizada pelo pernambucano Gilberto Freire em sua obra-prima “Casa Grande e Senzala”, é responsável pela inviabilidade política de um nacionalismo étnico no Brasil.
Ser brasileiro, portanto, é ser mestiço, se não no corpo ao menos na alma.
E isto só foi possível por todos os diferenciais da colonização portuguesa em relação à colonização promovida por outros povos.
Talvez fosse interessante, no que toca ao tema principal da obra contestada - a “fuga” da Corte -, acrescentar que esta veio de encontro a um antigo e estratégico projeto de transferência do Governo Português para a sua maior e mais rica colônia. Há inúmeros estudos nesse sentido.
Embora o objetivo imediato de D. João VI fosse o de salvar sua dinastia, este incompreendido monarca luso-brasileiro tinha seu olhar mais longe, querendo a unidade política e espiritual do império lusitano.
Denúncia bem articulada contra a pena politicamente incorreta do Sr. Laurentino Gomes, “Contestação” é uma leitura que vale a pena.
Recife, 28 de dezembro de 2008.
* Quintino Geraldo Diniz de Melo, é Promotor de Justiça em Pernambuco-Brasil.
De margarida campos moura a 12 de Julho de 2010 às 14:55
A obra "1808" é contestada por grande parte dos historiadores brasileiros, sendo considerada oportunista (pela data de lançamento) e pouco rigorosa (em relação às fontes históricas existentes). "A corte no exílio", de Jurandir Malerba, dismistifica boa parte da versão de "1808". E vamos acabar com essa estória de que "brasileiro detesta português", que essas diferenças ja se dissipiram Há muito tempo.
De Lamartine Sandar a 24 de Maio de 2016 às 19:03
"Daí a ausência de elogios à colossal obra missionária e civilizadora empreendida por Portugal e Espanha, que é seu principal legado e mais importante patrimônio imaterial dos latino-americanos."
Não é a opinião dos nativos que foram violentados e até hoje lutam pela terra que foi deles roubada.
Lamartine Sandar, os nativos foram violentados espoliados das terras deles, pelos colonizadores, e isso foi um grave erro.
Mas depois de o Brasil ser INDEPENDENTE, os indígenas, os verdadeiros donos das terras brasileiras, estão a ser massacrados, escorraçados, dizimados pelos brasileiros, pós-independência, os novos colonizadores mais agressivos do que os primeiros.
Eu estou com eles. Eles estão comigo. Mas não estão com os nossos agressores violentos e desalmados.
Falar é mais fácil do que pensar.
Situe-se, Lamartine Sandar.
Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódias
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa -- (música Língua, de Caetano Veloso)
Dois países, duas Línguas: a Língua Mãe e a sua Variante Brasileira.
Cada uma com a sua especificidade.
Duas Culturas tão diferentes e ricas nas suas diversidades.
Continuemos assim, para podermos conviver pacificamente, no embalo doce do pôr-do-sol, roçando o oceano que nos leva de um a outro continente.
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